Por muito tempo, houve uma concepção estreita da educação de jovens e adultos. Normalmente, entendia-se, por educação de adultos, apenas a transmissão desorganizada de alguns poucos conhecimentos da cultura letrada, digo leitura e escrita, para os analfabetos. Essa visão estreita da educação estava ligada aos interesses políticos e econômicos das elites que entendiam que para os analfabetos bastava o domínio superficial da leitura e da escrita, pois assim seria possível manter a ordem social instituída.
Politicamente era conveniente para as elites que os analfabetos soubessem ler e escrever para poderem votar, pois com a reforma do sistema eleitoral, os analfabetos eram excluídos do contingente eleitoral. Além disto, as elites entendiam que o voto dos recém-alfabetizados seria presa fácil para alimentar o curral eleitoral local.
As propostas de educação de adultos esboçadas pela UNESCO em 1930 tiveram boa receptividade no Brasil, porque vinham ao encontro dos interesses das elites. A partir de 1947, houve inúmeras iniciativas governamentais para erradicação do analfabetismo, até então entendida como educação de jovens e adultos, várias campanhas foram realizadas, porém nenhuma delas logrou êxito. Entre essas campanhas, podemos destacar: Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958, Governo Juscelino Kubitschek); Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL – Governos Militares); Fundação Nacional de Educação de Jovens e Adultos – Educar (1985, Governo José Sarney) ; entre outros.
Das experiências que foram desenvolvidas no século passado, merece destaque o Programa Nacional de Alfabetização, inspirado no método Paulo Freire¹ Desenvolvido no ano de 1964, no Governo de João Goulart. O método freiriano partia da hipótese de que os educandos são sujeitos ativos no processo educativo, uma vez que são seres históricos com amplas possibilidades de criar e recriar a sua própria cultura; aliás, é possível afirmar que a aplicação do método se iniciava exatamente com uma discussão, visando à conscientização do analfabeto através do conceito de cultura. A pedagogia revolucionária de Paulo Freire era assim definida pelo mestre:
A pedagogia, como pedagogia humana e libertadora, terá dois elementos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão revelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis; o segundo, em que, transformada a realidade opressiva, esta pedagogia deixa de ser a do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação. (FREIRE, 1983, p. 44)
Ao estabelecer as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos no Município de Curitiba em 2006, a Secretaria Municipal de Educação enfatiza a importância da existência do comprometimento entre todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem, desde os órgãos gestores até os protagonistas desse processo, uma vez que, esse comprometimento mútuo é imprescindível para se alcançar melhor qualidade na educação. Ao planejar as aulas, o professor da EJA, precisar saber realizar a conexão entre a vivência cotidiana dos educandos que, apesar de não terem domínio dos conhecimentos sistematizados pela escola, possuem conhecimentos práticos adquiridos no seu dia a dia por meio dos quais garantem sua sobrevivência em mundo letrado. A esse respeito, Segundo as Diretrizes (2006, p. 61) destaca:
Pessoas com pouca ou nenhuma escolaridade aprendem observando, experimentando, fazendo, ouvindo relatos de experiências vividas por colegas, o que lhes permite construir caminhos singulares de compreensão. Esse conhecimento tácito dos estudantes é relevante no processo de ensino-aprendizagem, e o professor deve valer-se desse conhecimento para enriquecer seu trabalho. Entende-se que, na reconfiguração do trabalho didático na EJA, deve-se concretizar uma educação reflexiva, que considere os conhecimentos e estratégias de pensamento que os estudantes desenvolvem na prática social, o que lhes permitirá uma participação ativa e consciente na sala de aula e na sociedade.
Diante do exibido, podemos perceber a importância do professor frente ao processo de ensino-aprendizagem, pois é ele que tem a função de desenvolver uma prática pedagógica que possibilite, ao educando, ampliar sua visão de mundo sendo capaz de refletir sobre as ações alheias e sobre suas próprias ações. Para tal, a metodologia e os materiais didáticos utilizados pelo professor precisam está em consonância com a faixa etária e o contexto social e cultural no qual o educando encontra-se inserido. Esses fatores poderão contribuir para uma maior eficácia no processo de ensino-aprendizagem tendo como reflexo a melhoria na qualidade da educação, principalmente para essa demanda específica.
2. CONCLUSÃO:
Ao entender por que a educação de jovens e adultos está longe de ser universalizada. O que é um direito do cidadão transforma-se em concessão de governantes generosos. Esta modalidade educacional precisa de políticas públicas comprometidas com a formação humanizadora do cidadão e não apenas com a preparação de mão de obra para atender as demandas do capital. Mas, para que isso ocorra faz-se necessário alfabetizar politicamente a maioria do povo brasileiro, para que tenha consciência dos seus direitos e consiga se reorganizar para reivindicá-los. A demanda por educação aos jovens e adultos deve ser encarada com seriedade, o governo tem que assumir o compromisso com a formulação de políticas públicas consistentes e qualitativas; não precisa inventar leis, é necessário saber interpretar as que temos sem tendenciosidades e buscar estratégias para que sejam cumpridas. Para o concerto a sociedade civil precisa participar do processo de formulação e avaliação das políticas públicas de educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (Gov. Juscelino Kubitschek) 1958
CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação. Diretrizes Curriculares para a Educação
Municipal de Curitiba. V. 4. Curitiba, 2006. Disponível em:
<http://www.cidadedoconhecimento.org.br/cidadedoconhecimento>. Acesso em: 26 Outubro.2013.
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL – Governos Militares) 1930
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 24 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35 ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2007.
Fundação Nacional de Educação de Jovens e Adultos – Educar (Gov. José Sarney) 1985
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Soyara Vaz de Oliveira Rodrigues
SOIARA VAZ DE O. RODRIGUES
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Possuo graduação em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná; Especialização em Musica/Instrumentos (Violão, Flauta e Sax Alto), Estuda/escreveu sobre pesquisa científica, e também realizou trabalhos científicos. Pós-graduação em Pedagogia Social pela Universidade Tuiuti do Paraná com término em 06/2015, Pós-graduação em Educa
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