Resenha de "Meu Tio Roseno, A Cavalo", de Wilson Bueno

Educação e Pedagogia

22/06/2014

O livro Meu Tio Roseno, A Cavalo, de Wilson Bueno, publicado pela editora 34 Ltda, cuja primeira edição data do ano 2.000, retrata, através da narração do sobrinho de Roseno, as peripécias do último, que é um tocador de sanfona e capadeiro de galo (BUENO, 2.000, p. 13).


O enredo se inicia com a explicação do narrador de que, os fatos por ele apresentados, datam de tempos anteriores a seu nascimento. Conforme ele expõe, seu tio há muito montou pela primeira vez em seu cavalo Brioso e partiu para Ribeirão do Pinhal. Isso porque, certa vez, uma cigana o advertiu que a bugra Doroí, ia lhe dar uma filha, cujo nome é Andradazil. Em busca de um encontro com a filha, inicia-se a jornada do tio Roseno.


A obra não é provida de divisão formal de capítulos, mas é composta de uma marca de escrita que prepara o leitor para as divisões do enredo, que é a expressão “[...] céu”. O enredo inicia-se, portanto, no primeiro céu – momento em que Roseno inicia sua viagem rumo a Ribeirão do Pinhal -, e finda no sétimo céu, com a chegada do personagem ao destino.


No decorrer da maratona de Roseno e no transcorrer “dos céus”, o personagem mostra destreza no trato com os índios de uma tribo, que sob o entendimento de que a arma de fogo não cotinha qualquer poder, tentaram enfrentar Roseno.


Na sequência, Roseno passa núpcias com uma virgem da tribo do cacique Asíguera, e depois é surpreendido com a notícia de que teria que se casar com a mesma. Eis aí mais um fato que deu ensejo à bravura de Roseno, que não queria casar.
Após sair da tribo sem a obrigação de casar-se com a índia (já que mais uma vez mostrou o poder de uma arma de fogo), Roseno tem as seguintes vivências: se depara com imagens de horror ao ver soldados pendurados em madeiros por consequência de batalhas; visita uma Feirinha de Araré; conhece a maior Mulher Barbada do Mundo e até se vê diante de uma suposta emboscada de um homem contra outro dentro de um circo. Dedica ainda um céu a recordar de sua infância junto à sua avó.


Muitas foram suas aventuras no transcurso desses quatro céus, mas o que mais marcou a jornada desse personagem foi o encontro com um desdentado, que Roseno, por várias vezes, julgou ser o lobisomem que assombrava uma das localidades por ele visitadas. Isso se dá do quinto para o sexto céu.


A reta final da história ocorre nos sexto e sétimo céus, onde o receio de ter caído em uma mentira da cigana começa a consumir Roseno, que teme que o nascimento de Andradazil não passe de uma invenção daquela. O desfecho acontece na chegada de Roseno a seu destino, momento em que é informado pela negra Nhô que Doroí e a criança foram levadas para longe “[...] pra Guerra do Paranavaí.” (BUENO, 2.000, p. 80).


Vários são os elementos pertinentes a se destacar nessa obra, mas sem dúvida um dos que mais chamam a atenção do leitor é a variedade de nomes que são dados ao personagem principal. Dentre vários outros, o tio Roseno é denominado Roseéno, Ros, Roseveno, Rosano.

O que se observa que a atribuição do nome é ligada a algum estado de espírito vivido pelo personagem ou alguma característica momentânea do mesmo. Por exemplo, pode-se citar o nome designado ao mesmo quando se está relatando sua infância: Rosenino. Rosemundo é o nome usado quando é dado ao personagem um caráter de ser pessoa nascida em todos os lugares. E Roselindo é utilizado quando se está retomando a história de um possível noivado do personagem (idealizado por sua avó).


Outro aspecto interessante nessa obra, também ligado ao jogo de palavras do autor, é com relação ao trato de seu cavalo. Há momentos em que o autor diz “zaino Brioso” (BUENO, 2.000, p. 41), por exemplo, quando diz “[...] a do trote macio do zaino, nosso Brioso [...]”, ou seja, zaino sendo um sinônimo do cavalo, e Brioso o nome do mesmo. Em outros momentos, efetua a troca dessas significações, chamando seu companheiro de jornada de “brioso Zaino” (BUENO, 2.000, p. 30), como quando fala “[...] no lombo de Zaino, nossa briosa montaria [...]”. Aqui, brioso é tido como substantivo simples que designa cavalo e Zaino sendo o substantivo próprio que retrata o nome do animal.


Muitas são as observações possíveis nessa obra, como a questão das repetições rindo e rindo, sangue e sangue, bala e bala, chove e chove, sempre e sempre, trota e trota e o uso de diversas nomenclaturas para se remeter à história narrada, tais como, lenda molhada de rios (p. 25), fábula ao relento (p. 26), lenda sem uso (p. 27), história ao vento (p. 29), lenda antiga (p. 32), lenda soprada pelo vento (p. 41), história vaga (p. 41), história a cavalo (p. 45), fábula rasa (p. 46), lenda viés (p. 47), fábula folhagem (p. 48), lenda ao desfolhar do vento (p. 49), história visagem (p.49), fábula tropeira (p.50), fábula guerreira (p. 51), lenda sidérea (p. 54), história etérea (p. 54), fábula memoriosa (p. 55), história lenta (p. 56), fábula anônima (p. 58), lenda neblina (p. 59), história antiga (p. 59), fábula embuçada (p. 60), fábula rasa (p. 60), fábula nua (p. 63), fábula agraz (p. 66), fábula lupina (p. 71), história baia (p. 75), história a cavalo (p. 76), fábula alvaiada (p. 78), história a esmo (p. 78), lenda pressurosa (p. 78), fábula estrela (p. 80).


Ante seu trabalho estético e de linguagem, recomenda-se essa obra a todos que apreciam a Literatura e buscam conhecer obras de caráter memorialístico.


BIBLIOGRAFIA:

BUENO, Wilson. Meu Tio Roseno, A Cavalo. São Paulo: 34 Ltda, 2.000.