Entendendo e estimulando o desenvolvimento neurológico do lactente
Motricidade Liberada
Medicina
09/12/2012
PROGRAMAÇÃO PRIMITIVA DO COMPORTAMENTO
Desde o nascimento, a criança possui um padrão prévio de reações comportamentais definido pela herança genética e pelas influências intra-uterinas.
A programação inata de comportamentos é baseada sobre uma estrutura cerebral primitiva, é sujeita a modificações oriundas de estímulos sensoriais externos e é capaz de evoluir para formas mais complexas de funcionamento, acompanhando o amadurecimento do sistema neurológico.
Na fase neonatal e durante todo o resto da vida, os acontecimentos, o comportamento e os costumes das pessoas que convivem com a criança influem de modo a modificar a estrutura do padrão primitivo do nascimento.
À estrutura primária, que define comportamentos, reações e emoções, chamamos de inteligência não-verbal ou, como preferem os estudantes da psique, inconsciente.
A programação não-verbal (ou inteligência não-verbal), apesar de ser muito mais evidente na fase não linguística do lactente, acompanha as pessoas por toda a vida, inclusive durante a fase adulta.
Entender, estimular e auxiliar o desenvolvimento do padrão primitivo de emoções e instintos para formas mais elaboradas, sutis e aprimoradas de raciocínios e comportamentos é o papel e o objetivo de qualquer educador. Para os pais que se dispõem a realizar este tipo de trabalho com seus filhos, discorrerei sobre os principais conceitos filosóficos e científicos que embasam o tema, de modo a estruturar arcabouço de conhecimentos que permitam ação efetiva neste sentido.
NOÇÕES DE HISTOLOGIA E FISIOLOGIA CEREBRAL
Uma das maiores revoluções na abordagem da questão pedagógica foi a descoberta e a compreensão de como se faz a estruturação cerebral durante a infância. A Histologia (ciência que analisa a estrutura morfológica e o relacionamento celular) e a Fisiologia (ciência que estuda as funções celulares) têm fornecido elementos essenciais para a compreensão dos processos intelectuais como um todo, justificando e propondo novas técnicas pedagógicas.
A partir da concepção, o organismo humano inicia a prodigiosa evolução que transforma dois gametas em um organismo adulto complexo e diferenciado. Dentro do processo, a formação, a estruturação, a maturação e o desenvolvimento do sistema nervoso e de suas funções ocupam lugar privilegiado, em razão da sua complexidade e peculiar cronologia. Ao contrário da maioria dos órgãos, que pouca ou nenhuma influência recebe do ambiente externo (uma vez que a sua arquitetura celular básica foi terminada em etapas intra-uterinas), o sistema nervoso continua a sua evolução após o nascimento, recebendo influências do meio e estruturando a sua arquitetura celular em função dessas influências.
Basicamente, o cérebro é um órgão formado por dois grupos de células: as células gliais, que fornecem o arcabouço de sustentação, nutrição e metabolismo do órgão como um todo, e os neurônios ou células nervosas, responsáveis pela transmissão e processamento das informações codificadas através de impulsos elétricos.
Tanto os neurônios como as células gliais provêm de uma mesma origem celular denominada camada germinal. Durante a gestação, podemos distinguir dois períodos de proliferação celular. A primeira fase, que acontece entre o segundo e o quarto mês de gestação, corresponde ao período de proliferação neuronial máxima. No sexto mês de gestação, o cérebro já possui quase todos os seus neurônios. A segunda fase, que se inicia no quinto mês de gestação e se prolonga até o primeiro ano de vida, corresponde ao período de proliferação glial máxima.
Entre o terceiro e o quinto mês de gestação, ocorre a migração neuronial. Guiados pelos prolongamentos das células gliais, os neurônios migram pelas diversas camadas do córtex cerebral, estruturando a sua arquitetura definitiva.
A partir do sexto mês de vida intra-uterina e estendendo-se por diversos anos após o nascimento, ocorrerá lenta e complexa sequência de eventos, conhecida como organização celular cerebral. O processo de organização das células cerebrais inicia-se com o agrupamento de determinados neurônios, pela disposição em camadas de outros, pela diferenciação funcional e morfológica dos neurônios imaturos, pela elaboração de prolongamentos neuroniais (os dendritos, que recebem as informações codificadas, e os axônios, que as transmitem para outras células), pelo alinhamento dos prolongamentos neuroniais, pelo estabelecimento de contatos sinápticos entre os diversos neurônios, pela estabilização seletiva dos contatos sinápticos (as sinapses em excesso que não tenham uso ou função definida são eliminadas) e, finalmente, pela mielinização, que é o envolvimento dos axônios por uma bainha de mielina que lhes permite aumentar consideravelmente a velocidade de condução do impulso elétrico nervoso.
A organização celular cerebral é processo estritamente dependente da interação com o meio ambiente. Todas as informações recebidas pelo sistema nervoso central através dos órgãos sensoriais serão processadas, armazenadas, interrelacionadas e contribuirão de uma forma ou de outra, para a estabilização das sinapses, moldando e esculpindo os detalhes da arquitetura neuronial em formação.
A maior parte do processo realiza-se precocemente, durante os primeiros anos. A superfície cerebral do recém-nascido tem cerca de 680 cm2. No segundo ano de vida, terá atingido a extensão do cérebro adulto, que corresponde a 1600 cm2. O peso do cérebro infantil praticamente dobra nos primeiros nove meses de vida, para atingir noventa por cento do peso do cérebro adulto aos seis anos de idade. Aos quatro anos de vida, a criança já terá mielinizado quase totalmente o seu sistema nervoso.
Os estudos do desenvolvimento histofisiológico do sistema nervoso levaram à derrubada de alguns conceitos pedagógicos arcaicos, como o da maturação espontânea. O grande objetivo da escola formal é a alfabetização. Acredita ela que a criança deve ter certa maturidade neurológica para entrar na escola e poder receber aulas lógico-formais e ser alfabetizada. Crianças menores de sete anos não são admitidas para o aprendizado. Após o ingresso na escola, observa-se que algumas crianças progridem nos estudos, enquanto outras não conseguem aprender nada.
O fato é que, após os sete anos de idade, a arquitetura neurológica está completamente definida. Crianças que têm a sorte de ser adequadamente estimuladas em seus lares têm maiores chances de sucesso escolar, enquanto as crianças que têm uma fase pré-escolar pobre, em termos de estímulos sensório-cognitivos, têm poucas chances de prosseguir na aventura intelectual. As crianças começam a ser admitidas cada vez mais cedo nas escolas e, pouco a pouco, novas técnicas pedagógicas com objetivos definidos começam a ser estabelecidas.
Neste caminho, pudemos presenciar alguns absurdos. No afã de aproveitar ao máximo a fase de intensa proliferação neuronial, alguns pesquisadores começaram a queimar etapas do desenvolvimento, a alfabetizar bebês e a lhes dar treinamento matemático e enciclopédico. A maioria das técnicas tem objetivos pouco consistentes e dificilmente se consegue reproduzir os resultados dos autores. Apesar disso, muitas lições puderam ser tiradas das experiências.
As duas principais são: os bebês têm capacidade de aprendizado muito maior do que se supunha e o desenvolvimento neurológico tem sequência lógica que não deve ser desprezada em função de determinadas metas. É preciso conhecer o tipo de estímulo importante para cada fase do desenvolvimento e ter-se objetivos bem claros em mente.
O aprendizado, que antes se iniciava nas classes pré-escolares, ganhou uma preparação no jardim da infância, que agora é antecedida pela pedagogia do maternal. O meu objetivo aqui é de estruturar um corpo de conhecimentos, para que vocês, mamãe e papai, possam, ainda dentro de casa, aprender a conhecer o bebê e suas necessidades de estímulo, atenção e afeto. A intenção é aproveitar ao máximo todo o potencial de desenvolvimento da infância.
INTELIGÊNCIA
Inteligência é a capacidade de processar informações. O elemento básico para este processamento é a capacidade associativa. Informações são estímulos bioenergéticos originados nos órgãos sensoriais que chegam ao sistema nervoso central através dos nervos. Ao serem levados ao cérebro, os estímulos bioenergéticos são codificados e armazenados em áreas específicas, onde se interpretam e se diferenciam as informações provenientes de um mesmo órgão sensorial.
As informações armazenadas isoladamente não têm valor nenhum, se não forem correlacionadas entre si de maneira a produzir um sistema operacional que possa ser evocado e utilizado dentro de situações específicas. A capacidade de associar informações provenientes de diferentes sistemas sensoriais é o primeiro passo na elaboração desta complexa rede interativa que é a mente humana.
Ninguém jamais vai compreender o que significa a palavra banana se nunca tiver visto, tocado ou degustado uma. Quando pensamos banana, estamos associando a um estímulo auditivo, um estímulo visual, um estímulo tátil e um estímulo gustativo e nosso cérebro trabalha um conjunto de informações que definem banana.
Compreender, neolinguística ou neurofisiologicamente falando, significa associar informações de modo a construir um conceito. Sobre este conceito, o cérebro vai trabalhar (associar) outras informações, de modo a desencadear um processo, levando a uma resposta adequada: “Estou com fome? Eu gosto de comer banana? Eu quero comer banana? Como descascar a banana? Quais as possibilidades de uso da casca da banana? Como vou comer a banana?” O uso adequado destes sistemas associativos, seja para a formação de novos conceitos, seja para a resolução de problemas, é que define o que chamamos de inteligência.
INTELIGÊNCIA NÃO-VERBAL
Muito antes de adquirir a capacidade linguística, os bebês já estão processando, codificando, decodificando e associando informações de natureza não-verbal provenientes do meio ambiente e do próprio organismo. Tais informações formam o arcabouço primitivo sobre o qual a estrutura linguística será montada.
A estrutura não-verbal é composta por imagens, sons, emoções, sensações e cheiros que, superpondo-se à programação primitiva do comportamento, resultam em um sistema complexo de organização que, mesmo não sendo caótico, não é necessariamente lógico (a lógica é um atributo do raciocínio verbal).
Este universo complexo, que os psicólogos chamam de inconsciente, é caracterizado por sem número de processos associativos, muitas vezes aleatórios e formados sem critérios ou restrições pré-definidas. Para utilizar termos comparativos, posso arriscar-me a dizer que a inteligência não-verbal tem caráter livre e tridimensional, enquanto a inteligência verbal tem caráter mais rígido e bidimensional.
O PAPEL DAS EMOÇÕES
Neurofisiologicamente, podemos definir a emoção como um circuito neuronial associativo primitivo, não-verbal, eliciado por estímulos específicos, retroalimentado, inato e de caráter comportamental.
As emoções são universais, pois se encontram em todas as raças e povos, independentemente do padrão cultural. Muitas das emoções tipicamente humanas são encontradas também em determinados animais, que propiciam modelos de estudo bastante esclarecedores para os cientistas do comportamento. Os circuitos emocionais são geneticamente programados e tipicamente relacionados com áreas cerebrais e neurotransmissores específicos.
Mesmo estruturados em fases precoces da vida intrauterina, podem ser modificados, elaborados e controlados na vida pós-natal, seja por interferência de processos verbais ou não-verbais.
A maioria das emoções é direcionadas entre quatro núcleos primitivos: medo, raiva, prazer e desprazer (todos neurocircuitos relacionados a determinadas estruturas cerebrais e neurotransmissores específicos). Estas quatro sensações são encontradas no ser humano desde o nascimento e são essenciais para a sobrevivência animal. Com a elaboração da arquitetura cerebral, estes sentimentos se desdobram e ramificam, mas, por mais sofisticados que sejam, guardam sempre relação com sua origem primitiva.
Desprazer As necessidades fisiológicas geram sensações físicas, como a fome, o sono, a sede, o calor, o frio, a dor, que culminam em um denominador final comum que podemos chamar de desconforto primário. O desconforto primário está ligado a circuitos de desprazer que estimulam outros circuitos emocionais, como a ansiedade, a angústia, a depressão, a tristeza e a insegurança.
O recém-nascido não tem necessidade de distinguir estas sensações (que, aliás, mesmo na fase adulta, às vezes se confundem em determinadas situações), uma vez que a resposta comum a todas elas é a mesma (o choro). É um instinto neuroprogramado básico, essencial para a sobrevivência (quem não chora não mama) que acompanha o ser humano por toda a sua existência, por vezes determinando comportamentos e atitudes completamente irracionais, por assim dizer, mas preponderantes.
Prazer A resultante comportamental do desconforto primário é o choro, que é compensado pela mãe com carinho, palavras, embalo, leite, contato físico, calor humano e companhia. A resolução da situação que gerou o desconforto primário direciona o comportamento para as áreas cerebrais do prazer, estimulando circuitos emocionais como saciedade, conforto, segurança, confiança, paz e alegria (felicidade).
Estas sensações não precisam, em um momento inicial, ser distinguidas, mas simplesmente interpretadas conjuntamente, como o que podemos chamar de deleite primário. A neuroquímica do prazer vem sendo estudada intensivamente há alguns anos e vários neurotransmissores e hormônios estão sendo relacionados a esta sensação, entre eles as endorfinas, a feniletilamina (PEA), a dopamina, a norepinefrina e a oxitocina. Nesta fase da vida, a função neurobiológica do prazer é essencialmente reforçar atitudes ou, em outras palavras, estimular o aprendizado de determinados comportamentos interessantes para a sobrevivência do indivíduo.
Medo O medo é uma das emoções animais mais primitivos, simples e essenciais para a sobrevivência. Também é uma das que eliciam respostas comportamentais mais rápidas e menos elaboradas. Exaustivamente estudado em modelos animais, o circuito neuronial do medo é bem conhecido e interpretado.
O núcleo anatômico básico desta emoção reside em uma pequena estrutura cerebral denominada amígdala cerebral. A amígdala cerebral é uma estrutura primitiva que comanda quase independentemente as reações animais instintivas de fuga. Determinados estímulos sensoriais pré-determinados podem ser enviados à amigdala cerebral, mesmo sem serem interpretados pelas áreas de inteligência verbal (córtex cerebral).
A amígdala, ao receber estes estímulos, desencadeia o circuito do medo, resultando na reação comportamental de fuga. É uma atividade totalmente irracional, uma vez que não passa pela avaliação das estruturas cerebrais mais elaboradas.
Raiva A origem da raiva reside nas reações de defesa da prole.
É um instinto que garante a reprodução da espécie, sendo mais rápido e poderoso mesmo que as reações de medo, que são geralmente completamente abafadas pela raiva. Este circuito faz com que o animal que reagia à agressão com a fuga, volte-se para atacar seu agressor, principalmente se sua prole estiver ameaçada.
Todo comportamento humano, por mais elaborado que seja, é basicamente motivado por medo, por raiva, pela fuga do desconforto ou pela procura do prazer. Conhecendo esta origem não-verbal tão primitiva, fica fácil perceber o porquê da complexidade das atitudes humanas.
Durante o processo evolutivo, o ser humano vai progressivamente adquirindo a capacidade de distinguir, classificar e controlar as diferentes sensações e emoções, tanto as suas próprias, quanto as das pessoas com as quais convive. É o que se convencionou chamar de inteligência emocional.
As emoções são fundamentais para a sobrevivência animal. Fugir, atacar, reproduzir e defender são comportamentos motivados por circuitos emocionais.
À medida que a sociedade humana consegue conhecer e controlar as emoções, alcança, paralelamente, padrão relacional mais complexo e, por assim dizer, civilizado. Regras sociais de comportamento envolvem, como princípio básico, o controle emocional.
Auxiliar a criança a reconhecer e comandar suas emoções primitivas é passo fundamental na educação do ser humano.
INTELIGÊNCIA VERBAL
A inteligência verbal, linguística ou cognitiva é estruturada mentalmente através do diálogo, da leitura e do raciocínio. Informações recebidas e informações processadas a nível verbal e não-verbal misturam-se para originar as resultantes do processo intelectivo-emocional, que são o pensamento e o comportamento, fontes criadoras e modificadoras do universo humano.
Por possuir inteligência verbal, o homem é um animal que pode ser programado neurolinguisticamente, ou seja, através da inteligência verbal, pode modificar padrões reacionais e comportamentais estruturados a nível de inteligência não-verbal ou inconsciente.
A racionalidade do ser humano está, principalmente, ligada ao seu processo de linguagem. A linguagem, por sua vez, originou-se e está ligada a características complexas, como a capacidade de manipulação, vivência social, percepção ambiental e corporal tridimensional. Estas capacidades, de modo retroativo, estão em constante processo de reciclagem e reelaboração pelo processo linguístico. A linguagem melhora o cérebro e o cérebro aprimora a linguagem.
PASSOS DO DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA
Estruturar circuitos primitivos de comportamento (fase intra-uterina).
Distinguir sons e imagens.
Associar estímulos sensoriais diferentes.
Formar conceitos (aglutinar informações).
Estruturar processos simples sequenciais.
Aglutinar processos simples em complexos.
Comparar estruturas e processos (concluir).
Diferenciar processos emocionais de processos lógico-verbais.
Projetar situações a partir de elementos reais.
Submeter os circuitos emocionais ao controle lógico-verbal.
Resolver problemas.
Criar.
OBJETIVO DA PEDAGOGIA DO LACTENTE
O objetivo principal das técnicas de estimulação não é o de ensinar ao lactente um conteúdo específico de conhecimentos e, sim, o de fornecer estímulos sensoriais que, adequadamente trabalhados pelo sistema nervoso central, possam contribuir para a estruturação de recursos intelectuais que, mesmo não utilizados operacionalmente nesta fase da vida, serão muito valiosos no futuro.
Uma das maiores discussões que tem envolvido especialistas das áreas de psicologia, pedagogia e neurofisiologia é a provocada pela controvérsia a respeito da idade ideal para iniciar o ensino formal e a alfabetização da criança. Se, por um lado, os neurofisiologistas clamam que quanto mais cedo melhor, em função da época de estruturação neuronial, que vai só até os seis anos, os psicólogos alertam contra os riscos das chamadas crianças apressadas, que desenvolvem as chamadas síndromes de estresse, em função da cobrança familiar e dos desajustes advindos, por exemplo, da convivência com crianças maiores, em classes mais avançadas.
A chamada criança apressada — criança estressada é aquela criança submetida a técnica de ensino repleta de hiatos, nas quais o objeto de estudo é ministrado sem que os recursos mentais necessários para a sua elaboração tenham sido estruturados. Isto sujeita a criança a uma cobrança de resultados acima de sua capacidade imediata, redundando em estresse.
O maior problema, quando se discute o assunto estimulação precoce, é a falta de técnicas adequadas e de conhecimento estruturado sobre o funcionamento intelectual que considere conjuntamente os fatos neurofisiológicos, neurolinguísticos, psicológicos e pedagógicos. Sempre que o tema for discutido em uma única disciplina, aspectos fundamentais deixarão de ser considerados.
Desta maneira, pudemos presenciar o desenvolvimento de técnicas de estimulação que se preocuparam apenas em apresentar mais precocemente o assunto à criança, sem prévia avaliação dos recursos intelectuais disponíveis para assimilar o que se pretendia ensinar e sem, tampouco, a preparação desses recursos.
Neurolinguisticamente, poderíamos dizer que a mensagem verbal é enviada sem a certeza de que existiria estrutura não-verbal conveniente para fixar e traduzir verbalmente a mensagem. Os resultados foram surpreendentes e contraditórios. Se, por um lado, se descobriu que as crianças têm potencial muito maior do que se imaginava, por outro, verificou-se que o potencial, para ser aproveitado, precisa ser preparado.
Dentro deste fascinante mundo, os adultos puderam perceber o valor dos brinquedos e brincadeiras infantis como elementos estruturadores da inteligência não-verbal e, consequentemente, do raciocínio lógico-verbal que se segue. No contexto, os pesquisadores puderam verificar também que os adultos têm papel essencial na formação do pequeno universo que é o inconsciente infantil e que a qualidade da atenção dispensada à criança é um dos principais fatores estruturadores dos recursos intelectuais e emocionais.
Quando falo em pedagogia do lactente, meu objetivo é bem diverso da assim chamada estimulação precoce. Ao contrário desta, que busca resultados, o que procuro é a estruturação de recursos, para que os resultados possam ser obtidos de maneira equilibrada, desenvolvendo plenamente todo o potencial intelectual e emocional do ser humano.
APRENDIZADO
Todo aprendizado é um processo associativo e, portanto, sua qualidade depende da operacionalidade dos sistemas associativos e de suas interconexões. A partir de dois ou mais estímulos sensoriais, temos a aglutinação de informações para a formação de um conceito, que é uma terceira informação diferente das que lhe deram origem.
O incentivo da estruturação dos processos associativos é de importância fundamental para qualquer aprendizado. Se um macaco aprende que, puxando uma alavanca, ganha uma banana, está associando informações. Ao descobrir que, quando estiver com fome, só vai precisar puxar a alavanca, estará associando processos.
Aprender é associar, e esse aprendizado não precisa ser linguístico. A inteligência depende, em grande escala, da capacidade associativa. A associação pode ser de estímulos ou de processos. Reconhecer é conhecer duas vezes, ou seja, associar dois ou mais estímulos (informações) sensoriais, formando um único conceito. Aprender significa associar processos simples a processos simples, originando formas de processamento mais complexas.
Vale ressaltar a distinção entre o aprender e o apreender. Segundo o dicionário, apreender significa assimilar mentalmente, entender, compreender; estaria, portanto, mais adequado para descrever o aprendizado não-verbal no sentido abstrato, inconsciente ou tridimensional; enquanto aprender significa reter na memória mediante o estudo, a observação ou a experiência, ou seja, correspondendo mais ao que se convencionou localizar no departamento de inteligência verbal ou raciocínio linguístico, no sentido lógico-formal e concreto.
SÍNDROME DO SUPERDOTADO
As crianças superdotadas sempre foram alvo de todo tipo de discriminações e preconceitos sociais. Por possuírem, geralmente, comportamento crítico e estereotipado, muitas vezes são vistas como desajustadas sociais e desequilibradas emocionais. De fato, a alienação e a cobrança feita pela sociedade como um todo e a falta de abordagem adequada de modo a preencher as suas lacunas psicológicas e emocionais não poderiam chegar a outro tipo de resultado.
É comum acreditar-se que o estímulo precoce pode originar crianças superdotadas, com todos os seus desajustes psicológicos característicos. Nada mais equivocado. Crianças superdotadas não podem ser produzidas por nenhuma técnica de estimulação precoce. O aparecimento de crianças com capacidade intelectual muito acima da média independe de qualquer técnica de treinamento e está relacionada a características intrínsecas ao indivíduo, as quais começam a manifestar-se durante a vida intra-uterina.
Do mesmo modo, os seus desajustes não estão ligados à capacidade intelectual superior mas ao ostracismo vivido dentro da sociedade excessivamente medíocre, quando avaliada pelo ponto de vista do próprio superdotado.
Ao falar, portanto, de estímulo ao desenvolvimento e pedagogia do lactente, tenha na mente que estou me referindo a crianças normais, pertencentes à média intelectual da sociedade, sem a pretensão de fabricar superdotados.
BEBÊS PODEM APRENDER A LER?
Alguns autores têm defendido a ideia de que bebês podem e devem aprender a ler, chegando a descrever técnicas de ensino de leitura e a relatar resultados surpreendentes com lactentes que mal sabem andar. Na verdade, o lactente não tem capacidade para ler da maneira como o adulto entende a leitura. O bebê pode ser treinado a reconhecer letras ou palavras mas a leitura sequencial, tal como a conhecemos, é impraticável.
Para que qualquer ser humano possa iniciar-se nos domínios da leitura — e isto em qualquer idade —, é essencial o pré-requisito da lateralidade. A criança, enquanto não saiba diferenciar o seu lado direito do esquerdo, não tem condições estruturais de organizar a sua atividade cerebral para a leitura, uma vez que a primeira regra da leitura ocidental é que a estruturação das palavras e frases seja feita da esquerda para a direita. Se a criança que sabe reconhecer as letras da palavra PAI tentar identificar esta palavra sem o padrão de lateralidade, é compreensível que traduza por IAP, AIP ou PIA.
A lateralidade não é inata. Muitos adultos têm dificuldade de reconhecer a lateralidade, porque não foram treinados na época da estruturação do cérebro e precisam de acessórios como relógios, anéis ou alianças para reconhecer e distinguir o lado direito do esquerdo. Como estimular o desenvolvimento da lateralidade? Marcando um dos braços com uma pulseira, por exemplo. O cérebro vai se acostumar com essa informação e, quando a criança souber qual a mão que está habituada a usar a pulseira, é porque seu cérebro tem a noção de lateralidade.
Não estou querendo afirmar que o treinamento do reconhecimento de palavras ou letras seja prejudicial para a criança. Ao contrário, pode até ser benéfico, uma vez que as técnicas de reconhecimento estimulam os processos associativos entre duas regiões que trabalham com padrões sensoriais bem diferentes: a área da visão e a área da audição, estruturando mecanismos essenciais para o aprendizado do processo de leitura tal como o conhecemos.
O lactente tem a capacidade de aprendizado muito superior à do adulto. Por exemplo, para que a criança aprenda a conhecer a letra A (conhecer = associar), basta que associemos o estímulo visual ao auditivo não mais do que cinco segundos, uma vez por dia, por dez dias. No seu pequeno cérebro, o padrão visual da letra A estará associada ao seu som.
O problema do lactente será incorporar no seu universo uma função para a informação. O que é o A? Para que serve? Por isso, as técnicas de treinamento de reconhecimento são realizadas inicialmente com palavras conhecidas ou, digamos assim, incorporáveis.
Mais do que ensinar por ensinar, é importante conhecer o funcionamento da inteligência, de como se processa o aprendizado e quais são os objetivos pedagógicos que interessam ao desenvolvimento do ser humano.
ESTIMULANDO O RACIOCÍNIO NÃO-VERBAL
O raciocínio não-verbal é a forma exclusiva de raciocínio do lactente e, portanto, é de mecanismo mais antigo, complexo e estruturado do que o raciocínio verbal. É a partir dele que o raciocínio verbal se desenvolve, baseado nas experiências sensoriais da audição, visão, paladar, olfato, tato e corporeidade. Em cada fase do desenvolvimento, existirão técnicas específicas para o estímulo desta área do inconsciente (self não-verbal).
Na vida adulta, apesar de não nos darmos conta disto, é o raciocínio não-verbal que predomina na tomada de decisões sociais e nos comportamentos e dele depende, em grande escala, o próprio raciocínio lógico ou verbal.
O raciocínio não-verbal possui extensão muito maior do que o raciocínio verbal e, apesar de poder ser modificado por informações (conclusões lógicas) provenientes do raciocínio verbal, geralmente o pensamento não-verbal está um passo à frente na compreensão de inúmeros problemas cuja estruturação está situada além do campo puramente linguístico.
Apenas para fazer uma comparação, o raciocínio não-verbal tem, como acima sugeri, estrutura tridimensional, enquanto o raciocínio verbal é bidimensional. Estando dentro do campo linguístico, a apresentação para a criança de problemas definidos dentro da sua capacidade lógica de compreensão não representará desafio (não servindo, portanto, como estímulo para a área não-linguística).
A melhor maneira de estimular o raciocínio não-verbal é apresentar problemas que envolvam conceitos lógico-formais que não possua e que, portanto, não possa resolver de imediato, por meio de raciocínio verbal. Deste modo, o problema é remetido ao inconsciente que, trabalhando por método de comparação associativa, procurará estruturar modelos de solução de problemas onde este sistema particular se encaixe ou se assemelhe e, a partir dele, estabelecer um padrão de raciocínio linguístico, resolvendo o dilema formado no consciente.
Uma das técnicas neurolinguísticas mais divulgadas para a resolução de problemas complexos é exatamente deixar que o inconsciente encontre a solução, por exemplo, durante o sono (pedir conselho ao travesseiro), quando o raciocínio não-verbal está trabalhando e estruturando a resolução do problema, de modo a ser compreendido pelo limitado raciocínio verbal.
É neste aprendizado antecipado que se baseiam também conhecidas técnicas de alfabetização de bebês, de desenvolvimento de raciocínio matemático e de ensino de conhecimentos enciclopédicos. A metodologia destas técnicas consiste na apresentação de estímulos visuais e auditivos correspondentes, de modo a estabelecer conexão associativa entre as informações. A conexão associativa sensorial é a base para a estruturação posterior do esquema linguístico lógico-formal ou raciocínio verbal.
A capacidade de aprendizado não linguístico do bebê é recurso de difícil avaliação para o adulto. Conceitos complexos podem ser retidos em questão de segundos pelo lactente e, no entanto, só depois que o aprendizado estiver estruturado dentro de esquema linguístico reproduzível pela criança é que o adulto considerará o assunto aprendido.
O CONCEITO DE CORPOREIDADE
Corporeidade é a maneira pela qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo como instrumento relacional com o mundo.
O corpo é movido por intenções provenientes da mente. As intenções manifestam-se através do corpo, que interage com o mundo, que dá uma resposta para o corpo, que informa a mente através de seus órgãos sensoriais, que, analisando as respostas obtidas do ambiente, muda ou reafirma suas intenções, utilizando o corpo para novas manifestações.
A esta capacidade de o indivíduo sentir e utilizar o corpo como ferramenta de manifestação e interação com o mundo chamamos de corporeidade.
A corporeidade do indivíduo evolui com a idade. É lógico que a corporeidade do recém-nascido é totalmente diferente daquela da criança de dez anos, do adulto ou do velho de oitenta anos; a do homem é diferente da mulher; como a do indivíduo doente o é da que possui quando sadio.
Durante a evolução da criança, a qualidade da corporeidade é um dos principais determinantes da estruturação neuropsicomotora. Por outro lado, a estruturação corporal na mente da criança é fundamental para o desenvolvimento do próprio corpo como organismo físico. Crianças privadas de adequado relacionamento corporal com o mundo tendem a ter desenvolvimento físico atrasado em relação às demais (o que chamamos em clínica de nanismo psico-afetivo).
A qualidade da corporeidade depende como em todas as funções neurológicas, da qualidade e desenvolvimento das relações neuroniais estabelecidas entre as áreas sensoriais e motoras do cérebro. Estas relações, a maioria estabelecida durante a primeira infância desenvolve-se através do treinamento corporal. Para ilustrar a que ponto o ser humano pode desenvolver a corporeidade, basta observar um grande dançarino de balé, um ginasta olímpico ou um campeão de judô.
Nem é preciso dizer que, quanto mais cedo na vida do indivíduo as atividades forem treinadas, melhor será a performance. Mais adiante, demonstrarei algumas técnicas simples para o desenvolvimento dos diversos aspectos da corporeidade, em cada período da primeira infância.
O EXPERIMENTAR
Uma das mais eficientes formas de exercício mental e de aprendizado é a experimentação.
Muitos pais, por não perceberem a importância das tentativas frustradas, frequentemente interrompem determinadas atividades da criança. Por estarem com pressa, não terem paciência para esperar ou, muitas vezes, por acharem que a criança não é capaz de completar o que estão fazendo, finalizam a tarefa.
Uma criança de dois anos tenta colocar sozinho o seu calçado. Para fazer este pequeno gesto, muita coisa está em jogo. Inicialmente, existe a intenção: a colocação do calçado pode estar associada ao desejo de sair de casa para acompanhar os pais. Para a existência deste tipo de associação, é necessária a utilização dos recursos da memória, uma vez que, noutras vezes, o fato se repetiu em determinada sequência.
A própria colocação do calçado evoca a existência de um ritual definido, quando a criança localiza e busca o sapato guardado, se senta no chão e tenta introduzi-lo no pé. Temos, então, a coordenação motora reproduzindo movimentos cuidadosamente analisados quando da colocação do calçado anteriormente.
A criança de dois anos não conseguirá colocar os sapatos. Os pais podem ter duas condutas: ou inibem a ação, vestindo a criança, sem lhe permitir a participação; ou podem estimular a criança na iniciativa. Se os pais resistirem à tentação, poderão observar que a atividade espontânea está estimulando o desenvolvimento e a independência da criança e que, a cada dia, mais progressos serão realizados no sentido de atingir a meta de vestir a roupa.
Para alguém que só enxergue o trivial, o objetivo de vestir a peça do vestuário pode ser o principal em jogo. Para quem percebe tudo o que está envolvido, o objetivo é o desenvolvimento neuropsicomotor e não a colocação da roupa. Portanto, resista à tentação de tudo fazer. Se a criança quiser, deixe experimentar, mesmo que você tenha a certeza de que não irá conseguir. Você se surpreenderá com a velocidade do aprendizado e, quando menos esperar, ela estará atingindo objetivos aparentemente impossíveis para a idade.
TREINANDO A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
O controle das emoções é uma das capacidades cognitivas mais importantes para o gerenciamento dos recursos intelectuais como um todo. Pessoas com alta capacidade de controle sobre as reações emocionais têm maior probabilidade de sucesso escolar e profissional do que as dotadas de maiores conhecimentos ou experiência, porém, com dificuldades de controle emocional.
O treinamento do controle emocional não é tarefa fácil para os pais. Duas coisas devem ser consideradas: o exemplo vivenciado no lar e as reações dos pais aos sentimentos da criança. Pais descontrolados têm filhos descontrolados. Pais que não impõem limites de conduta têm filhos com dificuldade de enfrentar frustrações.
Neste campo, a sensibilidade aos aspectos psicodinâmicos pode ser mais importante que a obediência a regras e generalizações, mas para perceber o que se passa na cabeça da criança, é necessário que o adulto tenha certo grau de consciência e controle sobre a sua própria dinâmica emocional.
O primeiro passo é treinar a criança a reconhecer as emoções.
Desde os primeiros dias de vida, podemos estimular este aspecto do bebê com atitude muito simples: encarando-o e olhando em seus olhos frequentemente.
Olhar nos olhos é a atitude chave para a análise emocional.
Acostume seu filho com este tipo de contato visual desde o nascimento.
Os seres humanos de todas as raças e povos estão geneticamente programados a demonstrar, através de expressões faciais universais, como anda o seu estado de espírito.
Os músculos da face estão ligados através de reflexos aos centros emocionais e, apesar de poderem ser controlados conscientemente, geralmente transmitem, através de padrões característicos, mensagens não-verbais importantes do ponto de vista social. Acostumar o bebê com os padrões torna mais fácil o reconhecimento deste tipo de mensagem e consequentemente a comunicação (esta entendida no seu sentido amplo e não apenas no aspecto verbal).
Propiciar à criança ambiente rico em aspectos emocionais também é importante. Alguns pais tentam “proteger” seus filhos, isolando-os em um mundo hermético e livre de contrastes emocionais, numa tentativa de resguardá-los das agruras humanas. Nada mais equivocado. A criança precisa desenvolver mecanismos de reconhecimento, interpretação e mesmo de atuação efetiva sobre os aspectos emocionais alheios, principalmente pelo fato de que esta é atividade essencial para a coexistência social.
Neste aspecto, os pais podem habituar-se a permitir que o bebê simplesmente esteja presente às reuniões de família, conversas com amigos, reuniões sociais; locais, enfim, onde exista interação humana.
O aspecto emocional pode também ser abordado nas brincadeiras. Atribuir emoções e comportamentos humanos a bonecos, bichos de pelúcia, fantoches e personagens de histórias fictícias, é um modo eficiente de trabalhar este conteúdo e ajudar a criança a reconhecer as próprias emoções e comportamentos.
A apresentação de problemas revestidos com aspectos emocionais, quando realizada neste contexto lúdico, auxilia a criança a descobrir que pode, efetivamente, interferir no curso das emoções alheias.
A abordagem direta dos sentimentos também é importante para crianças que tenham certo grau de compreensão verbal. Aproveitar ocasiões de raiva, medo, alegria ou tristeza para chamar a atenção da criança a fim de reconhecer os sentimentos em si mesma, nomear e discutir abertamente tais emoções também é uma técnica valiosa.
O controle emocional é um dos requisitos para a mudança comportamental que se opera na infância. O recém-nascido obtém tudo o que necessita através do choro. O choro para a criança é o processo básico de solução de problemas imediatos. Inicialmente, o choro é desencadeado pela sensação de desprazer físico. Mais tarde, com a elaboração dos processos emocionais, a criança começa a ter outras “necessidades” (como, por exemplo, um brinquedo novo) que, se não satisfeitas, vão gerar sentimentos como a raiva e a frustração.
A tendência natural da criança é tentar resolver o problema da maneira habitual, ou seja, chorando. Crianças entre um e dois anos com raiva ou frustração realmente canalizam seu comportamento para um pranto incontrolável e sincero. Crianças maiores de dois anos (às vezes menos) podem ter comportamentos mais elaborados, como crises de birra (nas quais o choro pode fazer parte ou não). A crise de birra é a maneira de a criança manipular emocionalmente os adultos com objetivos bem definidos.
Para lidar com este processo, é essencial que os pais tenham sensibilidade para diferenciar até onde vai a emoção e quando começa a manipulação consciente. Muitas vezes, é difícil até para a criança saber a razão pela qual está chorando. Crianças com sono podem chorar como se quisessem algo que não sabem o que é. Às vezes, a criança pode começar a chorar por um motivo, esquecer o motivo e continuar chorando até que consiga controlar as emoções.
Qualquer que seja a razão do choro, quando os pais satisfazem a criança, fornecendo-lhe seu objeto de desejo estarão reforçando, necessariamente, o comportamento que, mais cedo ou mais tarde, precisará ser corrigido. A correção de comportamento (ou educação) pode ser iniciada a partir do momento em que a criança domine uma estrutura linguística que permita diálogo efetivo. A presença desta estrutura linguística pressupõe a existência de capacidade cognitiva capaz de interromper o curso dos circuitos emocionais, na tentativa de ação social mais efetiva.
Neste sentido, é importante que os pais deixem de recompensar o choro ou a birra, tenham paciência e procurem estabelecer uma linha de diálogo, assim que a criança dê sinais de que está acalmando-se. O diálogo deve ser consistente, seguro e sempre apresentar razões que justifiquem ou expliquem a atitude ou situação que está gerando raiva ou frustração. As razões são essenciais para a elaboração cognitiva destes processos.
A manipulação dos sentimentos das crianças pelos adultos também é área que merece atenção especial. É muito comum os pais desenvolverem técnicas de manipulação psicológica, com objetivo de alterar comportamentos específicos. Geralmente, a manipulação é feita com objetivos nobres, outras vezes de forma pueril e inconsequente. É preciso ficar atento para o que se pretende e o que está realmente em jogo. Compaixão e culpa são duas grandes maneiras de, eliciando emoções, manipular pessoas.
A culpa é sentimento, por assim dizer, negativo e praticamente não é reconhecido nos animais, o que equivale dizer que é emoção trabalhada linguisticamente. O que é a culpa? Quem e o que geram isto em crianças? Pessoas queridas que demonstrem estar “magoadas” com atitudes da criança determinam ou tentam determinar mudanças radicais de comportamento no petiz.
Muitas vezes, para o adulto, isto é apenas um teatro que funciona muito bem em crianças. O que não se pode esquecer, no entanto, é que as impressões experimentadas nesta fase de aprendizado e estruturação podem permanecer por toda a vida. Em certas situações, a culpa pode ser sentimento até desejável e regulador do comportamento social.
Em outras, pode ser sentimento frustrante e castrador, responsável por inibições, timidez e repressão social. É o que a psicologia chama de superego. Aos pais, como educadores, compete ter a sensibilidade necessária para não abusar deste tipo de processo, utilizando-o apenas com objetivos claros, voltados para a educação comportamental, latu senso.
APREENDENDO A NOÇÃO DE TEMPO
A criança é um ser que vive apenas no presente. Esta afirmação é verdadeira?
A criança tem fome, acorda, chora, é saciada, dorme, tem fome, acorda, chora, é saciada, dorme... A sequência de acontecimentos, que se repete indefinidamente, é a maneira como a inteligência não-verbal primitivamente organiza a noção de tempo. Tem caráter cíclico e repetitivo. À medida que fatos novos vão acontecendo, podem-se estabelecer marcos diferentes de orientação temporal e é sobre esses marcos que se estrutura uma noção mais complexa de tempo.
A melhor maneira de iniciar a aquisição da noção de tempo é descrevendo rituais conhecidos pela criança. Por exemplo, na hora do banho, relatar o que acontece: — Primeiro a mamãe tira a sua roupa, depois abre o chuveiro, depois passa o sabonete, depois enxágua... E assim por diante. É estabelecendo conexões temporais entre sequências de acontecimentos que a criança adquirirá noções de passado e futuro.
Dentro das conexões, é importante frisar o que já aconteceu, o que está acontecendo e o que vai acontecer, alternando o ponto de vista temporal, de acordo com a ação presente. Por exemplo, enquanto a mãe tira a roupa da criança, dirá: — Estou tirando a sua roupa; você vai tomar banho. Durante o banho, insistirá: — Eu tirei a sua roupa; você está tomando banho; depois eu vou enxugar você. Este hábito, realizado alegremente a partir do nascimento, além de estimular o desenvolvimento do processamento linguístico da criança, estreita laços afetivos, facilita o aprendizado da conjugação verbal e estrutura as noções de tempo.
ESTIMULANDO O RACIOCÍNIO VERBAL
O raciocínio verbal é o recurso mais empregado para a resolução de problemas concretos e para a tomada de decisões na vida. Este, ao contrário do raciocínio não-verbal, procura elementos estritamente lógicos e interligados racionalmente para montar o esqueleto da situação, visando a definir as questões cuja resolução se faz necessária. Apesar de muitas vezes a resposta final para o problema ter origem no raciocínio não-verbal, é sobre a estrutura montada pelo raciocínio verbal que os mecanismos inconscientes trabalham para atingir a sua meta.
FILOSOFIA E LÓGICA PARA O LACTENTE E O PRÉ-ESCOLAR
Filosofia é o estudo que visa a ampliar a compreensão da realidade. A lógica é a parte da filosofia que estuda os processos intelectuais. Nada mais justo, portanto, do que buscar nesse ramo do saber algumas técnicas para estimular o desenvolvimento dos processos mentais na infância. Cada técnica deve ser adaptada para o grau de capacitação de cada bebê. Se partirmos do simples para o complexo, com certeza chegaremos ao ponto de entendimento de cada criança em particular.
O estímulo ao desenvolvimento dos processos verbais é realizado através do método dialético. Não usarei o termo dialética apenas no sentido filosófico mas também no de arte do diálogo, com conotação mais ampla. Durante o desenvolvimento neuropsicomotor, cada fase do crescimento infantil terá técnicas próprias para este tipo de estimulação mas o princípio será sempre o mesmo. A atenção prestada pela criança é o modo como sabemos que as informações estão sendo processadas.
ESCUTANDO SEU FILHO
Um dos piores defeitos que os pais podem ter é o hábito de, sistematicamente, ignorar o que seu filho tenta dizer-lhes, principalmente se estão ocupados em algum afazer ou entretenimento doméstico. Mesmo o bebê tem muita coisa para contar aos pais, apesar de não dominar a estrutura linguística. É necessário ter sensibilidade, prestar atenção e dispor de tempo e paciência para apreender o que o petiz pretende comunicar. Escutar a criança é essencial e, mais do que simplesmente escutar, devemos incentivar o diálogo (dialética), entendendo e estimulando os recursos mentais utilizados pela criança para alcançar resultados construtivos. A dialética infantil avança gradativamente e é através da avaliação correta dos recursos linguísticos estruturados que se podem obter os melhores resultados em termos de estímulo ao desenvolvimento.
CONVERSANDO COM SEU FILHO
Ninguém conversa com o bebê da mesma maneira que conversaria com uma criança maior ou com um adulto. A arte do diálogo com bebês não é tão simples; às vezes, é mais fácil conversar com adultos do que com lactentes, que têm necessidades e dificuldades específicas de comunicação. Pode parecer estranho falar-se em diálogo envolvendo o recém-nascido, mas, lato sensu, devemos considerar que o bebê também se comunica não-verbalmente através do choro, das reações emocionais e motoras, do riso etc. Para facilitar o meu trabalho, descreverei a metodologia, o objetivo e a importância da dialética em cada fase da estruturação cerebral da criança.
DIALÉTICA ESTRUTURATIVA
Logo após o nascimento, o bebê não tem nenhuma estrutura linguística de comunicação ao menos esboçada. No entanto, o seu sistema auditivo está plenamente desenvolvido para detectar sons e o seu cérebro está apto a reter as informações sensoriais provenientes do ambiente. A estruturação do sistema de linguagem inicia-se através do armazenamento dos sons das palavras ditas ao seu redor.
Conversar com o recém-nascido e habituá-lo a estar presente durante as conversas entre adultos é extremamente útil para o cérebro distinguir padrões sonoros e descobrir que os sons representam um meio de comunicação. Ao ouvir repetidamente o mesmo som, o cérebro começa a constituir o que se convencionou chamar de engrama de memória, ou seja, alguns circuitos neuroniais têm os seus caminhos facilitados, de modo que determinados estímulos auditivos começam a ser armazenados, apesar de não serem reconhecidos. Determinado som só começará a ser reconhecido quando associado neuronialmente a outro tipo de estímulo relacionado.
DIALÉTICA DEMONSTRATIVA
A partir do momento em que o bebê começa a apresentar sustento cefálico eficiente e a permanecer mais tempo acordado e interessado no ambiente (entre o primeiro e o segundo mês de vida), os pais podem iniciar a dialética demonstrativa. A técnica é bastante simples e consiste em repetir, devagar e suavemente, o nome das pessoas e objetos nas quais a criança esteja fixando a atenção.
Esta repetição não deve perdurar por mais do que alguns momentos e a atenção do bebê deve ser desviada em seguida para outro objeto que será tocado com a mão. Quando o bebê focar sua atenção sobre este novo objeto, pode-se começar a repetir o seu nome devagar.
Dessa maneira, o seu pequeno cérebro estará associando um estímulo visual a um estímulo sonoro, associação esta que é a base do reconhecimento que podemos chamar de aprendizado. Com o tempo, o bebê vai acostumar-se com a brincadeira e passar a exigi-la mais e mais frequentemente, constituindo verdadeira rotina de desenvolvimento neurosensorial.
DIALÉTICA ASSOCIATIVA
Depois da fase de reconhecimento binário simples, em que a criança tenha automatizado as relações entre os estímulos auditivos e visuais, o cérebro passa a trabalhar não mais com os estímulos sensoriais isolados, mas com conceitos de objetos formados por estímulos multissensoriais complexos.
Uma vez adquiridos os conceitos básicos, os pais podem começar a trabalhar a dialética associativa, que reforçará a estrutura da função dos objetos, introduzirá a noção e a utilização dos verbos (no sentido gramatical), bem como as inter-relações complexas entre os seres e os objetos.
A dialética associativa pode ser empregada a partir do quarto mês de idade e deve sempre empregar os termos e objetos pertencentes à rotina do bebê. Desse modo, os pais vão estruturar verbalmente as atividades que acontecem na vida da criança para aproveitarem as oportunidades de aprendizado. A técnica consiste em relatar as relações existentes na rotina diária. Durante a refeição, a colher serve para o bebê comer; durante as trocas, a roupa serve para vestir; e assim por diante.
DIALÉTICA COMPARATIVA
Ainda com o objetivo de estimular o processamento e as interconexões neuroniais, a partir do momento em que percebermos que o bebê tem estruturado um pequeno vocabulário (geralmente ao redor dos seis meses), podemos utilizar a dialética comparativa para enriquecê-lo. A técnica consiste em expor visualmente objetos com elementos em comum e ressaltar as diferenças entre eles. Por exemplo: bola grande — bola pequena; bola azul — bola vermelha; bola leve — bola pesada. À medida que a criança se desenvolve, as comparações se tornarão mais sutis ou mesmo subjetivas: bola lisa — bola áspera; bola feia — bola bonita; e assim por diante.
DIALÉTICA CLASSIFICADORA
Mais tarde, quando da introdução de mais de dois elementos ao processo comparativo, estaremos iniciando um processo classificativo mais enriquecedor, ensinando ao bebê técnicas de diferenciação mais complexas baseadas em critérios e padrões preestabelecidos. Assim, as primeiras classificações podem ser do tipo: pequeno — médio — grande — enorme; quente — morno — frio — gelado; azul — verde — amarelo — preto; e assim por diante. Buscar elementos em comum, classificar pelas diferenças, estruturar padrões universais de comparação e classificação são formas de estimular interconexões neuroniais importantes, interconexões que acompanharão a criança por toda a vida e servirão de base para a formação do raciocínio tal como o conhecemos.
DIALÉTICA SIMBOLÓGICA
O uso de símbolos para representar seres, atributos e objetos é um recurso superior da mente só conhecido na espécie humana. Através da simbologia, o cérebro pode simplificar caminhos e processos, economizando recursos para estabelecer raciocínios elaborados. O ser humano nasce com capacidade inata para simbolizar, a qual pode ser aproveitada ao máximo através de adequada orientação.
A maneira de iniciar a dialética simbológica é simples e através do brinquedo. Basta pegar três bonecos de diferentes tamanhos e dizer que são o papai, a mamãe e o nenê. A partir daí, a dialética simbológica não tem mais limites, passando pela escrita, pela matemática e por todas as ciências. Para a criança, brincar é um grande exercício de simbolização. Quanto maior a diferença entre o símbolo e o objeto representado, mais recursos cerebrais estarão envolvidos no processo é maior o estímulo à capacidade associativa.
DIALÉTICA DO ABSURDO
A partir do terceiro semestre de vida, muitos bebês têm vocabulário bastante rico e definido. Exatamente por estar definido, o vocabulário pode tornar-se fonte de grande alegria para a criança (temática do humor). Quem lida com crianças pequenas sabe que a grande piada nesta idade é o absurdo (aliás, em qualquer idade).
Trocar o nome de pessoas e objetos, inverter atributos (gordo por magro ou grande por pequeno), inventar pequenos absurdos, são maneiras de originar risos e gargalhadas. Neurolinguisticamente, a informação absurda é recebida pelo cérebro, processada e rejeitada através do humor. Pedagogicamente, a dialética do absurdo, como todas as outras, é uma técnica de forte estímulo aos processos associativos.
SILOGISMO
O silogismo é a dedução feita a partir de duas proposições denominadas premissas, de modo a originar uma terceira proposição logicamente implicada, denominada conclusão. É exercício que deve ser estimulado diariamente na dialética, de maneira espontânea e natural. Por exemplo, se a criança de dois anos e meio sobe em uma cadeira sem apoio, os pais têm várias opções de conduta. Podem simplesmente tirar a criança da cadeira. Podem ameaçar a criança: — Você vai cair!... Ou podem treinar a arte do silogismo: — Se você subir em um lugar alto e se você cair, vai se machucar.
Na rotina do dia, pode não fazer muita diferença a opção que os pais escolham, mas toda informação recebida pelo cérebro é informação processada. A maneira como a informação é recebida é o grande fator determinante da maneira como será processada. A maneira como os pais encaram os fatos reflete-se no modo como a criança processa as informações, o que, finalmente, determina a qualidade de sua inteligência.
SÍNTESE
A síntese é definida como a operação mental que procede do simples para o complexo. É o caminho natural do pensamento lógico e a base de todo conhecimento adquirido. Em qualquer área do conhecimento, qualquer conquista intelectual deve necessariamente ser fundamentada neste tipo de raciocínio ou não terá fundamento aceitável. Todo grande matemático começou sua aventura no conhecimento através do um mais um igual a dois.
Passo a passo, novos conhecimentos e novas técnicas foram acrescentando-se ao seu cabedal, de modo que alguns passos começaram a ser pulados e outros passaram a ser automáticos.
Para a pessoa que não tenha trilhado todo o caminho, o raciocínio matemático vai parecer complicado e inacessível. Para quem partiu do simples para o complexo, tudo é fácil e lógico. Não existem conhecimentos complicados.
O que existe são raciocínios incompletos. Não existem conhecimentos difíceis de serem aprendidos. O que existe são hiatos na técnica de ensino. Muitas vezes, o adulto se esquece disso e, ao conversar ou explicar algo à criança, aborda temas que ela não domina, para justificar algo que ela está tentando entender. O resultado da conversa é medíocre.
No diálogo com crianças, é necessário realizar esforço extra para se avaliar o que o interlocutor pode assimilar e, ao mesmo tempo, expor todo o caminho do raciocínio, partindo-se do simples para o complexo, em passos lógicos e interligados, sem hiatos. Dando um exemplo politicamente incorreto, se a criança de quatro anos quer saber por que se coloca gasolina no carro, não adianta dizer a ela que a gasolina faz o carro andar.
Ficaria calada e pensativa, não iria entender nada e se perderia ótima oportunidade de estímulo ao desenvolvimento. A melhor opção será levar a criança até o carro, abrir o capô, mostrar o motor funcionando, mostrar o tanque de gasolina e o encanamento que leva a gasolina até o motor. A partir desse fato, novas dúvidas vão surgir e provavelmente a criança vai querer saber mais.
A formulação de perguntas implicadas é a prova de que a criança está assimilando os conhecimentos como resultados da metodologia. Não podemos conversar com crianças da mesma maneira que com adultos. Com estes, podemos empregar hiatos e pular processos. Com aquelas, o caminho do raciocínio, mesmo que enfadonho, deve ser completo, partindo-se sempre do simples para o complexo. Dá mais trabalho, mas o resultado compensa.
MAIÊUTICA
A maiêutica é um método de ensino socrático no qual o professor se utiliza de perguntas que se multiplicam para levar o aluno a responder às próprias questões. É uma técnica de ensino fantástica, que atinge resultados excelentes. Tem a vantagem de funcionar como verdadeiro exercício mental para o aluno, que, utilizando seus próprios conhecimentos, desenvolve a capacidade associativa, otimizando recursos na estruturação de mecanismos de raciocínio lógico. Também funciona muito bem para bebês.
O processo da maiêutica pode começar, por exemplo, quando a criança de dois anos pergunta aos pais alguma coisa que já sabe. Frequentemente, crianças pequenas fazem esse tipo de questão. Basta aos pais devolver a pergunta e a criança responderá com um sorriso feliz por constatar que sabe a resposta.
Quando faz isto, não está testando os pais ou divertindo-se. Está simplesmente abordando um objeto com uma região do cérebro no qual ele não está registrado. Digamos que está encarando o objeto sob outro ponto de vista. Ao receber de volta a questão, a criança faz um esforço e, utilizando de recursos associativos, descobre a região da mente onde definira o objeto e responde à própria pergunta.
Questões mais elaboradas exigem mais de uma pergunta para atingir o objetivo. A maiêutica, do mesmo modo que a síntese deve trilhar o caminho lógico, mas, ao contrário desta, pode partir do complexo para o simples, se se utilizar de recursos apropriados. A maiêutica, por ser um processo elaborado, necessita de um pouco de esforço e talento dos pais, como tudo que vale a pena na vida.
ESTIMULANDO OS MECANISMOS DE EVOCAÇÃO E DE ARMAZENAGEM
A memória, assim como qualquer outra capacidade cerebral, também pode ser treinada e adestrada a partir da primeira infância.
Ao contrário das outras funções específicas do cérebro, a neurofisiologia não conseguiu definir nenhuma área específica de armazenamento de informações, as quais parecem estar relacionadas com as áreas sensoriais em que tiveram origem. Conhecemos, no entanto, algumas áreas cerebrais que se ocupam de trabalhar os fatos importantes e de selecioná-los de modo a separar o que interessa ser armazenado. São nessa capacidade de armazenar, guardar e depois evocar as lembranças que concentramos os nossos esforços.
Os primeiros estudiosos da memória, ao observarem a dificuldade de as pessoas idosas recordarem-se de fatos recentes de suas próprias vidas, com a preservação da capacidade de se recordarem de fatos ocorridos há muitos anos, chegaram a dividir a memória em duas partes: a memória para fatos recentes e a para fatos passados. Existiria um local anatômico que serviria ao propósito de armazenar a memória recente, que seria trabalhada e depois enviada para o local dos fatos passados. Nos idosos, a memória presente estaria prejudicada.
Nunca se conseguiu provar satisfatoriamente essa teoria. De fato, o que parece acontecer com a senilidade é que, estando debilitado, o mecanismo de triagem de informações não processa as mensagens sensoriais de modo a encaminhá-las para armazenamento.
O mecanismo de triagem está relacionado diretamente com os locais de processamento emocional. Sugere-se que as informações associadas a alguma forma de prazer teriam prioridade para o armazenamento, enquanto as ligadas ao sofrimento seriam mais facilmente apagadas.
Uma forma fácil de estimular o processo mnemônico, na primeira infância, é através do reforço do prazer. Fatos, informações e acontecimentos nos quais a criança tenha experimentado alguma sensação de felicidade estimulam, necessariamente, o processo de armazenamento.
A melhor maneira de incentivar e treinar o mecanismo evocativo está no hábito de contar para a criança as coisas boas que lhe aconteceram. Um bom horário para isso é à noite, à hora de dormir, quando se contará uma história com os acontecimentos do dia. Isto pode ser feito até mesmo com personagens fictícias, interessantes e fantasiosas, deixando-se o relato mais atraente. O núcleo básico, que são os acontecimentos, será necessariamente evocado, estimulando e treinando a função da memória de tanta importância para a vida adulta.
ESTIMULANDO O DESENVOLVER DA CORPOREIDADE
O vivenciar do mundo pelo corpo é um processo natural que, apesar de seguir padrões mais ou menos comuns a todos os seres humanos, pode ter grandes diferenças em termos de qualidade e intensidade, dependendo do tipo de atividades adotadas.
A corporeidade do bebê também depende muito do padrão de atividades que seus pais estimulem ou permitam. O bebê que permanece no berço deitado o dia inteiro ou vive preso em cercados tem possibilidades mais limitadas de desenvolvimento do que o bebê adequadamente estimulado. É importante ter-se em mente, também, que o aspecto corporal contribui em muito para a estruturação da inteligência como um todo, inclusive quanto aos processos verbais.
O estímulo do desenvolvimento da corporeidade do bebê é realizado com algumas técnicas simples, desde que envolvam tanto o aspecto sensorial quanto o motor.
A interação do bebê com os pais, através de brincadeiras, afagos, carícias, massagens, cócegas, risos, é o primeiro passo neste sentido.
Acostumar a criança a passear no colo (apesar do trabalho que isto possa representar) é fundamental para o desenvolvimento do processo corporal. Não só passear no colo, mas passear em diversas posições, principalmente com as costas voltadas para quem a carregue, de modo que possa ver as coisas ao redor.
Bebês a partir de um mês de idade podem usufruir de técnicas como a de “voar”, que consiste em apoiar o tronco da criança com uma mão e as pernas com a outra, levando a criança a explorar os detalhes da casa, frontalmente e com as mãos livres. Durante a exploração, a criança é elevada e abaixada várias vezes, devagar, estabelecendo noções de tridimensionalidade.
Um lençol também pode ser de grande ajuda no desenvolvimento dos aspectos motores. Dobrado em uma faixa e colocado sob o tronco do bebê de três ou quatro meses que esteja no chão “de quatro”, ou seja, apoiado nas mãos e nos joelhos, pode fornecer a sustentação necessária para que a criança tente seus primeiros deslocamentos engatinhando.
Se este mesmo lençol dobrado em uma faixa for colocado envolvendo o tórax, logo abaixo das axilas e seguro nas extremidades perto das costas da criança, serve como sustentação para que o bebê de três ou quatro meses troque seus primeiros passos andando.
A piscina também é uma grande ferramenta no desenvolvimento da corporeidade. Por mudar completamente o referencial de espaço contribui como estímulo para as áreas cerebrais responsáveis pela coordenação motora e o equilíbrio. Além disso, propiciam sensações cutâneas diferentes, incentiva novas formas de motricidade e é uma diversão de primeira linha, promovendo interação de muito prazer com os pais.
PASSO A PASSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE ZERO A DOIS MESES
Todo bebê, desde o nascimento, tem a capacidade de ver, ouvir, cheirar e sentir o mundo que o envolve. Todas as sensações provenientes do meio em que vive são fundamentais para o desenvolvimento e o amadurecimento de seu sistema nervoso, o que equivale a dizer de sua inteligência.
Muitos pais, por não conhecerem o princípio básico do desenvolvimento infantil, deixam de propiciar, durante a primeira infância, uma vida rica em vivências e experiências, dificultando, sem querer, a utilização plena de todo o potencial intelectual da criança. É um dos maiores erros que podem existir na educação, uma vez que é durante os primeiros anos de vida que o cérebro estabelece, de maneira definitiva, como e com quais recursos vai dirigir o seu funcionamento.
A falta de adequada estimulação durante a primeira infância é uma das principais causas de insucesso escolar, o que compromete, irremediavelmente, todo o futuro profissional e social do indivíduo.
Pensando em contornar o problema, delineio alguns princípios básicos para melhorar a qualidade do relacionamento entre os pais e o bebê, visando à estimulação do desenvolvimento neurológico, afetivo, intelectual e social, durante a primeira infância.
1. Converse com seu filho. Crie o hábito de conversar com a criança sempre que estiver acordada. Cantarole durante o banho. Brinque durante as trocas de roupas e de fraldas. Durante os afazeres domésticos, deixe o bebê por perto e converse com ele a respeitos das coisas do dia-a-dia. Leve a criança para escutar a sua conversa com os amigos e vizinhos. Não acostume a criança a ficar sozinha no berço. O cérebro precisa do estímulo auditivo para desenvolver-se e aprender a utilizar a linguagem. Fale devagar, calmamente, e repita bastante as mesmas palavras, para que se habitue a reconhecer os sons.
2. Estimule seus movimentos. Não prenda as pernas e os braços do bebê com faixas, mantas e roupas apertadas. Desde o primeiro dia de vida, utilize roupas e agasalhos que lhe permitam movimentos livres. Movimente-lhe você mesmo, de maneira delicada, os braços e pernas. Deixe que a criança lhe toque o rosto e os objetos e brinquedos que a cercam. No início, não terá coordenação para fazer isto sozinha mas, se você ajudar, logo estará aprendendo.
3. Ajude seu filho a ver o mundo. Quando estiver acordado, segure-o em posição elevada, com as costas para você, e mostre-lhe de perto os objetos, os brinquedos, as pessoas da casa. Apresente-lhe brinquedos coloridos ou luminosos e movimente-os, para que ele possa acompanhá-los com o olhar e a cabeça. Lembre-se de que os bebês não conseguem enxergar de longe e habitue-se a aproximá-lo das coisas.
4. Passeie com ele. Não restrinja o mundo de seu filho a um quarto dentro de casa. Passeie com ele por outros ambientes. Se o tempo estiver bom, saia com ele para as pequenas compras. Leve-o às casas dos parentes e amigos. Passeie pelas ruas, por praças, parques e jardins. Durante o passeio, demonstre alegria e fale o nome das coisas em que estiver demonstrando interesse. Repita o passeio sempre que puder. Ele vai gostar de reconhecer as coisas e os locais por onde esteve anteriormente.
5. Modifique a postura do bebê. Não acostume a criança a ficar deitada em apenas uma posição. Coloque-a de costas, de bruços, de lado, sentada, de pé, estimulando-a a perceber as diferentes possibilidades de relacionamento corporal com o mundo.
6. Acaricie seu filho. Afague, delicada e lentamente, todas as partes do corpo do bebê. Aperte suavemente os dedos dos pés e das mãos, enquanto conversa ou cantarola carinhosamente. Isto vai ajudá-lo a perceber melhor o próprio corpo e aprender a controlar os movimentos.
7. Olhe nos olhos Acostume seu filho com este tipo de contato visual desde o nascimento. A expressão facial da pessoa é muito rica em informações de caráter emocional, e o reconhecimento das informações é tão importante quanto o reconhecimento da mensagem verbal. O desenvolvimento psicológico da criança depende muito de sua capacidade de interpretar as mensagens não-verbais emitidas pelos familiares.
TÉCNICAS AVANÇADAS DE ESTÍMULO AO DESENVOLVIMENTO NEUROMOTOR DO RECÉM-NASCIDO (motricidade liberada)
Uma das coisas mais surpreendentes da natureza animal é a neuroprogramação dos recém-nascidos de qualquer espécie, para desenvolver determinados comportamentos instintivos de importância vital para a sobrevivência. Logo após o nascimento, o filhote de canguru, pouco maior do que um centímetro migra por longo trajeto até a bolsa da mãe, para terminar o desenvolvimento. O filhote de chimpanzé nascerá com capacidade para agarrar-se aos pêlos da mãe, de modo a não despencar durante as longas viagens por sobre as copas das árvores. O potro, alguns minutos após o nascimento, estará levantando-se com as frágeis pernas, a procurar o leite materno, sofregamente.
Todos esses comportamentos são atos reflexos que não dependem de aprendizado.
O recém-nascido humano também possui dois atos reflexos vitais: o choro e a sucção.
Além desses dois atos reflexos complexos, o recém-nascido possui vários outros, aparentemente sem funções estratégicas na sobrevivência e que são interpretados pelos cientistas como resquícios do processo evolutivo. Os reflexos arcaicos ou primitivos são examinados sistematicamente durante as consultas de puericultura e tendem a desaparecer ou a serem modificados no decorrer do processo de amadurecimento do sistema nervoso central.
Durante a fase inicial da vida, os reflexos arcaicos, por assim dizer, parasitam o sistema nervoso do recém-nascido e o deixam impossibilitado de administrar seus recursos neuromotores para relacionamento efetivo com o meio ambiente. Só à medida que o tônus muscular se desenvolve, a criança ganha condições para inibir tais reflexos, abrir os olhos, esboçar seus primeiros movimentos corporais voluntários e interagir com as pessoas ao redor.
Algumas crianças (nem todas) sofrem bastante com esses reflexos (que podem ser bastante frustrantes), uma vez que inibem uma série de comportamentos voluntários. Outras crianças, no entanto, passam naturalmente por essa fase sem maiores dramas.
O maior fator responsável pelo desencadeamento dos reflexos arcaicos é a instabilidade cervical. Devido à pouca força da musculatura do pescoço, os pequenos deslocamentos da cabeça provocam uma reação conhecida como reflexo de Moro, que consiste no fechamento dos olhos, a abertura seguida pelo fechamento de braços e mãos como em um abraço e, por fim, o choro. Este reflexo lembra muito o instinto do chimpanzé agarrando-se ao pelo da mãe para não cair. Mesmo não sendo desencadeado totalmente, o reflexo de Moro, em seu estágio inicial (fechamento dos olhos), é suficiente para inibir a atividade motora voluntária do recém-nascido.
Através de algumas técnicas bastante simples, os pais podem aprender a inibir os reflexos primitivos, permitindo interação mais efetiva da criança com o ambiente. É o que chamamos de motricidade liberada. Tais técnicas são muito valiosas para certas crianças que querem interagir com o ambiente e não conseguem, sendo também muito úteis como instrumento de estímulo para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
O primeiro passo é eliminar a instabilidade cervical através da fixação manual da nuca. A técnica consiste em manter a criança em posição elevada a quase noventa graus, voltada para o examinador, que, com uma das mãos, fixará a cabeça e a nuca do recém-nascido de modo a impedir os movimentos bruscos.
A técnica não deve ser realizada em momento em que a criança esteja com fome ou logo depois de saciada, para impedir que a fome ou o sono prejudiquem a atividade. Mantida na posição por vinte a trinta minutos, a criança começa a libertar-se dos reflexos que a parasitam.
Consegue, então, abrir os olhos e a estabelecer contato visual intenso com o examinador, aparentando o desenvolvimento da criança de mais idade. Algumas crianças chegam a esboçar uma atividade de preensão voluntária, como se quisessem agarrar algum objeto ou o rosto do examinador.
À medida que a musculatura do pescoço começa a se fortalecer, a criança consegue inibir estes reflexos naturalmente e participar mais frequentemente do ambiente.
Estimular a criança a manter-se na posição de bruços é um modo excelente de fortalecer a musculatura do pescoço, que se obriga a vencer a força da gravidade para elevar a cabeça.
O controle da instabilidade cervical e o sustento cefálico são as primeiras conquistas neuromotoras do recém-nascido e o primeiro passo da longa caminhada rumo ao amadurecimento neurológico.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE DOIS A QUATRO MESES
Por volta dos dois meses de idade, o bebê será capaz de sustentar firmemente a cabeça, de sorrir, de interagir com as pessoas e de interessar-se pelo ambiente e pelos objetos. Com o fortalecimento da musculatura cervical, a criança poderá permanecer mais tempo em condições de postura que lhe permitam vivenciar e captar plenamente os estímulos sensoriais que lhe chegam do ambiente.
Quando o bebê alcança essa habilidade, sua mente estará estruturando recursos para associar as informações recebidas simultaneamente pela visão e pela audição, criando o esquema de reconhecimento que será utilizado como padrão de inteligência pelo resto da vida.
Reconhecer é conhecer duas vezes. Em nossa mente, existe um processo associativo poderoso que relaciona estímulos sensoriais diferentes para se definir (reconhecer) o objeto de nossa atenção. Por exemplo, se alguém lhe disser a palavra copo, de modo automático, a sua mente vai associar o estímulo auditivo à imagem visual armazenada, à lembrança da sensação tátil de pegar o copo e à função do objeto no cotidiano.
Através da associação instantânea e quase imperceptível, você estará definindo mentalmente o objeto que nem precisa estar em seu raio de visão. Se, por qualquer razão, a mente não realizar a associação instantânea, você não vai saber do que se trata. Seria como estar escutando linguagem estranha e desconhecida.
Podemos definir inteligência como a capacidade do cérebro de associar diferentes estímulos de maneira mais ou menos complexa, de modo a definir o objeto da atenção, criando e armazenando novo conceito multifacetado.
É durante os primeiros meses de vida que a intensa rede associativa se estabelece, através da estabilização das conexões entre as células nervosas. A qualidade e extensão da rede vão depender diretamente da qualidade dos estímulos fornecidos ao bebê. Daí a importância de propiciar à criança infância rica em vivências e experiências coerentes, de maneira a estruturar tais recursos.
O segundo bimestre de vida também é momento importante na aquisição e estabelecimento da corporeidade. Corporeidade é a maneira como o cérebro reconhece e utiliza o corpo como instrumento relacional com o mundo.
Durante os quatro primeiros meses de vida, a criança não tem a capacidade de abrir voluntariamente as mãos (devido aos reflexos primitivos remanescentes do estágio de recém-nascido), nem força muscular para manter-se sentada sozinha. Isto a impossibilita de manipular os objetos.
Os pais podem auxiliar a criança a estabelecer e desenvolver a corporeidade, tocando e massageando as mãos, colocando objetos de diferentes texturas em suas mãos e apoiando a criança sentada, mesmo que seja no colo, o maior período de tempo possível.
Os pais como elementos educadores, podem auxiliar a estruturação da inteligência dos filhos, se tiverem em mente esses princípios e se, sistematicamente, adotarem algumas técnicas da pedagogia do lactente. As técnicas, quando empregadas rotineiramente, além de trazerem grande prazer e satisfação ao bebê, estreitam de maneira definitiva os laços afetivos da criança com os pais, estimulando melhor conhecimento mútuo e compreensão.
1. Estimule o sustento cefálico. A partir do momento que o seu filho adquirir a capacidade de firmar a cabeça, não o carregue mais como recém-nascido. Segure-o de maneira a deixar-lhe a cabeça solta e livre. Você pode fazer isso apoiando as costas da criança sobre o seu tórax e segurando-a sentada pelas pernas e pela barriga; ou apoiando o tórax da criança contra o seu ombro; ou, se você tiver força e fôlego, pode apoiá-la deitada com a barriga para baixo com uma das mãos em seu tórax, segurando-lhe firmemente as perninhas com a outra mão, enquanto a suspende em diferentes alturas, para que ela possa passear pelos ambientes da casa, como se estivesse voando lentamente. Muito estimulante e divertida, a brincadeira acaba tornando-se rotina na vida dos bebês que a experimentam e que passam a solicitá-la diariamente.
2. Continue conversando com seu filho. Enquanto você estiver passeando com seu filho, observe atentamente o que ele estiver olhando. Repita várias vezes o nome da pessoa ou do objeto em que estiver focando a atenção. Fale o nome certo, pausada e lentamente, para que possa correlacionar a imagem visual com o som articulado. Se não estiver prestando atenção a nenhum objeto, simplesmente cantarole alguma canção do seu repertório habitual. Não se esqueça de que os bebês não enxergam direito de longe. Leve seu filho para bem perto das pessoas e objetos, para que possa enxergá-los bem.
3. Brinque com o corpo do bebê. Movimente-lhe os pés e as mãos, afague, massageie e faça cócegas. Movimente-o ativamente e modifique sua posição de vez em quando. Tente colocá-lo de pé, para que sinta e tente apoiar-se ao solo. Quando estiver bem desperto, coloque-o sentado com o apoio de almofadas, mesmo que seja por alguns momentos. Não o acostume a permanecer monotonamente deitado no berço. Estimule, dessa maneira, a criança a reconhecer os recursos corporais, facilitando o cérebro a sentir e utilizar o corpo.
Quando a criança conseguir dominar os seus reflexos primitivos para abrir voluntariamente as mãos e conseguir manter-se sentada com apoio por tempo razoavelmente longo, terá subido mais um degrau na conquista das aptidões e terá estruturado os recursos mentais para prosseguir no desenvolvimento neuropsicomotor.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE QUATRO A SEIS MESES
O período que se segue a partir dos quatro meses é crucial para a consolidação dos dois principais elementos que verdadeiramente definem a inteligência do homem e o distingue dos animais irracionais: a descoberta da manipulação e a estruturação da inteligência verbal.
Neurofisiologicamente, a inteligência é conceituada como capacidade associativa e, anatomicamente, depende das conexões entre as células cerebrais que se estabelecem nesta idade. A capacidade para associar estímulos provenientes de diferentes regiões do cérebro promove o desenvolvimento de áreas de integração, onde as informações são processadas com base nas experiências prévias em busca de padrões comparativos, seja para estruturar conhecimentos, seja para resolver problemas do cotidiano.
A manipulação é atributo exclusivo do homem. É através dela que podemos não só avaliar tridimensionalmente os objetos, como também perceber a sua textura, peso e detalhes. Associando as informações táteis com as informações visuais e auditivas, o cérebro cria um conceito sobre o objeto manipulado. Surge, então, a experimentação, novas informações são adicionadas e o objeto se transforma em uma ferramenta com uma função. Ferramentas criam novos objetos que vão enriquecer ainda mais a experiência humana, cujo potencial ilimitado nos trouxe até as maravilhas da vida moderna.
Para administrar a formação dos conceitos, o cérebro precisa associá-los a significados. Os significados são maneiras de simplificar e dinamizar o trabalho associativo, facilitando o raciocínio. Desta maneira, o atributo verbal relacionado ao objeto passa a representar mentalmente todos os outros atributos.
Estrutura-se, então, a linguagem ou inteligência verbal, que, muito mais do que simples convenção idiomática ou meio de comunicação, é uma representação mental organizadora de todas as outras experiências de vida do indivíduo. A criança começa a se tornar um ser linguístico, estruturando e programando neurolinguisticamente o raciocínio. A maneira de estimular e reforçar o processo é muito simples, mas de importância capital.
1. Estimule a manipulação. Forneça ao bebê objetos fáceis de serem agarrados e que despertem a curiosidade, que sejam, de preferência, coloridos, que produzam sons agradáveis à manipulação e de diferentes tamanhos, formas e texturas. Comece com os objetos mais simples, com menos facetas a serem exploradas, e vá aumentando a complexidade paulatinamente. Deixe que a criança brinque com ele quanto tempo quiser.
2. Associe significados. Você vai notar que, durante os passeios, o bebê vai aumentar gradativamente o interesse pelo nome dos objetos. Preste atenção quando isto estiver acontecendo, aponte e repita o nome do objeto, até que a criança demonstre interesse por outra coisa. Ao mesmo tempo, ela vai demonstrar grande prazer pela brincadeira e começar a solicitá-la cada vez mais frequentemente. A brincadeira de esconde-esconde também ajuda a fortalecer as associações. Mostre um objeto interessante, fale o nome devagar várias vezes, esconda o objeto e pergunte por ele. Isto vai estimular a criança a formar a imagem do objeto em sua mente, a partir do nome, ou seja, interpretar o significado das palavras. Atividades simples representadas por verbos também começam a ser compreendidas, como mamar, subir, descer, andar, e podem ser ensinadas ou representadas teatralmente.
3. Fale de maneira correta.
Ao falar com a criança, evite simplificar o vocabulário. Fale frases completas, de maneira gramaticalmente correta, conjugando os verbos de forma adequada. A estruturação lingüística está consolidando-se neste período e os vícios de linguagem adquiridos agora podem ser difíceis de se corrigirem mais tarde.
4. Escore a criança sentada. Coloque-a no andador.
A grande aquisição motora nesta fase é a postura sentada. Escore a criança sentada no chão com travesseiros, enquanto brinca com ela. Progressivamente, ela vai fortalecer a musculatura e adquirir coordenação motora para permanecer sentada sem apoio e começar a se deslocar pelo ambiente, preparando-se para nova etapa de vida. Deixar a criança no andador também é uma experiência ótima para ampliar-lhe as perspectivas e contribui para melhorar a corporeidade dos membros inferiores.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE SEIS A NOVE MESES
Por não possuir arquitetura neuronial fixa, a capacidade associativa do lactente não tem limites. A partir da exploração de um objeto, a criança pode associar livremente a ele atributos de outros objetos, animais ou pessoas, sem restrições preconcebidas, criando seus próprios conceitos.
A associação livre é a primeira manifestação criativa do ser humano. Conhecida como imaginação, a atividade cerebral adquirida na primeira infância acompanha o indivíduo por toda a vida e é uma das facetas mais surpreendentes da inteligência humana.
A mente infantil pode, por exemplo, associar a um objeto inanimado, como um boneco, atributos de ser humano e, em sua imaginação, o boneco passa a andar, falar, chorar, comer etc. O conceito do objeto passa a ser controlado e dominado pela criança e se transforma em brinquedo.
A transformação do objeto em brinquedo é manifestação criativa associada a profundo prazer. O prazer é reforçado a cada atividade imaginária, a ponto de a criança buscar repetir a experiência gratificante, o que é de fundamental importância para a estruturação da arquitetura do cérebro. A partir desta fase, a criança vai precisar mais e mais do brinquedo como ferramenta para a elaboração criativa do seu universo imaginário e para a consolidação do seu próprio bem-estar.
No campo da corporeidade, a criança começa a adquirir mais liberdade de movimento. Poderá permanecer sentada sem apoio, deitar, rolar e tentar seus primeiros deslocamentos. Algumas crianças conseguem viajar pela casa em seu andador e explorar o ambiente sob uma perspectiva fascinante. A atividade deve ser encorajada, pois dela depende o amadurecimento do sistema neuromotor para a estruturação da deambulação que será adquirida a seguir.
1. Forneça brinquedos simples, coloridos e imaginativos.
Evite os brinquedos complexos, que brincam sozinhos. A criança deve poder experimentar livremente o brinquedo. O jogar, o bater, o derrubar e o desmontar fazem parte da brincadeira e não devem ser proibidos.
2. Não prenda a criança em cercados ou no berço. Deixe-a no chão sob supervisão, com brinquedos ao redor, dentro e fora do seu alcance. Se você tiver espaço, coloque um colchão de casal ou algo semelhante no chão, para que o bebê possa brincar livremente, sem perigo de cair e se machucar. Coloque-o no andador ou, se ele conseguir, mantenha-o de pé, apoiado no sofá ou na mesa de centro, para que possa manipular os brinquedos.
3. Aprimore o diálogo entre vocês. Preste atenção nas atitudes e gestos do bebê que tentam expressar-lhe os desejos. Se perceber o interesse dele por algum objeto ou brinquedo fora de alcance, ajude-o a atingir o objetivo e responda a todas as solicitações. A criança precisa do reforço da resposta como incentivo à estruturação da comunicação.
4. Participe das brincadeiras. Interesse-se pelas atividades da criança. Repita seus jogos e rituais. Divirta-se com ela. Somente mergulhando no universo mágico infantil é que conseguimos estruturar mecanismos bilaterais de comunicação e solidariedade.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE NOVE A DOZE MESES
A partir desta fase, costumamos observar grandes diferenças de desenvolvimento entre os bebês. Enquanto alguns podem estar ensaiando os primeiros passos aos nove meses, outros só começam a tentar depois do primeiro aniversário. As diferenças podem ser atribuídas ao ritmo próprio de amadurecimento de cada ser humano, à qualidade da estimulação prévia, à prematuridade ou às intercorrências clínicas, não devendo, como regra geral, constituir motivo de preocupação para os pais.
A fase é muito rica em termos de conquistas neurofisiológicas. A mielinização (amadurecimento) dos nervos periféricos se completa, propiciando melhor percepção dos estímulos táteis e do controle motor, aperfeiçoando substancialmente a qualidade da manipulação e da locomoção. As áreas de especialização do cérebro estão melhor definidas, propiciando o reconhecimento e classificação dos estímulos sensoriais.
É sobretudo nesta fase que as conexões entre as diferentes áreas de especialização começam a ser feitas, principalmente entre o lobo frontal (que tem a função cognitiva, ou seja, de raciocínio) e os centros emocionais primitivos, iniciando o processo de elaboração dos sentimentos.
A criança começa a demonstrar, por exemplo, medo de pessoas estranhas, a apegar-se afetivamente a panos, travesseiros e bichos de pelúcia, ou a desenvolver os famosos traumas de infância, que nada mais são que experiências desagradáveis associadas a determinadas situações específicas e que despertam, de modo automático, emoções aparentemente injustificadas e exageradas na idade adulta.
Ao mesmo tempo em que começa a conquistar o seu espaço tridimensional, a criança define relações familiares e afetivas, estrutura a comunicação não-verbal efetiva, começa a elaborar os sentimentos e adquire capacidade representativa. A maioria das conexões cognitivas está estruturada, iniciando-se a etapa de aperfeiçoamento dos recursos cerebrais adquiridos.
O processo de exploração e descoberta do mundo que se segue será período de intenso e prazeroso exercício mental que, se adequadamente estimulado e supervisionado, poderá resultar no aproveitamento máximo do potencial intelectual da criança.
1. O brinquedo é fundamental. É através do brinquedo que a criança elabora em sua mente os fatos e acontecimentos da vida real. Ele serve como ferramenta de transposição do concreto para o abstrato, estimulando a interpretação dos rituais domésticos e a busca de referenciais e significados. Os melhores são os que permitem interação indireta com os pais, como os fantoches e bonecos. Quanto maior a variedade de formas, materiais e estruturas, mais oportunidades terá o cérebro de exercitar a capacidade de administrar informações. Brinquedos de encaixar auxiliam o domínio do tridimensional. Brinquedos interativos, como os chocalhos, reforçam a atitude exploratória.
Nesta fase, é redundância falar em brinquedo educativo, pois todos os brinquedos (mesmo as sucatas) contribuem de uma forma ou de outra para o exercício do desenvolvimento cerebral e podem, portanto, ser considerados educativos.
2. A paciência é primordial. Crianças desta idade começam a solicitar a repetição indefinida de jogos e atividades estimulantes (para elas), o que, para os adultos, não tem a mínima graça, desde a brincadeira de jogar ao chão objetos para serem apanhados pelos adultos, até a repetição, seguidas vezes, das mesmas histórias infantis. Repetir é importante para a estabilização das redes neuroniais, mas não deve ser exagerada. Muitas vezes, ao iniciar um ciclo de repetição de determinadas atividades, a criança não consegue interromper o que está fazendo e começa a ficar angustiada, necessitando da intervenção do adulto para parar. Os pais devem atender às solicitações na medida do possível, ter paciência, tempo e disposição para participar das brincadeiras e sensibilidade para reconhecer o momento certo de parar as atividades.
3. O emocional pode fazer parte do jogo. Uma das funções dos brinquedos é trabalhar o aspecto emocional. Quando os pais compreendem este fato, podem utilizar o brinquedo como instrumento educacional dentro das mais variadas perspectivas. Algumas crianças, inclusive, se apegam de maneira temporária ou permanente a determinados objetos ou brinquedos, que passam a representar aspectos e situações afetivas a transmitir segurança, amor e proteção. Os objetos transicionais têm importante papel na elaboração dos recursos psicológicos que permitem que o ser humano consiga libertar-se dos instintos primitivos e assumir posturas e atitudes racionais coerentes com seus interesses.
Durante a primeira infância, principalmente quando é amamentada ao seio, a criança estrutura em sua mente a chamada figura principal, ou seja a mãe que nutre, conforta, acaricia e traz segurança. Depois de alguns meses de vida, a figura principal nem sempre estará disponível para suprir as necessidades psico-afetivas da criança e, como esta não tem capacidade elaboradora para sentir-se bem sozinha, a sua primeira atitude será eleger um bicho de pelúcia, um travesseiro ou um pedaço de pano macio para representar a sua figura principal, obtendo, através desse objeto transicional, a segurança obtida através da presença da mãe. Chamamos de objeto transicional justamente porque auxilia na transição entre o estado de completa dependência afetiva com a figura principal, para um estado de relativa independência emocional.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO E SEU FILHO DE DOZE A QUINZE MESES
A partir desta idade, a criança tem formada a estrutura básica da língua materna, podendo entender grande parte do que lhe seja dito. Começa aí o exercício de transferência do padrão sensorial auditivo para outra área cerebral motora, que, coordenando a musculatura respiratória, articular e laríngea, vai tentar reproduzir o sistema de sons armazenados, permitindo a comunicação verbal.
Durante o processo de elaboração motora do vocabulário, devido à dificuldade de controle do aparelho fonador, a criança vai falar errado e trocar a maioria dos fonemas. Os pais podem ter dificuldade para entender a mensagem da criança. Com um pouco de tempo, cria-se um vocabulário paralelo que, no momento inicial, se presta muito bem para a comunicação.
Nesta fase, os pais não devem tentar corrigir o que a criança diz, sob o risco de inibir o momento mágico da aquisição da linguagem, e também não devem cair no extremo oposto, que é adotar os termos infantis utilizados pelo bebê para continuar a comunicação, sob o risco de reforçar os erros estruturais e alterar a estrutura sensorial auditiva.
A correção da estrutura de linguagem só deve ser feita à medida que os pais percebam que a criança consiga articular o fonema alterado. Por exemplo, um bebê pode iniciar a aventura linguística pedindo água através da palavra aba. Os pais devem entender e dar o que a criança solicita, reforçando a pronúncia correta, sem insistir. Mais tarde, quando os pais perceberem que a criança consegue, por exemplo, falar a palavra gato, então deve iniciar a correção de aba para haja e, mais tarde, para água, sempre respeitando as possibilidades da criança.
Nesta fase, os pais também podem iniciar sutilmente algumas noções mais elaboradas, como quantidades pequenas.
Diferenças entre um, dois ou três objetos de mesma espécie podem ser demonstradas, lembrando sempre que este tipo de aprendizado nunca deve ser cobrado. Apesar de a criança ter a capacidade de apreender não-verbalmente as noções, ela pode não ser capaz de elaborar verbalmente os conceitos. Noções espaciais, como em cima e embaixo, na frente e atrás, também podem ser introduzidas. Os brinquedos habituais podem auxiliar o aprendizado.
Na área motora, nota-se melhora progressiva da coordenação, tanto na deambulação, como na manipulação de objetos. A criança começa a andar com autonomia, iniciando-se a fase mais perigosa da existência humana. Ao mesmo tempo em que a criança tem necessidade de explorar o ambiente e conquistar o espaço tridimensional, pode estar exposta aos mais diversos riscos, como quedas, cortes, intoxicações etc. O ideal é existir uma liberdade vigiada, com a eliminação sistemática de todos os riscos e perigos.
Para estimular a coordenação motora fina, nada melhor que os brinquedos de encaixar mais simples ou a brincadeira de guardar objetos em pequenas caixas. A criança, que antes agarrava os objetos, vai começar a utilizar o polegar para segurar os brinquedos e, depois, pegar pequenos objetos, utilizando o indicador e o polegar como pinça. Ao fornecer pequenos objetos à criança, sempre tomar o máximo de cuidado para que não exista a possibilidade de serem deglutidos ou inalados, causando lesões internas no bebê.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE QUINZE A DEZOITO MESES
A dialética é a arte do diálogo. Nesta fase de estruturação verbal, o diálogo é uma das ferramentas mais importantes para o desenvolvimento dos recursos neurolinguísticos que serão utilizados e aperfeiçoados pelo ser humano durante o decorrer de toda a sua existência.
Nas fases iniciais da vida, a dialética entre os pais e os bebês tem função estrutural, ou seja, os padrões sonoros, sendo armazenados e reforçados, estruturarão padrões reconhecíveis pelas áreas auditivas da mente. Quando a criança consegue relacionar as mensagens verbais às informações visuais concomitantes, acontece a dialética demonstrativa, iniciando o processo de interconexão entre diferentes áreas cerebrais.
Quando o processo está estabelecido, as diferentes áreas do cérebro começam a interagir e a dialética se torna associativa, ou seja, as mensagens verbais desencadeiam a formação de imagens mentais e a criança reconhece pelo nome o objeto em questão, mesmo que esteja fora do seu campo de visão. A próxima conquista da mente será associar mais de dois padrões reconhecidos e temos então a dialética comparativa.
Os pais podem estimular o desenvolvimento dos filhos através do diálogo, seja ensinando os nomes dos objetos e ações (dialética demonstrativa), seja através do exercício de reconhecimento de mensagens (dialética associativa), seja pela estruturação de conceitos um pouco mais complexos, envolvendo ideias como tamanho (grande e pequeno), peso (leve e pesado), temperatura (quente, morno e frio), consistência (mole e duro), entre outros (dialética comparativa).
Todos esses exercícios estimulam as interconexões entre as células de diferentes áreas do cérebro, estruturando o arcabouço neurolinguístico primitivo diretamente relacionado com a qualidade da inteligência do indivíduo.
Uma das brincadeiras mais envolventes e estimulantes que trabalham estes conceitos é a de esconder e procurar objetos. No início, o desafio deve ser bem simples. O objeto em questão deve ser mostrado e ocultado sob as vistas da criança. Os pais, em seguida, perguntam onde está o objeto e logo o mostram novamente, especificando a sua localização, sempre com bastante animação e alegria.
Com o tempo, os pais podem introduzir elementos mais complexos à brincadeira, acrescentando mais um objeto (por exemplo, um grande e um pequeno) e esclarecendo noções espaciais de localização (em cima, embaixo, na frente, atrás etc.). É importante estar ciente de que as noções serão apenas introduzidas. A assimilação dos conceitos é lenta e os pais não devem esperar que a criança demonstre verbalmente ter aprendido alguma coisa.
As conversas habituais com a criança também são ótimas oportunidades para treinar os conceitos e, com o tempo, os pais vão começar a desenvolver especial sensibilidade para perceberem qual o tipo de estímulo é mais adequado para cada situação.
No campo da coordenação motora, os brinquedos continuam sendo importantíssimos, principalmente aqueles que estimulam algum tipo de manipulação. O espaço e a liberdade de exploração são indispensáveis e começamos a notar crescente necessidade de a criança participar das atividades dos adultos e das reuniões familiares.
A imitação sistemática da rotina diária torna-se uma das brincadeiras preferidas e é a maneira pela qual a criança começa a compreender a razão dos hábitos domésticos. Estas atitudes são um sinal de sintonia com o ambiente e perfeito desenvolvimento neuropsicomotor, devendo ser plenamente incentivadas, uma vez que contribuem decisivamente para a estruturação dos referenciais psicodinâmicos que apoiam a formação da identidade e da personalidade.
ESTIMULANDO O DESENVOLVIMENTO DE SEU FILHO DE DEZOITO A VINTE E QUATRO MESES
Nesta fase, as principais características da personalidade da criança estão delineadas e os bebês apresentam diferenças marcantes entre si, em relação ao comportamento e às reações afetivas. O conhecimento das características individuais e a sensibilidade para lidar com elas são de fundamental importância para o desenvolvimento harmonioso dos padrões psíquicos e intelectuais que serão adquiridos a seguir.
A criança já possui compreensão verbal e não-verbal complexa para quase todas as mensagens faladas ou não. Interpreta reações emocionais, integra-se socialmente com determinadas pessoas do seu círculo, obedece a ordens e comandos, pede e, às vezes, ordena, explora ativamente o ambiente, tem objetivos estabelecidos dentro das ações, procura meios para solucionar problemas, é curiosa, imita os adultos, tem rotina estabelecida, aceita desafios, assume papéis conhecidos, experimenta alternativas, para para pensar e analisar o que lhe intriga, quer participar das ações dos familiares, é persistente, utiliza de ações repetitivas para adquirir conceitos complexos, constrói e destrói pilhas de objetos, frustra-se quando se descobre limitada pela própria coordenação motora para atingir seus objetivos, mas sabe pedir ajuda.
Em casa, é importante não excluir a criança das atividades sociais e familiares; pelo contrário, é bom estimular a sua participação. O elogio é mais importante ainda para a construção de sadia autoimagem e deve tornar-se rotina, mesmo que a criança não atinja os resultados esperados pelos adultos. A pior coisa que os pais podem fazer é mostrar frustração, decepção ou recriminarem a criança que tenta alcançar um objetivo e não consegue, mesmo porque a coordenação motora ainda deixa muito a desejar.
A verbalização da fantasia infantil começa a se exacerbar e o faz-de-conta será mais regra do que exceção. A participação dos pais na brincadeira é muito importante para a implementação da capacidade imaginária. Um grave erro é tentar ser estritamente racional e insistir em corrigir a criança. Se a colher for vista como um carro ou a mão como um bicho, é sinal de saúde e maturação neuro-psicológica.
Os pais poderão notar também ótimo senso de humor voltado principalmente para a temática do absurdo. Um exemplo divertido é trocar os nomes das pessoas, dizendo que o bebê é o papai, o papai é a mamãe e a mamãe é o bebê. O absurdo faz a criança rir e, às vezes, cair na gargalhada.
No campo da linguagem, os pais devem insistir em falar corretamente e em empregar enfaticamente a conjugação dos tempos verbais. Presente, passado e futuro se confundem na comunicação e tal aspecto pode e deve ser corrigido e enfatizado.
O estímulo à integração e convivência social será valiosa ferramenta na diversificação das atividades da criança. A socialização, através da convivência com pessoas e crianças que não pertençam ao restrito círculo familiar, terá o grande poder de enriquecer as experiências psico-cognitivas, ampliando os horizontes e as perspectivas restritas do ambiente doméstico.
As atividades programadas, dirigidas e realizadas, em escolas maternais, por pedagogas devidamente habilitadas, conseguem extrapolar em muito as possibilidades do ambiente doméstico. Quando a mãe precisa trabalhar, essa será sempre a alternativa mais interessante do que a clássica solução de deixar a criança com a babá ou com a avó, que, apesar das boas intenções, nem sempre têm fôlego para acompanhar as atividades da criança ou os recursos pedagógicos disponíveis na escola especializada.
Mesmo quando a mãe tem tempo para ficar com a criança, é esta uma boa idade para se começar a cortar os vínculos, estimulando a independência afetiva da criança. O tempo ideal para frequentar a escolinha é de meio período, pela manhã ou à tarde, de acordo com os horários de sono da criança.
A escola maternal, além de preparar os recursos cognitivos e motores para as fases seguintes de escolaridade, também acostumam a criança à convivência escolar, eliminando aquela antiga e terrível fase de adaptação e o pavor do primeiro dia de aula.
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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Celso Eduardo Olivier
Médico Especialista em Alergia e Imunologia titulado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
Especialista em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Doutor em Clínica Médica na área de Alergia e Imunologia pela FCM - UNICAMP
Especialista em Análises Clínicas pela Faculdade de Ciências de Saúde da UNIMEP
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93