A primeira década do século XXI foi marcada por lutas em prol de um modelo de sociedade que foge ao padrão heteronormativo sustentado pelos discursos bíblicos, da família composta por homem, mulher e sua prole.
A variação desse modelo já é fato e ganha cada vez mais visibilidade na mídia. As novelas, reality shows, filmes, comerciais e programas de TV em geral já propagam a realidade da sociedade composta por orientação sexual hetero, homo e bissexual.
A exposição na mídia só confirma o que todos observam nas praças, bares, casas noturnas, teatros, empresas, instituições públicas e privadas e ambientes educacionais: a diversidade de relações afetivo-sexuais, homo/hetero/bissexual, como uma nova afirmação de padrão social.
Embora essa realidade ganhe espaço nas sociedades contemporâneas, a aceitação desse novo modelo está longe de ser consenso. Não há como negar a existência da homossexualidade, mas esta parece estar sempre subordinada ao padrão heteronormativo.
Para Louro (2009, p. 89),
[…] o par heterossexualidade/homossexualidade (e heterossexual/homossexual), como oposição fundamental, decisiva e definidora de práticas e sujeitos. [...] o primeiro elemento como primordial e o segundo como subordinado, numa oposição que, segundo teóricos contemporâneos, encontra- se onipresente na sociedade, marcando saberes, instituições, práticas, valores.
Conforme Louro (2009), os adeptos das relações homossexuais se encontram em posição de inferioridade aos heterossexuais. Relegados a viver suas identidades e relações afetivas de forma mascarada e/ou escondida, como se fossem criminosos.
Para Costa (1996 p. 86-87):
A invenção dos homossexuais e heterossexuais foi uma consequência inevitável das exigências feitas à mulher e ao homem pela sociedade burguesa europeia. [...] No modelo médico do one-sex model, o sexo referia-se exclusivamente aos órgãos do aparelho reprodutor. Não era algo invasivo, que perpassava e determinava o caráter, os amores, sentimentos e sofrimentos morais dos indivíduos. Este sexo absoluto, onipotente e onipresente só tornou-se teórico culturalmente obrigatório a partir do momento em que se criou a noção da bissexualidade originária. [...] A homossexualidade será, inicialmente, definida como uma perversão do instinto sexual causada pela degenerescência de seus portadores e, depois, como um atraso evolutivo ou retardamento psíquico, manifestos no funcionamento mental feminino do homem.
Se antes era perversão ou retardamento psíquico, doença passível de lobotomia, hoje, embora não seja mais considerada doença ou perversão pela comunidade científica a homossexualidade em alguns países, como Afeganistão, Irã, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Emirados Árabes, Unidos e Lêmen, entre outros, ainda é condenada com pena de morte.
E em outros países, como Bangladesh, Butão, Egito, Guiana, Índia, Maldivas, Nepal, Cingapura, Uganda, Zanzibar, os homossexuais são punidos com prisão. Em outras sociedades como as de países como Holanda, Bélgica, Canadá, Norte da Europa, França, Portugal, Alemanha, Croácia, Grã-Bretanha, Nova Zelândia, Suíça, EUA, Argentina e Brasil muitos dos direitos da comunidade LGBT já estão legalizados.
O fato da homossexualidade não ser considerada doença ou ser legalizada não ameniza em nada o preconceito que condena milhares de pessoas a um cruel isolamento, suicídios, quando não são vítimas de agressões e/ou assassinatos.
A sociedade sexista do século XXI não vê a homossexualidade como algo natural, criado por Deus. Na tentativa de justificar o Heterossexismo, os inconformados com essa realidade, difunde todo tipo de crenças sobre a origem da homossexualidade, e quando se diz em origem é com a intenção de enfatizar que a sociedade procura sempre entender a origem, a causa da homossexualidade. Negando sempre a possibilidade de normalidade ou naturalidade.
De um lado gritam por liberdade sexual. De outro, por preservação da moral e dos bons costumes. Essa polêmica só acirra os nervos e não se chega a lugar algum. Todos têm razão.
É preciso liberdade para falar sobre sexualidade. Sexo não precisa ser um tabu. A homossexualidade não precisa ser imoral e ferir os bons costumes. É possível viver sem discriminações. Cada um deve respeitar o espaço do outro sem impor seus próprios valores. Mas, na contemporaneidade isso parece ser utopia.
Assim, faz-se relevante tornar conhecido todas as formas de orientações sexuais, os conceitos de identidade de gênero e sexual, assim como as ações reivindicativas do movimento LGBT a fim de plantar a semente do respeito às diferenças, embasados pelo conhecimento da causa e não apenas em conjecturas e discriminações que rodeiam a temática da diversidade sexual.
REFERÊNCIAS
COSTA, J. F. O referente da identidade homossexual. In: PARKER, Richard e BARBOSA, Regina M. (orgs.) Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996.
LOURO, G. L. Pedagogias da sexualidade. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
______ Heteronormatividade e Homofobia. In: Diversidade Sexual na Educação:
problematizações sobre a homofobia nas escolas / Rogério Diniz Junqueira (organizador). – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.
______ Os estudos feministas, os estudos gays e lésbicos e a teoria queer como políticas de conhecimento. In: “Estudos gays e estudos feministas”, II Congresso Brasileiro de Homocultura, 2004b, Brasília. Disponível em: < http://www.geerge.com/mesa_redonda.htm >. Acesso em: 18/12/2010.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Eliete Cássia da Silva
Graduada em LETRAS: Português/Inglês pela Universidade Estadual de Goiás (2007). Especialista em Planejamento Educacional e Docência do Ensino Superior pela ESAB (2012) . Professora de Língua Portuguesa e Inglesa no Ensino Fundamental e Médio. Professora conteudista de cursos on line na Unacademy.
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