Transição nutricional e Saúde dos idosos

Educação nutricional deve ser um dos componentes da atenção à saúde
Educação nutricional deve ser um dos componentes da atenção à saúde

Nutrição

14/02/2015

A sociedade atual encontra-se em processo de transformação de sua pirâmide populacional com o aumento da longevidade e, consequentemente, do número de idosos. Esse é um fenômeno mundial e, no Brasil, vem ocorrendo em ritmo acelerado. A população de idosos no país praticamente triplicou no período de 1975 a 2008, alcançando o número de 20 milhões. Nesse contexto, doenças características do envelhecimento aumentaram e passaram a ter maior expressão social. Relacionado a essa mudança no perfil da população mundial e brasileira, e também aos elevados índices de sobrepeso e obesidade, está o crescimento da ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (REQUE, 2012).


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, por meio dos indicadores sociais e demográficos, vem alertando que a estrutura etária do País está mudando e que o grupo de idosos é, hoje, um contingente populacional expressivo em termos absolutos e de grande importância no conjunto da sociedade brasileira. Com isso, aumenta a necessidade de uma série de novas exigências e mudanças em termos de políticas públicas de saúde e inserção ativa dos idosos na vida social. Estudos indicam que o número de pessoas idosas cresce em ritmo acelerado, ou seja, maior do que o número de pessoas que nascem. No Brasil, esse ritmo conduzirá o País a ser a sexta população idosa do mundo no ano de 2025 (BARBOSA, 2012).


Nunca antes na história da humanidade, os países haviam registrado um contingente tão elevado de idosos em suas populações. Os avanços da medicina e as melhorias nas condições gerais de vida da população repercutem no sentido de aumentar a média de vida do brasileiro. A expectativa de vida ao nascer, que era de 45,5 anos de idade em 1940, passou para 72,7 anos em 2008, ou seja, mais 27,2 anos de vida (BARBOSA, 2012).


Nas últimas décadas, tanto países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento, como o Brasil, passaram por uma transição nutricional em que o padrão alimentar baseado no consumo de frutas, hortaliças, cereais e leguminosas vem sendo gradativamente substituído por uma alimentação rica em gorduras, açúcares refinados e produtos industrializados; essas mudanças nos padrões de consumo têm exposto a população a um maior risco para o desenvolvimento de DCNTs como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e Alzheimer (PINHO, 2012).


Além desta transição nutricional, ocorrem cada vez mais alterações na forma de preparo e obtenção dos alimentos, pois os idosos não sentem estímulo em preparar sua própria alimentação, pois muitos moram sozinhos ou somente o casal, não havendo mais a reunião com a família na hora das refeições, e isso faz com que ocorra a perda da vontade de preparar os alimentos. Essas mudanças no consumo alimentar da população brasileira, além de contribuir para o aumento de peso corporal e da obesidade são consideradas um dos fatores mais importantes para explicar o aumento do índice das DCNTs, que são de grande morbidade e mortalidade (BARBOSA, 2012).

Apesar de ser um processo natural, o envelhecimento submete o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde e no estado nutricional. Dentre as alterações ocorridas com o envelhecimento, destacam-se a diminuição das papilas gustativas, com prejuízo ao paladar; redução do olfato e da visão; diminuição da secreção salivar e gástrica; falha na mastigação; redução da mobilidade intestinal e diminuição da sensibilidade à sede; em consequência, a ingestão de alimentos diminuem e os nutrientes ficam geralmente abaixo da recomendação. Além das alterações decorrentes do envelhecimento, é frequente o uso de múltiplos medicamentos os quais influenciam na ingestão de alimentos, digestão, absorção e utilização de diversos nutrientes, o que pode comprometer o estado de saúde e a necessidade nutricional do indivíduo idoso (PINHO, 2012).


As alterações relacionadas com a idade ocorrem praticamente em todas as partes do corpo, trazendo diversas mudanças funcionais no organismo idoso, inclusive no trato gastrointestinal, podendo levar à constipação intestinal. Esta, por sua vez, está relacionada com aspectos dietéticos, emocionais, patológicos, físicos ou medicamentosos e pode acarretar várias complicações como compactação fecal, complicações hemorroidárias, risco de fístula anal, câncer de cólon, distensão abdominal, obstrução intestinal e até perfuração do cólon, que muito interferem na qualidade de vida do idoso (NESELLO, 2011) .


Outros fatores também devem ser considerados na gênese ou no agravamento dos sintomas da constipação intestinal são: maus hábitos alimentares, inatividade física, baixa ingestão hídrica e consumo inadequado de fibras. Pode-se considerar que, desde a infância, o cuidado por parte das meninas em evitar utilizar banheiros desconhecidos pode contribuir para que estas se tornem mais propensas a ignorar o reflexo evacuatório normal (NESELLO, 2011).


A constipação intestinal é cerca de oito vezes mais frequente em idosos do que em jovens, e três vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens. Nos idosos, a prevalência pode atingir 15% a 20% em geral, e pode chegar a 50% em idosos institucionalizados (NESELLO, 2011).


A mudança no estilo de vida, que inclui modificações na dieta, maior atividade física, ingestão de maior quantidade de líquidos, reeducação intestinal e a ingestão adequada de fibras alimentares e prebióticos, pode auxiliar na redução da maioria dos casos de constipação intestinal (NESELLO, 2011).


A educação nutricional deve ser um dos componentes da atenção à saúde desde o inicio da vida, uma vez que a alimentação saudável contribui para a promoção da saúde e também para a prevenção de doenças. Os benefícios dessa educação serão visualizados na pessoa idosa, pois estas tenderão a terem sua saúde menos comprometida, ou seja, possivelmente terão maior preservação da capacidade funcional, maior independência física e mental e maior autonomia (BARBOSA, 2012).


Quem opta durante a vida por consumir pouco álcool, não fumar, praticar exercícios físicos, controlar o estresse e adotar uma dieta adequada e balanceada, sem excesso de sal, açúcar e gordura, possui as condições necessárias para viver mais e com melhor qualidade de vida (BARBOSA, 2012). O indivíduo pode optar por não consumir álcool e ter um viver melhor, aí é questão de opção.
Dentre as recomendações para uma alimentação saudável está o aumento na ingestão de frutas, legumes e verduras. Além de vitaminas e minerais, estes alimentos contêm substâncias bioativas, tais como carotenoides, fitoestrógenos, glicosinolatos, óleos essenciais, flavonoides e frutooligossacarídeos. Muitas dessas substâncias possuem ação antioxidante (REQUE, 2012).


A dieta tanto pode acelerar quanto retardar o envelhecimento. As condições de saúde de um idoso dependem do estilo de vida que adotou bem antes de chegar aos 60 anos. Modificações nos hábitos alimentares podem ter grande influência sobre a qualidade e a expectativa de vida da população, reduzindo ou retardando doenças que surgem com a idade. O estilo de vida saudável pode modificar o ritmo do envelhecimento do organismo. Uma alimentação adequada facilita o funcionamento dos órgãos e dos sistemas do organismo; promove melhoras no sistema imunológico, diminui ou retarda os efeitos das doenças nessa fase e mantém as atividades intelectuais e físicas da idade. Uma nutrição adequada é essencial para a promoção, manutenção e recuperação da saúde (BARBOSA, 2012).



REFERÊNCIAS


BARBOSA, M. A importância da alimentação saudável ao longo da vida refletindo na saúde do idoso. 41f, 2012. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Nutrição Clínica – 3° edição, do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Nutrição Clínica, 2012.


NESELLO, L.A.N.; TONELLI, L.A.; BELTRAME, T.B.Constipação intestinal em idosos frequentadores de um Centro de Convivência no município de Itajaí-SC. Ceres, 6(3); 151-162, 2011.


PINHO, P. M. ; SILVA, A. C. M. ; ARAUJO, M. S. ; REIS, C. P. ; ALMEIDA, S. S. ; BARROS, L.C.A. ; CAVALCANTE, F. H. ; RAMOS, E. M. L. . Correlação entre Variáveis Nutricionais e Clínicas de Idosos Cardiopatas. Revista Brasileira de Cardiologia, v. 25, p. 001-009, 2012.


REQUE, P.M. Frutos de mirtilo (vaccinium spp.) e produtos derivados: caracterização e estabilidade de suas propriedades bioativas. 121f, 2012. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, UFRGS, 2012.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Walisson Junio Martins da Silva

por Walisson Junio Martins da Silva

Mestre em Alimentos e Nutrição-Unesp. Especialista em Qualidade de Vida e Gerontologia. Graduado em Bacharelado em Bioquímica. Licenciado em Ciências Biológicas e em Química.

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