Educação em Direitos Humanos: um caminho para diminuir a violência na escola

Educação e Pedagogia

19/01/2016

Educação em Direitos Humanos: um caminho para diminuir a violência na escola

 

      A escola está inserida dentro da sociedade, assim sendo, influencia e é influenciada por ela, e o que acontece em seu interior reflete as vivências e as experiências daqueles que a frequentam. Observamos na escola a reprodução de comportamentos e atitudes adotados em outros espaços e um dos que mais nos preocupa é a violência, já que ela acarreta uma série de consequências àqueles que a sofrem. Silveira (2014) indica: “Na escola, como na sociedade, os conflitos entre identidades resultam em estereótipos, estigmas, preconceitos e discriminações servindo de caldo de cultura à Exclusão Social Escolar”.

      A violência está em toda parte, e na escola não é diferente. O grande problema é que parece imperar uma banalização da violência, isso decorre tanto da exposição constante de atos violentos na mídia como da convivência com pessoas violentas. Essas pessoas manifestam a violência em várias situações e de diferentes maneiras, sem pensar nos prejuízos que ela pode causar, sem respeitar a dignidade humana do outro e sem dar-lhe o direito de defender-se. Como aponta Zenaide e Silva (2014, p.309) “A violência física acontece nas relações interpessoais, como manifestação de uma cultura social que utiliza-se da força física como forma de resolução de conflitos, de dominação e sujeição”. Desta feita, a violência que ocorre na escola prejudica as relações interpessoais nesse ambiente e também a aprendizagem dos (as) estudantes e o desempenho dos (as) professores (as).

      Mas a violência na escola não é praticada apenas entre alunos (as), embora esse seja o tipo mais frequente. Atualmente, também é comum vermos muitas situações em que os alunos agridem os professores (as) e outros funcionários (as).

     Algumas atitudes dos alunos, como a indisciplina, acabam despertando uma resposta autoritária por parte da gestão e dos professores, enquanto que as cobranças feitas pela escola no que diz respeito ao cumprimento de regras e limites – coisas que muitos não têm que cumprir em casa – é o estopim para comportamentos violentos por parte dos alunos.

     

      Além da convivência com pessoas violentas, um  fator que pode contribuir para a reprodução dessas práticas é a mídia. Ferreira (2014) nos fala da influência que a mídia exerce em nossa vida. Vários veículos de comunicação estão aí espalhando notícias, comportamentos, modos de pensar, valores e atitudes como algo verdadeiro e necessário, uma coisa que deve ser aceita e repetida. Isso ocorre, inclusive, com a repetição de atos violentos de jovens e adolescentes que parecem não temer as consequências de seus atos e não respeita o outro em sua diferença. A esse respeito, Candau (2014), pontua que a exibição diária de constantes casos de violência em vários veículos de comunicação acaba por naturalizá-la, tornando-a inerente em um mundo competitivo e hostil, uma presença marcante nas relações sociais.

      Muitas vezes não nos questionamos a respeito daquilo que é vinculado pela imprensa e adotamos comportamentos e pensamentos que não são nossos, mas, foram introjetados em nosso cotidiano e aceitos como verdade absoluta.

      É preciso que a escola discuta estas questões quando da ocorrência em seu espaço, para que não se naturalizem ou se perpetuem contra aqueles (as) que nela estão inseridos (as), tentando levar o (a) estudante a compreender que a violência não traz a resolução dos conflitos, que ela é um desrespeito a nossa dignidade e nega ao outro o direito a segurança.

      Atualmente, têm surgido muitos casos de violência contra os professores em várias partes do país. Desrespeito, agressão verbal e física e até mesmo morte já foram registradas em diferentes regiões do Brasil. Para Tiba (1998) a origem dessa indisciplina é familiar. Em geral, os próprios pais não respeitam os professores, isto é, não estimulam a gratidão a esse profissional. Como os filhos vão ter um comportamento diferente? É praticamente impossível, considerando que o exemplo é muito importante para crianças e adolescentes.

      De certa forma a escola é um pouco responsável pelos casos de violência em seu interior, pois, não possui um conjunto de regras claras e definidas para serem cumpridas por todos os alunos (as) e seus responsáveis, estando muitas vezes refém de pais que não educam seus filhos e não permitem que a unidade escolar cobre alguma responsabilidade de seus “anjinhos”. A esse respeito recorremos novamente a Tiba (1998, p. 199) que diz: “A falta de regras claras por parte da escola favorece o abuso dos alunos em proveito próprio e acaba expondo pessoalmente o professor”.

      Araújo (2014, p. 6) vai além dessas afirmações, para ele não é só a ausência de regras escolares que gera violência, mas também a ausência de respeito para com as pessoas que trabalham nesse ambiente: “A impressão que tenho é que boa parte dos problemas disciplinares que as escolas vêm enfrentando ultimamente decorrem do fato de que as relações ali estabelecidas, contrariando a visão da maioria dos docentes, não é de respeito e, sim, de obediência”. Quando não há respeito pelo outro nas relações escolares, vemos o descumprimento das regras e a obediência se dá por medo do outro, nesse caso professor (a) ou diretor (a), e pela autoridade que este representa.

      Diante disso, a escola precisa assumir sua responsabilidade na construção de uma cultura de paz e um dos caminhos a seguir é Educar em/para os Direitos Humanos, para que valorize cada indivíduo. Educar para o respeito às diferenças, respeitando as características de cada um e reconhecendo sua importância na construção de um mundo mais humano e justo.     Para alcançar essa educação Dias (2014) assinala:

     Com o objetivo de combater atitudes e comportamentos intolerantes e de            discriminação contra grupos e/ou pessoas vulneráveis ou em situação de risco pessoal e social, a escola pode incluir, no seu currículo, temáticas que discutam  questões relativas à diversidade sociocultural (gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiências, entre outras). (DIAS, 2014, p. 2)

      Incluir a EDH na proposta pedagógica da escola é o primeiro passo para se colocar a vida humana em destaque, essa proposta serve para fomentar um posicionamento no combate à discriminação e desrespeito ao outro dentro e fora desse ambiente. A educação em Direitos Humanos deve ser orientada para a comunidade. Deve sensibilizar o indivíduo a participar de um processo ativo na resolução dos problemas em um contexto de realidades específicas e orientar a iniciativa, o sentidode responsabilidade e o empenho de edificar um amanhã melhor. (BRASIL, 2013, p.39).

      A escola deve desenvolver atividades que visem à colaboração, a participação e o engajamento daqueles envolvidos no processo educativo, para que assim possam contribuir e atuar positivamente, no meio social em que estão inseridos. Conscientizar a todos quanto aos seus direitos e deveres é imprescindível na construção da responsabilidade social de cada um, contribuindo, assim, para o empoderamento individual e a atuação conjunta na busca por melhores condições de vida para si e para o outro.

A prevenção da violência, a constituição de atores sociais conscientes, a busca permanente do aprimoramento das noções de justiça, a construção de práticas sociais tolerantes, o desenvolvimento econômico acompanhado de desenvolvimento humano, a produção econômica engajada ao meio ambiente protegido e equilibrado são construções sociais que dependem do engajamento de todos, onde se destaca a escola como um lugar de produção e reprodução das condições de viabilização destes esforços conjuntivos para a criação de inovadoras formas de constituição do convívio. (BITTAR, 2014, p.4).

      O papel da escola e do (a) professor (a) nessa construção é de extrema importância, porque aquele (a) também se constitui como um sujeito de direitos que deve assumir-se e assumir uma luta como tal. Não se pode conceber uma sociedade mais justa e igualitária sem passarmos pelo crivo da escola, pois devemos pensar em uma educação que desperte no aluno seu senso crítico, sua afirmação como cidadão consciente de seus direitos e da luta que precisa

empreender para conquistar novos direitos, do contrário, não poderá ultrapassar as barreiras que impedem a sua inclusão numa comunidade política. Uma educação que fomente o respeito e a fraternidade entre as pessoas, ou seja, uma educação em direitos humanos.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Maria Leonilde da Silva

por Maria Leonilde da Silva

Formada em História pela Universidade Estadual da Paraíba, com Especialização em Psicopedagogia Institucional pelo Cintep, Especialização em Educação em Direitos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba. Professora do Ensino Fundamental I, com experiência no Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos.

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