FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa

Reflexão sobre a prática educativa na formação de docentes
Reflexão sobre a prática educativa na formação de docentes

Educação e Pedagogia

06/05/2014

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Publicação original 1996. (www.livrosempdf.com)


A obra de Paulo Freire traz uma reflexão sobre a prática educativa na formação de docentes, numa abordagem educativo-progressista, fazendo uma análise de saberes fundamentais, enumerados através de exigências de um ensino em favor da autonomia do educando. O livro é divido em três capítulos, desdobrados em nove subitens, cada, que afirmam não haver docência sem discência, que ensinar não é transferir conhecimento e é uma especificidade humana.


Os educadores devem ensinar com rigorosidade metódica, pois não há ensino sem pesquisa aproximando os educandos dos objetos cognoscíveis, com criatividade, investigação, curiosidade, humildade e persistência, ética e estética, levando à procura pelo esclarecimento através de perguntas e indagações que fazem parte de uma prática que leva à autonomia do ser. A eles também deve ser ensinado o respeito aos saberes socialmente construídos na prática comunitária com que os educandos das classes populares que chegam na escola, bem como discutidos e relacionados com os conteúdos.


O rigor do pensar certo para fazer certo negam uma prática de preconceito, pois uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em relação uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar.


O educador deve estar aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, criando possibilidades para sua própria produção e construção, pois ensinar não é transferir conhecimento. Ter consciência do inacabamento do ser é fundamental na formação docente para poder sempre buscar essa conclusão histórica e social do ser. Para isto é importante o respeito à autonomia e à dignidade do ser do educando em busca da curiosidade e inquietação em suas descobertas.


Neste sentido o bom senso tem uma importância enorme na avaliação que se faz da própria prática, observando essas posturas, além de ser humildade, tolerante e lutar pela defesa dos próprios direitos e dignidade. Também deve haver uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança de professor e alunos para poder aprender, ensinar, inquietar e produzir.

A partir do saber fundamental: mudar é difícil mas é possível, que se programa a ação político - pedagógica, não importa que projeto com o qual se compromete. Ensinar exige curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercício da negação da outra curiosidade. O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve.


O professor que não leva a sério sua formação não tem força moral, nem competência profissional para coordenar as atividades de sua classe. Ele precisa ter comprometimento com o educando, possibilitando uma aprendizagem democrática.


Compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo é um saber que implica dizer que a prática não é neutra e exige dele uma definição. Ensinar exige liberdade e autoridade, no sentido de que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade em experiência respeitosas da liberdade.


Exige também tomada consciente de decisões para que a educação não seja neutra, sem discordância nenhuma entre as pessoas, pois somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele. Saber escutar, entender que a educação é ideológica, que pode haver ocultação de fatos, de verdades.


Neste sentido, ter disponibilidade para o diálogo, para uma relação dialógica em que o sujeito se abre ao mundo. Por fim, a afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.


Paulo Freire propõe saberes sem os quais o educador não terá uma prática educativo-crítica, descrevendo-os detalhadamente como se estivessem dialogando com o leitor, levando-o a refletir sobre sua postura com seus educandos, condição que o próprio autor defende ao longo de seus três capítulos.
Paulo Freire trata fundamentalmente da relação educador-educandos, em posturas essenciais que este educador precisa desenvolver para uma Pedagogia da Autonomia. A prática da curiosidade, como uma inquietação do saber e como uma base da postura dialógica, está presente nos três capítulos, fazendo-o entender que sem ela o educando não constrói conhecimento, não busca a conclusão do ser e não se torna autônomo. Outro saber que marca fortemente a prática progressista que o autor teoriza no terceiro capítulo, é a colocação político do educador, afirmando que não há neutralidade na educação, pois ela é transformadora e exige posicionamento de opinião.


Pedagogia da Autonomia tem uma linguagem coerente do primeiro ao terceiro capítulo, mantendo a fidelidade na argumentação que faz um exercício com o leitor de ida e volta ao mesmo ponto de vista. O autor teoriza a prática progressista em vários subitens que convergem para uma única ideia. A princípio, pensa-se num texto repetitivo, todavia ao longo da leitura, percebe-se que a partir de uma afirmação o autor desenvolve, argumenta, exemplifica e conclui com um neologismo único e de fácil descoberta. Esta originalidade textual certamente é a “marca” que o autor se posiciona, sem neutralidade, como deve ser a prática progressista, defendida por Freire no terceiro capítulo.


Este livro é recomendado para os educadores que querem levar seus educandos a construir o conhecimento através da curiosidade, de questionamentos, da busca pela pesquisa, do não conformismo, do diálogo, da ética, da crítica, da humildade, da democracia, da transformação e do afeto, que pode iniciar na educação infantil até a pós-graduação. Para aqueles que querem repetir em sala de aula uma prática e manter o status quo, nem leiam.


Paulo Freire nasceu no dia 19 de setembro em 1921, no Recife, Pernambuco e faleceu em 2 de maio de 1997. Foi um educador e filósofo brasileiro. É Patrono da Educação Brasileira e considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. Algumas de suas obras são: Alfabetização e conscientização, 1963; A importância do ato de ler, Cortez/ Autores Associados. (1991); Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Paz e Terra (1992), Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (1995). O livro Pedagogia da Autonomia foi sua última obra publicada em vida, 1996 O autor baseou-se durante o desenvolvimento do livro, em ideias progressistas de ensino, levando em conta, principalmente, o conhecimento do aluno em diálogo com a disciplina.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Valéria Francisco de Souza

por Valéria Francisco de Souza

Sou pedagoga e sócia-prorietária de uma instituição de educação básica no Rio de Janeiro, onde acumulei uma experiência de gestão muito enriquecedora durante 15 anos de trabalho na mesma. Sou responsável pela coordenação, orientação das professoras e alunos.

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