Muito se tem escrito sobre as questões que permeiam as discussões a cerca dos saberes a serem ensinados; a seleção de conteúdos se apresenta como grande desafio, principalmente quando o mercado educacional os vê como indicadores de qualidade e excelência acadêmica. A educação institucional, em sua dinamicidade, exige-nos a difícil tarefa de escolher, adequar e buscar caminhos que viabilizem um processo de construção do conhecimento, através de um currículo inovador.
Quando entendemos a escola como um espaço de ampliação da experiência humana, que se orienta nas experiências cotidianas das crianças e a elas acrescenta o saber historicamente construído, o currículo torna-se um instrumento de formação onde o processo de educação formal possibilita novas formas de pensamento, comportamento e a relação da criança com o adulto é vista como uma tarefa específica de promoção do processo de humanização.
A ação pedagógica implica a adequação da prática ás possibilidades do educando. Devido às peculiaridades do conhecimento formal, a intervenção do educador neste ato de construção não pode restringir-se à transmissão, mas deve incluir as formas de apropriação deste conhecimento.
Quando falamos em futuro da educação, não estamos planejando somente para os que estão no processo formal; planejamos para os que estão chegando, o que nos exige uma diferenciação entre um currículo que parte do cotidiano e aí se esgota, e o currículo que engloba a aplicabilidade do conhecimento. O futuro da educação começa aqui, neste tempo presente; com os conceitos atuais de homem, cultura, educação, políticas públicas e sociedade. A plasticidade cerebral, conceito bem atual, é a possibilidade de formação de conexões entre neurônios a partir de sinapses, ela é maior na criança mais nova o que possibilita o desenvolvimento complexo e a perícia deles.
Se a infância é o período de maior plasticidade cerebral, o que atende ao processo de crescimento e desenvolvimento, a capacidade interdisciplinar possibilitada por ela faz com que as áreas cerebrais desenvolvidas pela música, pelo ritmo, podem e devem ser aproveitadas no ato da leitura e escrita.
O postulado básico de que todo ser humano é modificável, tendo como suporte o conhecimento da plasticidade cerebral, encontra-se presente de forma substancial, na teoria da modificabilidade cognitiva estrutural de Reuven Feurestein.
Ao considerarmos que o desenvolvimento cerebral acontece pelo diálogo entre a biologia e a cultura, vemos que a escola através de seu currículo, interfere no desenvolvimento pessoal dos educandos; isto determina a importância da seleção dos conteúdos e é a mediação significativa que provocará processos mentais comumente não usados, possibilitando o surgimento de diferentes ações que provocarão a aprendizagem.
O currículo deve mobilizar algumas funções do desenvolvimento humano como a função simbólica, a percepção, a memória, a ação e a imaginação. O processo de seleção de conteúdos representa um grande desafio a ser enfrentado, que pode ser de ordem epistemológica : saber/ser e saber/conhecer; ou ainda de ordem relacional: saber/atitude/procedimento/prática.
O desenvolvimento tecnológico e o processo de globalização da informação por meio de imagens modificam o processo de desenvolvimento cultural, o que nos certifica que não é qualquer proposta ou intervenção que promove a aprendizagem.
Portanto, na elaboração do currículo deve-se considerar o que faz parte do desenvolvimento da espécie e a teoria histórico–cultural tem como pressuposto básico, o desenvolvimento humano - a pessoa ao se apropriar do conhecimento formal assimila as atividades historicamente construídas, que levam a certificação de habilidades e competências. A plasticidade e flexibilidade próprias do ser humano torna-o capaz de transformar-se, influenciando na capacidade de aprender e adaptar-se a um mundo em constante transformação.
Em meados do século XIX, Froebel entendeu o processo educativo como meio que facilita e desenvolve todas as características e potencialidades do ser humano. Ele postulava ainda que os conteúdos básicos de um planejamento curricular, surgirão das necessidades de que cada etapa do trabalho requer.
Trabalhando com metáforas Froebel descrevia as crianças como flores e assim sua educação ocorreria em um jardim – Jardim de Infância; neste jardim o currículo era formado por atividades lúdicas, jogos criativos e de interação social, histórias dirigidas e canções. Para o alemão Froebel, a função social da educação é ajudar o homem a conhecer-se, a viver em paz com a natureza e em união com Deus. A isto ele chamou de educação integral.
Em meados do século XX, a pedagoga italiana Mª Montessori propõe o desenvolvimento da autonomia das crianças; o principio dominante de sua teoria é o “deixar fazer” e ‘vigiar’ para ajudar quando for preciso, o que exige dos educadores um interesse pelas manifestações cotidianas que venham proporcionar uma atividade científica.
Revisitando as ideias montessorianas, acrescentamos a importância de que o processo educativo apresente atividades que desenvolvem as funções psíquicas elementares: percepção, memória e pensamento; e que por meio das práticas pedagógicas transformem-se em funções psíquicas superiores: memória lógica, percepção categorial e pensamento verbal.
Ao final do século XX entendemos que reconhecendo os estágios de desenvolvimento da criança (Piaget), definindo o papel socializador do conhecimento formal, a existência de zonas de desenvolvimento cognitivo (Vygotsky) e o entendimento que a plasticidade cerebral pode proporcionar a modificabilidade cognitiva (Feuerstein), onde o professor é imprescindível na intervenção que se faz necessária no processo de aprendizagem, que tem início na atividade espontânea da criança e que deve ser sistematizada. Assim, significamos o desafio que é fazer as escolhas dos conteúdos a serem trabalhados, principalmente na educação infantil, de forma a viabilizar um futuro educacional que atenda à sociedade atual – sociedade do conhecimento e da economia, que deve ser balizada pela sabedoria onde o professor é imprescindível na intervenção que se faz necessária no processo de aprendizagem que tem início na atividade espontânea da criança e que deve ser sistematizada.
Referências Bibliográficas:
- Textos selecionados – Universidade Politécnica Salesiana - Equador
- Silva . Marcelo Carlos – Feuerstein e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural (2006) – www.psicologia.com.pt
- Indagações sobre Currículo – ME – SEB – Brasília – 2008
- Linha Direta – Edição 139 – outubro /2009
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Claúdia Gomes Silveira Rodrigues
Professora, graduada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia Institucional e Orientação Educacional - Educação Preventiva; mestre em Gestão Educacional com dissertação na área da Educacção Inclusiva - sala de recursos pedagógicos. Experiência educacional nas séries do EF1 e Formação de professores - Graduação; cursos de formação e palestras sobre Mediação Educacional e Inclusão.
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