Biofilme consiste de uma ou mais comunidades de microrganismos
Odontologia
05/10/2012
Biofilme consiste de uma ou mais comunidades de microrganismos, embebidos em uma matriz, que recobre uma superfície sólida, sendo o termo utilizado para descrever o acúmulo de microrganismos na superfície dos dentes.
O termo biofilme (placa bacteriana, placa dental, placa dentária, etc.) define uma comunidade microbiana embebida por uma matriz aglutinante e firmemente aderida sobre os dentes ou outras estruturas bucais sólidas, tais como próteses, aparelhos ortodônticos, restaurações, superfície de implantes ou cálculo salivar. Na maioria das vezes, essa estrutura se desenvolve sobre a película adquirida.
Película Adquirida
É uma biopelícula formada pós-eruptivamente pela adsorção (adesão) de proteínas e glicoproteínas salivares e do fluido gengival na superfície dentária.
Essa fina camada forma a base para a subseqüente adesão de microrganismos, os quais, sob certas condições, podem se desenvolver o biofilme dentário. A película, mesmo sendo fina, tem função importante na proteção do esmalte contra a abrasão e o atrito, mas também funciona como barreira difusora, além de influenciar no comportamento de solubilidade da superfície do esmalte.
A película adere ao esmalte e a outras superfícies sólidas presentes na boca, sendo normalmente livre de bactérias. Sua espessura varia de 0,1 a diversos micrômetros e sua remoção pela escovação é dificultada pelo fato de ela não só recobrir a superfície dentária como também se adsorver e, algumas vezes, penetrar na superfície do esmalte até 3 µm.
A adsorção das macromoléculas, em geral originadas da saliva, para o esmalte é seletiva; isto é, certas macromoléculas apresentam maior afinidade com a superfície mineral do que outras. A composição exata dessa camada será determinada por vários fatores, por exemplo, o pH, a força iônica e os tipos de íons presentes na saliva. Normalmente, a camada hidratante próxima à superfície do esmalte contém principalmente íons de cálcio e fosfato, mas outros íons como sódio, potássio e cloreto podem estar presentes.
Quando um dente é totalmente limpo e polido expondo a superfície do esmalte contendo hidroxiapatita ao ambiente bucal, ele será recoberto dentro de pouco tempo pela película adquirida. Esse filme orgânico já estará presente após 15 minutos, apresentando formação mais rápida nas duas primeiras horas, decaindo e continuando a ser formado mais lentamente. A seguir, a película adquirida começa a ser colonizada por bactérias. Treze proteínas específicas foram detectadas e caracterizadas imunologicamente na película, incluindo: glicoproteínas, imunoglobulinas/anticorpos (IgA, IgG), albumina, enzimas (lisozima, amilase, transferrina, lactoferrina) e carboidratos.
O índice de formação da película é alto durante a primeira hora, após, diminui. Parece provável que a adsorção da primeira camada molecular em uma superfície limpa seja instantânea. O índice de formação varia de indivíduo para indivíduo, provavelmente devido às diferenças da composição salivar.
A formação da película pode ser considerada como o primeiro estágio na formação do biofilme dentário, embora represente uma entidade distinta até ser colonizada por bactérias.
Têm sido atribuídas à película as seguintes ações:
- proteção da superfície do esmalte: é provável que a película ofereça certa proteção ao esmalte contra ácidos de origem bacteriana; além disso, apresenta relativa resistência à ação de abrasivos. Há necessidade do uso de pedra-pomes e escovas duras para removê-las;
- influência na aderência de microrganismos bucais: tal aderência aumenta em alguns casos e decresce em outros, dependendo da composição da película e do tipo de microrganismo. Acredita-se que a película confira especificidade ao processo de adsorção e que as proteínas da película tenham maior afinidade com alguns microrganismos do que com outros;
- substrato (fonte de nutrientes) para microrganismos adsorvidos (aderidos);
- reservatório de íons protetores, incluindo o flúor.
Composição do Biofilme Dentário
O biofilme dentário é constituído por microcolônias de células bacterianas distribuídas em uma matriz. Estão presentes no biofilme dentário: polissacarídeos, células epiteliais descamadas, leucócitos, enzimas, sais minerais, glicoproteínas salivares, proteínas, pigmentos e restos alimentares.
Evidenciou-se a presença de espaços ou canais de água entre as microcolônias bacterianas do biofilme. Esses canais de água permitem a passagem de nutrientes e outros produtos através do biofilme, atuando como um sistema circulatório primitivo. As microcolônias podem apresentar um único microrganismo, entretanto, mais freqüentemente, são compostas por várias espécies bacterianas.
O biofilme proporciona como vantagens para os microrganismos: proteção frente a fatores ambientais como os mecanismos de defesa do hospedeiro e proteção frente a substâncias potencialmente tóxicas. O crescimento na forma de biofilme também pode facilitar a obtenção de nutrientes, utilização de nutrientes produzidos por outras bactérias, remoção de produtos metabólicos tóxicos, assim como desenvolvimento de um meio ambiente físico e quimicamente apropriado.
O componente bacteriano do biofilme dentário tem sido considerado um ecossistema de mudanças contínuas, variando em composição nos diferentes locais da boca. Estima-se que mais de quinhentas espécies microbianas sejam capazes de colonizar a cavidade bucal e que cada indivíduo possa carregar cerca de 150 a 200 espécies. O biofilme dentário é uma mistura de muitos microrganismos, sendo comum isolar muitas espécies bacterianas de uma amostra. A composição bacteriana em uma área não é estática, variando de acordo com a idade do biofilme.
Etapas de Formação do Biofilme Dentário
a) Comunidade Pioneira
Numa fase inicial, 15 minutos a 8 horas após limpeza adequada, o dente é colonizado por estreptococos e por alguns bastonetes Gram-positivos. Se durante essa fase, houver disponibilidade de sacarose proveniente da dieta do hospedeiro, poderá ocorrer implantação de Streptococcus mutans e Streptococcus sobrinus. São necessárias pelo menos 24 horas sem limpeza para que haja a formação de uma camada de biofilme clinicamente evidenciável. b) Comunidade Intermediária
Após 24 horas de crescimento, a microbiota torna-se significativamente mais complexa. A proporção de estreptococos diminui, enquanto cocos anaeróbios Gram-negativos aumentam rapidamente. Espécies anaeróbias estritas e facultativas também se tornam predominantes. Bastonetes anaeróbios Gram-negativos e fusiformes representam pequena porção da comunidade intermediária. c) Comunidade Clímax
Com o crescimento do biofilme no sentido apical e com o aumento de sua espessura, os microrganismos anaeróbios são favorecidos. Os bastonetes Gram-negativos e espiroquetas aumentam em número, principalmente nas camadas mais próximas ao dente.
A progressão aceita é que a partir de uma microbiota de cocos Gram-positivos aeróbios, ocorre aumento na proporção de bastonetes Gram-positivos e, então, um aumento na proporção de bastonetes Gram-negativos, em especial bastonetes anaeróbios e filamentos. Eventualmente, depois de estabelecida uma comunidade “clímax”, tornam-se evidentes as espiroquetas anaeróbias.
Existem diferenças no tipo de biofilme dentário correlacionado à cárie e à doença periodontal. A ocorrência da doença é devida: aos efeitos nocivos de produtos derivados de microrganismos do biofilme; à existência de microrganismos patogênicos específicos no biofilme e ao aumento de determinados microrganismos indígenas em certos biofilmes.
Quanto aos aspectos morfológicos, o biofilme dentário pode ser dividido em: biofilme dentário supragengival ou coronário (formado acima da borda da gengiva) e biofilme dentário subgengival (formado abaixo da borda gengival) a partir da migração apical do biofilme em decorrência do aumento na quantidade e diversidade de espécies bacterianas, sendo mais fino devido às restrições anatômicas. Sua formação é resultante da interação entre fatores físicos (anatomia dos dentes, anatomia dos tecidos, estrutura dentária, higiene bucal, atrito da dieta) e nutrientes (fluido bucal, fluido gengival, constituição do biofilme, células epiteliais, leucócitos) em um período de tempo.
O biofilme dentário pode apresentar potencial patogênico, sendo que a cárie e a doença periodontal são as principais enfermidades da cavidade bucal influenciadas pela atividade patológica do biofilme dentário. Nele, podem estar presentes microrganismos que produzem ácidos (fórmico, acético, butírico, láctico e sulfídrico) a partir do metabolismo de açúcares, que provocam desmineralização do dente ou, ainda, enzimas e outros produtos potencialmente tóxicos que lesam o epitélio e penetram no tecido conjuntivo. Os lipopolissacarídeos de bactérias Gram-negativas são capazes de penetrar no epitélio intacto do sulco, ativando o sistema complemento e desencadeando o processo inflamatório agudo.
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por Colunista Portal - Educação
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