Referenciação e Processos Cognitivos: relações

Educação e Pedagogia

30/07/2015

Ao decidirmos por levar em conta a questão cognitiva, nos estudos da linguagem, temos as contribuições de Mondada (1997) que, ao tratar do processo de categorização referencial compreende que a prototipicalização de referentes, como um processamento cognitivo do discurso, deve ser visto em termos de operação e não em termos de entidades, desse modo, deve-se substituir a visão representacional das categorias por uma concepção que, ao contrario, leve em conta o fato de que os usos linguísticos são reflexivos e remetem a mediações simbólicas utilizadas e aos contextos de suas práticas.

Assim, podemos inferir que a natureza cognitiva da linguagem, para Mondada, caracteriza-se substancialmente como integradora, ou seja, a natureza cognitiva da linguagem não se revela por meio de entidades que representam a realidade, mas por meio de atividades dinâmicas e reflexivas.

Essa visão de cognição espelhada à apreensão de que a linguagem é uma atividade sociocognitiva, tendo em vista que qualquer processamento discursivo só se manifesta por meio dos construtos de fatores linguísticos, bem como fatores cognitivos, interacionais, culturais e contextuais, conforme aponta Marcuschi (1999).

Mondada e Dubois (1995) atestam que é por meio da linguagem que o homem apreende e constrói referencias de mundo, sendo esse referentes textuais objetos de discurso e não objetos do/de mundo.

A noção desse objeto de discurso decorre da concepção de que as entidades discursivas não possuem uma forma pré-determinada, pelo fato das emergências dos propósitos do falante, que constantemente as reformula e as reconfigura. Dessa forma, decorre da concepção de que tais entidades não preexistem as ações interlocucionais, por serem nessas e por meio dessas ações que os referentes textuais são introduzidos, construídos, delimitados, desenvolvidos e transformados no(pelo) discurso.

Sobre essa questão, Mondada (1994)  que vê o referente textual como objeto de discurso e não como objeto do/de mundo, se sustenta na possibilidade de uma reconfiguração progressivamente construída por meio de novos aspectos e propriedades que vão se articulando e assim possibilitando a recategorização dos referentes.

A referenciação para Mondada (19994) está diretamente relacionada a um outro aspecto do processamento discursivo: o processo de categorização de referentes. Esse processo de categorização de referentes leva em conta a visão de língua como atividade cognitiva que constrói discursivamente a realidade. Assim, a autora se apoia em uma visão de referenciação como um processo de geração de domínios referenciais, levando o em conta, junto a esse processo de produção discursiva, a integração de fatores de ordem sociocognitiva com fatores linguísticos, possibilitando assim o falante construir (novos) sentidos e (novos) referentes, por meio da aproximação de mundo que só encontram similaridade nos domínios cognitivamente organizados pelo falante.

Marcuschi (1999) ressalta que “é importante destacar que a recorrência de um referente não pressupõe a manutenção da configuração morfossintática dele, uma vez que o processo de referenciação contribui para a formação de espaços cognitivos e não simplesmente de locais” (MARCUSCHI, 1999, p. 14).

A referenciação, operada por diversas estratégias de progressão referencial, é responsável tanto pela coerência como pela coesão do discurso, bem como tece Marcuschi (1999), quando considera a referenciação como fio condutor de base, pois contribui tanto para a formação de relações locais como para o estabelecimento de canais temáticos e para a construção de representações globais (MARCUSCHI, 1999, p. 14), assim devemos considerar ainda, que, embora muitas vezes, possa haver lapsos só preenchidos por questões de conhecimentos externos ao discurso (extralinguístico), sempre será necessária uma base linguística por meio da qual se possa construir a coerência discursiva, sendo assim a coerência necessita de um controle textual que equilibra os aspectos internos e externos na produção de sentidos.

A natureza discursiva da referenciação nos possibilita considerar que os referentes podem até configurar uma realidade próxima – mas não a mesma realidade – sem antes serem pressupostos traços de co-referencialidade e de co-significação. Sendo assim, o próprio discurso se encarrega de esclarecer as relações referenciais que configuram as intenções do falante.

Resumidamente, a referenciação pode ser compreendida como um fenômeno discursivo em que o falante mobiliza aspectos linguísticos, cognitivos e interacionais para construir, segundo seus propósitos, os referentes do discurso, considerados como objetos do/de discurso e não como entidades externas do mundo natural. 

Referências

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Sweder Souza

por Sweder Souza

Discente do Curso de Letras - Português e Inglês, licenciatura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. É membro dos Grupos de Pesquisa em: Estudos da Linguagem; Discurso, Tecnologia e Identidades; e Estudos dos Sons da Fala.

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