Introdução à saúde mental

A prevenção visando a Saúde Mental no Trabalho vem sendo incorporada
A prevenção visando a Saúde Mental no Trabalho vem sendo incorporada

Medicina

13/11/2013

Ao longo das últimas décadas, uma “nova” forma de trabalhar e de produzir vem sendo construída, com implicações sociais relevantes no âmbito das relações do trabalho e da geração de empregos: substituição de postos de trabalho; exigências de maior qualificação profissional; surgimento de novas categorias profissionais e intensificação do ritmo de trabalho. Essas modificações geraram aumento das exigências mentais, incluindo os aspectos cognitivos, emocionais e psicossociais, em diversas ocupações.


Além disso, a publicação do Decreto n. 3.048 de 6 de maio de 1999 pelo Ministério da Previdência e Assistência Social discriminando os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho traz novos desafios aos profissionais de saúde e de recursos humanos de organizações públicas e privadas no reconhecimento e prevenção destas patologias.


A prevenção visando a Saúde Mental no Trabalho vem sendo incorporada apenas recentemente pelas empresas devido à dificuldade de caracterização da inter-relação entre os distúrbios psíquicos dos trabalhadores e as situações de trabalho. O programa de prevenção pode gerar maior dinamismo, flexibilidade e inovação nas organizações fazendo uso de potencialidades dos trabalhadores por meio da possibilidade de participação.


No início de um Programa de Prevenção visando à Saúde Mental no Trabalho, deve-se definir a sua abrangência (para toda empresa, para um setor ou para uma ocupação específica) e o período de duração com o cronograma das diferentes etapas e as facilidades e dificuldades existentes na empresa para a implantação do programa. Às vezes, é interessante a criação de um comitê que pense a construção do programa reunindo profissionais de diversos departamentos e setores. Os membros deste comitê devem receber um treinamento enfocando os aspectos teóricos da saúde mental no trabalho e metodologias de análise e intervenção em situações de trabalho.


Na definição do diagnóstico da situação é importante conhecer e compreender o contexto da empresa em relação à sua estrutura, organograma, histórico, número de funcionários. Atualmente, estas informações podem ser conhecidas por intermédio dos Manuais de Qualidade das Empresas. Após esta fase, deve ser feito um diagnóstico do setor ou ocupação a ser realizada a intervenção caracterizando as atividades do setor e também as características sociodemográficas dos trabalhadores do setor (sexo, idade, escolaridade, naturalidade, condições de vida).


No diagnóstico das atividades realizadas no setor a análise ergonômica do trabalho tem sido um instrumento importante para avaliação de possíveis fatores presentes na situação de trabalho associados aos problemas de saúde identificados.

A análise da situação de trabalho deve incluir:

• o ambiente de trabalho – ruído, temperaturas extremas (calor/frio), agentes químicos, iluminação;

• a organização do trabalho – a avaliação do processo de trabalho, o tipo de tecnologia utilizada, as jornadas de trabalho, o trabalho noturno ou em turnos fixos ou alternantes, as pausas, o ritmo de trabalho, os pagamentos com prêmios associados à produção, os planos de ascensão e carreira, a presença de “conflito de papel”, a descrição das tarefas, a capacidade decisória no trabalho;

• o conteúdo do trabalho – possibilidade de influenciar o próprio trabalho, a quantidade de informação, a presença de tomada de decisões rápidas, a responsabilidade no trabalho, seja por outras pessoas ou por materiais, a presença de trabalhos extremamente monótonos, a possibilidade de um pequeno erro, ou de um lapso momentâneo e atenção, terem consequências graves ou mesmo desastrosas;

• os fatores psicossociais do trabalho – que compreendem a percepção dos trabalhadores da situação do trabalho e as relações humanas do trabalho considerando superiores, colegas ou clientes.


Este conjunto de fatores aparece integrado e interdependente. As repercussões na saúde dos trabalhadores dependem da personalidade, experiência individual e expectativas em relação ao trabalho. De maneira geral, quando o trabalho apresenta elevados requisitos psicológicos e cognitivos, associado a baixo poder decisório e baixo nível de apoio social, a possibilidade de aparecer repercussões na saúde dos trabalhadores é alta.


Os indicadores de repercussões da presença destes fatores estão relacionados com as condições de saúde dos trabalhadores e associados ao desempenho do trabalhador na empresa. Entre os indicadores de saúde, destaca-se a morbidade psicossomática e psiquiátrica. Diante de uma situação de trabalho com a presença destes fatores, os trabalhadores podem apresentar reações de estresse decorrentes de diversos mecanismos patogênicos (cognitivos, afetivos, de conduta ou fisiológicos) que se sob certas condições de intensidade, frequência ou duração, podem provocar o aparecimento de doenças psicossomáticas e psiquiátricas.


Estudos epidemiológicos sobre trabalhadores expostos a fatores de estresse no trabalho detectaram as seguintes perturbações funcionais: sintomas musculares como tensão e dor; sintomas gastrointestinais como dispepsia, indigestão, vômito, pirose e irritação do colo; sintomas cardíacos como palpitação, arritmias e dores inframamilares; sintomas respiratórios como dispneia e hiperventilação; sintomas do sistema nervoso central como reações neuróticas, insônia, debilidade, desmaios e dores de cabeça; e, sintomas genitais como dismenorreia, frigidez e impotência.


Os dados de alta frequência de acidentes de trabalho e consumo exagerado de medicamentos e a percepção dos trabalhadores de insatisfação no trabalho também podem indicar a presença de fatores de estresse. Um importante fator para diminuir as reações dos trabalhadores é o suporte social, por intermédio dos colegas, supervisores ou familiares. Concepção do processo saúde-doença e o trabalho

O processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis que envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população. Considera que ambas estão interligadas e são consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito, a determinação do estado de saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve diversos fatores.


Diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do século XX, que considera como fator único de surgimento de doenças um agente etiológico (vírus, bactérias, protozoários), o conceito de saúde-doença estuda os fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles, pretende obter possíveis motivações para o surgimento de alguma enfermidade.


O conceito de multicausalidade não exclui a presença de agentes etiológicos numa pessoa como fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o psicológico do paciente, seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de instrução, entre outros. Esses fatores, inclusive, não são estáveis; podem variar com o passar dos anos, de uma região para outra, de uma etnia para outra.


Para entender a relação existente entre saúde-doença-trabalho e melhorar as condições de trabalho e de vida do trabalhador, surgem três formas de compreensão nesta direção, que são:

• medicina do trabalho – centrada no sujeito, buscando minimizar influência do meio sobre a saúde dos trabalhadores;

• saúde ocupacional – analisando a organização do trabalho e focando nos postos/cargos de trabalho; e,

• saúde do trabalhador – que se detém nos processos dinâmicos de trabalho, buscando garantir a atenção integral aos trabalhadores.


Portanto, a saúde e a doença são fenômenos com significados diferentes conforme a época e a cultura, pois, as pessoas têm saúde ou doença segundo a classificação da sociedade, visto que esses conceitos estão relacionados à transformação cultural e à estrutura social.


É importante acrescentar que o processo saúde-doença não se dá de forma linear, mas, de modo dinâmico. Isto significa que o caráter assumido será o de uma espiral que se instaura alternada e permanentemente, indo do polo saúde à doença. Assim, os modos de produção desencadeiam processos psicoemocionais individuais que na verdade se tornam manifestações de um coletivo. Porém, a manifestação de um sintoma individual pode ser um indicativo de que não é somente um sujeito que está adoecendo, mas a expressão de um grupo maior que está doente na organização.


Nessa perspectiva, coloca-se que a dimensão da valorização e do cuidado para com os trabalhadores da saúde precisa estar sempre presente no contexto de trabalho e contemplada de maneira integrada para que se possam promover melhorias de qualidade de vida para o trabalhador e para a organização onde este trabalha.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Saúde

por Colunista Portal - Saúde

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