Terapêuticas farmacológica e oclusal em cefaléias relacionadas a desordens temporomandibulares

Odontologia

01/01/2008

Auxiliar

Colaborador

 Como publicado em: Revista do Serviço ATM, Vol. IV p.22
Serviço de Diagnóstico e Orientação a Pacientes com Desordens Temporomandibulares da Faculdade de Odontologia / UFJF


Fernanda Gomes Almeida*
Elson Braga de Mello**
Sérgio Irikura***


* Acadêmica Bolsista do SERVIÇO ATM
** Cirurgião-dentista, Mestre e Doutorando em Odontologia Restauradora pela UNESP, Especialista em Prótese Dentária pela UFRJ, Professor da Faculdade de Odontologia da UFJF, Professor Coordenador da Clínica de Dor Orofacial da Universidade Salgado de Oliveira, Membro da equipe interdisciplinar do SERVIÇO ATM
*** Médico Neurologista, Coordenador do Serviço de Cefaléia do Hospital Universitário, Mestrado na Área de Concentração em Neurologia pela UERJ, Doutorando em Neurologia pela UFF, Membro da Sociedade Brasileira de Cefaléia

 

RESUMO

As desordens temporomandibulares (DTM) constituem distúrbios funcionais do sistema mastigatório com etiologia complexa e multifatorial, tendo a cefaléia como um de seus principais sintomas. Hábitos parafuncionais, estresse e hiperatividade muscular parecem estar envolvidos em sua causa. Seu tratamento geralmente se dá por terapias oclusal, farmacológica, fisioterapêutica e psicológica. O objetivo deste estudo foi comparar a eficácia da terapia oclusal, por placa estabilizadora, e a farmacológica, através do uso de antiinflamatório (Rofecoxib), bem como a interação destas duas condutas na remissão de cefaléias associadas às DTM. Vinte e quatro pacientes selecionados no Setor de Urgência do SERVIÇO ATM da UFJF, através de questionário e exame clínico receberam tratamento. A análise estatística dos resultados permitiu verificar que o uso de placa estabilizadora, associada ou não à medicação antiinflamatória, exibiu melhor comportamento que o uso isolado de Rofecoxib.

Palavras-chave: Desordens Temporomandibulares, Agentes Antiinflamatórios, Enxaqueca, Cefaléia.


ABSTRACT

Temporomandibular disorders (TMD) are constituted by function disturbes of masticatory system with multifactorial and complex etiology, and headaches are one of their main symptoms. Parafunctional habits, stress and muscular hiperativity seem to be involved in its cause. Its treatment generally consists on occlusal, pharmacological, physiotherapeutic and psychological therapy. The aim of this study was to compare the effectiveness of occlusal therapy, by the use of splint, and the pharmacological therapy, by the use of an antiinflammatory drug (Rofecoxib), as well as the combination of both treatments for the headache remission. Twenty-four patients selected from the SERVIÇOS ATM, of Juiz de Fora University, Health Service department were evaluated by a questionaire and a clinical exam and separated into three groups. The statistical analysis showed that the patients who used the splint associated or not with the pharmacological therapy had significantly better results than those treated only with the anti-inflammatory drug.

Keywords: Temporomandibular Disorders, Anti-inflammatory Agents, Migraine, Headache.


INTRODUÇÃO/FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Os distúrbios funcionais do sistema mastigatório são designados pelo termo desordens temporomandibulares (DTM). Embora algumas pesquisas informem que significativa parcela da população apresenta sinais ou sintomas da condição (40 60%), a mesma representa necessidade terapêutica para 10% das pessoas, sendo mais freqüente entre mulheres, na proporção de 4:118,21 na faixa etária entre 20 e 40 anos de idade23.
Dentre as várias manifestações clínicas das DTM, a mais comum é a presença de dor e sensibilidade dos músculos da mastigação e da articulação temporomandibular (ATM)13,14,16.
Há uma multiplicidade de fatores que contribuem para a etiologia das DTM, dentre os quais podem-se incluir má-oclusão, estresse emocional e hábitos parafuncionais (BEARD3, 1980; SIQUEIRA22, 1997e OKESON15, 2000).
De acordo com SPECIALI24 (1997), as cefaléias primárias são as que ocorrem sem etiologia demonstrável por exames clínicos ou laboratoriais usuais, sendo os principais exemplos a migrânea (enxaqueca), cefaléia tipo tensão e cefaléia em salvas. Já as secundárias originam-se de alterações patológicas demonstráveis por exames clínicos ou laboratoriais, nos quais a dor seria conseqüência de seu curso. As cefaléias secundárias às DTM incluem-se neste último grupo, manifestando-se clinicamente com sintomas de enxaqueca e cefaléia tipo tensão.
LLOYD9(1986) relata que estudos de pacientes migranosos mostraram que muitos estavam associados com disfunção miofacial.
SOLBERG23(1986) considerou a cefaléia como o mais importante sintoma das DTM. Considerando os riscos inerentes, a cefaléia deve sempre representar um sinal de alerta, seja ela conseqüência de problemas graves ou não23.
Para NEIZER12 (1983) e VINCENT26 (1997), a enxaqueca não é dor, mas um estado de susceptibilidade a crises que se caracterizam por um complexo de sintomas que podem incluir cefaléia. SANVITO & MONZILLO19(1997) definem enxaqueca como uma reação neurovascular, anormal, num organismo geneticamente vulnerável, que se exterioriza, clinicamente, por episódios recorrentes de cefaléia e manifestações associadas e que, geralmente, dependem da presença de fatores desencadeantes. A enxaqueca tem início, geralmente, na infância, na adolescência ou nos primórdios da idade adulta, e é mais freqüente no sexo feminino, na proporção de 3:1. Sua freqüência é bastante alta e se estima que 12% da população seja acometida, tendo, geralmente, um componente familiar associado19. Conforme MENEZES10 (1990), a enxaqueca pode ser precedida por distúrbios visuais; é unilateral, pulsátil, dolorosa, com duração de horas ou dias. Freqüentemente há náuseas e vômitos.
De acordo com os critérios da IHS (International Headache Society), para o diagnóstico de enxaqueca é necessário, a ocorrência de 5 crises (no mínimo) com as seguintes características: dor pulsátil ou latejante (podendo ser em pressão ou aperto) nas regiões frontal e temporal; geralmente unilateral; a intensidade vai de moderada a severa ou severa; geralmente incapacita o paciente para as suas atividades normais; piora com esforço ou atividades físicas e se inicia leve e progressivamente; as crises duram em média de 4 a 72 horas quando não são tratadas ou o são de forma ineficaz e, geralmente, terminam de forma gradual. São, ainda, associadas a pelo menos dois dos seguintes sintomas: enjôo ou vômitos e intolerância à claridade ou a ruídos (foto e fonofobia)2,6.
A dor de cabeça do tipo tensional, segundo a IHS, geralmente caracteriza-se da seguinte forma: em peso, pressão ou aperto; habitualmente localizadas na fronte e/ou nuca e topo da cabeça; de intensidade leve a moderada ou moderada, não impedindo as atividades rotineiras diárias; não raro essa dor melhora com atividade física ou relaxamento; normalmente não há sintomas associados e alguns pacientes podem queixar-se de intolerância, durante a dor, a ruídos mais intensos (fonofobia); a dor pode durar de horas a até 7 dias; a freqüência é variável, sendo que, em alguns casos, a dor pode ocorrer menos de uma vez por mês, enquanto em outros, mais de 15 dias/mês na forma crônica 2,4,5,6.
Para ASH et al2 (1998), os pacientes com cefaléias secundárias às DTM devem receber tratamento oclusal, cuja condução inicial deve se dar por placa estabilizadora.
Segundo SHAFER21 (1985), é comum o relato de procura de tratamento com vários especialistas sem resultado.
De acordo com LAPPER8 (1988), embora pareça ser de natureza vascular, a enxaqueca tem considerável componente muscular envolvido na gênese dolorosa. Devido a esta relação entre migrânea e dor de cabeça secundária à contratura muscular, a placa estabilizadora (placa oclusal, de relaxamento muscular, neuromiorrelaxante, de Michigan ou férula) pode ser uma importante terapia auxiliar no seu tratamento. Segundo QUAYLE17(1990), significativa melhora foi obtida em pacientes que apresentavam migrânea e cefaléia tipo tensão com esta conduta terapêutica.
IRELAND7(1986), corroborado por NEIZER12(1983), cita que, segundo a British Dental Migraine Study Group, as disfunções craniomandibulares satisfatoriamente tratadas com placa estabilizadora não podem ser migrâneas verdadeiras, uma vez que estas são cefaléias primárias, enquanto as decorrentes das DTM são secundárias.
Segundo SCHULLER20 (1982), tem-se usado com sucesso a placa estabilizadora em casos de cefaléias secundárias a DTM. Uma placa bem construída provavelmente terá sucesso, porque ela proporcionará estabilidade oclusal entre as arcadas e eliminará interferências oclusais. Este tipo de aparelho é usado em pacientes portadores de sintomas dolorosos, sendo confeccionado de forma que uma espessura de acrílico separe as superfícies oclusais dos dentes, cujo efeito é o aumento da dimensão vertical (interarcos). O paciente, para ter alívio rápido dos sintomas, deve usar o aparelho 24 horas por dia, exceto durante a alimentação e os procedimentos de higiene bucal15. Com seu uso, há harmonia na relação côndilo-disco-fossa provendo estabilidade ortopédica ao paciente, a qual é mantida enquanto o dispositivo está instalado (BEARD3. 1980).
Além da terapia oclusal, agentes farmacológicos podem ser empregados em DTM. Os mais comumente indicados incluem analgésicos, antiinflamatórios, ansiolíticos, corticosteróides, relaxantes musculares, antidepressores tricíclicos e anestésicos locais15.
Para NEIDLE & YAGILLA11 (1991) há poucas doenças inflamatórias crônicas por si só, unicamente limitadas às estruturas orais e sensíveis ao tratamento com antiinflamatórios. A ATM pode ser envolvida em doenças sistêmicas, que seriam tratadas com ácido acetil salicílico. A articulação também pode ser afetada isoladamente por um processo inflamatório agudo ou crônico, cuja causa pode ser conhecida (trauma, imobilização ou má-oclusão) ou desconhecida (osteoartrite inespecífica). Nesses casos, devem-se ministrar antiinflamatórios em associação a terapias como calor, exercício, correção das anormalidades da oclusão e cirurgia articular, quando indicados.
Os antiinflamatórios não-esteróides (AINE) possuem propriedades analgésicas, antitérmicas, antiinflamatórias e antitrombóticas. Sua ação inibe a síntese de prostaglandinas, efetuada mediante a inativação das cicloxigenases constitutiva (COX 1) e induzível (COX 2). A primeira é responsável pelos efeitos fisiológicos das prostaglandinas em sítios gástricos e renais. A segunda surge nos locais de inflamação. A inibição da COX 1 é, pelo menos em parte, responsável por alguns efeitos adversos dos AINE, como a toxicidade renal e gastrointestinal. Na tentativa de preservar as características antiinflamatórias, reduzindo os efeitos adversos, as pesquisas têm sido direcionadas para a busca de representantes com maior seletividade pela COX 2. (TUCHS e WANNMACHER25, 1998).
Estudos clínicos demonstraram que o rofecoxib, um tipo de antiinflamatório/analgésico, é indicado para o tratamento agudo e crônico dos sinais e sintomas da osteoartrite e também para alívio da dor, entre outras1. Os antiinflamatórios não-esteróides (AINE) geralmente atuam sobre os dois tipos de cicloxigenase (COX 1 e COX 2), enquanto o rofecoxib seria específico para a COX 21. A COX 1 tem sido descrita como uma isoforma da COX que se apresenta constitutivamente em muitos tecidos humanos e que produz prostaglandina E2 (PGE2) envolvida em uma variedade de funções de “manutenção” homeostática (por exemplo, manutenção/proteção da mucosa gástrica, regulação de hemodinâmica renal e agregação plaquetária apropriada). A enzima COX 2 é a isoforma normalmente não detectável na maioria dos tecidos orgânicos, porém é induzida localmente na presença de dano tecidual por estímulos inflamatórios e citocinas. As prostaglandinas produzidas por intermédio da COX 2 estão associadas com sinais de inflamação, incluindo eritema, edema, dor e destruição da cartilagem1. A inibição específica da COX 2 tende a reduzir os sinais e sintomas clínicos sem influenciar a integridade gastrintestinal e com menor propensão à necrose renal associada aos AINE, sendo portanto, uma terapêutica com menos efeitos colaterais que os AINE convencionais1.
Para instituição terapêutica, é relevante identificar, primeiramente, a etiologia da cefaléia apresentada pelo paciente, confirmando, assim, sua eventual inter-relação com DTM. Quando um paciente com enxaqueca sente uma dor musculo-esqueletal associada com DTM, a dor pode representar um gatilho para sua ocorrência; neste caso, um tratamento adequado para DTM provavelmente reduzirá sua freqüência. (OKESON15, 2000).
Considerando estes aspectos, a presente pesquisa pretende confirmar a eficácia do uso de placa estabilizadora e do rofecoxib na remissão de cefaléias relacionadas às DTM, bem como verificar se há conveniência de interação destas duas medidas terapêuticas nestes casos.


MATERIAL E MÉTODO

Foram avaliados trinta pacientes de ambos os sexos, na proporção de quatro mulheres para cada homem, selecionados no setor de urgência do Serviço de diagnóstico e orientação a pacientes com desordens temporo-mandibulares (SERVIÇO-ATM), da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e ainda no setor de cefaléia do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário da UFJF. No desenvolvimento dos protocolos terapêuticos, seis pacientes foram excluídos, por reações à medicação ou por condução inadequada.
Para inclusão na amostra, os pacientes deveriam apresentar, além de algia crânio-facial, um mínimo de dois dos seguintes sinais: limitação de abertura, estalido, crepitação, saltos e/ou travamento, desvio, deflexão, desgaste dentário ou edema na região das ATM e um dos seguintes sintomas: otalgia, zumbido, dor nos olhos, cansaço ao mastigar, dor à palpação muscular, dor à palpação articular ou dor nos seios da face.
A seleção ocorreu a partir de respostas a um questionário, aplicado por um único examinador, e por avaliação de um mesmo neurologista do Serviço de Cefaléia da UFJF, para confirmação da cefaléia secundária à DTM. O questionário aplicado no SERVIÇO-ATM incluiu identificação do paciente, queixa principal, sinais e sintomas presentes, histórico da cefaléia e se fazia uso constante de alguma medicação.

A amostra inicial foi dividida em três grupos com dez pacientes em cada um, assim constituídos:

•Grupo “A” foi constituído por pacientes que usaram placa estabilizadora, ajustada como proposto por O KESON15 (2000). Os pacientes utilizaram o aparelho por 45 dias da seguinte forma:

- 1º ao 15º dia: 24h/dia
- 16º ao 30º dia: 16h/dia
- 31º ao 45º dia: 8h/dia

• Grupo “B”, composto por pacientes que usaram VIOXX ® (rofecoxib, MSD), por 20 dias. A dose recomendada foi de um comprimido (50mg)/dia.

• Grupo “C”, composto por pacientes que fizeram uso das duas formas terapêuticas, sob as mesmas condições dos grupos precedentes.

Todos os pacientes foram avaliados semanalmente durante a realização das atividades (período de tratamento - T) e por período de 30 dias após o término das terapias (período de controle - C). Foi solicitado a cada paciente que anotasse em uma tabela que lhe foi entregue no primeiro dia de tratamento uma mensuração de sua cefaléia. A orientação consistiu de que registrassem diariamente, à noite, durante todo o período de avaliação, uma graduação da dor que houvessem experimentado naquele dia, variando, em escala numérica, de zero (ausência de dor) a dez (dor máxima sentida por este paciente). A partir dos dados coletados pelos pacientes foi obtido o índice de remissão de cefaléia (ir) de cada paciente a partir do seguinte cálculo:

§ obtenção da média aritmética (m) da experiência de dor experimentada pelo paciente, a partir de suas anotações. Estes valores foram separados de acordo com as fases de tratamento (T) e controle (C);

§ divisão da média aritmética calculada por 10;

§ subtração de 1 do valor então obtido.

Deste modo, o índice de remissão pode ser sintetizado na seguinte expressão:

ir = 1 – m/10

A apresentação do valor de “ir” em forma percentual se deu a partir de sua multiplicação por 100.


RESULTADOS

Os dados de dois pacientes de cada grupo foram excluídos por não terem conduzido o tratamento conforme preconizado. Deste modo, o índice de remissão de cefaléia de cada grupo experimental foi obtido a partir da média dos dados de oito pacientes em cada.
Nas tabelas abaixo, encontram-se os índices de remissão de cefaléia de cada paciente, distribuídos em seus respectivos grupos, nos dois momentos de avaliação (T e C).

 


 

A análise estatística através dos testes ANOVA one-way demonstrou haver homogeneidade entre os grupos em nível de 95% e que pelo menos um grupo demonstrava comportamento diferente.
A análise de comparações múltiplas, grupo a grupo através do teste de Bonferroni, permitiu verificar que o comportamento foi semelhante nos dois momentos avaliados (T e C). O mesmo teste demonstrou que os grupos B, que utilizou somente VioxxÒ, e C, que associou à esta medicação o uso de placa estabilizadora, diferiram estatisticamente. Já o grupo A demonstrou o mesmo comportamento quando comparado aos grupos B e C, com diferença estatisticamente significante considerada em nível de 5%. Os valores de p obtidos com a aplicação do teste de Bonferroni, após o período de tratamento (T) e controle (C), são apresentados na tabela 4.

 


*The mean difference is significant at the 0.05 level.

DISCUSSÃO

As cefaléias recorrentes acometem parcela importante da população10,19. Considerando a severidade dos sintomas, além das conseqüências econômicas envolvidas, é relevante a discussão de alternativas terapêuticas que possam minorar o sofrimento dos pacientes envolvidos.
A terapia oclusal é amplamente referenciada nos casos de DTM2,3,7,8,9,12,13,14,15,16,17,20. Seu objetivo é promover estabilidade ortopédica, levando ao relaxamento da musculatura mastigatória. Os benefícios decorrentes são muitos, destacando-se a remissão, parcial ou total, de sintomas dolorosos de origem articular e, especialmente, muscular.
Nesta pesquisa, utilizou-se como referência a placa estabilizadora proposta por OKESON15 (2000), inclusive quanto a seus ajustes, através da qual há uma simulação do padrão oclusal ideal, com toques bilaterais, simultâneos e de mesma intensidade, com guias excursivas adequadas. O tempo de uso utilizado – 45 dias – seguiu protocolo de tratamento
adaptado em relação ao desenvolvido no SERVIÇO-ATM. Os pacientes que se submeteram a essa terapia (grupo A) apresentaram bons resultados, com 75,5% de remissão da cefaléia inicialmente apresentada. Após período de controle de 30 dias, nos quais os pacientes não utilizaram a placa estabilizadora ou qualquer outra terapia, este índice elevou-se para 79,4%. Este dado pode ser compreendido, presumivelmente, em virtude de alguns pacientes, durante o uso da placa estabilizadora, promoverem apertamento dos dentes contra a mesma, ainda que alertados para evitarem este hábito, o que gera cansaço muscular e dor associada. Acresça-se, ainda, que o uso de um dispositivo intrabucal gera desconforto que pode se traduzir em dor, em alguns casos, ainda que de pequena intensidade. Os resultados deste grupo corroboram, assim, os apresentados por vários pesquisadores3,7,8,9,13,14,15,17,20, demonstrando a inter-relação entre estabilidade ortopédica, relaxamento muscular e remissão de dor. O fato dos pacientes manterem-se sem dor mesmo sem uso do dispositivo leva a crer que o relaxamento muscular alcançado com placa estabilizadora persiste por período mínimo de 30 dias. É conveniente avaliar, em pesquisas futuras, se este período pode ser superior, e a partir de qual momento deverá haver retorno dos sintomas apresentados pelos pacientes.
Outra terapia sugerida na literatura para cefaléias secundárias à DTM é o uso de antiinflamatórios não esteróides1,7,10,1113,14,15,25. Isto se deve à sua ação analgésica e antiinflamatória, com inibição da síntese de prostaglandinas. Os medicamentos convencionais deste grupo promovem esta inibição por inativação da cicloxigenase constitutiva (COX 1). Em virtude dos vários efeitos colaterais que estas drogas acarretam, em especial em nível de sistemas digestivo e excretor, pesquisas conduziram ao desenvolvimento de outros produtos que atuam por inativação da cicloxigenase induzível (COX 2). Estes têm atuação nos locais da inflamação, reduzindo significativamente os danos sistêmicos de seu uso. Nesta pesquisa foi utilizada uma medicação deste grupo, o rofecoxib, comercializada pelo laboratório Merck Sharp & Dohme (MSD) com o nome Vioxx®. A dose recomendada aos pacientes – 50mg/dia – baseou-se em analogia à preconizada por OKESON15(2000) para os casos de miosite temporal. Em sua obra, o autor sugere o uso de ibuprofen, em dose diária de 600mg. Considerando que este medicamento tem atuação sobre COX 1, decidiu-se pela utilização de medicação com menores efeitos adversos, segundo relatos da literatura1, como o rofecoxib. Quanto ao tempo de uso sugerido – 20 dias – os autores também se basearam nas pesquisas da mesma publicação15. Os resultados encontrados foram satisfatórios, embora em nível inferior aos apresentados pelos pacientes do grupo A. O índice de remissão de cefaléias médio durante o período de uso do medicamento foi de 57,4%, ao passo que no período de controle este valor foi de 56,3%. Quando se procedeu à comparação dos resultados destes dois grupos, através da análise de Bonferroni, verificou-se que não houve diferença estatisticamente significativa, uma vez que o valor de significância (p) encontrado foi de 0,251 para o período de tratamento e 0,157 para o período de controle. Como o nível de significância estabelecido foi de 0,05, verifica-se que, estatisticamente, os dois grupos tiveram o mesmo comportamento, embora com diferenças numéricas expressivas. Analisando-se clinicamente estes dados, pode-se inferir que tanto a placa estabilizadora quanto a medicação antiinflamatória podem ser indicados para os casos de cefaléias secundárias às DTM. Entretanto, como a diferença numérica encontrada foi importante, sugere-se que esta segunda opção seja indicada, especialmente, nos casos de miosite temporal, nos quais os pacientes apresentam dor intensa e espontânea, aumentada pela função e à palpação. Paralelamente ao uso do medicamento, deve-se proceder à confecção laboratorial da placa estabilizadora, suprimindo a droga quando da instalação e ajuste do dispositivo. A sugestão desta conduta baseia-se no fato de muitos pacientes freqüentemente demonstrarem a preferência por não utilizar medicamentos e, ainda, pelos efeitos colaterais que estes podem trazer. Nesta pesquisa, três dos vinte pacientes (15%) que se submeteram ao uso de rofecoxib (dez do grupo B e dez do grupo C) apresentaram efeitos adversos – dois deles queixaram-se de pirose (azia) e outro de edema nos membros inferiores. Embora não se possa correlacionar de modo direto a ocorrência destes efeitos ao uso do medicamento, em especial por não ter sido esta a proposta do presente estudo, é possível que haja a correlação. Isto se reforça pelo fato dos efeitos terem cessado após suspensão da medicação, com conseqüente exclusão dos dados coletados por estes pacientes de seus respectivos grupos experimentais. É oportuno ressaltar que a ocorrência de pirose é prevista pelo laboratório Merck Sharp & Dohme nos pacientes que fazem uso de Vioxx®, embora o fabricante cite, com base em várias pesquisas1, que em nível inferior às experiências com antiinflamatórios convencionais. Quanto à ocorrência de retenção hídrica e edema, o laboratório cita que há similaridade entre seu produto e os medicamentos com inibição não específica da COX.
Neste estudo, os autores se propuseram, ainda, a avaliar se a associação destas duas formas terapêuticas – o uso de placa estabilizadora e de medicação antiinflamatória – poderia gerar benefícios superiores ao uso isolado de uma delas. Os dados encontrados confirmaram que a remissão da queixa álgica foi superior àquela apresentada pelos grupos A e B – 86,3% no período de tratamento e 92% no período de controle. Quando se analisou este dados sob ótica estatística, foi possível verificar que houve diferença significativa em relação ao grupo B (p= 0,026 no período T e 0,014 em C), indicando que o uso isolado da medicação apresenta remissão expressivamente menor em relação à obtida quando há associação com a placa estabilizadora. Quando, porém, comparam-se os dados dos grupos A e B nota-se que não houve diferença estatisticamente significativa, encontrando-se valores de p expressivos – 0,880 e 0,823 em T e C, respectivamente. Isto leva a deduzir que nos casos de cefaléias secundárias à DTM, pode-se decidir pelo uso isolado de placa estabilizadora, com níveis de remissão muito próximos àqueles que seriam encontrados com associação terapêutica à medicação antiinflamatória. Mesmo sob esta análise, porém, remanesce a possibilidade de uso de rofecoxib nos casos de urgência por miosite temporal previamente à instalação do dispositivo intra-bucal.


CONCLUSÕES

Com base nos resultados desta pesquisa pode-se concluir que:

• As alternativas terapêuticas analisadas (placa estabilizadora, Vioxx® e a interação das duas terapêuticas) demonstraram capacidade de remissão parcial das cefaléias relacionadas às desordens temporomandibulares.

• É conveniente o uso de placas estabilizadoras nos casos de cefaléias relacionadas às DTM, considerando que o uso isolado de rofecoxib ofereceu uma remissão sintomática, expressivamente menor que aquela observada nos dois grupos em que o dispositivo foi instalado.

• A associação de placa estabilizadora e rofecoxib, embora com maior eficácia, demonstrou o mesmo padrão de remissão de cefaléia dos pacientes que somente utilizaram aquele dispositivo.

• Embora com diferença percentual importante, o uso isolado de placa estabilizadora e de rofecoxib apresentaram o mesmo comportamento, indicando-se, assim, o uso isolado da medicação em circunstâncias que o justifiquem.


AGRADECIMENTO

Ao Prof. Mario José Martins Alves (Faculdade de Medicina - UFJF) pela assessoria na análise estatística.


ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA

Elson Braga de Mello
Av. Rio Branco, 2001- sala 602 - Centro
Juiz de Fora- MG - CEP 36013-020 - Tel.:(32)3216-7356


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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26 VINCENT, M. Fisiopatologia da enxaqueca (ou migrânea). Revista do hospital das Clínicas e da Faculdade de medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - Brasil, Ribeirão Preto, v. 30, n. 4, p. 428-36, dez, 1997.

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