IBOPE: influência nos jogos transmitidos?

IBOPE: influência nos jogos transmitidos?
IBOPE: influência nos jogos transmitidos?

Marketing e Vendas

03/02/2015

A resposta, de cara, é sim. Pelo menos é o que podemos observar. Fui atrás de material especializado em cobertura esportiva que explica a relação entre a audiência e as escolhas que as emissoras fazem no momento de compra dos direitos de transmissão dos jogos.


Achei na biblioteca da universidade o livro Jornalismo Esportivo, do jornalista Paulo Vinícius Coelho. Achei o livro bem interessante, fala da cobertura pela mídia televisiva sobre os eventos esportivos e, claro, não deixa de abordar o assunto do qual eu estava procurando.


Assim como os demais programas de entretenimento e os telejornais, a transmissão do futebol depende de patrocínio, tanto dos clubes para sustenta-los quanto das redes de televisão para arcar com os custos da transmissão.


As emissoras não vão pagar o que as emissoras inglesas pagam para os clubes, pois existem diferenças relacionadas à economia e à própria qualidade do jogo (COELHO, 2004).


Mas as cotas são cada vez maiores pela transmissão de jogos escolhidos a dedo. Alguns jogos batem a audiência de programas de outras emissoras (que não transmitem os jogos) que ocorrem no mesmo horário das partidas (COELHO, 2004).


Coelho (2004) afirma que isso provoca até briga pela produção de material jornalístico. Quem não se lembra da Copa dos Campeões, ocorrida nos anos de 2000, 2001 e 2002. Em uma das edições, disputada em Belém e Fortaleza, a TV Globo alegou os direitos de transmissão para impedir que a TV Alterosa (afiliada do SBT) filmasse a partida, a fim de produzir material jornalístico. A briga pelo Ibope é tanta que houve o receio da afiliada enviar o material para a emissora principal.


Outra coisa que se observa é que jogos de alguns times são transmitidos mais vezes que de outros; quando o time de uma localidade sai, o torneio deixa de ser transmitido. Qual a relação com o Ibope? Toda!


Vamos partir da mesma premissa do entretenimento e que já citamos: anúncio e a audiência. Uma boa audiência é sinônimo de um número maior de anunciantes e mais dinheiro, assim como cotas de patrocínio. Além do mais, é comum surgir pesquisas mostrando o ranking das maiores torcidas. Com essa variação, o número de telespectadores também varia. Quanto maior a torcida, maior e o número de torcedores que querem assistir à partida.


Por dedução lógica, é fácil de pensar que os jogos mais exibidos são dos times de maior torcida e que torneios nacionais ou continentais deixam de ser transmitidos quando são eliminados os times de maior torcida dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, pois as emissoras consideram que não teriam audiência em outros estados.


Por isso, o Ibope explica a escolha de jogos a serem comprados por quem detém os direitos de transmissão. Também fazem parte da briga pela audiência no esporte a narração emocionada e o cerceamento à liberdade de imprensa.

O debate que deve existir não é a forma como o narrador diz “gol”. Para alguns especialistas, o ato de falar já é o suficiente, mas para outros, é necessário ter emoção. O que deve estar em discussão é o limite entre jornalismo e show. A transmissão aqui no Brasil é como um show (COELHO, 2004).


Mas o preocupante é uma emissora impedir ou limitar a produção de material jornalístico por outra emissora. Foi o que aconteceu na briga com a TV Alterosa, que já citei, e aconteceu em briga com a Record. Se houve cerceamento da Record contra a Globo ou se a própria Globo não exibiu todo o tempo que podia por rixas com a Record não se sabe. Mas o capítulo da briga envolveu a Olimpíada de Londres.


Todos sabem que a TV Globo detém direitos de transmissão de torneios como Libertadores, Copa do Mundo e tinha os direitos dos Jogos Pan-americanos de dos Jogos Olímpicos. Mas os direitos de transmissão dos Jogos de Londres e do Pan de Toronto foram negociados: houve término de contrato.


As duas emissoras concorreram com a vitória da TV Record. No Globo Esporte, foi veiculada a informação de que a emissora de Edir Macedo só permitia um minuto por dia. Ou seja, tanto Globo no incidente com a Alterosa quanto a Record em relação à Globo, praticaram (respectivamente) o cerceamento e a limitação à liberdade Jornalística.


O artigo primeiro do Código de Ética dos Jornalistas afirma que é direito fundamental do cidadão o acesso à informação. O artigo segundo reforça, dizendo que o jornalista não deve impedir o acesso a conteúdo jornalístico por nenhuma informação, sendo delito contra a sociedade a aplicação de censura e a obstrução.


O artigo sete, inciso três vai além: não se deve permitir que haja impedimento à manifestações de opiniões divergentes e o livre debate de ideias. Portanto, em nome da audiência, a transmissão de jogos de futebol não escapa de práticas antiéticas e até mesmo inconstitucionais e criminosas.


Para mim, o futebol não deve ser um universo completamente à parte. São pouquíssimas as regras aplicáveis somente ao futebol, mas as leis devem ser para todos em todas as circunstâncias. Nada deve estar acima da lei.


Referências

COELHO, P. V. Jornalismo Esportivo. 2ª Edição. São Paulo: Contexto, 2004.


FENAJ. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf>. Acesso em 03 de fevereiro de 2015.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Gislaine Chagas da Silva

por Gislaine Chagas da Silva

Trabalhou como repórter voluntária do programa de TV A Boa Notícia, da Diocese de Santo André veiculado no canal Eco TV. Atualmente faz consultoria para trabalhos acadêmicos como autônoma.

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