A IMPORTÂNCIA DOS JOVENS E ADOLESCENTES PARA A INCLUSÃO, QUEBRA DE PARADIGMAS.
Os quarto principais símbolos que representam pessoas com deficiência.
Educação e Pedagogia
13/06/2014
INTRODUÇÃO
Conforme o Preâmbulo da Constituição Federal:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL” (p. 1).
Tratando-se de Pessoas com Deficiência (PCD), pode-se afirmar que a Constituição Federal é cumprida? Há a sua inclusão nos diversos grupos sociais, assim como no meio profissional?
Segundo o IBGE (2012):
”Trabalhadores com deficiência representam 23,6% do total de pessoas ocupadas”, mas somente 40,2% das pessoas com deficiência e ocupadas possuem carteira assinada e, 46,4% das pessoas de 10 anos ou mais com deficiência recebem até 1 salário mínimo ou não recebem rendimento”
Pode-se analisar que a empregabilidade das Pessoas com Deficiência (PCD) está favorável, devido a Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91), que estabeleceu a obrigatoriedade das empresas com cem (100) ou mais empregados para preencherem uma parcela de seus cargos com PCDs (de 5% a 15%), favorecendo, assim, a inclusão nos grupos sociais.
Mas será que ainda existe o preconceito e resistência da sociedade em contato com o público PCD? Caso exista, este paradigma pode interferir na crença da capacidade e potencial que este grupo tem para incluí-los no grupo de pessoas economicamente ativa.
Esta Monografia será um relato de estudos e trabalhos vivenciados na Capacitação Profissional de Jovens Aprendizes e Adolescentes do CIEE, com a experiência de estar um dia atuando com Jovens da APAE (especificamente com a área Socioeducativa de Jovens diagnosticados com deficiência intelectual), cuja relevância apresentou não somente para a inclusão de pessoas com deficiência em grupos sociais, mas também para a formação de identidade, dos relacionamentos interpessoais, do significado de cidadania, transformando o meio para valores subjetivos diplomáticos, com maior respeito não só para a diversidade entre Pessoas com Deficiência (PCD) e não PCD, mas com respeito às diferenças entre os jovens dos próprios grupos sociais.
ABORDAGEM TEÓRICA
1) Inclusão X Exclusão: Contexto Histórico e a importância da Inclusão de Pessoas com Deficiência nos grupos sociais.
Segundo Silva (1987), na História Antiga e Medieval haviam dois tipos de tratamento com PCD: rejeição e eliminação de um lado, e a proteção assistencialista e piedosa de outro. Na Roma Antiga e em Esparta, nobre e plebeu tinham permissão para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo de deficiência. Em Atenas foi diferente: os deficientes eram amparados e protegidos pela sociedade.
“A sobrevivência das pessoas com deficiências aqui no Brasil e em boa parte do mundo, na grande maioria dos casos, tem sido uma verdadeira epopeia. Essa epopeia nunca deixou de ser uma luta quase que fatalmente ignorada pela sociedade e pelos governos como um todo – uma verdadeira saga melancólica – assim como foi em todas as culturas pelos muitos séculos da existência do homem. Ignorada, não por desconhecimento acidental ou por falta de informações, mas por não se desejar dela tomar conhecimento” (SILVA, 1987, p.470)
Segundo Carone(1985), “... o capital é definido como valor em progressão ou valor que gera mais valor”(p.27).
Pode-se analisar que na sociedade capitalista atual, o valor de algo é proporcional ao maior lucro em menor quantidade de tempo, bem explicado por Karl Marx (1867). Através deste pensamento, pode-se analisar que, para a economia, o valor do profissional é proporcional ao cargo de responsabilidade e lucro que dará à empresa. E qual o valor social que um PCD tem na nossa sociedade? Alguém já viu um gerente, diretor, presidente ou empresário que é diagnosticado como Pessoa com Deficiência Intelectual?
Para uma proteção social de igualdade e fraternidade (conforme Constituição Federal), foi necessária a criação de uma legislação para direitos iguais aos PCDs em relação à inclusão e adaptação nas escolas, acessibilidade pública e no mercado de trabalho.
Através deste raciocínio, pode-se verificar que grande parte das empresas busca investir em profissionais mais qualificados, ágeis, que geram mais resultados em pouco período de tempo possível.
Para isso, ainda há a filosofia da Grécia Antiga, de “Deuses”, pessoas que estão mais próximas da “perfeição”, são aquelas mais disputadas pelo mercado de trabalho, assim como para os relacionamentos sociais. Este raciocínio exclui as pessoas tidas como “não perfeitas”. Mas existe a perfeição humana? Há um ser ideal?
Para a Psicologia Social, segundo Lane (1984), cada pessoa tem sua função no grupo, afeta e deixa ser afetado pelas forças que acontecem nos relacionamentos. A partir desse pressuposto, pode-se pensar que o público PCD pode interferir nos relacionamentos e construção do EU nos grupos sociais e que o ser ideal está de acordo com o ambiente em que convive e seu impacto em relação ao outro.
Segundo Kurt Lewin (1975) a pessoa é um ser sociável, ou seja, necessita relacionar-se com o outro e se sentir inserido no grupo para sua sobrevivência. Uma pessoa que está excluída em alguns grupos, interfere na formação e futuro da sociedade?
2) A importância dos Jovens e Adolescentes para a transformação da Cultura e dos Valores na Sociedade
“... a Psicologia Social poderá responder a questão de como o homem é sujeito da História e transformador de sua própria vida e da sociedade, assim como qualquer outra área da Psicologia.” (Lane, p.19)
Segundo Lane (1985), uma pessoa, mesmo antes do seu nascimento, já está inserido em um grupo social.
“quando o grupo se percebe inserido no processo de produção material de sua vida e percebe as contradições geradas historicamente, levando-o a atividades que visam à superação das contradições presentes no seu cotidiano, torna-se um grupo-sujeito da transformação histórico-social” (p.40).
E qual a importância do público jovem e adolescente para a transformação do meio social?
Segundo Osório (1989), a fase da adolescência é o da descoberta, inovação, transformação do corpo e o impulso para transformar, inovar o que está ao seu redor. Novaes (2004) enfatiza que o papel da juventude “desenha um espaço livre para a busca do próprio caminho e a contestação sistemática do que até hoje funcionou.” (p. 26), importantes para a transformação e constituição do fenômeno social.
“A juventude assim não ficou apenas em seu papel de limiar, nem somente aumentou sua duração... ela pode terminar, mas também recomeçar... o mesmo recomeço pode se dar na vida profissional ou nos valores que conferem sentido à vida”. (Novaes, 2004, p.27)
Segundo a Lei do Aprendiz (Lei 10.097, de 19 de dezembro de 2000), há uma preocupação para proteger e facilitar o desenvolvimento profissional de jovens entre 14 a 24 anos de idade.
Conforme a Lane(1985), os jovens têm direito ao tratamento diferencial para que possam ter melhor educação, lazer-esporte, formar-se, ter ações críticos- criativas, que colaborem com avanços civilizatórios. Eles têm direito à INCLUSÃO, de buscar/ criar suas próprias identidades.
Segundo Fonseca (2011), para Foucault há dois tipos de construção de identidade: a ascendente e a descendente.
A ASCENDENTE é aquela identidade que se constrói através de rituais, discursos e representações que singularizada o ser. É vista como um “homem memorável” (que é lembrado, que marca e transforma a sociedade e a história).
A DESCENDENTE é aquela que é disciplinar, que é afetado através da relação do poder, das observações, da fiscalização, medidas comparativas e normalização de desvios destinados aos homens comuns. É visto como um “homem calculável” (Fonseca, 2011, p.73), que mesura, que focaliza o resultado quantitativo.
E o pensar uma ação pode simplesmente reproduzir esta ideologia na medida em que se submete ou a reproduz através de explicações como: “é assim que deve ser, é assim que se faz” que, segundo Fonseca, para Foucault a reflexão fará com que a ação decorrente seja um avanço no processo de conscientização. Se esta reflexão não ocorre, o pensar a ação se caracterizará por uma resposta tida como “verdadeira”, já elaborada pelo grupo, reproduzindo a ideologia e mantendo o indivíduo alienado.
Pensar na questão ética, para Foucault, “é pensar no sujeito moderno... voltando-se para que a ética possa opor-se ao poder da norma que o constitui, e possa, a partir daí, constituir-se de forma diversa... constituir uma ética que possa vir a ser o fundamento de sua própria constituição.” (Fonseca, 2011, p. 135)
E a constituição do atual ser humano está mais voltado para o descendente ou ascendente?
Se for analisar o conceito de saúde e doença, caracteriza-se doente aquele que está fora do normal e o termo ‘deficiência’ é o diagnóstico dado àqueles que estão fora do limiar da ‘normalidade’, segundo o CID-10 (Código Internacional de Doenças).
Conforme este aspecto pode-se dizer que atualmente a sociedade está em uma posição descendente, na qual se diferencia o normal do que não está dentro dos padrões.
Mas como há movimentos de grupos sociais e de Políticas Públicas Nacionais e Internacionais para transformar a nossa formação de identidade cada vez mais para uma posição ASCENDENTE, na qual não há somente a repetição e o julgamento do ‘normal/anormal’, ‘perfeito/imperfeito’, ‘melhor/pior’, mas sim qual a função, importância e transformação de cada indivíduo na história e no desenvolvimento da sociedade em que está inserido.
Os Jovens e Adolescentes têm grande importância para essa transformação e, é acreditando nisso que busquei quebrar pré-conceitos e paradigmas que ainda existem na sociedade, em relação do que é conviver com uma pessoa com deficiência e do que eles são capazes de transformar.
3) Quebra de Paradigmas e Pré-Conceitos.
Segundo Osório (1992), a fase da Adolescência é o da descoberta, das experiências, é a transição do ser criança para o ser adulto. É a mudança do corpo e de ressignificações1 sociais. Nesse período, há a “tentativa de produzir uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano e da nossa cultura... estudando as formas pelas quais um ser humano se reconhece como sujeito de algo” (Freud, 1927 – 1931). A partir de esse olhar, o Jovem e Adolescente é de extrema importância para mudar a visão que a sociedade ainda tem sobre Pessoas com Deficiência e, assim, auxiliar para a quebra de paradigmas e para a inclusão social deste público. O Professor e/ou Instrutor é um agente coparticipativo2 e facilitador3 para o desenvolvimento do Adolescente. Assim sendo, uma das ferramentas para a formação de uma identidade ascendente é através da vivência do “processo de ajustamento e integração entre o já existente e o novo” (Moscovici, 2009, p.229) que, segundo Fonseca (2011), isso só pode ocorrer quando os indivíduos se agrupam. Para a quebra de paradigmas e minimizar o preconceito da sociedade com as Pessoas com Deficiência (PCD), é preciso ocorrer à mudança e a ressignificação da sociedade. Para Freud (1927 - 1931) “TODA MUDANÇA PROVOCA RESISTÊNCIA”, porque “lidar com o que não é comum gera desprazer, mas após o contato, a partir das experiências, é que surge o desenvolvimento” (p.85).
1 Ressignificações: Segundo Wikipédia, é um termo utilizado em Neurolinguística em que as pessoas constroem um novo significado através da mudança de visão do mundo, de uma maneira agradável, eficiente e proveitosa. 2 Coparticipativo: termo utilizado em Psicologia Sistêmica e, segundo o dicionário Aurélio, é a participação em convivência e cumplicidade. 3 Facilitador: é um agente que media a formação e/ou transformação de algo, assim como a subjetividade e aprendizado, segundo Paulo Freire (1970).
1.2Segundo Moscovici, para que ocorra a mudança, é necessário que haja o “descongelamento” (p.229), um desequilíbrio ou uma crise interna para que se propicie alteração das percepções e introdução de novas ideias, sentimentos, comportamentos e atitudes, que representa certo grau de dúvida, ansiedade, desestruturação, incômodo, mas depois há a motivação para examinar o novo, o diferente e o contraditório. Depois há o “período de incorporar novas formas de abordar os problemas e resolvê-los, passando a exteriorizar novas opiniões e comportamentos” (p.229). Conforme Lane (2009), não se extingue aquilo que foi interiorizado anteriormente. Substituem-se os aspectos considerados inadequados por outros que são mais apropriados, na esfera intelectual e emocional. A etapa de incorporação, portanto, compreende um processamento interno que significa transformação do conjunto como um todo e, não simplesmente acréscimos, retiradas ou substituições isoladas, de maneira mecanicista4. Segundo Moscovici (2009), há a nova fase de estabilização ou congelamento, no qual esta nova estruturação prevalece, mas o reforço externo é necessário para que as atitudes e comportamentos antigos não se manifestem novamente.
4 Mecanicista: Segundo Chiavenato( 2000), mecanicista é um termo utilizado na Administração Científica, criada por métodos científicos cartesianos, por Frederick Winslow Taylor (Filadélfia, 20 de Março de 1856 — Filadélfia, 21 de Março de 1915), cujo foco era a eficiência e eficácia operacional na indústria. Havia o controle inflexível, o objetivo era o máximo desempenho nos meios de produção (indústrias), mas gerando grande insatisfação, estresse, demissões, greves e atuação de sindicalistas para ir contra o sistema de Taylor.
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CAPÍTULO II – METODOLOGIA APLICADA
1) Projeto:
Com a intenção de provocar a quebra de paradigmas e desmistificar alguns preconceitos sobre Pessoas com Deficiência (PCD), para todos os meus alunos do curso de Capacitação Profissional de Jovens Aprendizes do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), com faixa etária entre 14 à 24 anos, propus uma Atividade Externa com a integração com os Jovens da APAE (Assistência à Pais e Alunos Especiais), Instituição que trabalha com o desenvolvimento e assistência à Pessoas com Deficiência Intelectual.
Trabalho de segunda à sexta-feira e, a cada dia da semana, eu atuo com uma turma diferente, pois os meus alunos vão ao curso somente uma vez por semana.
Antes da realização de cada projeto, contei com a ajuda do Pedro Paulo Zogbi para dar uma palestra sobre como lidar com as diversas características de PCD e Inclusão. Passamos dinâmicas e o filme “Uma lição de amor” para vivenciarem e sentirem o que é ser PCD (auditivo, visual, físico e intelectual).
Nas turmas de quarta, quinta-feira e sexta-feira, além dos meus alunos, convidei todos os Aprendizes de outros Instrutores da Unidade onde atuo, para irem à APAE. No total, foram mais de 400 jovens que participaram de um trabalho de interação com um grupo de trinta alunos PCD da área Socioeducativo desta Instituição.
Nos dois dias, o grupo de PCD tocou musicas e dançaram, conforme o que aprenderam na APAE. Para que tudo ocorresse de um modo natural, solicitaram que formassem duplas, misturando participantes das duas Instituições.
Depois tiveram um espaço para que ambos demonstrassem o que sabiam fazer, relacionado a artes, como dança e música, vivenciando um “Show de Talentos”.
Para turmas de segunda e terça, foi proposto um Projeto para a turma do CIEE, com o objetivo de atuarem junto com os Jovens da APAE. Convidei o Instrutor Ronaldo Antonio Gollo Junior 6 e seus alunos para a realização deste, totalizando aproximadamente 45 alunos do CIEE, em cada dia, com 40 alunos da APAE.
Trabalhamos questões do que é ser uma Pessoa com Deficiência Intelectual, diferenciando de Pessoas com Doença Mental. Fizemos dinâmicas de sensibilização e explicamos como lidar com diversos públicos.
Orientamos, mas cada Projeto e Atividades foram conduzidos pelos Jovens do CIEE, com o apoio dos Instrutores de Capacitação Profissional.
Na turma de segunda-feira, foi realizado jogos de basquete e futebol, oficina de salão de beleza e oficina de artes.
Nos jogos, cada time foi composto com integrantes da APAE e do CIEE, “para equilibrar o jogo e não ficar favorável somente para um time” (comunicou uma aluna do CIEE, com o pressuposto que os alunos PCD Intelectuais ficassem em desvantagem com os considerados “normais”).
Na oficina de Salão de Beleza, foram com o objetivo de dar uma palestra sobre higiene e como se maquiar. Mas para surpresa dos aprendizes do CIEE, alguns dos alunos da APAE já sabiam como se cuidar e como se arrumar.
Com a Oficina de Artes, os aprendizes falaram sobre o significado das cores e deixaram que os participantes escolhessem quais os materiais queriam utilizar entre guache, massinha de modelar, canetas hidrolocor, lápis de cor, papel sulfite, cartolinas, etc.
2) Resultados:
Em uma das turmas de Esporte, quando fizeram o jogo de “Queimada”, para aquecer, o vencedor foi um Jovem da APAE, diagnosticado com Deficiência Intelectual Leve.
Nas Oficinas de Salão de Beleza, alguns dos Jovens da APAE já sabiam sobre a higiene e como se cuidar e se maquiar.
Nas Oficinas de Criatividade, mesmo com diversos materiais, como guache, cartolina, colas, papéis crepom, canetas hidrocolor coloridas, lápis de cor, etc, todos preferiram trabalhar com massinhas de modelar, atuando na tridimensão.
No “Show de Talentos”, muitos Jovens Aprendizes do CIEE acharam que subir ao palco, dançar, cantar e tocar Instrumentos de Percussão era fácil, mas muitos precisaram de ajuda (aula) dos Jovens da APAE, antes de começarem a música.
Alguns dos Aprendizes do CIEE, que em sala de aula não participavam muito, mas nesta vivência, conseguiam mostrar outras qualidades e competências, atualmente exigidas no mercado de trabalho, como criatividade, dinamismo, relacionamento interpessoal, etc.
3) Depoimentos:
3.1) Jovens Aprendizes do CIEE:
? “Percebemos na visita a APAE, como as pessoas vêm perdendo o lado humano tornando-se mais fechadas e, às vezes, mais carentes enquanto eles mostram como o amor é importante para o nosso dia-a-dia, e que um abraço e um sorriso, podem mudar muitas coisas e fazer o seu dia ser melhor porque não há maldade, apenas sinceridade e carinho que todos nós precisamos” (G.S., 18 anos). ? “Com certeza eu apoio a contratação de PCDs no trabalho, pois não são diferentes de nós”! (J.A, 17 anos).
• “Por vezes tentamos defende-los na hora do jogo, com medo de se machucarem, porém, eles se mostravam sempre à frente com muita liderança.” (G.S., 18 anos).
• “No começo ficamos muito apreensivos por não saber lidar com eles, mas logo vimos o quanto são espertos e iguais a nós” (J.S, 17 anos).
• “Por fim, aprendemos que independente de qualquer deficiência, somos todos iguais de coração. O carinho e a forma que fomos recebidos foram de grande gratificação para nós, vejo que fomos muito bem recompensados!” (Grupo de Jovens Aprendizes de 3ª feira da Instrutora Luciane Midori Kadomoto Bezerra do CIEE).
• “Antes pensava que uma Pessoa com Deficiência (PCD) era totalmente dependente e que não tinham uma capacidade de ter uma vida normal, mas agora vejo que eles podem ter uma vida normal, como nós, só basta querer” (Jovem Aprendiz do CIEE, 16 anos).
• “Surpreendi-me com a força de vontade, com o modo como eles vivem. Às vezes pensamos que temos que trata-los diferentes e eles nos mostram que podemos ser o mais natural possível. Por mais dificuldade que a pessoa tenha, temos que respeitá-la e dar o direito de terem uma vida normal (ao menos tentarem).(Jovem Aprendiz do CIEE, 17 anos).
• “Eu achava que uma pessoa com deficiência não podia se comportar sozinha de jeito algum, mas depois desta experiência, percebi que dependendo da deficiência, muitas podem se virar sozinhas” (A.S.S., 18 anos). • “Agora vejo que não devemos menosprezar ou tratar com sentimento de pena um PCD, mas sim integrá-la na sociedade” (C.E.L, 20 anos). • “Eu já tinha contato com PCDs, tanto na família, quanto no trabalho, mas depois desta vivência, tenho um conceito sobre eles de superação, força de vontade, principalmente, dar valor as coisas simples da vida. Eles merecem ter oportunidades de mostrar seus trabalhos e conquistar lugares altos dentro de uma empresa”. (D. S. L, 19 anos). • “Penso que todos nós éramos muito ignorantes de informações tão simples e necessárias. Eu, particularmente, julgava com preconceito, pois não tinha conhecimento. Hoje vejo que todos nó somos iguais, só uns necessitam de apoios diferenciados.” (Jovem Aprendiz do CIEE, 16 anos). • “Antes eu pensava que um PCD não tinha tantas oportunidades de inclusão como as outras, mas agora vejo que todos somos capazes e, independente de qualquer coisa, a única coisa que nos limita é o nosso preconceito.” (D.F.M., 20 anos). • “Tive um maior contato do que é ser um PCD com as dinâmicas. Posso dizer que ‘eles’ são muito mais felizes do que aqueles que se acham ‘normais’, pois conseguem se divertir com pequenas coisas.” (J, 17 anos).
3.2) Jovens da APAE:
? “Fizeram atividades fáceis, até tirei sarro.” (Aluna da APAE, quando estava fazendo o jogo para descobrir o que significava a mímica). ? “Gostei muito do J. (19 anos). Eu queria namorar ele, mas como ele já tem namorada, então vou respeitar. J., eu te amo como amiga!” (C., 18 anos, diagnosticada com Síndrome de Down)
3.3) Instrutores de Capacitação Profissional do CIEE:
• “A dinâmica do grupo dos meus alunos mudou. Todos estão mais compreensíveis com os outros e dão mais valor à sua realidade, produzindo mais nas atividades e trabalhos propostos” (K.R.C, 27 anos). • “É nítido a diferença do relacionamento que tenho dentro de um grupo de alunos que participou e outro não ainda não teve esta oportunidade. Acho que estas palestras, dinâmicas e a ‘visita’ à APAE, deveria ser obrigatório para todos os Jovens do CIEE” (C.S., 39 anos). • “Foi um presente que nos foi dado. Passamos um dia muito alegre e divertido! O olhar dos jovens também mudou, dando valor à coisas mais subjetivas e simples da vida, como valor aos relacionamentos, amizade, e não muito ao materialismo e ganância. Isso é muito importante para a nossa sociedade”(U.A., 31 anos).
3.4) Professores da área Socioeducativa da APAE:
• “Até o primeiro contato do CIEE, ficamos apreensivos, porque preocupamos como as pessoas tratariam os Jovens da APAE, tratando-os com preconceito ou de um modo infantil, mas vimos que eles foram bem preparados e tudo deu certo. Nossos jovens adoraram!” (V.A., Professora da APAE). • “Essa dinâmica foi muito boa para que a sociedade comece a mudar o seu olhar e ritmo, dando mais valor à HUMANIZAÇÂO, diversidade e limites de cada pessoa.” (Professor J da APAE).
ANÁLISE E DISCUSSÃO
A partir dos depoimentos, pode-se verificar que em um primeiro momento, a maioria dos Adolescentes e Jovens Aprendizes do CIEE tinham paradigmas sobre Pessoas com Deficiência, com pré-conceito7 de serem incapazes, dependentes e que não podia-se trabalhar para o desenvolvimento à autonomia.
Após um primeiro contato, percebeu-se primeiramente um estranhamento, mas depois ambas as turmas ficaram mais à vontade. Conforme Moscovici (2009), a partir do desequilíbrio com o contato com o novo, tiveram alteração de suas percepções, consequentemente, de suas ideias, comportamentos e atitudes, percebidos nos depoimentos.
Mas as pessoas que primeiro se sentiram à vontade para ‘quebrar o gelo’8 foram os Jovens da APAE, pois demonstravam maior desinibição, confiança e espontaneidade para falar e se relacionar, não pressupondo a maldade no outro e a competição do melhor ou pior. Esta vivência favoreceu para os relacionamentos interpessoais mais saudáveis, com tolerância às dificuldades e limitações dos próprios colegas de trabalho e, além disso, aceitação dos seus próprios limites, ampliando a percepção de que não há um “ser humano perfeito” e que cada um tem a capacidade de aprender e se desenvolver em algo.
Segundo depoimentos, a maioria percebeu que não há diferenças entre PCD Intelectual e uma pessoa que não tem este diagnóstico, o que há são limites e dificuldades diferentes, mas se for ensinado, todos têm a capacidade para aprender, assim como trabalhar.
Outra questão e que foi apresentada é: será que uma pessoa considerada ‘dentro da normalidade’9 namoraria outra com Síndrome de Down, ou diagnosticada com Deficiência Intelectual Média à Grave? Se sim, como seria este relacionamento? Mas esta questão eu deixarei para que futuros pesquisadores investiguem esta questão e contribuam para a Sociedade Acadêmica. 7 Pré-Conceito: Conceito prévio, sem conhecimento sobre algo, assunto ou questão. 8 “Quebrar o gelo”: termo utilizado para deixar pessoas que não têm intimidade à vontade, a partir de estratégias. 9 Segundo CID-10 (Código Internacional de Doenças).
CONCLUSÃO
Os Jovens Adolescentes, em seu pleno início de experiência profissional, acabam tendo cobranças e atuando com muita competição, pela própria exigência das empresas de ter conhecimento técnico, prático, além das competências desenvolvidas, como liderança, criatividade, comunicação, relacionamento interpessoal, etc. Com isso, muitos jovens acabam exigindo competência, sabedoria e raciocínio lógico de si e das pessoas que os rodeiam, não tendo muita tolerância à dificuldade, limitações e o ‘não saber fazer’.
Não só este público, mas as próprias empresas agem com competição, com foco nos resultados e lucro, buscando sempre a ‘perfeição’, eficiência e crescimento econômico, cobrando rapidez, cumprimento de metas e excelência dos colaboradores. Assim, muitas empresas ainda têm o olhar que um PCD Intelectual não será tão apto a trabalhar, mas acabam não percebendo outro lado profissional: a HUMANIZAÇÃO.
Será que o olhar para a qualidade nos relacionamentos interpessoais, convivência, alteridade e de saber respeitar o limite do outro, pode interferir na produção e desenvolvimento da empresa? Será que ela pode ficar mais sadia?
A partir dos depoimentos, vimos que o pressuposto teórico sobre a vivência e a experiência do contato com diferente, pode mudar o conceito e o psiquismo das pessoas e/ou de um grupo.
A Inclusão de PCD no ambiente de trabalho interfere positivamente nos relacionamentos, resultando em um ambiente mais cidadão, harmonioso, com menos ganância e menos competição violenta. Além disso, transformam-se em pessoas economicamente ativas, auxiliando para o desenvolvimento e crescimento da Economia do país, deixando de estar em uma situação de dependente, esperando o assistencialismo do Estado, para o ser AUTÔNOMO.
Os Jovens e Adolescentes, estando em um momento de transformação, tanto física, quanto psíquica, podem mudar a dinâmica da sociedade, sendo de extrema importância para o auxílio da quebra de paradigmas, principalmente em relação ao olhar sobre a inclusão. Mas para isso, é necessário que haja a mediação de um profissional para fazer esses projetos e acreditar no papel do jovem.
Como Paulo Freire (1970) e Foucault, segundo Fonseca (2011), acredito que caminhando para um processo de educar, com a finalidade de criar pessoas críticas e construtivas, com formação de identidade Ascendente10, a sociedade brasileira poderá fazer com suas ‘próprias mãos’ um mundo mais autêntico, com respeito à diversidade, limites e mais HUMANO.
10 Ascendente: definição de Foucault, inserida na página 10.
Referências Bibliográficas:
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- SENEGAL, C. Trabalho de sobre Pessoas com Deficiência e Inclusão em São Paulo. Acesso: www.aprendizlegal.org.br, 18/09/2012, às 22:00h
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por Luciane Midori Kadomoto Bezerra
Psicóloga, pós-graduada em Educação Inclusiva e Deficiência Intelectual pela PUC-SP, especialista em inclusão e desenvolvimento de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e nas escolas. Iniciou sua carreira em 2004, inicialmente com trabalhos voluntários e depois em grandes empresas, como SPTrans, Bancos, Ongs (CIEE e ADID-Down). Atualmente desenvolve projetos em sua consultoria Inclusa.
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