Sociedade Contemporânea e a Formação de Professores
Sociedade Contemporânea e a Formação de Professores
Educação e Pedagogia
10/01/2015
No Brasil, o histórico das políticas públicas de democratização do ensino pode ser atrelado com a intensificação do desenvolvimento do capitalismo industrial. Nesse contexto, os esforços de democratização do ensino ressaltam os seguintes episódios: A reforma Sampáio Dória (1920) que objetava a erradicação do analfabetismo; O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1930), cujo princípio era uma escola pública universal e gratuita e a Expansão da Matrícula no Ensino Ginasial (1967-1969) que visava à expansão das vagas e a melhoria da qualidade do ensino. Como podemos notar, cada um desses eventos representou esforços e distintos compromissos com a ideia de democratização do ensino.
Hoje, porém, vivenciamos o apogeu desse cenário histórico-social, pois, se por um lado, o modelo socioeconômico capitalista está instalado, por outro, temos uma escola pública universalizada e democrática, marcada por grande mudança no campo das Políticas Educacionais preconizada pela Declaração Mundial de Educação para Todos e pela promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96).
Nesse sentido, a educação para todos e a sociedade regida pelo capital, pela tecnologia e pelo avanço do conhecimento exige da profissão docente uma disponibilidade para a prática de uma pedagogia diferenciada e uma adequação permanente aos novos desafios profissionais. Hoje, as ideias pedagógicas estão voltadas para o desenvolvimento de competências relacionadas ao saber-fazer, saber- aprender, saber- ser e saber- conviver. Para tanto, os sistemas educacionais devem ser geridos no sentido de desenvolver competências profissionais a partir da formação do professor.
Perrenoud (2000) propõe uma mudança na postura e papel do professor, que só pode ser possível se a escola diminuir o peso dos conteúdos para que o professor trabalhe os saberes fundamentais para a autonomia das pessoas, ou seja, desenvolver capacidades para que o indivíduo possa se adequar às necessidades do mercado de trabalho em constante transformação. Para Perrenoud, a mudança no papel do professor deve abarcar os seguintes aspectos: trabalho interdisciplinar, aprender com a experiência, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos, organizar situações didáticas e atividades que tenham sentido para os alunos. A ênfase da ação é dar aos alunos, as ferramentas para compreender o mundo e agir sobre ele. Nessa perspectiva, a constituição do “ser professor” é construída na prática docente, nos diversos contextos de ensinar e de aprender, nas condições psicossociais, afetivas e culturais em que essas ações educativas e pedagógicas ocorrem.
Quando se trata das competências da docência, Perrenoud aponta que uma das principais é “enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão”. Nesse caso, ter competência ética é adquirir consciência clara da tarefa docente, bem como sobre as implicações éticas ao praticá-la em sua relação com o aluno, com o conteúdo e com a instituição- organizacional.
Zabala (1998) afirma, no que diz respeito à competência no âmbito profissional, que o sistema escolar deve formar pessoas para a inovação, capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em mutação, mas sem perder de vista o indivíduo comprometido com a transformação social e econômica e com uma sociedade que lhe garanta o direito ao trabalho. Para ele, para se ensinar competências o ponto de partida deve ser um trabalho centrado no contexto de situações problemas reais, com enfoque globalizado.
Paulo Freire (1996) qualifica a atividade de ensinar como uma especificidade humana que exige competência, habilidade profissional, rigorosidade metódica, afetuosidade entre os envolvidos no processo ensino- aprendizagem.
Diante do pensamento desses estudiosos que tem como paradigma a lógica de competência educacional na sociedade contemporânea, a formação de professores adquire particular pertinência no complexo, instável e globalizado mundo atual e deve propiciar a reflexão para que os docentes sejam capazes de analisar as situações de ensino e os contextos institucionais e sociais a partir de sua experiência, em outras palavras, a lógica de competências pressupõe a integração entre formação e trabalho docente, valorizando as aptidões pessoais, o saber- fazer, saber- dialogar, saber- empreender, saber utilizar as diferentes tecnologias.
A formação de professores, portanto, deve abranger todas as dimensões, Rios (2002) defende quatro dimensões da competência na formação de professores: técnica, política, ética e estética.
Para a autora, a Competência Técnica é a capacidade de saber- fazer. No caso da docência, podem ser entendidos todos os aspectos didáticos ou a capacidade que o professor deve ter ao lidar com os conteúdos, conceitos, comportamentos, atitudes e habilidades de construí-los com os alunos.
Já a Dimensão Política envolve a participação coletiva da sociedade no exercício dos direitos e deveres. No setor educacional, pressupõe o estímulo a reflexão em grupo para a avaliação do trabalho pedagógico e sua eficácia, a aquisição e a partilha de conhecimentos teóricos, práticos e críticos, favorecendo a ampliação dos horizontes de expectativas sobre a prática, sobre a sala de aula, sobre a escola como um todo e sobre a sociedade.
A Dimensão Ética no contexto escolar deve ser um estilo de trabalho crítico sobre as experiências no que diz respeito à orientação das ações, do trabalho pedagógico, fundamentado no princípio do respeito e da solidariedade na direção da realização de um bem coletivo, ou seja, a visão crítica do educador sobre seu papel no processo educativo, saber fazer bem com técnica e política para desempenhar seu papel.
A Estética, por sua vez, trata da presença da sensibilidade e da orientação numa perspectiva criadora. A soma dessas competências constitui o que a autora define como um conjunto de saberes de boa qualidade.
Na sociedade contemporânea e suas implicações arroladas ao longo do nosso trabalho, podemos concluir que os sistemas educacionais devem ser geridos no sentido de desenvolver competências profissionais e principalmente, contribuir para a transformação da realidade social, se entendermos a noção de competência no sentido de valorizar as potencialidades humanas como meio de transformação da realidade e não de simples adaptação à ela.
BIBLIOGRAFIA
AZANHA, José Mário Pires. Democratização do ensino: vicissitudes da ideia no ensino paulista. In: Educação: alguns escritos. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à prática educativa/ Paulo Freire: Paz e Terra,1996.
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar Porto Alegre (Brasil), Artmed Editora, 2000.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. 10. Ed. São Paulo: Cortez, 2001
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências. Tradução de Carlos Henrique Lucas Lima. Porto Alegre: Artmed, 2010.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Elizandra Sabino Marques Tavares
Graduação I - Letras (FIO).
Graduação II- Pedagogia (UNINOVE).
Título de Especialista I - Língua Portuguesa e Literatura (UENP).
Título de Especialista II- Gestão Escolar: Administração e Supervisão (UNOESTE).
Extensão Universitária - Estratégias de Leitura e Produção de Texto/
Estudos Linguísticos e Literários (UENP).
Linguística Aplicada (FIO).
Ética (USP).
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