Educação e Criatividade

Habilidade comum a todo ser humano
Habilidade comum a todo ser humano

Educação e Pedagogia

16/05/2015

 

 Educação e Criatividade

 

                                                                                                 Annyelle  F B de Lucena[1]

 

            Comumente, algumas pessoas tendem a associar o conceito de criatividade a um dom, qualidade ou potencial de um indivíduoem especial. Outras acreditam que é uma competência adquirida, destinada à apenas um determinado grupo social.

            Reconhecendo sua amplitude, podemos compreendê-la como sendo uma habilidade comum a todo ser humano, relacionada intrinsecamente ao contexto cultural, social e econômico onde está inserido.

 

“Criatividade é um atributo universal, característica básica da natureza humana” (PEREIRA, 199, p. 4).

 

            Isto pode ser percebido facilmente quando nos debruçamos a observar as ações do homem ao longo dos anos. Este vem construindo e reconstruindo idéias  significativas que perduram até os dias atuais, como a descoberta do fogo, da eletricidade, das novas tecnologias, dos meios de transporte, a cura de enfermidades... processo contínuo e inacabado de possibilidades de novas descobertas.

           

“A criatividade é... processo de realização cujos resultados são desconhecidos, sendo dita realização, por sua vez valiosa e nova”.    (MURRAY, 1997)

 

            Atraído pela curiosidade e consciente de seu potencial criador, o homem torna-se capaz de ultrapassar as barreiras que o sufocam, como a falta de recursos materiais, a indisponibilidade de tempo e a própria desmotivação. Isto nos reporta ao poder decisivo que passa pelo cunho da responsabilidade individual, tanto ele pode construir positivamente ou usufruir erroneamente desta habilidade para difundir invenções altamente destrutivas, como por exemplo, a criação da bomba atômica que destruiu as cidades de Hiroxima e Nagazaki.

 

Também é relevante salientar que apesar da criatividade ser um tema estudado por várias áreas do conhecimento, ainda é bastante reprimida na fase adulta, face ao fato de que envolve correr riscos, e com medo do desconhecido, muitos acabam por optar pelo que já sabem. A exemplo, o dito popular: Em time que está ganhando não se mexe... representa, neste contexto, uma postura de acomodação frente as possibilidades de mudança e transformação.  

            Interligando o tema criatividade a educação, podemos destacar sua relevância no processo ensino-aprendizagem, uma vez que o fazer pedagógico, requer do educador(a) abertura ao novo, autonomia, flexibilidade, reflexão crítica, adaptação ao meio, construção do conhecimento socializado, estratégias de motivação, escolha de temas produtivos e que contribuam ao cotidiano do aluno, produção de atividades diferenciadas, significativas, interessante, que atendam aos vários níveis encontrados na sala de aula e respeitem o saber e o ritmo de cada educando(a).

            Vale a pena ressaltar, que os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação fundamental no Brasil, no qual a EJA se insere enquanto modalidade, sugerem aos educadores(as) o desenvolvimento desta habilidade nos educandos(as), através de situações que possibilitem a expressão política de suas criações. Estas situações perpassam as discussões dos temas transversais, como por exemplo: Ao desenvolverem o tema cidadania, o educando (a) poderá ser estimulado ao seu exercício, construindo elementos (cartazes, cordéis, faixas, revistas, informativos, etc.) que sensibilizem a comunidade acerca do uso consciente dos recursos naturais enquanto bem comum.

            Indispensável neste sentido seriam os trabalhos em grupo, pois alguns sujeitos podem vir a desenvolver melhor a capacidade de fantasiar, quando outros, desenvolvem a capacidade de realizar. Daí a importância da heterogeneidade em sala de aula e dos processos de reflexão individual, discussão em pequenos grupos e o confronto de idéias num grupo maior.

            Destaca-se aí, a figura da liderança, visto que podem exercer uma influência estimuladora, quando provocam o potencial criador de seus liderados, ou inibidora, quando supervalorizam as atitudes burocráticas, o autoritarismo, ou pressão psicológica.

 “Se aqueles que circundam o indivíduo, não valorizam a criatividade, não oferecem o ambiente de apoio necessário, não aceitam o trabalho criativo quando este é apresentado, então é possível que os esforços obtidos pelo indivíduo encontrem obstáculos sérios. Se não instransponíveis”. (STEIN, 1974)

 

            A criatividade então, seria em alguns momentos, a ferramenta fundamental do individuo, uma vez que nem sempre a vida nos oferece os recursos de que realmente necessitamos. Sendo assim, podemos afirmar que a grande quantidade de materiais, não caracteriza uma boa aula, mas a forma como se utiliza os materiais que estão ao seu alcance e quanto menos recurso, mais aguçada fica a necessidade de imaginação, do reconhecimento de que somos seres criativos, dotados de inteligência, raciocínio e liberdade consciente.

Desta forma, a escola deve repensar seu papel enquanto formadora de opiniões, princípios e valores sociais, acrescentando conteúdos necessários ao desenvolvimento do potencial criador. O educador (a) em especial, deve construir espaços que estimulem a reflexão dos educandos (as), que os façam repensar as inúmeras formas e a diversidade de recursos para solucionar as questões que lhe forem postas.

É importante salientar que, para ampliar ainda mais esta formação integral, o educador (a) deve desafiar-se, perceber-se como sujeito do processo. Ninguém pode ensinar algo que não conhece... E se o mundo exige pessoas criativas, porque não prepará-las? Eis ai, um dos grandes desafios da educação. Mas se do contrário, a mesma negligenciar este papel, quem o fará?

“O que falta para a modernização do processo educativo é criatividade docente, é capacidade para trabalhar com o potencial criativo do alunado, é estimulo e auto-estima para inovar as situações de ensino-aprendizagem. Porque, muitos são os que falam de transformação criativa, concretização social, mas poucos os que fazem”. (MACKINOM, 1977)

 

 

 

REFERENCIAS

 

ALENCAR, Promovendo um ambiente favorável a criatividade nas organizações. Brasília: UCBA, 1998.

 

AMABILE, Como não matar a criatividade. Boston: Harvard Business Shool, 1999.

 

ESCOLA, Nova. Para onde caminha a educação, 2000, p.10-12

 

ESCOLA, Nova. Vida de Professor, 2000,  10-12.

 

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1982.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: apresentação dos temas transversais: ética / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3ª ed. Brasília: A Secretaria, 2001.

PEREIRA, Oficina de trabalho: Educação e criatividade: João Pessoa: UFPB, 1984.



[1] Pedagoga, com área de aprofundamento em Supervisão e Orientação Educacional, Curso de extensão em Educação de Jovens e Adultos, especialista em Psicopedagogia e Mestranda pela Saberes Assessoria – Universidad Autônoma Del Sur.

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Annyelle Ferreira B de Lucena

por Annyelle Ferreira B de Lucena

Pedagoga pela Universidade Federal da Paraíba, Psicopedagoga pela Faculdade Integrada de Patos, com Curso de Extensão em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade do Rio de Janeiro e Mestranda pela Saberes Assessoria - Universidad Autônoma del Sur.

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