Desmistificando a inclusão

Educação para todos
Educação para todos

Educação e Pedagogia

25/08/2013

O termo inclusão vem sendo erroneamente utilizado; é comum ouvi-lo como sinônimo de compaixão e isso sim é de entristecer qualquer um. Fica mais fácil compreendê-lo quando pensamos em nós mesmos, uma vez que todos querem ser incluídos em algo, e ainda que tenhamos limitações, angustias e inseguranças, temos o direito de fazer parte de um “clube”. Não importa a idade, estamos sempre conhecendo novas pessoas e frequentando novos ambientes; é isso que nos faz crescer, a troca de experiências e vivências, novos exemplos e novas referências.

Nem por isso devemos desumanizar o termo, pois a inclusão diz respeito aos seres humanos, dotados de emoções e de um cérebro pensante.

Atualmente a questão mais debatida é a inclusão de crianças deficientes na escola regular e mais uma vez digo, não se trata de piedade ou compaixão e sim de direito e respeito.

Quando ouço que a criança com deficiência (poderia dizer Necessidades Educacionais Especiais, mas trato aqui justamente de deficiência e não de dificuldades, de transtornos, dentre outros) frequenta a escola regular apenas pela socialização, minha primeira reação é perguntar: você sabe o que é necessário para que o aluno se socialize? Pois é, quem acha que socializar é apenas interagir com os amiguinhos, ainda não compreendeu o processo inclusivo.

Lembro-me de uma professora que me disse que seu aluno estava incluído, pois “socializava muito bem com a turma”. No recreio, eles faziam um revezamento de quem empurraria sua cadeira de rodas; era comum ver um aluno empurrando-o e outros correndo atrás na maior diversão. Quando vi a situação logo pensei: isso sim é uma total exclusão, o aluno com PC (paralisia cerebral) tornou-se uma ferramenta de diversão para os outros, como se não tivesse vontade própria. Será que essa professora gostaria que seu filho fosse tratado dessa forma?

É difícil compreender esse tipo de postura, será ingenuidade ou desinteresse?

Bom, retomando a questão da socialização façamos a seguinte reflexão: o que significa a palavra socializar? Significa fazer parte do meio social, podendo este ser o trabalho, escola, eventos, enfim, em nosso caso nos referimos à escola, dessa forma o aluno fará parte do meio escolar. O que é preciso para o aluno se socializar na escola? Primeiramente é preciso se comunicar (oralmente, por gestos, pela escrita, etc.), também é preciso ter um bom repertório e algum conhecimento dos assuntos abordados pelo público escolar, ou seja, as informações ou novidades do momento. Ao conversar é preciso respeitar o contexto e relatar fatos ou situações seguindo uma sequência lógica, caso contrário ninguém o entenderá.

Ah, não podemos esquecer que é preciso respeitar as regras e combinados do meio escolar, e conhecê-lo bem, explorando seus espaços, de forma a ter autonomia.

Conhecer e chamar as pessoas pelo nome é de extrema importância e questão de respeito (o nome dos professores, dos amiguinhos, da Diretora).

Agora que entendemos o que é preciso para se socializar, percebemos que não se trata apenas de interagir com os outros alunos, mas de adquirir conhecimentos importantes para conviver com as outras pessoas em situações ou em lugares variados. E para que isso aconteça, a criança com deficiência deve frequentar a escola regular e se beneficiar de tudo o que lhe oferece.

Outra confusão é o fato do professor acreditar que incluir é colocar o aluno sentado em um canto da sala e dar atividades diferenciadas. Enquanto ministra aula de História, o aluno pinta um desenho, ou faz alguma atividade com recorte e colagem que nada tem a ver com o tema trabalhado com os outros alunos.

O aluno com deficiência deve participar das aulas juntamente com os demais. O currículo é o mesmo, porém devem ser feitas adaptações. No caso do aluno que não escreve, ele pode participar oralmente das aulas, pode também sentar em dupla e o colega servir de escriba, pois assim poderá participar, colaborar com ideias ou dar opinião. Existem casos mais graves em que o aluno não participa oralmente, nem por gestos (nos casos de PC), mas ainda sim o professor deve introduzi-lo na aula, citando seu nome nas explicações, perguntando se entendeu e é claro utilizando a comunicação alternativa, que são as pranchas de comunicação.

É importante levar em consideração as limitações desses alunos, mas principalmente as potencialidades, elaborando expectativas de aprendizagem reais, como metas a serem atingidas em um determinado período.

Todos são capazes de aprender e cada um tem seu tempo, que deve ser respeitado. Ás vezes o professor diz que o aluno não apresentou progresso e o simples fato de aprender a ir ao banheiro sozinho, comer sozinho, lembrar o nome de alguns amiguinhos ou lembrar a primeira letra do nome já é um progresso significativo.

Assim, podemos concluir que o processo de inclusão é bem mais simples do que pensávamos; o que prejudica são os rótulos, pré-julgamentos e ideias pré-concebidas que ainda temos.

Lembrando que inclusão não é sofrimento.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Cristiane Carminati Maricato

por Cristiane Carminati Maricato

Pedagoga, especializada em Psicopedagogia Clínica, Psicomotricidade e Educação Especial; cursando pós graduação em Neuropsicopedagogia. Professora na rede municipal de Taboão da Serra; atualmente atuando no AEE (Atendimento Educacional Especializado ou sala de recursos multifuncionais). Experiência em Educação na Empresa, Educação Infantil e Ensino Fundamental I.

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