A Influência Técnica na Linguagem Cinematográfica

Frame de um dos primeiros filmes produzidos no mundo
Frame de um dos primeiros filmes produzidos no mundo

Marketing e Vendas

26/01/2013

A arte, segundo Benjamin (1955): "[...] sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens [...] em contraste, a reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na historia intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente.

Com a xilogravura, o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente reprodutível, muito antes que a imprensa prestasse o mesmo serviço com a palavra escrita [...]". Com o nascimento da Xilogravura mencionada previamente, nasciam as bases de reprodução em ritmo acelerado e técnico (com nível rudimentar de autenticidade) de desenhos "identitários" (vide as gravuras políticas de Goya, em metal, mas com o mesmo princípio das xilogravuras) com certo nível de identidade entre esses e as pessoas possivelmente retratadas.

Portanto, podemos dizer que a Xilogravura foi "ancestral funcional e artística" da Fotografia; E que a primeira, não teve problemas em ser classificada como arte, o que a Fotografia foi controversa (e, para muitos teóricos, ainda o é) e o Cinema ainda é tratado por muitos como uma simples engrenagem da "Indústria Cultural" conceituada por Adorno, o mesmo que é considerado pai da teoria mais crítica sobre estética (em seu livro Teoria Estética) vai classificar ambos, Cinema e Fotografia como arte, e mais ainda, que o significado no que seja ou não seja arte não está na Ideologia empregada na construção da peça, mas sim, em seus adventos estéticos e o grau de comoção que gera no expectador, tal como menciona no referido livro, a capacidade de criação de Johan Sebastian Bach, que durante grande parte de sua vida, forçou-se a escrever por semana uma sonata perfeita; ou seja, além dos preceitos de Proporção, Harmonia, Eternidade, Originalidade, Imortalidade, Contextualização, entre outros, a significação psicológica entra como a principal medida de emotividade da peça, no que é mais tangível ao leigo em estética artística: A relação sentimental com a peça.

É amplamente comprovado o efeito de comoção (individual, de multidão e de massa) da Fotografia e do Cinema (vide Propaganda desde os primórdios do mesmo) justamente pela capacidade que propiciam de focar na mensagem da obra: "O que foi dito?", "Por que foi dito?", "Aonde foi dito?" e "Como foi dito?", a grosso modo, relacionando todas as etapas de emissão e recepção do conteúdo, nada diferente que as artes plásticas primitivas, evoluídas à Xilografia, evoluída à Fotografia, que por sua vez, exibida em sequência (na frequência de 24 quadros por segundo) com ou sem trilha sonora e em grande formato, vai enfim, configurar o cinema. Neste estudo, pretende-se estabelecer os principais fundamentos estéticos do Cinema, bem como suas relações com as evoluções técnicas e níveis midiáticos.
Metas de política na produção

Um filme é feito com base em uma relação de metas, estratégias, cronogramas e cifras. A política de produção define a linha ideológica da filmagem, mensagem, tema e condução do trabalho final, bem como, a melhor forma de utilizarem-se os recursos disponíveis e como e onde deve ser veiculado o produto final. O que pode levar a outro conceito: "O conceito de Artefato, que o termo 'obra de arte' (Kunstwerk) traduz, não chega para explicar o que é uma obra de arte. Quem sabe que uma obra de arte é algo de fabricado de modo nenhum sabe o que é uma obra de arte" (Adorno, 1968), porém, uma análise superficial no meio de cinema já nos mostra que este fato (político-financeiro) não é o primordial num filme: Primeiramente faz-se necessário o espírito criador humano para desenvolver um "argumento" (aspecto geral da história) acerca de determinado tema, também escolhido de forma "artística", e, a partir destes pressupostos, a construção artística em si, o que vai ser produzido e como, dentro de um orçamento previsto, e somente após toda essa especulação, a partida para captação de recursos (seja em um estúdio hollywoodiano, seja em um ambiente local e underground de curta metragem), ou seja, o requisito artístico vem antes da escolha ou não de um produtor (independente ou de estúdio) avaliar a obra e projetar seu potencial lucrativo.

Em The Godfather (O Poderoso Chefão, 1972) a decisão de fazer o filme acerca do livro, que partiu do argumento de Mario Puzo, ao escrever o livro homônimo. O livro foi financiado pelo estúdio Paramount, através do seu diretor de produções Robert Evans, mas a criação da história foi obra de uma pessoa, e, por isso, teve a capacidade catártica de envolver leitores e tornar-se um Best Seller, já mostrando seu potencial emotivo e original, elevando toda a etnia italiana, antes segregada nos Estados Unidos, a uma condição venerável e valorosa, capacidade típica de uma obra de arte verdadeira.

A obra de arte e seus fatores éticos e ideológicos
O filme enquanto arte, ou que consegue chegar à condição de obra de arte, vai transmitir o discurso ideológico dos idealizadores. Ética é um fator intrínseco a esse filme, pois é preceito fundamental em uma obra de arte, porém essa ética não corresponde aos valores morais judaico-cristãos da sociedade ocidental, o conceito é válido entre o criador e suas motivações à criação fidedigna de sua ideia original ou parte mais importante; Existe um radical imutável: O filme cujo protagonista é um ser vil, bandido, pedófilo, cruel e deformado (como em "M, O assassino de Düsseldorf", de Fritz Lang, 1931.) não reflete a personalidade dos criadores do filme e seus "criantes" (atores, maquiadores, produtores, diretores de filmagem e de arte, etc.), mas a necessidade do criador de contar a história utilizando-se desse tipo de personagem.

É notória a incapacidade de discernimento de um público mal adestrado em separar a ficção da realidade (ainda que baseado em uma história real, um filme é sempre fictício, salvo raros casos de documentários, que mesmo partindo desta condição consigam alcançar o status de arte). A Ideologia estará presente mesmo em casos que a "corrupção" (possível mutação do radical catártico em busca de lucro ou adequação moral, por exemplo) como mudança de Ideologia (sobre o que seja realmente importante), e a Ética, neste caso, estaria ausente, caso que, os dois filmes previamente citados (The Godfather e M o Assassino de Düsseldorf) foram criados frente à forte oposição dos produtores, que insistentemente intrometiam-se tentando depreciar os aspectos artísticos em apologia ao aspecto lucrativo, sendo, portanto exemplo, que a Ética do Artista para com a sua obra é prevalecente em uma obra de arte autêntica (ambos os filmes são sucesso de critica desde seus respectivos lançamentos) e contam a história condizente com a ideia de seus idealizadores, o que, vale a pena ressaltar, é extremamente raro e difícil, haja vista as pressões do mundo capitalista que vivemos, em ambos os casos, a ética veio acompanhada de uma certa intransigência e convicção sobre a natureza artística do que se estava sendo realizado.

Estrutura técnica
É configurada pela aparelhagem utilizada e suas possibilidades, bem como, os tipos de abordagens utilizadas para contar a estória. É importante ressaltar que ao contrário do que Aumont sugere, mencionando elementos técnicos como estéticos, geralmente a criação do filme é que determina qual o tipo de técnica mais adequada para transmitir determinada mensagem. Um bom exemplo disso é o filme ganhador do prêmio Oscar 2012, O Artista ("The Artist", Michel Hazanavicius, França, 2012) que utiliza a abordagem técnica dos primórdios do cinema (o filme é mudo e monocromático), não reconhecidamente por falta de recursos financeiros, mas sim por uma preferência de seus idealizadores (não julgando o mérito artístico da obra no momento), ou seja, uma opção artística acima de tudo, o que, inclusive, gerou grande polêmica em torno da qualidade do mesmo (levantamos a hipótese do filme agradar a saudosistas pelo formato, que pelo sentimento em relação à antiga maneira de montar as películas, tenderiam a ter uma opinião positiva que enevoasse seu senso crítico, sendo determinante na escolha de ganhador em determinada premiação).
Ademais, a estrutura técnica é determinada pelo recurso disponível, filmar um filme mudo, nesse caso, seria deficiência monetária ou de atores para captação de um bom áudio, porém, como a preocupação é a qualidade final da obra, de todo modo, corroborando a tese de que a técnica é sujeita à criação artística autêntica.

Considerações finais
De acordo com o material abordado, e pela maior identificação do grupo com a argumentação de Benjamin (que tem uma base Frankfurtiana, mais branda que os outros autores da escola, porém ainda com forte identidade nos preceitos semióticos, hermenêuticos e psicológicos inerentes a essa escola e a escola Idealista alemã, que a precedeu e influenciou) em detrimento de Aumont (claramente partidário da Estética Anárquica francesa e detrimento do rigor, que é por si só, a razão de existir da Estética), no caso, concordamos que a mensagem a ser transmitida é que influencia primordialmente a criação de uma nova tecnologia, baseada em seus princípios éticos e ideológicos. Em uma obra de arte, o fator mais importante da composição filosófica de beleza (estética) é o conteúdo a ser transmitido, abordado pelo artista, e consequentemente, a habilidade em transformar esse conteúdo em matéria sensível. A matéria sensível e recursos técnicos são portanto, aspectos secundários e acessórios para a verdadeira arte (que antes de ser considerada de tal maneira, deverá passar por provação preceitual já mencionada desde os primórdios da abordagem estético-filosófica e atinge o ápice na teoria de Adorno). Ainda afirmamos que a abordagem teórica foi amplamente satisfatória e proveitosa em nível acadêmico-científico e profissional.

Referências
ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2008. AUMONT, Jacques. A estética do filme. Campinas, SP: Papirus, 1995. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Ivany Barros Lucena Junior

por Ivany Barros Lucena Junior

Graduado em Publicidade e Propaganda, Pesquisador das Relações entre Psicologia e Propaganda. Profissional de Criação e Planejamento. Consultor e Analista de Comunicação e Marketing Político.

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