Medicina do Trabalho: Mecanismos de proteção do organismo

Metabolização é aplicável às transformações dos elementos essenci
Metabolização é aplicável às transformações dos elementos essenci

Medicina

13/11/2013

Durante a fase de exposição e mesmo após a penetração do agente tóxico no organismo, mecanismos de proteção são acionados, tentando minimizar ou até evitar a absorção do xenobiótico. Por exemplo: a pele e a película de suor e gordura que a recobrem atuam como barreira efetiva para várias substâncias químicas, impedindo sua penetração; a camada queratinosa da pele (formada por células mortas) resiste, até certo ponto, à ação da água, ácidos, raios ultravioleta, etc.


Nos olhos, as glândulas lacrimais são ativadas quando gases, vapores ou corpos estranhos entram em contato com a conjuntiva ocular. O aparelho respiratório reage prontamente à presença de partículas, por meio do reflexo da tosse, do efeito dos cílios dos brônquios, produção de secreções (catarro) e ação das células sanguíneas denominadas macrófagos alveolares que englobam e tentam destruir os agentes estranhos.


Persistindo a exposição ou dependendo da dose/concentração do agente tóxico, esses mecanismos de proteção tornam-se ineficientes e o xenobiótico instala-se no organismo. Ocorrendo isto, o processo de intoxicação prossegue, ou seja, o agente tóxico começa a movimentar-se no organismo.


Para se evitar uma doença ou intoxicação, deve-se então eliminá-lo ou neutralizá-lo. Entram em cena os mecanismos de desintoxicação, que são a biotransformação e a excreção.


Biotransformação é o conjunto de alterações químicas que as substâncias sofrem no organismo, geralmente pela ação de enzimas. Essas alterações produzem, geralmente, compostos mais polares e solúveis em água.


O termo metabolização é aplicável às transformações dos elementos essenciais ao organismo, inclusive as reações químicas de queima de alimentos para fornecimento de energia às células.


A detoxificação (desintoxicação) pode ser entendida como a biotransformação de um agente tóxico que resulta em um composto menos tóxico. O oposto à detoxificação seria a biotoxificação (intoxicação).


A maior parte dos agentes tóxicos, ao serem biotransformados, sofre desativação, ou seja, o produto resultante da biotransformação é menos ativo (menos tóxico) que o precursor. Nestes casos, a biotransformação é realmente um mecanismo de detoxificação. Esta não é, entretanto, uma regra geral; como exemplo, cita-se a biotransformação dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, quando os mesmos são convertidos em derivados arilados, que podem reagir com proteínas, induzindo mutações, câncer e anormalidades embrionárias.

As principais reações envolvidas na biotransformação de agentes tóxicos são do tipo oxidação, redução, hidrólise e conjugação. A biotransformação de agentes tóxicos por oxidação se dá pela ação das enzimas do grupo oxidase, localizadas no fígado. As reações de oxidação são as mais frequentes, sendo esta a tendência dos processos bioquímicos no reino animal. Em menor escala, a biotransformação de agentes tóxicos por redução se dá pela ação das flavoproteínas, também situadas no fígado.


A biotransformação por hidrólise se dá pela ação das enzimas do grupo estereases, as quais podem localizar-se no fígado, plasma do sangue e outros tecidos. A biotransformação por conjugação consiste na ligação do agente tóxico, ou de seus metabólitos provenientes de biotransformações anteriores, a determinados substratos do organismo, formando moléculas conjugadas de grande tamanho.


A biotransformação pode ser intensificada pela presença de substâncias indutoras da síntese de enzimas específicas. Contrariamente, substâncias inibidoras de certos grupos enzimáticos reduzem a velocidade do processo de biotransformação. A biotransformação varia com alguns fatores, tais como: idade (o feto e o recém-nascido têm biotransformação mais lenta); o estado nutricional; frequência das doses; estado patológico; temperatura (a biotransformação é mais rápida quando a temperatura aumenta).


A excreção pode ser entendida como o processo de eliminação do agente tóxico 'in natura' ou biotransformado. Essa eliminação pode ocorrer por meio das secreções (secreção biliar, sudorípara, lacrimal, salivar, láctea), por excreções (urina, fezes e catarro) ou pelo ar expirado.


Associado ao fenômeno de excreção surge o conceito de meia vida biológica do agente tóxico. O sistema excretor mais importante para a toxicologia é o sistema renal, por ser bastante específico. A urina é o único material biológico de excreção do organismo humano que é citado na NR-7 (PCMSO) como material de referência de rastreamento biológico para detecção de agentes químicos absorvidos em ambientes ocupacionais.


A prevenção da intoxicação profissional pressupõe o correto reconhecimento dos fatores de risco presentes no trabalho e da realidade dos riscos ocupacionais a que estão expostos os trabalhadores.


O problema começa já na fase de reconhecimento do fator de risco. Independente da boa intenção e da perspicácia do profissional envolvido com a questão, algumas dificuldades podem surgir, por exemplo: para determinadas substâncias químicas, as propriedades toxicológicas são pouco conhecidas; uma determinada substância poderá estar presente como coformulante ou como veículo em um determinado produto, sem que isso esteja claro, quantitativa e qualitativamente na especificação do produto; impurezas comercialmente aceitáveis no produto podem torná-lo perigoso à saúde, etc.
Tomadas as medidas iniciais de controle, controlada a exposição grosseira e evidente, é necessário controlar a exposição em longo prazo, sendo necessário, muitas vezes, quantificar os agentes químicos presentes no ambiente.


Para a quantificação é preciso que se conheça a intensidade da exposição (dose), os efeitos que tal exposição pode produzir e, ainda, a relação dose versus resposta, para o agente químico considerado. Obtidas estas informações, especifica-se o risco aceitável (exposição admissível) para aquele agente químico. Utilizam-se geralmente os Limites de Tolerância legais, constantes na NR-15 da Portaria 3214/78.


Os métodos de coleta e análise de produtos químicos são procedimentos delicados e sujeitos a muitos erros, motivo pelo qual os profissionais devem redobrar seus cuidados e aprofundar seus conhecimentos para que não se perca a validade dos resultados obtidos. Por exemplo, se não for possível amostragem contínua, a avaliação das concentrações de agentes químicos por intermédio de métodos de amostragem instantânea, de leitura direta ou não, deverá ser feita pelo menos em dez amostragens, para cada ponto, ao nível respiratório do trabalhador, e entre cada uma das amostragens deverá haver um intervalo de, no mínimo, 20 minutos.


Só este exemplo demonstra a complexidade dessas avaliações e os cuidados necessários.


Tomadas as medidas de controle e, mesmo estando a exposição dentro dos Limites de Tolerância, a exposição deverá ser monitorizada, objetivando rastrear possíveis efeitos tóxicos nos trabalhadores. A monitorização é feita em duas linhas de ação: monitorização ambiental e monitorização biológica.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Saúde

por Colunista Portal - Saúde

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