Arte de reler a arte

Definir o que é leitura torna-se importante.
Definir o que é leitura torna-se importante.

Educação e Pedagogia

04/11/2015

1. 1. Introdução

O presente artigo tem o condão de refletir e mostrar que uma obra/imagem trata-se de um texto visual. Ler e reler obras de arte tornou-se de fundamental importância nas aulas de artes. No entanto, a prática da releitura de obras não deve ser tratada como cópia. Torna-se necessário instigar a criatividade dos alunos para que façam sua própria obra, baseando-se na obra de um artista.

Definir o que é leitura torna-se importante para somente depois, professores e alunos entrem no mérito do que é releitura e de como fazer sua aplicação, sem confundir com reprodução.


1. 2. Leitura

Antes de falar de releitura torna-se indispensável definir o que é leitura, uma vez que é necessário fazer uma primeira leitura para somente depois fazer uma nova leitura, isto é a releitura.

A palavra ler, do latim legere, significa interpretar, percorrer com a vista, examinar com profundidade. Sendo assim, ler uma obra de arte, significa inteirar-se do conteúdo da imagem, observar a obra, captar com os olhos. A releitura por sua vez, tem como objetivo ler o texto, a obra ou a imagem novamente, recriar. É reinterpretar o objeto existente, criando novos significados.

Calvino (2000) apresenta três tipos de leitura para um texto: a sensorial, a emocional, a intelectual. A sensorial diz respeito ao aspecto físico de um livro, de uma revista e a sensação que ele desperta. A emocional gera opiniões do tipo: gostei ou não gostei. A terceira leitura, a intelectual, começa por um processo de análise e o leitor não pode perder de vista o fato de que aquilo que está lendo foi escrito por alguém que tinha propósitos determinados ao fazê-lo. Estes três tipos de leitura de texto podem ser transferidos para o ensino das artes visuais, na leitura e releitura de obras de artes, pois afinal de contas uma imagem se trata de um texto visual.

O texto, seja de que natureza for, está pronto e a disposição para ser compreendido, decifrado e interpretado. Segundo Caruso (2012), “o processo da leitura exige um esforço que garante uma compreensão ampliada do mundo, de nós mesmos e da nossa relação com o mundo”.

Pode-se dizer que ler é apropriar-se de um produto cultural. O ato de ler expande o leque de experiências do ser humano, percebendo novas formas de conceber o mundo e a si mesmo. Quando se apropria do ato de ler, abre-se múltiplas possibilidades e novos horizontes. A cultura nos transfere conhecimentos sobre a realidade e novas maneiras de pensá-la. Pois no mundo social há sempre a troca entre o leitor e a leitura. Aprender a ler o mundo é apropriar-se dos valores de nossa cultura.

Na leitura dos diversos tipos de textos, seja ele verbal ou visual, Caruso destaca (2012), “há sempre um universo interior e exterior de pessoas que vivem ou viveram num determinado tempo e espaço”. Ela mostra que “ler os textos escritos e as diversas linguagens inerentes ao ser humano é ampliar o nosso próprio mundo simbólico, é desenvolver nossa capacidade de comunicar e criticar, enfim, é um ato contínuo de recriação e invenção”.
1. 3. Ler para reler

Seguindo a ideia de Caruso com relação à leitura, a releitura de obras de arte deve ser vista, também, como um ato contínuo de recriação e invenção, para proporcionar aos alunos a possibilidade de demonstrar criatividade em suas produções. O trabalho de releitura consiste em ler e reler a obra. Esse processo deve ser um convite para que os alunos conheçam com profundidade as obras de arte e com isso possam usar a criatividade na atividade de recriá-las. Por que segundo Rossi (2009, p. 15) na releitura de obras de arte, “não se visa à formação de artistas, mas sim desenvolver o potencial criador de cada indivíduo”.

No cotidiano escolar ou de cada pessoa, há a presença da imagem nas diferentes áreas do conhecimento. O educador deverá incentivar seus educandos para que fiquem atentos a isso.

Para Martins (1992, p. 30), a leitura deve ser considerada “um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem”. A leitura pode ser de texto escrito ou de um texto visual. A partir dessa leitura pode-se fazer uma releitura. Lembrando sempre, que é necessário primeiramente fazer uma leitura da obra de arte. Sendo que a leitura da imagem é como se fosse a leitura de um texto. Para na sequencia elaborar o objeto de criação da sua própria obra, nunca esquecendo, porém a fonte inspiradora.

Na leitura de um texto ou da mesma imagem, duas pessoas podem chegar a conclusões diferenciadas, pois contam com experiências diferentes, conhecida como experiência de mundo. O olhar de cada um está impregnado com lembranças de experiências já vividas, e a partir dessas lembranças, faz as interpretações do que está observando, de acordo com sua vivência em grupos, na sociedade. E que ao “ler uma imagem, fizemos perguntas a ela, mesmo quando não sabemos que a estamos interpretando”. (ROSSI, p. 36)

A leitura é feita a partir das “suas visões de mundo, que incluem experiências passadas, expectativas para o futuro, crenças, teorias, intuições, sonhos. Suas leituras constituem um rico universo a ser explorado”. (ROSSI, p. 35). A leitura no ensino das artes tem sido associada como algo mais teórico, a releitura, um fazer a partir de uma obra. Sendo que:

A releitura traz muitos benefícios, oferece subsídios consideráveis, principalmente em nível racional. Pode apontar novas direções de modo a esclarecer dúvidas, evidenciar aspectos antes despercebidos ou subestimados, apurar a consciência crítica acerca do texto, propiciar novos elementos de comparação. (MARTINS, p. 85) Segundo Martins (1992) ao ler um texto pela segunda vez, a leitura será diferente da primeira. E não importa quantas vezes ler esse mesmo texto, sempre realizará uma nova leitura, encontrará novos significados e isso irá se ampliando. Pois as circunstâncias pessoais influenciam na leitura, como por exemplo, uma dor de cabeça, uma leitura imposta deste texto ou um conflito social. Pois assim como:

Há tantas leituras quantos são os leitores, há também uma nova leitura a cada aproximação do leitor com um mesmo texto, ainda quando mínimas as suas variações. Nessas ocasiões talvez ocorram mudanças de nível. Um poema ou uma canção que hoje não nos dizem nada, não fazem sentido, amanhã podem emocionar; agradar ao ouvido pela musicalidade e pelo ritmo, tempos depois; suscitar reflexões apenas após várias leituras. (MARTINS, 1992, p. 79).

A leitura é um processo dinâmico, pois cada vez que se lê o mesmo texto/imagem, não importa quantas vezes, será lido em níveis diferentes. Pois se o indivíduo efetuar a leitura sempre no mesmo nível seria “como fixar o olhar num determinado objeto e só e sempre enxergá-lo de um único ângulo, nós e ele estáticos: em pouco tempo no mais conseguiríamos vê-lo”. (MARTINS, p. 80).

Freire[1] (1988) ressalta a importância da leitura de mundo que antecede a leitura da palavra e como o domínio da linguagem escrita possibilita ao sujeito uma leitura mais crítica do mundo. Concordando com o pensamento de Freire de que "a leitura do mundo precede a leitura da palavra", pode-se dizer então que a leitura de uma imagem antecede a leitura da palavra.

Freire (1988) expõe que o ato de ler e estudar, “não é um simples passatempo, mas uma tarefa séria, em que os leitores procuram clarificar as dimensões opacas de seu estudo”. Por isso, é necessário levar a sério os trabalhos de leitura e releitura de imagens no ensino da arte e refletir sobre essa questão na educação escolar, para formar cidadãos mais críticos e conscientes do seu papel na sociedade em que vivem.

Arte e imagens estão vestidas e revestidas por ideias e pontos de vista coletivos e individuais, por interesses profissionais, pedagógicos e comerciais. E “por meio de imagens construímos nosso pensar” (BUORO, p. 31).


1. 4. Ensino da arte

No Brasil, as reflexões sobre a importância do uso da imagem no ensino da arte, bem como a leitura da imagem, foram disseminadas por Ana Mae Barbosa, pioneira na defesa da cognição na Arte/Educação, no ensino formal e não formal. A Proposta Triangular é composta pelo ensino interligado entre a história da arte, leitura da obra de arte e o fazer artístico, que devem estar em conformidade no ensino das artes. Esse novo ensino da arte enfatiza a prática da leitura de imagens em todos os níveis do processo de escolarização. Neste sentido, um indivíduo que não tem conhecimento da história da arte fará a leitura de uma obra bem diferente de uma pessoa com conhecimento da história. Pois aquela que não conhece a história da arte, não possui elementos suficientes para fazer uma leitura mais profunda da obra.

Sobre a leitura da obra de arte, a autora propõe a utilização de imagens, que deverá servir como referencial para a produção artística. Ana Mae propõe (2010, p. 34) que se deve alfabetizar para a leitura da imagem, dizendo que “é através da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando a criança para decodificação da gramática visual”.

Torna-se necessário uma formação do olhar do professor, um dos responsáveis por colocar as crianças diante das imagens. O professor de artes deve, como afirma Buoro (2003, p. 31), “aprender a reconhecer os elementos que estruturam as linguagens plásticas, ao mesmo tempo, que deve construir-se ele mesmo um leitor de imagens visuais”.

Buoro (2003) afirma que as imagens não podem persistir ignoradas, pois elas impõem presença. Sendo necessário “investir num modelo de ensino de arte centrado na construção de competência de leitores de imagem”. (BUORO, p. 61). Pois ela acredita que:

Uma das funções centrais do ensino da arte na escola deveria ser esta: a de construir leitores sensíveis e competentes para continuar se construindo, adquirindo autonomia e domínio do processo, fazendo aflorar, desse modo, ao toque do próprio olhar, uma sensibilidade de ser-estar-viver no mundo. (BUORO, p.63).

Buoro (2003), também destaca a importância do conhecimento sobre a história da arte e o exercício persistente da leitura da imagem para quem trabalha com o ensino da arte. Ela propõe o ensino da história da arte a partir da leitura da imagem. A imagem deve ser apresentada aos alunos e explorada antes mesmo de falar sobre a bibliografia do artista, o movimento artístico ao qual ela pertence, pois a imagem é um signo e está impregnada de significação.

Buoro (2003) expõe que, para fazer a leitura, parte-se primeiramente da descrição da imagem; depois, destaca-se a estrutura compositiva, os elementos formais, mas salienta que, para realmente se atribuir sentido a uma imagem, é preciso fazer pesquisas sobre o contexto dela. Ela apresenta propostas de leitura de imagens sob uma perspectiva semiótica, a fim de explorar os elementos formais de uma imagem, articulados como um texto, porque, sendo esta figurativa ou abstrata, é desses elementos que ela se constitui, propondo e sugerindo a significação. Por isso é importante conhecer os elementos formais, para fazer a leitura da imagem. É constatado também que nas leituras de imagens realizadas por Buoro, estabelecem relações com outras áreas do conhecimento. Quanto maior for a busca de informações sobre uma determinada obra, quanto maior for o repertório de conhecimentos, mais relações pode-se estabelecer entre os saberes sistematizados e não sistematizados na leitura ou interpretação e compreensão de uma obra de arte. Utiliza-se do ensino da arte a partir de imagens, a fim de explorar as potencialidades de acesso à leitura, à interpretação, à significação e à compreensão das imagens da arte ou da cultura visual.

A leitura de uma obra pode ser feita através da analise de alguns itens como, por exemplo, as cores, a textura, as formas nela contidas. Isso ajuda para uma melhor compreensão da obra de arte. Deve-se ampliar o repertório para fazer a leitura com mais detalhes.

Alfabetizar para a leitura de imagens é fazer com que as crianças convivam com os objetos e meios artísticos para “aprender a apreciar a arte produzida pelos artistas de seu e de outros países, enquanto continua a se expressar pessoalmente em atividades artísticas” (FERRAZ, p. 110). Pois a apreciação é “sempre um ato criativo e imaginativo e não, como muitos pensam uma manifestação de passividade” (FERRAZ, p. 110).
Nesse sentido Ferraz observa que o professor deve:

Encorajar a criança a observar o patrimônio cultural da arte adulta, sem tornar-se escrava de imitações, ou sem copiar meramente o que lhe é apresentado. Ela precisa descobrir como perceber e acumular, em seu cérebro, imagens da natureza e da arte, e como usá-las criativamente, reconstruindo, selecionando e enfatizando o que lhe parece mais significativo, e então produzir formas com a visão de coisas de sua própria personalidade individual. (p. 110).

Pois da mesma maneira que há diferentes interpretações para um texto visual, há diferentes possibilidades de releituras desse texto. A releitura será sempre coerente com a compreensão que o aluno constrói na leitura de uma imagem/obra. Cada leitura revela o nível de complexidade cognitiva e o aprimoramento das ideias estéticas do aluno (ROSSI, 2003). A esses dois aspectos devem-se as diferenças entre as leituras e as releituras produzidas na escola.

Para destacar a importância da leitura de imagens nas aulas de artes, Rossi, cita o que Ana Mae Barbosa escreveu:

A leitura de imagens na escola prepararia os alunos para a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, nas aulas de artes ou no cotidiano, e que torna-los conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepara-los para compreender e avaliar todo o tipo de imagem, conscientizando-os do que estão aprendendo com estas imagens. (ROSSI, p. 9).Parte superior do formulário 1. 5. Arte de reler a arte

A releitura de obras de arte não deve ser feita com a intenção de cópia. Ela deve abranger o tripé da Abordagem Triangular: História da Arte, leitura da obra de arte e fazer artístico.

Para que os professores não confundam releitura com cópia, Anamelia Bueno Buoro (2003, p. 22) afirma que fica “claro que há necessidade desse mesmo educador aprofundar-se na compreensão e na contextualização da produção de releituras”.

Os professores devem ter consciência que a releitura não se trata de cópia e há grande distância entre elas. A cópia trabalha a técnica, sem transformação, sem interpretação, sem criação. Já na releitura há transformação, interpretação, criação com base num referencial. Um artista parte da obra de outro artista para criar o seu trabalho. Na releitura o que se busca é a criação e não a reprodução de uma imagem.
Buoro[2] comenta:

umas das propostas de aulas mais frequentemente realizadas por educadores de artes visuais constitui-se assim denominada ‘releitura da obra de arte’, entendida por muitos como uma cópia elaborada pelos alunos com base na imagem que lhes é oferecida. (p.21).

Dessa forma, "reler" uma obra é diferente de procurar apenas reproduzi-la, pois é preciso interpretar aquilo que se vê. E para isso é importante, “que o professor não exija representação fiel, pois a obra observada é suporte interpretativo e não modelo para os alunos copiarem”. (BARBOSA, p. 107).

Releitura não é cópia, nem plágio, muito menos uma falsificação. É a criação de uma nova obra, realizada a partir de outra feita anteriormente. Acrescenta-se a essa nova produção um toque pessoal e uma nova maneira de ver e sentir, de acordo com a cultura e o conhecimento de cada pessoa.

No trabalho de recriar uma obra, não é necessário empregar a mesma técnica usada pelo artista. Na releitura de uma pintura, por exemplo, há possibilidade de usar outras formas de expressão artística, como a fotografia, a colagem, a escultura ou até mesmo na forma de um poema. O que importa é criar algo novo, sem negar a fonte que nos serviu de inspiração. Releitura pode ser entendida por uma “tradução do significado do objeto como fundamento para uma nova construção, buscando-se nessa ação a ressignificação do mesmo objeto” (BUORO, p. 23).

Torna-se importante entender o objeto, por isso é fundamental que as obras de arte sejam analisadas, para que os educandos aprendam a ler a imagem, pois esta “leitura é enriquecida pela informação histórica” (BARBOSA, p. 37) e isso ajuda no fazer artístico. Rossi (2009) escreveu que “objetos de arte são imagens significantes e precisam ser interpretadas e não contempladas”. (p. 20). E a interpretação de objetos e imagens é uma prática que mobiliza a memória visual e reúne sentidos da memória social construída pelos indivíduos que interpretam. Sendo que nesse processo de interpretação, ao tentar compreender o sentido das imagens/obras, os indivíduos são influenciados pelos lugares por onde passam, vivem ou habitam. Nesse sentido pode-se dizer que “aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinados”. (MARTINS, p. 34).

Ora, sabe-se que não só as reproduções das obras, mas também o convívio com as obras originais, “favorece o desenvolvimento estético é a exposição, a frequência à arte” (ROSSI, p. 34). O contato com obras de arte originais dos museus e exposições colaboram para melhor compreensão do objeto e isso ajuda os educandos fazer comparação com trabalhos de outros artistas.

Conforme mostra Anamelia Bueno Buoro (2003, p. 94), que ao “contextualizar as imagens no tempo e espaço, apresentam os conceitos com os quais tais artistas trabalham e estabelecem suas relações com outros artistas”. E quanto mais informações a respeito de uma determinada obra, mais relações o aluno pode estabelecer na leitura e releitura.

A proposta de releitura é uma excelente oportunidade para estudar e analisar com mais profundidade a obra do artista plástico em vários aspectos, entre eles: a técnica utilizada, detalhes de sua biografia, o tema da obra estudada, e ainda, conhecer o momento histórico, a vida e o trabalho artístico de outros artistas da mesma época. Por isso é importante que o professor “não exija representação fiel, pois a obra observada é suporte interpretativo e não modelo para os alunos copiarem” (BARBOSA, p. 107).

Releitura não se trata de uma técnica utilizada apenas na educação escolar. Encontramos pintores, escultores, músicos e poetas que se utilizam desta técnica. Imitar, parodiar e recriar trabalhos utilizando-se como base as obras dos seus mestres e brincar com seus estilos é uma forma de homenageá-los.

A releitura pode trazer muitos benefícios para o indivíduo, seja ele educador, educando ou qualquer leitor. No caso da educação escolar e principalmente nas artes visuais, as atividades de releitura possuem um enorme valor educativo e, em alguns casos, geram resultados inesperados e impressionantes.

No ensino das artes, a leitura e a releitura de uma obra de arte tem sido usada por muitos professores com o objetivo de fazer com que o aluno compreenda a essência, a composição, a técnica utilizada pelo artista na elaboração de uma determinada obra, e assim, fazer uma atividade prática envolvendo um desses elementos ou todos, aproximando o aluno com a experiência que tal artista vivenciou ao elaborar sua obra de arte.

Valdemar Schulltz[3] diz que nas aulas de artes, as práticas de:

Leituras e releituras de obras de arte são tomadas como encontros intensivos com as coisas, fecundando ressonâncias entre artistas e espectadores e promovendo a ação criadora dos alunos. Nessa perspectiva, interpretar é reinventar, imaginar, fantasiar e falsear. Não se nega o ato de interpretar, mas as imposições de sentido que os discursos prontos sobre a arte produzem. A multiplicidade de leituras e releituras leva a ação criadora. Criar vem a ser um ato de liberdade. Sendo assim, as práticas de leitura e releitura nas salas de arte, abrem espaço para a criação e expressão criativa dos alunos.

No entanto o processo de releitura às vezes é incompreendido por muitos educadores, e torna-se algo complexo de ser entendido, e desse modo, transmitido ao educando de uma maneira errônea, muitas vezes associando a releitura com a cópia.


1. 6. Considerações Finais

Abordar a questão da leitura de imagem no ensino da arte e refletir sobre essa questão na educação escolar parece ser necessário, pois sabemos que, se mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler e reler obras de arte teremos condições de formar cidadãos mais críticos e conscientes do seu papel na sociedade em que vivem.

A palavra e a imagem fazem parte do cotidiano das pessoas e sua leitura acontece a partir de uma aprendizagem informal. No entanto a palavra se distancia da imagem quando a leitura da palavra escrita se destaca no ensino formal, ao passo que a leitura da imagem permanece na informalidade para a maioria das pessoas.

As imagens visuais assimilam diferentes sentidos que são conferidos à formação educacional e aproxima os alunos do conhecimento e dos problemas relacionados ao contexto social e cultural. O que o indivíduo é, e aquilo que sonha são, de alguma maneira, as coisas que o motiva e faz sentido à sua vida.

A leitura de obras deve ser considerada uma atividade que contribui para construção dos sentidos em relação com o mundo. O ato de ler é um processo que interliga um texto verbal ou não, ao conhecimento e às experiências anteriores, com as expectativas dos educandos. Ler pode-se constituir um meio de apreensão da realidade, da formação e da compreensão. Assim o educando amplia sua visão de mundo a partir da leitura.

Enfim, a imagem ocupa lugar de destaque como objeto e fonte de pesquisa para os educadores. Sendo que a leitura de imagens foi totalmente absorvida na prática educativa, e a releitura assume papel importante nas aulas de arte.

À vista do exposto, conclui-se que as discussões sobre a leitura e releitura de obras no ensino da arte, é fundamental no espaço escolar, e fora dele, principalmente, se a leitura estiver vinculada a outras áreas do conhecimento. Fazer leitura e ligar os saberes ou fazer releitura e religar os saberes.

Cumpre lembrar que o ato de ler e reler prospera o conhecimento do indivíduo e o torna mais culto. Por fim, cito Paulo Freire que escreveu que “a arte possibilita dialogar com o mundo”. 1. 7. REFERÊNCIAS

BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos.; CUNHA, Fernanda Pereira da. (orgs.) Abordagem Triangular no Ensino das Artes e Culturas Visuais. São Paulo: Editora Cortez, 2010.


BUORO, Anamelia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2ª Edição, 2003.


CALVINO, Ítalo. Se um viajante numa noite de inverno. (Trad. Nilson Moulin). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.


CARUSO, Carla. Por que ler é fundamental?. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/portugues/leitura-por-que-ler-e-fundamental.jhtm.(acesso em 28 de abril de 2012).


FERRAZ, Heloísa C. de T. / Maria F. de Rezende e Fusari. Metodologia do Ensino da Arte. 2ª edição. Editora Cortez, 1999. (Coleção Magistério 2º grau. Série formação do professor).


FERRERIA, Antônio Gomes. Dicionário de Latim-Português. Portugal: Porto Editora, 3ª edição, 1983.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 22ª edição, 1988.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1ª edição, 2001. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 14ª edição, 1992.


ROSSI, Maria Helena W. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2009.


SCHULTZ, Valdemar. Leituras e releituras em aulas de artes visuais práticas escolares e processos de criação. Disponível em: www.anpap.org.br/.../programacao_horarios_salas_anpap_2011.pdf (acesso em 06 de março de 2012).



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[1] Paulo Freire escreveu o livro A importância do ato de ler.

[2] Anamelia Bueno Buoro (2003) escreveu o livro “Olhos que Pintam”.

[3] Valdemar Schultz é professor e escreveu o artigo “leitura e releituras em aulas de artes visuais prática escolares e processo de criação”.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Teresinha Menin

por Teresinha Menin

Graduada no curso de Letras Português/Inglês pela Universidade Tuiuti do Paraná, período de 2001/2004. Pós-graduada em Ensino de Arte, ao nível de especialização, período de 2011/2012 pelo Instituto tecnológico Educacional - ITECNE, Curitiba.

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