Piercing Oral e suas complicações

Odontologia

01/01/2008

Luciana Aparecida Leite Costa
Cirurgiã Dentista

Introdução

Historicamente, a prática do piercing (do inglês: perfuração) tem sido realizada por várias civilizações. Há relatos de uso entre os egípcios, romanos, maias, tendo conotações espirituais, sexuais, estéticas e de rituais de passagem. Na sociedade atual ele apresenta uma ligação com a adolescência e a vontade de ser diferente. A moda do piercing ganhou força com o movimento Hippie dos anos 60 e 70 e posteriormente com os Punks nos anos 80 e 90.

Vários locais do corpo, face e boca têm sido escolhidos em função da estética. Os piercings de língua e regiões periorais tornaram – se mais populares com o passar do tempo (CANTO et al. 2002). Atualmente, eles são motivo de preocupação e discussão pelos odontólogos, devido suas interferências prejudiciais na cavidade oral e complicações que podem ter origem infecciosa ou não.


Revisão de Literatura

1. Sobre os piercings
São encontrados em vários tamanhos e tipos. Podem ser confeccionados em aço inoxidável, ouro, prata, teflon, acrílico ou titânio (CANTO et al., 2002)

- Labial: Podem ser colocados central, lateral ou bilateralmente. Medem aproximadamente 17 mm. Geralmente são circunferênciais externamente e achatados internamente, para minimizar o traumatismo. Fig. 1 e 2

 

Fig. 1
 

Fig. 2
 

- Lingual: Geralmente são colocados na linha média (pois lateralmente a ela passam nervos e vasos), à metade da distância da ponta da língua ao freio lingual. Medem aproximadamente 30 mm. O mais utilizado é o circunferencial em ambas extremidades. Fig. 3

 

Fig, 3
 

2. Colocação da jóia

A técnica consiste na determinação do local pelo usuário, higiene com gaze embebida em PVPI (polivinil pirrolidona iodo) e bochechos com solução antisséptica. Uma pinça, semelhante à de mucocele, é utilizada na preensão do lábio ou língua. O piercing é encaixado na agulha, que tem o mesmo calibre da jóia. A agulha é inserida. Pinça e agulha são removidas. A outra parte do piercing é então rosqueada. Na língua, uma haste mais longa é utilizada para melhor acomodação da jóia durante o período em que a jóia estivesse edemaciada. Após a cicatrização, uma jóia menor substituiria a primeira (BOARDMAN & SMITH, 1997).

O tempo médio de cicatrização no lábio é de aproximadamente 5 semanas e na língua, de 4 semanas. Se o paciente apresentar dor, inflamação e conseqüentemente aumento do período de cicatrização, deve – se realizar debridamento local, uso de clorexidina e antibióticoterapia. Neste caso o paciente deverá ser acompanhado e o piercing removido (BOARDMAN & SMITH, 1997).


Discussão

Várias complicações decorrentes do uso do piercing têm sido relatadas na literatura. Os dentistas devem estar atentos a esta prática e aos problemas causados pelos mesmos.

Dor e edema são as complicações mais comuns. São decorrentes do procedimento, que é feito sem anestesia, pois os aplicadores não possuem licença para utilização de anestésico local e nem para prescrição de medicação pós – operatória. Quanto ao edema, devemos ficar atentos, principalmente os relacionados ao piercing lingual, pois em casos extremos poderão comprometer as vias aéreas superiores. Sangramento prolongado e / ou parestesia podem ocorrer se a perfuração na língua não coincidir com a linha média (paralelamente a esta passam os feixes vásculo – nervoso lingual).

Fratura dental, trauma à mucosa, gengiva e palato também são comuns. O usuário tem o hábito de brincar com a jóia ou mesmo o simples ato da mastigação pode causar dano aos tecidos adjacentes.

Interferência na mastigação e deglutição, hipersalivação e dificuldades na fala são relatadas pelos autores, mas os usuários afirmam não ter problemas deste tipo.

A transmissão de doenças como hepatite, HIV entre outras é uma realidade pois os locais onde são feitas as perfurações nem sempre apresentam as condições mínimas de biossegurança, favorecendo a transmissão de doenças.

Em entrevista ao site da APCD o estomatologista da Unisa, Arthur Cerri, relata que quanto mais tempo o usuário permanecer com a jóia na boca, maior a chance do mesmo contrair doenças que variam de processos inflamatórios crônicos a lesões que podem levar ao câncer. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) coloca o trauma contínuo e de baixa intensidade como cancerizável, potencializado pelo uso do fumo e álcool.

Outras complicações descritas na literatura são: aspiração da jóia, incorporação de corpo estranho no local da perfuração, formação de cálculo na superfície do metal, obstrução de imagens radiográficas, hipersensibilidade ao metal.


Considerações finais

Existe um consenso entre os pesquisadores que os estabelecimentos destinados aa colocação do piercing deveriam passar por inspeções e fiscalização, podendo atuar unicamente mediante licença ou alvará.

Os colocadores de piercing deveriam receber instruções para minimizar os riscos a que expõem o usuário e alertá–los sobre possíveis complicações.

E nós dentistas devemos considerar os danos causados pelos piercings, pois podemos ser solicitados para tratamento dos mesmos.


Referências bibliográficas

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12. www.lincx.com.br

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