Efeitos Fisiológicos do Riso e Seus Benefícios na Saúde
O riso é responsável por diversas respostas benéficas no organismo
Medicina Alternativa
28/04/2015
INTRODUÇÃO
Conforme MATRACA et al. (2011) o riso é um fenômeno universal que desperta interesse devido a seu caráter transversal e dialógico. É transversal por ser condicionado à aspectos da cultura, filosofia, história, saúde e outros e dialógico porque, ao se trilhar os sentidos do humor, nos deparamos com a comédia e o escárnio presentes por traz de cada riso, sendo assim um código de comunicação inerente à natureza humana.
A palavra humor, aqui abordada é utilizada a poucos séculos, e é entendido como estado de espírito, apesar de ter diversos outros significados (ZILLES, 2003). O conceito aqui utilizado remete a categoria relacionada ao cômico.
A saúde é definida como o estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (WHO, 1948).
A nível cerebral o sensação de alegria ativa os gânglios basais que recebem rica inervação dos nervos dopaminérgicos do sistema mesolimbico, intimamente relacionado a geração de prazer e do sistema dopaminérgico do núcleo estriado ventral. Tais estruturas são responsáveis pela liberação de dopamina, um hormônio responsável pelas sensações de estado afetivo, como prazer sensorial e neuropeptídios, na geração da sensação de satisfação através de mecanismos homeostáticos. O cerebelo estaria envolvido na associação entre o riso e o contexto cognitivo e situacional. Os gânglios basais parecem estar envolvidos na coordenação de respostas apropriadas ao estimulo (ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al., 2008).
No rosto o riso envolve 12 músculos, a gargalhada 24 músculos, além de outros músculos como o diafragma e músculos abdominais (BENEDITO et al, 2008). Dentre esse músculos destacam-se os músculos orbicular dos olhos, elevador comum dos lábios e da asa do nariz, zigomático maior e risório, como principais na expressão do sorriso, o aspecto morfológico do sorriso, deriva de contrações voluntárias e involuntárias de um mecanismo muscular sob influência de impulso elétrico transmitido pelos ramos terminais do VII nervo craniano (MESQUITA, 2011).
Diversos estudos explanam a influencia do riso nos diversos sistemas, tais efeitos fisiológicos tem repercussão direta na saúde.
OBJETIVO
Mostrar os efeitos fisiológicos do riso que sejam potencialmente benéficos a saúde.
METODOLOGIA
Revisão bibliográfica a partir de artigos pesquisados nos sites: Biblioteca Virtual em Saúde - BVS, Scientific Electronic Library Online - Scielo e Google Acadêmico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme ADAMS, o corpo é formado por diversos sistemas interconectados, e os recentes estudos no campo na psiconeuroimunologia tem mostrado a profunda interação entre esses sistemas e os efeitos das emoções na bioquímica e fisiologia humana. (ADAMS, 1999)
Sistema Cardiovascular
O riso acelera o ritmo cardíaco, podendo chegar a 120 batimentos por minuto, o que leva a uma melhor oxigenação de células, tecidos e órgãos (LUIZ, MIYASHIRO, 2007), concomitante a isso o riso eleva a pressão sistólica e diastólica, conforme a duração e intensidade, diminuindo a medida que diminui-se o riso (FRY; SAVIN, 1982 apud JOSÉ, 2008). A maior oxigenação do sangue pela aceleração do ritmo cardíaco e circulação sanguínea ajuda a eliminar toxinas e diminuir tensões arteriais, assim diminuindo a pressão arterial e os riscos de infarto (SILVA; OMURA, 2007).
Sistema Digestório
O envolvimento dos músculos abdominais no processo de rir faz com que esses músculos promovam uma espécie de massagem no sistema digestório resultando em uma melhor digestão e estimulação dos órgãos responsáveis pela excreção a nível intestinal (LUIZ; MIYASHIRO, 2007).
A movimentação dos músculos lisos provoca uma estimulação de órgãos externos como pâncreas, fígado e intestinos o que leva a uma maior produção de suco gástrico e saliva melhorando a digestão (SILVA; OMURA, 2007).
Sistema Imunológico
O riso promove o aumento do número e atividade de células “natural killer”, células T, aumento de anticorpos da classe IgA e de interferon gama, além da diminuição do cortisol – o hormônio do estresse (CAPELA, 2011)
As células “natural killer” são responsáveis pelo ataque microrganismos a nível intracelular, as células T estão relacionadas a resposta imune a antígenos microbianos, os anticorpos da classe IgA são os principais responsáveis pela imunidade das mucosas e o interferon gama é uma citocina produzida pelas células “natural killer” que ativa os macrófagos a nível intracelular (ABBAS; LITCHMAN, 2007)
A diminuição dos níveis séricos de cortisol confere uma melhor resposta imune ao organismo, pois o cortisol inibe a síntese de hidroxicorticoides e catecolaminas que tem efeito direto, de forma benéfica, no sistema imune (FASSARELA, 2012).
Boca e lágrimas passam a ter mais imunoglobulinas (anticorpos tidos como primeira linha de defesa contra algumas infecções virais e bacterianas) (SANTOS, 2003), a saliva e lágrimas produzidas promovem a hidratação das mucosas, prevenindo infecções (SILVA; OMURA, 2005), além disso, lágrimas e secreções nasais produzidas durante a risada contém hormônios, esteroides e toxinas que são acumuladas no corpo em situações de estresse (ABREU, 2011).
Acredita-se também que a contração do músculo zigomático estimule o timo a secretar timosina, uma proteína que regula a produção de células T (KNIGHT apud ABREU, 2011).
Sistema Muscular
Após um minuto de risada, o tônus muscular permanece relaxado até quarenta e cinco minutos (FASSARELA et al, 2012), além disso leva a contração de praticamente todos os músculos faciais, promovendo a tonificação dessa musculatura (SILVA; OMURA, 2005) Sistema Neuroendócrino
Um estudo com eletroencefalograma mostrou que o riso promove uma excelente coordenação entre as funções dos hemisférios direito e esquerdo, situação essencial ao ótimo funcionamento cerebral (SVEBAK, 1982 apud JOSÉ, 2008)
A prática do riso leva também diminuição do estresse, ansiedade e dor, por mediação da liberação de neurotransmissores relacionados - serotonina e endorfina - envolvidos com o sistema límbico (VALE, 2006).
A serotonina é um neurotransmissor que tem como algumas das suas funções o estímulo dos batimentos cardíacos, o início do sono e a luta contra a depressão, enquanto a endorfina atua como calmante natural, aliviando a sensação de dor, é também pela sensação de euforia, êxtase. (ANDRADE et al., 2003)
A liberação de endorfina pelo riso, com efeito de residual de quarenta e cinco minutos (VALE, 2006 apud FASSARELA et al., 2012), conferindo uma sensação de bem estar, além de diminuir ou prevenir dor (BERK, 1998 apud CAPELA, 2011). Conforme SILVA e OMURA (2005) as principais endorfinas liberadas são as beta-endorfinas, substancias de alta potencia analgésica.
Rir promove um aumento da produção de catecolaminas, compostos químicos que não só estimulam a produção de serotonina como também aumentam a produção de adrenalina, a níveis que estimulam o estado de vigília e memória e também ajuda na aprendizagem e criatividade (ROBINSON, 1991 apud JOSÉ, 2008)
Além disso, como já citado, o riso promove uma diminuição do cortisol, o hormônio do estresse.
Embora cortisol e adrenalina sejam necessários a homeostasia, secreções elevadas dessas substancias estão relacionadas ao comprometimento da defesa do organismo e aumento da pressão arterial.(TAVARES et al., 2000)
Sistema Respiratório
Ao gargalhar ocorre uma aceleração da respiração, o que promove uma maior absorção de oxigênio pelos pulmões. Esta maior ventilação pulmonar também favorece a eliminação de dióxido de carbono e vapores residuais, além disso a continuidade da prática do riso promove uma aumento na tonicidade pulmonar (SANTOS, 2003)
Para VALE (2006) o riso funciona como exercício que favorece o miorelaxamento, KNIGHT apud ABREU (2011) afirma que esse relaxamento da musculatura promove a respiração diafragmática, não percebida na movimentação respiratória incorreta, percebida nos momentos de estresse.
CONCLUSÃO
A partir do exposto percebe-se que adoção de uma vida mais humorada, alegre é fundamental para a manutenção e promoção de uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS
1. MATRACA, Marcus Vinicius Campos; WIMMER, Gert; ARAUJO-JORGE, Tania Cremonini de. Dialogia do riso: um novo conceito que introduz alegria para a promoção da saúde apoiando-se no diálogo, no riso, na alegria e na arte da palhaçaria. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 16, n. 10, p. 4127-4138, Oct. 2011 .
2. ZILLES, Urbano. O significado do humor. Revista FAMECOS, nº 22. Porto Alegre, 2003.
3. WHO, World Health Organization. Preamble of the Constitution of the World Health Organisation as adopted by the International Health Conference, Official Records of the WHO, No. 2, p. 100, 1948.
4. ESPERIDIÃO-ANTONIO, Vanderson et al. Neurobiologia das emoções. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 35, n. 2, p. 55-65, 2008.
5. BENEDITO, Leidiane Clara Torres; AZEREDO, Kennila Pagoto; CASTRO, Suelem Cristian; LAMP, César Ricardo. Anatomia do riso: atuação nos outros sistemas. Ciência & Consciência, Brasília, DF, 1.0, 2008.
6. MESQUITA, Marilisia da Silva. O sorriso humano. Mestrado em Anatomia Artistica, Universidade de Lisboa, 2011.
7. ADAMS, Patch. O amor é contagioso/ilustrações de Jerry Van Amerongen; tradução Fabiana Colasante. Editora Sextante, Rio de Janeiro, 1999.
8. LUIZ, Raiane Rodrigues; MIYASHIRO, Gladys. O uso do bom humor e o cuidado na saúde: monografia. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; 2007.
9. FRY, W.; SAVIN M., 1982 apud JOSÉ, Helena Maria Guerreiro. Resposta humana ao humor: Dissertação de Doutorado, Universidade de Lisboa 2008.
10. DA SILVA, Patrícia Helena; OMURA, Carina Michel. Utilização da risoterapia durante a hospitalização: um tema sério e eficaz. Rev Enferm UNISA, 2005.
11. CAPELA, Renata Campos. Riso e bom humor que promovem a saúde. Rev. Simbio-Logias, v. 4, n. 6, p. 176-84, 2011.
12. ABBAS, Abul K., Lichtman, Andrew H. Imunologia Celular e Molecular, 5º ed. Rio de. Janeiro: Elsevier, 2005.
13. FASSARELLA, Cintia Silva et al. A terapia do riso como uma alternativa terapêutica. Revista Rede de Cuidados em Saúde, v. 6, n. 2, 2012.
14. SANTOS, Geane Luiza Vianna. A importância do riso: monografia, Rio de Janeiro, Universidade Cândido Mendes, 2003.
15. ABREU, Rebouças F. et al. A terapia do (bom) humor nos processos de cuidado em saúde. Revista Baiana de Enfermagem, v. 25, n. 1, 2012.
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17. SVEBAK S., 1982 apud JOSÉ, Helena Maria Guerreiro. Resposta humana ao humor: Dissertação de Doutorado, Universidade de Lisboa 2008.
18. VALE, Nilton Bezerra do. Analgesia adjuvante e alternativa. Rev. Bras. Anestesiol., Campinas , v. 56, n. 5, p. 530-555, Oct. 2006.
19. DE ANDRADE, Rosângela Vieira et al. Atuação dos neurotransmissores na depressão. sistema nervoso, v. 2, p. 3, 2003.
20. VALE, 2006 apud FASSARELLA, Cintia Silva et al. A terapia do riso como uma alternativa terapêutica. Revista Rede de Cuidados em Saúde, v. 6, n. 2, 2012.
21. 21. BERK, L. S, 1988 apud CAPELA, Renata Campos. Riso e bom humor que promovem a saúde. Rev. Simbio-Logias, v. 4, n. 6, p. 176-84, 2011.
22. ROBINSON V., 1991 apud JOSÉ, Helena Maria Guerreiro. Resposta humana ao humor: Dissertação de Doutorado, Universidade de Lisboa 2008.
23. TAVARES, Marta L. et al. Stress - respostas fisiológicas e fisiopatológicas. Revista Portuguesa de Psicossomática,Porto, PT, v. 2, n. 2, p. 51-65, 2000.
Agradecimentos
Juliana Paiva Sousa
Francisco Danilo Sampaio Cajazeiras
Gilmarques Moura Almeida
(Membros do NutriRiso – Grupo de Risoterapia)
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Lucas Rocha de Mesquita
Nutricionista, pós-graduando em Nutrição Clínica e Esportiva (2016) pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI), graduado em Nutrição pelas Faculdades INTA (2016), possui aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA/UNASUS) (2016)
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1905821336418283
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