Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e a escola
A intervenção escolar é muito importante
Educação e Pedagogia
04/05/2014
INTRODUÇÃO
O presente interesse no tema foi intensificado quando eu e meu filho fomos diagnosticados com o transtorno do TDAH, durante minha infância fui apresentada como uma criança agitada, teimosa que não parava quieta e tinha dificuldades de obedecer a regras, logo cresci me casei e continuei sendo uma pessoa muito agitada, meu primeiro filho chegou, logo depois começou a sua fase de ir para a escola e assim começaram as reclamações que ele era uma criança muito agitada, não obedecia regras e tinha dificuldades em concentrar-se para desenvolver suas atividades por não conseguir ficar quieto por algum tempo. Assim, em geral, essas dificuldades eram tratadas como se houvesse problemas de disciplina, de interesse ou até mesmo de educação. Hoje sabemos que o TDAH é definido como um transtorno neurobiológico que acontece em crianças, adolescentes e adultos, independente de país de origem, nível socioeconômicos, raça ou religião. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neuropsiquiátrico, reconhecido pela Saúde e registrado oficialmente pela Associação Americana de Psiquiatria no manual chamado de Diagnostic and Statistic Manual (DSM), que está na sua quarta edição. Assim Barkley (2008) caracteriza o TDA/H como sendo:
“(...) um transtorno mental válido, encontrado universalmente em vários Países e que pode ser diferenciado, em seus principais sintomas, da ausência de deficiência e de outros transtornos psiquiátricos”. (p.123)
Em estudo sobre o tema dando continuidade, obtive um maior embasamento teórico através do contato com trabalhos de autores como Thomas E.Brow (2007), Paulo Mattos (2007), Russell A. Barkley (2008), Maria Isabel Vicari (2006), dentre outros que pesquisaram sobre o assunto. Estes autores assinalam que o TDAH é um fator de risco para o baixo desempenho acadêmico e para os altos índices de abandono escolar, pois essas crianças além de terem maiores chances de serem repreendidas e castigadas podem ter outros problemas associados, que vão dificultar na leitura, na escrita, na comunicação e no relacionamento com os outros, no mau rendimento escolar, além de criar dificuldades nos relacionamentos. Por outro lado, tais dificuldades vão contribuir muito para a sensação de mal-estar e, é lógico que no ambiente escolar, essas crianças começam a se sentir excluídas e desenvolvem sentimentos de inferioridade por comparar-se aos outros colegas, o que gera desejo intenso de abandono escolar. Na adolescência, o risco ainda é maior, pois apresentam sentimentos propícios para uso excessivo de álcool, abuso de drogas ilícitas, assim como comportamentos irresponsáveis, que em parte são causados pela impulsividade. É com essa preocupação que o autor Paulo Mattos (2007) descreve sobre o desempenho acadêmico das crianças que apresentam o transtorno TDAH:
“A intervenção escolar é muito importante e em alguns casos pode facilitar o convívio dessas crianças com colegas e também evitar que elas se desinteressem pelo colégio, fato muito comum em adolescentes. O problema é a escola participar do tratamento; muitas escolas não apenas desconhecem o TDAH como também não têm o desejo ou possibilidade de participar do tratamento, pelas mais variadas razões” (MATTOS, 2007ª, p. 43).
1. O ALUNO COM TDA/H E A ESCOLA.
Embora seja um problema bem estudado e tenha tratamento, nem sempre esse transtorno é identificado ou diagnosticado corretamente. Pior, ainda há quem acredite que se trata apenas de um mito.
Distraídos, agitados, bagunceiros, desorganizados... É extensa a lista de adjetivos de conotação negativa usada para definir crianças e adultos que apresentam, de maneira intensa e frequente, comportamentos e atitudes diferentes daqueles tidos como padrão. Os pais acham que os filhos são “elétricos” ou que vivem no mundo da lua. A escola reclama do aluno que tumultua a classe e não presta atenção à aula. A criança se ressente porque não vai bem nas provas, leva bronca de todos ou é isolada pelos colegas, pois abandona as brincadeiras ou as atrapalha com sua impulsividade. Esses podem ser alguns indícios de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Difundido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), consenso médico internacional e tema de inúmeros estudos, o TDAH ainda é um problema pouco conhecido e alvo de polêmicas. Mesmo entre profissionais, há quem o considere um mito, ignorando evidências como as alterações no cérebro dos portadores do transtorno – justamente nas regiões responsáveis pela inibição de comportamentos, pela capacidade de prestar atenção, pelo autocontrole, pela organização e pelo planejamento. Estudos também apontam alterações no sistema de neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que são substâncias que transmitem informação entre os neurônios. Uma pesquisa realizada por especialistas do National Institute of Mental Health (EUA) revelou um atraso médio de aproximadamente três anos no amadurecimento dessas áreas do cérebro em crianças com esse transtorno.
Segundo Silva (2009, p.203) a identificação TDAH surgiu em 1902, com George Fredrick Still, que estudava o comportamento de crianças agressivas, desafiadores, excessivamente emotivas. Segundo, Still estas crianças apresentavam um problema maior e crônico no controle da moralidade, assim as rotulou de portadores de “defeito de controle moral”. Este problema era relacionado a forma como as crianças aprendem voluntariamente a tolhir seu comportamento e a aderir regras sociais.
Segundo Phelan (2005) todas as pessoas envolvidas com o portador deste transtorno precisam conhecer os sintomas básicos para melhor relacionamento com a criança. A criança portadora deve receber informações em linguagem e conceitos próprios à sua idade. Além disso, professores, profissionais de saúde mental e pediatras precisam conhecer os sintomas básicos, cursos de desenvolvimento, causas, prognósticos, diagnósticos e tratamentos. O reconhecimento de que a maioria dos portadores de TDAH não supera seus sintomas, pode proporcionar diagnóstico e tratamentos eficazes para muitos adultos também portadores deste transtorno.
A criança portadora de TDAH, com inteligência superior à média, tem vantagem sobre os menos inteligentes, podendo representar importante ferramenta para compensar muitas deficiências, como problemas de atenção e distúrbios de aprendizagem. Os resultados mais altos de quociente intelectual (QI) podem modificar o quadro de sintomas, inibindo em graus variáveis, o comportamento hiperativo na escola. (PHELAN, 2005).
Quando a criança se envolve com atividades que lhe são agradáveis, como por exemplo as brincadeiras, ela tem a possibilidade de vencer o medo, a angústia, e os traumas, logo é necessário que o brincar seja espontâneo e este deverá refletir a forma de pensar e sentir da criança (MELO,2011).
Segundo MELO, (2011) não existe marcador biológico para o TDAH, seu diagnóstico é clínico, logo, baseado em entrevista com o paciente, pais, professores e outras pessoas que lidam diretamente com o portador. Phelan (2005 p.15), relata que os principais sintomas do TDAH são classificados em três grupos: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade:
Desatenção
a. Não consegue prestar muita atenção em detalhes ou comete erros por descuido;
b. Tem dificuldade em manter a atenção no trabalho ou no lazer;
c. Não ouve quando abordado diretamente;
d. Não consegue terminar as tarefas escolares, os afazeres domésticos ou os deveres do trabalho;
e. Tem dificuldade em organizar atividades;
f. Evita tarefas que exijam um esforço mental prolongado;
g. Perde coisas;
h. Distrai-se facilmente;
i. É esquecido. Hiperatividade
a. Tamborila com os dedos ou se contorce na cadeira;
b. Sai do lugar quando se espera que permaneça sentado;
c. Corre de um lado para o outro ou escala coisas em situações em que tais atividades são inadequadas;
d. Tem dificuldade de brincar em silêncio;
e. Age como se fosse “movido a pilha”;
f. Fala em excesso;
Impulsividade
g. Responde antes que a pergunta seja completada;
h. Tem dificuldade de esperar sua vez;
i. Interrompe os outros ou se intromete.
Ainda segundo Phelan (2005), com base nos grupos apresentados acima temos:
• Tipo combinado, se o portador se encaixa em 6 ou mais itens de ambos os grupos.
• Tipo predominantemente desatento, se o portador se encaixa em 9 itens da desatenção, mas não se encaixa em 6 dos 9 itens da hiperatividade e impulsividade.
• Tipo predominantemente hiperativo impulsivo, para muitos especialistas, é o mesmo do tipo combinado.
O TDAH pode se manifestar em grau leve ou grave. Nem todas as pessoas mostram todos os sintomas, nem todas as pessoas apresentam os sintomas com o mesmo nível de gravidade.
Mattos (2005), afirma que: os sintomas do TDAH podem ser minimizados, observando os itens a seguir, os quais podem ser eficazes para quase todos os portadores ou apenas para alguns:
1. Procure sempre ter certeza do diagnóstico e que o tratamento está sendo conduzido por profissionais capacitados;
2. Procure tomar os medicamentos mais indicados, conforme o caso, e na dose correta;
3. Eduque-se sobre o que é o TDAH, lendo livros, fazendo cursos ou participando de grupos de apoio;
4. Fale sobre o TDAH e seus sintomas para as pessoas mais próximas, mas não use o transtorno para desculpas para tudo o que ocorre com você;
5. Use constantemente a agenda para anotação dos compromissos, mantendo as anotações importantes também no computador;
6. Procure decidir o que é mais importante e resolver na hora tudo o que puder, deixando o mínimo possível para a lista “a fazer”. Dedique um horário para ir fazendo as coisas da lista;
7. Não se envolva com um monte de projetos ao mesmo tempo. Aprenda a dizer não. Use a regra: só adicionar quando subtrair;
8. Fazer atividades físicas ao longo do dia ou da semana;
9. Todo portador de TDAH descarrega a sua bateria com facilidade. Recarregue-a tirando um cochilo durante o dia, indo ao cinema, ao estádio de futebol, passeando no final de semana;
10. Durma um número satisfatório de horas à noite;
Atualmente, o conhecimento sobre o TDAH, que era restrito ao mundo psiquiátrico, influenciou outras instâncias da sociedade e já faz parte do vocabulário do cotidiano de professores, pais e outros segmentos sociais.
Segundo Mattos (2011): o tratamento do TDAH, pode ser feito de forma interdisciplinar com profissionais como: médico, psicólogo, psicopedagogo, e outros profissionais, sempre em conjunto com pais e professores.
Relata-se ainda que estudos mostram, que crianças e adolescentes que recebem tratamento adequado, são menos propensos a problemas comportamentais, além de menos riscos de abuso de álcool e drogas.
Considerando o que foi dito anteriormente, começa a surgir índices altos de diagnósticos TDAH. De acordo com o professor Paulo Matos (2007) a prevalência TDAH no mundo e no Brasil é estimada em 5% (dados confirmados em 9 estudos no Brasil e em mais de 100 países no mundo todo). E que há cerca de 2.600.00 portadores de TDAH no Brasil. (2003, p.74)
Segundo Barkley (2002, p.235) crianças com TDAH têm grandes dificuldades de ajustamento diante das demandas da escola. Um terço ou mais de todas as crianças portadoras de TDAH ficarão para trás na escola, no mínimo uma série, durante sua carreira escolar. Esta estatística deve ser levada em consideração a partir de alguns aspectos que influenciam a vida escolar deste tipo de criança, um deles é o sistema educacional brasileiro, outro o papel da escola e sem dúvida nenhuma, o papel do professor como fator principal.
O sistema educacional brasileiro, atualmente, ainda está organizado de modo a propiciar que muitos alunos se deparem com o fracasso escolar. Várias escolas não possuem estrutura física básica, adequada para receber os alunos, as salas de aula são superlotadas, os professores são mal pagos e muitos tiveram uma formação inadequada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, acredita-se que o TDAH pode vir a ser um transtorno natural ou de desenvolvimento do que uma doença ou patologia. “Na realidade, não se trata de uma condição qualitativa ou categoricamente diferente do normal, mas provavelmente localizada no extremo mais distante do traço normal. Assim, a diferença é realmente, apenas um problema de grau, mas não necessariamente qualitativamente diferente do normal.” (Barkley, 2002, p.90)
O transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno neurobiológico que pode fazer com que a criança tenha um desenvolvimento cognitivo insatisfatório e a escola precisa estar atenta, buscando um trabalho sistemático com a família e com a Rede de Apoio. Sassaki (1997, p. 16) aponta que as Necessidades Educacionais Especiais são amplas e entende que “podem resultar de condições atípicas, tais como dificuldades de aprendizagem, problemas de conduta, distúrbio de déficit de atenção com hiperatividade.” Para o autor, condições atípicas são: “situações sociais marginalizantes ou excludentes”.
O trabalho em equipe, na escola, auxilia na revisão de conceitos e percepções, muitas vezes negativas, que o professor tem em relação aos alunos que possuem o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Para tanto necessitam desenvolver a capacidade de observação, percebendo com clareza os indicadores de comportamentos inadequados, com a finalidade de criar estratégias para que o aluno com TDAH aprenda lidar com o Transtorno e com os demais colegas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA. Quais são as causas do
TDAH? Disponível em: < http://www.tdah.org.br/oque01.php>. Acesso em 24 de novembro de 2013.
BARKLEY, Russell A. Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade ( TDAH): guia completo e autorização para os pais, professores e profissionais da saúde/ Russell. Barkley; trad. Luís Sérgio Roizman – Porto alegre: Artmed, 2002.
MATTOS, P., No mundo da lua - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. 10 ed. – São Paulo - ABDA, 2011.
MELO, V. M. C., Importância do Lúdico para a Criança com TDAH. 2011. Monografia (Especializando em Desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar)UAB/UnBPoloAnápolis/GO.Disponívelem:http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/2409/1/201 Valeria Miguel da Cruz Melo. pdf Acesso em 14/02/2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE / ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE. CID 10 – Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10ª revisão. São Paulo: EDUSP, 2000. Disponível em: < http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/cid10.htm> Acesso em: 20/02/2014.
PHELAN, T. W., TDA/TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. 1 ed. – São Paulo-M. Books do Brasil Ltda, 2005.
SASSAKI, R. K. Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Rio de
Janeiro: WVA, 1997. Rio de janeiro.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes inquietas: TDAH; desatenção, hiperatividade e impulsividade Ana Be atriz Barbosa Silva- Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
VICARI, Maria Isabel. Melhorando a atenção e controlando a agitação. São Paulo: Thot Cognição e Linguagem, 2006.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Cleide Cardoso Pardim Lourenço
CLEIDE CARDOSO PARDIM LOURENÇO, 34 ANOS,PROFESSORA HÁ 10 ANOS E ATUAÇÃO EM AEE HÁ 05 ANOS.
GRADUADA NO CURSO NORMAL SUPERIOR E PEDAGOGIA PELA FACULDADE EDUCACIONAL DA LAPA - PR, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INFANTIL, LETRAMENTO E SÉRIES INICIAIS, EDUCAÇÃO ESPECIAL.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93