As contribuições de Viola Spolin e Augusto Boal para o jogo teatral na educação

Viola Spolin.
Viola Spolin.

Educação e Pedagogia

07/09/2015

Introdução

O teatro surgiu na Antiguidade, nas festas religiosas que homenageavam o deus Dionísio – deus da fertilidade. Foi usado pela igreja, principalmente na Idade Média, para concretizar a fé católica e influenciar a moralidade. No Brasil, o teatro foi trazido pelos jesuítas com este mesmo objetivo, catequizando os indígenas. Na Contemporaneidade, o teatro se volta para a família, a escola e a sociedade, mas ainda é tido como algo distante da rotina escolar, o que é uma pena, já que poderia auxiliar na construção de aulas mais ativas, lúdicas e expressivas, colaborando com o desenvolvimento integral dos discentes.


Violo Spolin e a didatização do teatro

Dentre aqueles que colaboraram para que o jogo teatral tivesse planificação de forma consistente na rotina escolar, destaca-se o trabalho da americana Viola Spolin. Conhecida mundialmente, Viola acreditava na espontaneidade e na experiência através do jogo para o aprendizado do teatro. Segundo ela, todos são capazes de aprender e de terem reconhecimento no palco. Produtora de inúmeros textos de improvisação, Spolin não pode ser citada sem rememorar sua professora Neva Boyd, que foi quem embasou seu trabalho.

Fonte de inspiração para muitas peças e escolas de teatro, Viola Spolin democratiza o jogo teatral na medida em que compartilha suas técnicas e ideias em livros destinados a professores da área e também da Educação Básica. Os jogos são baseados em problemas que aliam a estrutura e o foco dramático aos acordos feitos pelo grupo, desenvolvendo habilidades teatrais no grupo sem forçá-los a se submeterem a técnicas opressivas. Sua dinâmica propicia desfechos diferentes conforme o grupo e encontros com finais sempre surpreendentes.

[...]três aspectos permeiam a inserção dos jogadores no processo: a liberdade, a intuição e a transformação. Estes, por sua vez, no campo dos jogos teatrais, adquirem características particulares e que se entrecruzam. Assim, os participantes devem estar livres para experimentar o ambiente físico e social do jogo, e, concomitantemente, a intuição só pode nascer do contato direto com este mesmo ambiente, ou seja, é necessário que exista uma interação nos níveis intelectual, físico e intuitivo, apenas num terceiro momento é possível uma transformação. (CARDOSO, 2007)

Assim, destacam-se a experimentação, o sentimento de liberdade e o aguçamento da intuição como elementos que colaboram com o processo teatral que, mais do que formar atores (o que se busca depois), quer a transformação de seus participantes, seu desenvolvimento sensorial, estético, imaginativo.
O brincar também é valorizado por Spolin por desenvolver habilidades necessárias ao jogo teatral. Assim como sua proposta, o brincar propicia a interação social e a espontaneidade, que devem sempre ocorrer dentro das regras estipuladas pelo grupo. E é através destas atividades que também se desenvolve o autoconhecimento, o encontro consigo mesmo. Um ambiente acolhedor é sempre buscado em seu método, a fim de propiciar a liberdade e a criatividade dos participantes, incentivando o sucesso dos jogos.


Augusto Boal e a criticidade do Teatro do Oprimido


O trabalho e o método de Augusto Boal, importante diretor, autor e teórico da área também é destaque quando se fala nas colaborações do teatro para com a educação. Suas contribuições para a área envolvem substancialmente o Teatro do Oprimido, metodologia que alia teatro e ação social. Como o próprio nome já induz, tal proposta foi inspirada na ideologia de Paulo Freire, que lutou pelo fim da educação bancária e pela transformação social por meio da educação como processo dialógico, que conscientiza, faz refletir e busca a superação da dicotomia opressores x oprimidos. Freire via o aluno como ser histórico, social e transformador de sua realidade, sendo que a educação era a chave para a sua emancipação.

O Teatro do Oprimido se utilizava de jogos e exercícios para levantar questões de cunho político, problemas do cotidiano e inquietações dos participantes. Não se utilizavam roteiros prontos: o diálogo e a técnica de Boal constituíam o trabalho.

Boal via a arte como grande ferramenta estética para a luta social. Com arte, as populações podem construir meios de discussão política, mas também de ampliação da capacidade da leitura de mundo e de meios de intervenção sobre ele. Por isso, o conteúdo de sua obra assinala a luta a favor da libertação dos oprimidos. (CANDA e BAHIA, 2010)

Augusto Boal teve seu trabalho reconhecido mundialmente, principalmente por buscar através da interação e da expressividade a denúncia e a superação dos problemas sociais, formando lideranças na comunidade. A arte era tida como instrumento de interação e de expressão cultural, mas também (e principalmente) de luta política, de crítica e intervenção sobre a realidade e de libertação. Para a educação, o Teatro do Oprimido muito tem a colaborar por produzir um trabalho voltado à emancipação humana e social, construindo reflexões sobre questões políticas e sociais através da estética. Boal é um dos únicos teóricos que escreveu sobre seu método, o que o aproxima das escolas de teatro das mais variadas partes do mundo, disseminando seu trabalho. O Teatro do Oprimido também trouxe contribuições e resultados positivos na área de saúde mental e em sistemas prisionais. Considerações finais

As colaborações de Spolin e Boal, assim, configuram-se como importantes fontes de pesquisa, estudo e inspiração aos professores, de forma a incentivar o desenvolvimento dos jogos teatrais na sala de aula. Enquanto Spolin frisa a dimensão pedagógica, Boal também o faz, mas denota a criticidade perante os problemas sociais como elemento norteador de seu trabalho. Ambos, no entanto, se utilizam da arte para provocar a transformação almejada, buscam a sensibilização, a estética, a demonstração de suas vontades, a exteriorização de seu interior. Através do jogo, da improvisação, da experimentação e da expressividade propostas por eles, pode-se aprimorar a dinâmica pedagógica, tornando-a mais lúdica, crítica e qualificada, colaborando com a formação integral dos discentes.


REFERÊNCIAS

CAMARGO, R.C. Neva Leona Boyd e Viola Spolin, jogos teatrais e seus paradigmas. Sala preta, vol. 2, 2002.

CANDA, C.N. Pro dia nascer feliz: diálogos entre Augusto Boal e Paulo Freire nos estudos de teatro e de educação. Entrelaçando - Revista Eletrônica de Culturas e Educação, n. 1, p. 39-53, Ano I (out/2010).

CARDOSO, M.A. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o professor. Revista Fênix, vol. 4, ano 4, n. 2. Disponível em: < http://www.revistafenix.pro.br/PDF11/Resenha_Maria.Abadia.Cardoso.pdf>. Acesso em: 29 mai. 2015.

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Renata Cecilia Estormovski

por Renata Cecilia Estormovski

É formada em Letras- Português, Inglês e Literaturas, possui especialização em Gestão Educacional e atualmente cursa Pedagogia. É professora da Rede Pública Estadual do Rio Grande do Sul.

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