11/09/2015
Nos dias atuais, a sociedade, apresenta intensa dinâmica baseando-se na tecnologia, na agilidade da circulação de informações, nos desafios e exigências que promovem oportunidades e ao mesmo tempo exigindo das organizações uma nova forma de atuar, em busca de melhorias em suas competências. Neste contexto, o setor educacional necessita reinventar-se de forma contínua e permanente, mudando seu foco, atualmente voltado para a reprodução dos saberes produzido historicamente, e passar a ser o meio pelo qual o aluno aprende a aprender, sistematizando seu aprendizado e transformando informações em conhecimento.
Essa transformação do paradigma da educação merece intensos questionamentos e reformulações para que suas práticas e teorias venham efetivamente contemplar uma maneira adequada de se lidar com a informação e o conhecimento. Partindo desta ideia, o objetivo maior da comunidade educacional revela-se portanto, o de se estabelecer uma comunidade de ensino efetivo, onde fortaleça coletivamente, não somente o ideal de ensinar de acordo com o saber produzido socialmente, mas o de aprender, em acordo com os princípios de renovação do conhecimento, criando-se um ambiente de contínuo desenvolvimento para alunos, professores, funcionários e claro, para os gestores.
Os gestores escolares são responsáveis pela organização e orientação administrativa e pedagógica da escola, os quais são os pilares mobilizadores e estimuladores do desenvolvimento, da construção do conhecimento e da aprendizagem. Cabe aos gestores promover a interação por meio de troca, articulação e produção de novos conhecimentos de modo compartilhado.
O objetivo deste estudo é analisar a Gestão do conhecimento como elemento estruturador das atividades no setor educacional e sua contribuição na organização e desenvolvimento do trabalho dos Gestores Escolares.
A metodologia aplicada foi o levantamento bibliográfico referente à área da Gestão do conhecimento tendo como resultado o referencial teórico aprofundando-se na abordagem da Aprendizagem Organizacional como ferramenta para diferenciação e aumento da competitividade, utilizando para tal, a obra do autor Peter Senge (1999). A teoria da criação do conhecimento nas empresas dos autores Nonaka e Takeuchi (1997) para compreendermos os mecanismos e processos pelos quais o conhecimento é criado. Como também, a classificação do conhecimento tácito e explícito desenvolvida por Polanyi (1996). Na área da Gestão escolar, as contribuições nas reflexões sobre a função das organizações educacionais e o perfil do Gestor, foram as obras dos autores Carlos Libâneo (2001) e Heloisa Luck (2009).
A contribuição deste trabalho está na tentativa de explicar o valor intangível do conhecimento, presente no capital intelectual do corpo gestor das organizações educacionais, trazendo-o para ser repensado e discutido, agregando as suas contribuições à competitividade organizacional, estimulando a dinâmica do fluxo do conhecimento tácito, isto é, o conhecimento pessoal e complexo, oriundo da experiência e de dimensões contextuais.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A Gestão do conhecimento nas organizações educacionais
A importância do conhecimento como ativo que agrega valor à atividade organizacional vem da necessidade do aperfeiçoamento dos processos de negócio, decorrente do momento de renovação relativo aos efeitos da globalização, da crescente competitividade, e da tecnologia da informação, essas mudanças, ocorridas a partir da década de 1990 como uma das transformações da Administração, a Era da Informação, trazendo como desafios para as organizações, captar as informações que transitam por elas, e fazer com que seus profissionais compartilhem as informações e conhecimento tanto tácito, como explicito.
O papel da Gestão do Conhecimento será contribuir para que o conhecimento individual agregue valor ao conhecimento organizacional, fortalecendo a competitividade, em um momento em que as inúmeras transformações e mudanças na sociedade e no ambiente escolar, deixam de passam apenas pela base tecnológica e conhecimentos técnico-pedagógicos e passam também pela qualidade, pelos processos e pelas pessoas, essas, produtoras de conhecimento e fonte de inovações contínuas.
Reconhecer este fato faz com que as organizações repensem a responsabilidade de atuarem continuamente na formação das aptidões de seus profissionais. Os Gestores escolares precisam assumir o compromisso e fortalecer a aprendizagem em suas organizações, estimulando padrões de comportamento novos e abrangentes, iniciando da própria equipe de gestores, exercitando a capacidade de aprender contínua e rapidamente, associando seu conhecimento tácito (experiências individuais, percepções e sensações) ao fluxo de conhecimento necessário à realização de suas atividades, criando assim os resultados que desejam, esta é uma vantagem competitiva.
Neste contexto a capacidade de uso do ativo conhecimento incorporado aos negócios educacionais, será o elemento diferenciador no ambiente organizacional, reconhecer o que é conhecimento, tratá-lo como ativo corporativo, transformando-o em ação, inserindo-o em processos, produtos e serviços, buscando elevar o desempenho organizacional, transformando-o em real diferencial competitivo a partir do tratamento dispensado aos valores intangíveis e aos trabalhadores intelectuais.
Segundo Nonaka e Takeuchi (1997) a chave para a criação do conhecimento reside na mobilização e na conversão do conhecimento tácito, sendo esta, uma classificação desenvolvida por Michael Polanyi, na década de 50, que classifica o conhecimento em dois grandes grupos: tácito e explícito.
O conhecimento tácito é o conhecimento subjetivo, não mensurável, natural, está na dimensão cognitiva, adquirido ao longo da vida, formado pelos modelos mentais, crenças e experiências vividas. Dificilmente formalizado ou explicado a outra pessoa, é utilizado de forma prática, instrumental, se apresenta de forma implícita, quase impossível de ser ensinado formalmente. Ele envolve dois termos complementares: os elementos subsidiários “proximais”, conhecido de forma tácita, e a entidade externa “distral”, que é apreendida. É a partir dos elementos subsidiários que se constrói o significado.
Segundo a teoria de Polanyi (1996) o conhecimento tácito constitui a base do conhecimento explícito, este sendo o conhecimento “codificável”, expresso articuladamente. Assim, pode-se sintetizar que os dois tipos de conhecimento tem uma relação contínua de interação, o conhecimento tácito é a rede complexa de indicadores que utilizamos para interpretar e produzir conhecimento e o conhecimento explícito é a construção do contexto de referência dentro do qual é possível a compreensão.
Entendesse que as organizações dependem das pessoas, de suas intuições e experiências, pois delas desencadeia o processo de aprendizagem e a disseminação da informação e do conhecimento. As organizações que conseguem incorporar o aprendizado em sua forma de ser e atuar, e permitirem às pessoas expandirem continuamente a sua capacidade de criar novos padrões de pensamento e aprender a trabalhar em equipe, se tornará habilidosa na criação, aquisição, transferência de conhecimento e na modificação dos comportamentos, gerando novos conhecimentos e ideias.
2.1.1 A aprendizagem nas organizações
Através da aprendizagem contínua, a organização exercita a sua inteligência coletiva, respondendo suas necessidades internas e externas. Peter Senge (1999) sugere uma transformação para enfrentar os novos desafios, utilizando a inteligência e o comprometimento das pessoas, sua forma de pensar e agir coletivamente, através da reestruturação do capital humano, na busca contínua por conhecimento e educação, tornando assim, de forma conjunta, organizações capazes de reagir às mudanças, solucionar problemas e aproveitar as oportunidades.
nas organizações que aprendem, as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão constantemente aprendendo a aprender coletivamente. (SENGE, 1999, p.21 apud LUCHESI, 2012, p.10).
A base da ideia apresentada pelo autor que sustenta as “organizações que aprendem” estabelece as seguintes disciplinas: pensamento sistêmico, domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada e aprendizagem em equipe, disciplinas essenciais para a aprendizagem organizacional e que ao serem desenvolvidas propiciam a organização, a capacidade de se renovar e inovar continuamente.
Através do pensamento sistêmico as pessoas aprendem a compreender e descrever melhor a interdependência que condicionam o comportamento dos sistemas. O domínio pessoal é a condição de expandir a capacidade pessoal para atingir objetivos, criando um ambiente organizacional que encoraje os seus colaboradores a alcançar seus propósitos individuais, isto é, os resultados que se deseja criar em sua vida. As imagens que influenciam a forma de ver o mundo e de agir, os modelos mentais, ajudam a definir a realidade atual de forma mais clara, este é um princípio fundamental da “organização que aprende”, pois, permite à organização e aos indivíduos, refletir sobre suas estruturas e direção, bem como o mundo externo à organização. A visão compartilhada é a transformação de objetivos individuais em objetivos comuns baseados em princípios, valores e compromissos compartilhados por todos os membros desencadeando assim, uma mudança organizacional. A construção coletiva de uma visão do futuro que buscamos, determina uma direção para a organização e influencia nas decisões tomadas, o raciocínio comum concebido
Pessoas com um propósito comum podem aprender a nutrir um senso de comprometimento com um grupo ou organização, desenvolvendo imagens compartilhadas do futuro que buscam criar e dos princípios e das práticas norteadoras através dos quais esperam chegar lá. Através da disciplina aprendizagem em equipe e por meio de técnicas como o diálogo, pequenos grupos de pessoas transformam seu pensamento coletivo, aprendendo a mobilizar suas energias e ações para alcançar objetivos comuns e produzir uma inteligência e habilidade maior do que a soma dos talentos dos membros individuais. (SENGE e outros, 2005, p.17)
Para desenvolver a visão compartilhada é preciso a introdução de modelos de aprendizado organizacional visando à criação de uma organização que aprende, onde todos ensinam e aprendem a todo o momento. As organizações que aprendem devem ser vistas como sistemas onde suas ações levam a criação e o compartilhamento de conhecimento entre seus membros.
2.2 A equipe gestora nas organizações educacionais
Em uma sociedade direcionada pela economia baseada no conhecimento e tecnologia da informação e da comunicação repleta de desafios, se exige que as Organizações educacionais repensem sua atuação e exigências quanto ao serviço oferecido e ao perfil profissional dos seus colaboradores. Para Libâneo (2001, p. 05)
os vínculos entre educação e economia, as mudanças recentes no capitalismo internacional colocam novas questões para a Pedagogia. O mundo assiste hoje à 3ª Revolução Industrial, caracterizada pela internacionalização da economia por inovações tecnológicas em vários campos, como a informática, a microeletrônica, a bioenergética, essas transformações tecnológicas levam à introdução no processo produtivo, de novos sistemas de organização do trabalho, mudanças no perfil profissional e novas exigências de qualificação dos trabalhadores, o que acaba afetando o sistema de ensino. (LIBÂNEO, 2001, p. 05)
Neste tipo de organização, existem duas abordagens de negócio para ser gerenciado: O fazer pedagógico e o negócio educacional, propriamente dito. Os Gestores escolares são os principais responsáveis pela Organização educacional buscando atingir os novos objetivos organizacionais incorporados a Escola: competitividade, produtividade e lucratividade, mudando assim, o seu cotidiano e dando um novo significado as suas atribuições.
Pela natureza de sua função, este profissional, mantém contato com todos que formam a Organização: seus pares gestores, clientes (alunos, pais, comunidade), professores, parceiros, funcionários das diversas áreas da empresa. Tendo acesso a parte do conhecimento tácito e explícito, oriundo das vivências desenvolvidas na rotina escolar e pelas expertises funcionais dos seus colaboradores. Cabe ao Gestor escolar, identificar o conhecimento, seu significado para a organização e tratá-lo com ativo corporativo.
Os gestores escolares, constituídos em uma equipe de gestão, são os profissionais responsáveis pela organização e orientação administrativa e pedagógica da escola, da qual resulta a formação da cultura e ambiente escolar, devem ser mobilizadores e estimuladores do desenvolvimento, da construção do conhecimento e da aprendizagem [...]. Sobretudo devem zelar pela constituição de uma cultura escolar proativa e empreendedora capaz de assumir com autonomia a resolução e o encaminhamento adequado de suas problemáticas cotidianas, utilizando-as como circunstâncias de desenvolvimento e aprendizagem profissional. (LUCK, 2009, p. 22)
A produção do Conhecimento identificado e classificado como explícito, tais como: documentos, manuais, orientações, procedimentos, projetos realizados, projetos pedagógicos, registros de experiências, são parte constituinte do trabalho desenvolvido pela e com a Equipe Gestora, a qual desenvolve e dissemina a Identidade e a Cultura das Organizações Educacionais.
No âmbito pedagógico e administrativo, a ação do Gestor Escolar, é ampla, tendo como base do sua produção funcional, as seguintes atribuições:
O processo de gestão de dados, informações e conhecimento da Escola, passa diretamente pelos Gestores Escolares, mobilizando o trabalho de criação, coletas, armazenamento e disseminação do conhecimento. Necessitando a formalização das iniciativas de Gestão do Conhecimento que acontecem de forma empírica.
É importante que nas Organizações educacionais, se construa o entendimento entre todos os membros que compõe a empresa, do que ela é, e o que ela faz, não apenas do seu fazer pedagógico, mais, principalmente como negócio educacional que precisa ser competitivo.
Para o Gestor Escolar é primordial adquirir competências essenciais que permitam produzir bens e serviços, saber tomar decisões e aplicar com criatividade os novos meios que estão à disposição no seu trabalho. Ele deverá ser capaz de associar seu conhecimento tácito, ao fluxo de conhecimento necessário à realização de suas atribuições.
Todo o conhecimento, que pode ser disseminado através da interação entre os membros e as equipes, é à base do processo de aprendizagem organizacional, se tornando assim, uma contínua autotransformação no plano individual e coletivo.
Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 101) a criação do conhecimento é “processo interminável que se atualiza continuamente”, a interação de conhecimento tácito e explícito, forma uma espécie de espiral do conhecimento através das organizações.
Segundo os mesmo autores, o conhecimento só pode ser criado por pessoas, o que a organização faz é proporcionar contextos para a criação e compartilhamento do conhecimento sendo esse processo realizado dentro de uma comunidade de interação.
Considerando as atribuições da Equipe de Gestores nas Organizações Educacionais, estes membros se tornam estratégicos no que se refere à criação de um ambiente favorável a criação e compartilhamento de conhecimento, pois suas atribuições estão diretamente ligadas a práticas organizacionais (técnicas e ferramentas) que favorecem a ocorrência de processos de aprendizagem dentro da organização, tais como: Planejamento estratégico, Metodologias de solução de problemas, Implantação de estratégia de gestão de novos produtos/projetos, Comunidades de práticas, Gestão de ideias, Braindstorming, Mentoring, Treinamento e debates de equipes multidisciplinares, Construção de Mapas mentais, Vídeo conferências, Uso de Portais coorporativos, Mapeamento de processos e Comunicação Institucional, são utilizados nas rotinas administrativas e pedagógicas das Organizações.
Caberá ao Gestor Escolar, estimular as interações dinâmicas das pessoas, assim, o conhecimento é criado e se expande em termos de qualidade e de quantidade através da Organização Educacional, extrapolando as “fronteiras” e retornando a sociedade. Neste contexto, cabem difundir na organização a ideia que o centro de criação do conhecimento está nas pessoas, sendo os gestores, estimuladores e facilitadores do processo e os colaboradores, os geradores do conhecimento.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Experiência em Coordenação e Direção pedagógica, atuo como assessora, consultora e com formação continuada de docentes e coordenadores em Educação Básica. Possuo formação em Pedagogia (habilitação em Orientação e Supervisão escolar) e MBA em Administração e Gestão do Conhecimento.
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