Segurança de alimentos e impactos na qualidade microbiológica de queijos
Impactos na qualidade microbiológica de queijos
Nutrição
18/07/2015
Doenças transmitidas por alimentos (DTA) têm sido um relevante e frequente problema de saúde pública mundial, sendo muito associado a ingestão de alimentos de origem animal, que estão sujeitos a perigos físicos, químicos e biológicos durante a cadeia produtiva. O controle por parte dos órgãos de vigilância é de grande importância para o monitoramento dos surtos de DTA, porém, muitos destes não são notificados (CDC, 2014).
Alimento seguro é aquele que no decorrer da sua cadeia produtiva, são aplicadas medidas higiênico-sanitárias efetivas, e devido a isso este alimento não oferece risco acima dos tolerados aos consumidores (ROBBS, 2005). As doenças veiculadas por alimentos são classificadas como intoxicação e infecção. A intoxicação ocorre quando a doença é causada pela ingestão de toxinas pré-formadas no alimento pelo patógeno, já a infecção, caracteriza-se pela ingestão do alimento com células viáveis do micro-organismo, que alcançam o trato gastrointestinal e colonizam o intestino (MONTEIRO; PIRES; ARAUJO, 2011).
A importância da segurança microbiológica dos alimentos é reconhecida mundialmente, e com a mudança dos hábitos alimentares de grande parte da população, esta se torna evidente. O aumento da busca por alimentos prontos para consumo, torna necessário rigorosos padrões de produção e implementação de programas de controle e ferramentas da qualidade para evitar a contaminação dos alimentos. Sendo que, deve-se considerar que as bactérias estão presentes em grande parte do ambiente e são capazes de se proliferar e/ou manter-se viáveis em condições adversas até que as condições se tornem favoráveis para a retomada da sua multiplicação (ABRAHÃO et al., 2008).
De acordo com dados expressos pela Secretaria de Vigilância em Saúde, Salmonella sp., Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Shigella sp., Bacillus cereus e Clostridium perfringens são as bactérias mais associadas a surtos com alimentos contaminados (BRASIL, 2013). Se tratando de queijo, os quatro agentes patogênicos que são considerados as principais ameaças para a segurança do produto são Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus, Salmonella sp. e Escherichia coli (WILLIAMS; WITHERS, 2010).
Levantamentos realizados no Brasil demonstram a presença de bactérias deterioradoras e patogênicas nos alimentos disponíveis para consumo da população. Da mesma forma, é vista uma qualidade microbiológica deficiente ao longo de cadeias produtivas como a de leite e derivados, especialmente na produção de queijos frescos, sendo estes, produtos muito susceptíveis a contaminações (LANDEIRO et al., 2007; ANDRÉ et al., 2008; ZAFALON et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2011).
Os queijos são, em geral, produtos muito manipulados e com isso se tornam passíveis de contaminação, especialmente de origem microbiológica. Estas condições podem ser potencializadas, quando estes são processados com leite não pasteurizado, sem o emprego das Boas Práticas de Fabricação (BPF) e tecnologia adequada ou sem se observar o tempo mínimo de maturação, em casos de queijos que requerem tal etapa na sua produção. E a partir disso, estes produtos podem se tornar impróprios para consumo (PINTO et al., 2009).
Uma forma de garantir a qualidade e a segurança do queijo, de modo que esse venha a atender as exigências do mercado consumidor, é por meio do emprego de BPF, sendo que a ausência destas na empresa é um fator que pode gerar impactos no produto final. As BPF são tidas como um conjunto de normas relacionadas a práticas higiênicas que devem ser seguidas desde a obtenção da matéria prima até que o produto final seja destinado ao mercado e chegue ao consumidor (BRASIL, 2004).
Rosengren et al. (2010), avaliando o sistema de produção de queijos frescos perceberam que na cadeia produtiva de pequenas propriedades, quando não são aplicadas BPF, os pontos cruciais que afetam a qualidade do queijo vão desde o grau de estudo dos manipuladores até o uso de culturas starter. Outros aspectos envolvidos são o modo e o local de produção, a sanidade animal, tratamento térmico, qualidade da água e barreira higiênica. No estudo em questão, grande parte dos laticínios tinham uma produção próxima aos estábulos, alguns não pasteurizavam o leite e outros que efetuavam o tratamento térmico o faziam de maneira inadequada, e apenas uma pequena parcela dos laticínios consideravam roupas e sapatos como uma barreira higiênica efetiva, o que favorecia a falta de qualidade dos queijos e sua contaminação, evidenciando a necessidade de higiene no processo de produção.
Referências
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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Iury Antônio de Souza
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo IF Sudeste MG campus Rio Pomba, Especialista em Vigilância Sanitária e Qualidade dos Alimentos pela AVM Faculdade Integrada, Acadêmico de Nutrição pela Universidade Presidente Antônio Carlos e Biomédico graduado pela Universidade Presidente Antônio Carlos.
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