Dilemas Contemporâneos da Profissão Professor

Educação e Pedagogia

06/03/2016



Dilemas Contemporâneos da Profissão Professor

 

O processo de industrial no Brasil, a partir da década de 1980,contribuiu para a necessidade de adaptação dos indivíduos às novas demandas do contexto produtivo. Foi nesse contexto de reestruturação produtiva que surgiu a expressão “sociedade do conhecimento”, ancorada no pensamento ideológico neoliberal.

Para reforçar o ideal “a importância do conhecimento para o desenvolvimento da sociedade”, a Conferencia da Unesco (1991) preconiza, no Relatório “ Educação: um tesouro a descobrir” sob a coordenação de Jacques Delors, a necessidade de formação de sujeitos que se adaptem às mudanças sociais e, consequentemente a importância da educação ao longo da vida. Segundo Delors, a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, que são os pilares do conhecimento: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e, finalmente, aprender a ser.

Numa perspectiva neoliberal, o pilar aprender a aprender sintetiza uma concepção de educação voltada para a formação constante, de modo que o sujeito adapte-se à sociedade regrada pelo capital; o aprender a fazer sintetiza a utilização da criatividade e da habilidade na resolução de problemas, o que permite o sujeito superar seus concorrentes; o aprender a conviver, a importância do trabalho coletivo na elaboração de projetos comuns, na tomada de decisões e na resolução de conflitos. Esses três paradigmas não podem, no entanto, dissociar-se por estarem imbricados e conduzirem ao aprender a ser um sujeito que se reinventa e se renova constantemente, por meio de uma educação permanente, para, dessa forma, adaptar-se e sobreviver às demandas mercadológicas.

Nesse sentido, na economia capitalista, o que importa é o acesso ao conhecimento que pode contribuir para a ampliação do capital, da produtividade, da competição e da realização econômica, ou seja, o conhecimento necessário é aquele que possibilita o crescimento e a competitividade entre as economias, de modo que a prosperidade depende da capacidade das pessoas superar seus concorrentes em habilidade de criação e, de mudar de emprego, ao desenvolver novas e requeridas competências.

Nessa perspectiva, ensinar para a sociedade do conhecimento exige uma educação para a inventividade, para a criatividade e, uma busca de aprendizagem profissional contínua, uma vez que o mercado de trabalho, sedento por lucro, exige pessoal melhor qualificado às novas tecnologias.

Resumindo, a sociedade capitalista, sob o ideal da “sociedade do conhecimento”, tem seu lado perverso, propagando, cada vez mais valores ambivalentes, produzindo indivíduos competitivos, individualistas e consumistas.

Sendo assim, a escola, como uma das principais instituições de ação, deve trabalhar não a serviço da manutenção e da permanência desses valores. Certamente, essa parece ser uma das principais questões que merece atenção, pois a função social das instituições educativas é oferecer, ao sujeito, uma formação para além da obtenção de um melhor emprego, é garantir o acesso ao conhecimento científico e historicamente acumulado e assim, desenvolver o sujeito a partir de suas potencialidades, porque ele não é somente um trabalhador, mas uma pessoa humana que requer uma formação mais ampla, um ensino dirigido à emancipação humana, para a promoção do desenvolvimento social, a partir de suas múltiplas potencialidades.

Ao dirigir o foco para a compreensão do atual momento histórico-social, faz se necessário que os professores tornem-se profissionais críticos-reflexivos, compreendendo o poder que o Estado exerce no controle técnico-ideológico das teorias pelas quais o processo de ensino-aprendizagem é controlado.

Esse processo de compreensão exige a reconstrução e reavaliação do pensamento, ideologias e crenças que amparam o fazer profissional do professor, na preparação das gerações futuras. Assim, o professor, enquanto profissional consciente de sua obrigação moral e comprometido com o coletivo deve dispor de condições e meios para ensinar um conjunto de valores, enfatizando a aprendizagem cognitiva, a emocional e a social.

Ao dirigir situações de aprendizagem que possibilitem a apreensão e a construção de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais e que conduzam os alunos à tomada de consciência, o professor ensina a compreensão da condição humana, ao mostrar que fazemos parte de um mundo, de uma sociedade que contém dimensões históricas, econômicas, sociológicas, religiosas e étnicas, todas entrelaçadas, ou seja, uma pedagogia que forme um sujeito para além do pensamento hoje dominante, que forme um sujeito com personalidade plena, com autonomia pessoal e atuação social, capaz de enfrentar, com ética, as incertezas de um mundo em constante transformação.

A prática pedagógica, assim compreendida, abarca a capacidade técnico- científica, a afetividade, a tolerância, o respeito e a alegria. Para essa realidade, a educação deve abrir caminhos.

 

Referência Bibliográfica:

CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.

Hargreaves Andy - O Ensino na Sociedade do Conhecimento: A educação na era da insegurança - (2004) Porto Alegre (RS): Artmed Editora.

Morin, Edgar - Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3a. ed. - São Paulo - Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001

ZABALA, Antoni. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre, Artmed, 2002.

 

  

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Elizandra Sabino Marques Tavares

por Elizandra Sabino Marques Tavares

Graduação I - Letras (FIO). Graduação II- Pedagogia (UNINOVE). Título de Especialista I - Língua Portuguesa e Literatura (UENP). Título de Especialista II- Gestão Escolar: Administração e Supervisão (UNOESTE). Extensão Universitária - Estratégias de Leitura e Produção de Texto/ Estudos Linguísticos e Literários (UENP). Linguística Aplicada (FIO). Ética (USP).

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