09/06/2016
No Brasil, temos dois grandes desafios na área educacional: o primeiro é o de garantir a matrícula para todos os alunos (e mantê-los estudando) na educação básica, e o segundo, e arrisco a dizer, o mais importante, é o de melhorar sensivelmente a qualidade do ensino e, por conseguinte, da aprendizagem dos alunos. Nas últimas décadas, houve avanços com relação ao número de matrículas na educação básica. Por outro lado, apesar de termos melhorado os índices de aprendizado no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), os resultados ainda são sofríveis, se comparados a países com o mesmo padrão de desenvolvimento econômico.
Felizmente, o debate em torno do que pode ser feito para elevar a qualidade da educação brasileira tem sido bem mais frequente e se apresentado de forma mais objetiva. O que tem chamado a atenção é que há um aspecto que, invariavelmente, aparece com mais ênfase em estudos recentes: a qualidade da educação está condicionada à qualidade dos professores. Pode parecer recorrente, ou até mesmo óbvia, essa sentença que estabelece a relação entre a qualidade do professor e aprendizagem dos alunos. Entretanto, serve para fundamentar o ponto de partida de estudos práticos para compreender o impacto da atuação do professor na aprendizagem, ao identificar e disseminar o que fazem os bons professores, ou seja, aqueles que de fato, conseguem fazer com que seus alunos aprendam mais.
Nessa linha, desde 2009, nos Estados Unidos, a Fundação Bill & Melinda Gates vem financiando pesquisas em parceria com governos locais e renomadas universidades (Harvard, Chicago e Stanford, entre outras), que elaboram diagnósticos e os chamados “feedbacks” personalizados aos professores, e que tem como foco a melhoria da aprendizagem dos alunos. Chamada de “Measures of effective teaching – MET”, em tradução livre, “Medidas de um ensino eficaz”, essa linha de pesquisa já envolveu mais de três mil professores e procura identificar quais as práticas dos professores que mais promovem a melhoria do desempenho dos alunos.
Acredita-se que, com o reconhecimento das boas práticas de ensino e com a possibilidade de dar retorno (“feedback”) de forma individualizada aos professores sobre suas atividades e resultados no progresso dos alunos, os programas de capacitações em serviço poderão trazer melhores resultados, podendo ser aplicados tanto em escolas públicas quanto nas particulares.
No Brasil, o Instituto Ayrton Senna e o The Boston Consulting Group (BCG) divulgaram uma pesquisa sobre a formação continuada de professores brasileiros, cuja constatação foi a de que um aluno pode aprender de 47% a 70% a mais se tiver bons professores. E ainda: 70% dos programas de formação continuada dão poucos resultados. Isso acontece, principalmente, porque a maioria das atividades oferecidas aos professores nas capacitações estão distantes dos problemas encontrados no dia a dia da sala de aula.
Outro resultado bastante interessante e que indica a necessidade de mudanças é que tanto os especialistas quanto os próprios professores acreditam que iniciativas como formação para novos professores, programas de tutoria/mentoria, observação de sua própria aula e de aulas de outros professores são atividades que têm alto impacto na melhoria da educação, porém, em contraste, são pouco frequentes nos cursos de capacitação.
Temos um caminho desafiador a seguir e com uma perspectiva que muito nos entusiasma pela objetividade que nos oferece essa linha de pesquisa educacional. Vamos dirigir nossa atenção para o professor, com projetos que permitam conhecer melhor as práticas desenvolvidas em sala de aula e, consequentemente, a entrega de “feedbacks” personalizados. Teremos, assim, diagnósticos elaborados a partir das necessidades específicas de cada professor, o que permitirá traçar planos de capacitação muito mais eficazes, inclusive disseminando os bons exemplos pedagógicos, valorizando as experiências exitosas no aprendizado dos alunos.
Autora:
Marcia Sebastiani, professora titular da Universidade Positivo e responsável pelo Centro de Inovação Pedagógica da instituição.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Celso Maurício Hartmann
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