02/12/2009
O homem em seu processo evolutivo se afastou do seu habitat natural, seu meio ambiente - ao mesmo tempo acalentador e desafiador - onde para fugir de seus perigos, acabou fugindo de si mesmo.
Cada vez mais ouvimos histórias de doenças psicossomáticas onde o corpo dá diversos avisos do quanto vem sendo invadido e distanciado de suas reais necessidades.
Quando a pessoa sente o impacto dessas forças internas, que inconscientemente manteve à distância, desencadeiam as interpretações psicológicas e reações biofísicas, sendo forçada a confrontar o caos diretamente.
O quê é o caos? Segundo o dicionário Aurélio: "Nas mitologias e cosmogonias pré-filosóficas, vazio obscuro e ilimitado que precede e propicia a geração do mundo; abismo" .
Esse caos, muitas vezes, é o agente facilitador de transformações profundas que recriam e fazem renascer. Porém negá-lo, faz surgir muitas frustrações, desesperanças, que quase sempre produz crises existenciais, bem como um grande distanciamento dos sentidos e do respeito ao meio, à natureza e aos demais. Essa destruição do meio ambiente na ecologia humana, gera as novas doenças emocionais e sociais como a depressão, síndrome do pânico, desequilíbrios e tudo mais que banalizamos como estresse.
Quando isso ocorre é necessário trazer para o corpo físico as energias projetadas para o exterior de forma distorcida e entrar novamente dentro de si, promovendo um enraizamento - retorno ao inicio, o autoconhecimento. O exercício de autoconhecimento é tão distanciado da realidade mecanicista, que nos coloca segundo um modelo preestabelecido de formas e padrões, que inadvertidamente nos submetemos - e que por fim, nos adoece.
Experimente o seguinte exercício de visualização: feche os olhos, e tente se conscientizar de que está atraindo sua consciência para o interior, está trazendo o foco de atenção para dentro de seu corpo físico. Tome o especial cuidado de ocupar todo espaço, especialmente nas pernas e nos pés. Note que seu corpo é a terra. Enraíze-se nesse sentimento, sentindo a segurança e a fertilidade da terra dentro de você. Você se preenche ou faltam espaços e direções?
Se você não pode responder essa questão, não se preocupe, pois a humanidade está imersa em modelos que a mídia impõe diariamente, cuja resposta vem na forma da dor emocional "do não corresponder".
Com a conscientização do ser Belo - como o ser saudável e feliz - podemos nos aventurar a proporcionar bem-estar, não somente a mera "redução de medidas" ou melhor, enquadramento de medidas nos padrões estabelecidos.
Quantos cabem nele de verdade? Não seria melhor oferecer bem-estar, relaxamento, toque e sensibilização da realidade corporal e trazer para esse corpo o sentido absoluto de pertencer a si mesmo dentro da sua história?
A essa altura vocês devem estar se perguntando: mas como posso lucrar com a beleza se não mostrar o feio, o inestético?
É exatamente nesse sentido que reside todo o sucesso e crescimento da outra face da moeda que é a indústria do bem-estar, com promessas de poções mágicas e resultados imediatos, que dessa forma estratifica o conceito ao revés.
O que precisamos é olhar para o outro como um ser que merece ser tratado em sua plenitude, com respeito, disponibilidade emocional e carinho profissional. Desse modo, estaremos engajados em tornar a vida mais bela. A felicidade também pode ser buscada pela fruição da beleza e alcançada quando dissociada da realidade que escraviza e reduz a cega obediência.
Segundo R.D. Lang "Perderam-se a visão, o som, o gosto, o tato e o olfato, e com eles, foram-se também a sensibilidade estética e ética, os valores, a qualidade, a forma; todos os sentimentos, motivos, intenções, a alma, a consciência, o espírito. A experiência como tal foi expulsa do domínio do discurso científico".
O que você esta fazendo agora para não contribuir com essa rede que fomenta a solidão e a frustração de não ser belo?
O seu atendimento pode servir de ponto de partida de um processo pessoal de "transformação" que é produtor de bem-estar e relaxamento. As massagens antirrugas produzem maravilhosos efeitos relaxantes nos músculos e com elas sair "rejuvenescido".
Dentro de um trabalho estético desfrutamos da oportunidade de proporcionar o bem-estar de maneira a colocar esse ser em contato com seus sentidos de forma plena. Em cada um dos sentidos há formas de retorno ao ser vivo que vivencia seu próprio mundo. Começando pelo olfato, você já tentou identificar o cheiro dos temperos de sua cozinha sem olhá-los, sem ler o rótulo? Provavelmente será uma surpresa a constatação da sua inabilidade de identificá-los, decifrá-los.
O olfato como instrumento do despertar o ser é uma dos mais valiosos. Dentre os sentidos é o mais evocativo, pois sobrepõe a visão e a audição. Como instrumento de um trabalho terapêutico, os aromas dos óleos essenciais estabelecem relação direta com a emoção, cujo processo de conscientização, o seu reconhecimento, pode ser a atitude mais importante na vida.
"Experimente os perfumes das flores e da natureza em geral para se ter paz na mente e alegria na vida" (extraído dos escritos de Wang Wei, séc. VIII).
Esse complexo mecanismo funciona assim porque apenas alguns centímetros separam o receptor olfativo do cérebro e as fibras nervosas do sistema olfatório que vai diretamente para a área límbica do cérebro, que é a responsável pelas emoções. Por esta razão é que podemos influenciar os estados de espírito e emoções com inalações de óleos aromáticos. O sistema límbico também tem ligações com o tálamo e o córtex, dando aos aromas a capacidade de afetar o pensamento consciente e reações.
Quando respiramos, as moléculas odoríferas, elas são traduzidas em um sinal pelas células receptoras na cavidade nasal. A substância odorífera ao penetrar na membrana olfatória, se difunde no muco que cobre os cílios, e então, se fixa a uma proteína receptora, daí levada por canais iônicos aos neurônios olfatórios através de um complexo mecanismo físico-químico pelo qual as células olfatórias são estimuladas. Passam pelo sistema límbico os impulsos de atração ou repulsa, o conjunto das ações motivacionais, os humores, a memória, a criatividade e ainda o sistema autônomo.
É nesse contexto que o uso de óleos essenciais representam um importante papel na realização de efeitos relaxantes.
De maneira simplória e racionalista, podemos satisfazer nossa mente lógica com a seguinte dedução: quando usamos um óleo essencial de ação analgésica, ele traz alívio emocional para a dor (por exemplo, o óleo de cravo-da-índia, que contem eugenol - um poderoso analgésico conhecido por aliviar dor de dente) podemos cuidar também do espírito, pois esse óleo também é estimulante mental, eufórico e animador. No entanto, esse processo é mais complexo que isso para se encaixar nos modelos da lógica pura. A dor normalmente encontra expressão de sofrimentos emocionais como a dor da culpa que pesa nos ombros, a dor do medo que faz doer as costas. Então, o que melhor poderemos fazer é produzir relaxamento com óleos de ação analgésica que aliviam a dor e ao mesmo tempo animam e estimulam como os óleos de cravo, canela, pimenta e ylang-ylang, mas também, conduzir junto com eles, a um processo simples de encontro dos demais sentidos na busca da essência do que somos. Se nesse relaxamento estamos ouvindo o movimento da natureza como o som de um riacho borbulhante, como um vento que sopra ao fundo de uma música que enaltece e acolhe, mais uma vez estamos sendo conduzidos a imagens mentais de profundo relaxamento e de encontro com forças que pulsam como a energia da natureza.
As imagens mentais evocadas pelas formas do ambiente devem trazer tranquilidade e quietude interior. Elas não devem ser trabalhas de modo a vivificar as necessidades artificiais, uma vez que o estímulo visual já é o principal instrumento de controle e de manipulação desses conceitos. Um local para proporcionar relaxamento deve lembrar a natureza em suas cores suaves, a iluminação direcionada aos efeitos desejados e preferencialmente sem espelhos e fotos de modelos "perfeitas", pois nessa hora o que tentamos proporcionar é o olhar para dentro, o externo deve mesmo ficar à parte desse processo enquanto visualizamos nosso interior.
O tato, por sua vez, faz lembrar de partes adormecidas do corpo, que tentam mandar suas mensagens em vão, porque é através de símbolos e formas de expressão que muitas vezes não entendemos, e não vivenciamos, pois estamos fora dele, descorporificados de sua unidade.
A plasticidade física proporcionada por tudo aquilo que relaxa, nos faz belos, pois corporifica a consciência.
Explorar todos os sentidos, produz o resgate dessa emoção de olhar para dentro e vivenciar o corpo pleno. Exemplificando em um simples banho de ofurô, com água em temperatura confortável em cuja forma, nos remete ao conforto do útero materno. Também podemos proporcionar uma visão de um ambiente esteticamente plácido e ritualístico dessa sala de banho com iluminação aconchegante de velas, com aromas que evocam memórias cálidas e sensuais aliados ao toque da massagem estimulante e revelador, precedido por um chazinho do mesmo sabor. Um convite ao deleite com um relaxamento profundo que resgata a alma.
Autor: Julia Nunes
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