Depressão Infantil e Separação dos Pais

A criança em meio a decisão da separação de seus pais
A criança em meio a decisão da separação de seus pais

Psicologia

30/01/2013

No ínterim da separação de um casal há uma maior probabilidade de sofrimentos pelos filhos devidos às discussões e em algumas vezes, agressões físicas. Os desentendimentos no geral (tanto antes como a posterior separação) causa sofrimento no jovem.

É normal que a criança possa após a separação do casal apresentar certa nostalgia de quando seus pais estavam juntos. As crianças sempre desejam que seus pais permaneçam juntos até mesmo após a separação, podendo apresentar certas fantasias de que eles irão voltar a viver juntos.

Tanto crianças como adolescentes (os jovens no geral) sofrem um luto (já que toda separação é um luto, e que este não necessariamente é sinônimo de morte física).

A criança necessita de tempo para elaborar a situação da separação dos pais.

O ideal é que os pais sempre falem a verdade para a criança, seja no caso da separação, seja no caso da morte de um ente querido. Por mais que haja um encobrimento da verdade (quando a verdade é oculta) a criança por ser muito perspicaz e observadora sabe que há na situação um segredo. Para não haver confusão no entendimento da situação pelo jovem, o melhor a se fazer é não encobrir verdades, ser explícito e claro fazendo-se utilizar da linguagem que a criança se utiliza (a melhor forma de lhe comunicar os acontecimentos).

O luto sempre traz consigo a conotação de perda e frustração. Quando não bem administrada esta situação na vida da criança poderá ser apresentado não só os casos de alguns distúrbios, bem como comprometer a vida futura no que se refere a problemas de relacionamento.

Culpa

Em muitos casos, a criança pode se sentir culpada pela separação do casal e isto lhe ocasionar grande sofrimento psíquico. Lembrando que a culpa faz parte de uma das etapas do processo do luto. Esta culpa mal trabalhada pode desencadear comportamentos de agressividade, rebeldia, quadros de depressão, entre outros.

Para não haver tais sofrimentos maiores e amenizar tal sentimento inevitável, o aconselhado é conversar com a criança e deixar claro que a separação do casal nada tem a ver com o amor que tem pelos filhos. Uma conversa baseada na sinceridade e que fique bem explicitado que ela não é a culpada pela situação.

Como a separação é passada ao jovem

O que desestabiliza a criança não é necessariamente a separação, mas como ela é apresentada à criança. Ex.: pais conscientes e estabilizados que encaram a separação de forma madura, o filho sofrerá menos, bem como poderá ocorrer o contrário: pais desestabilizados tenderão a apresentar a separação de maneira conturbada deixando o filho mais propício a um sofrimento maior.
Os pais e a convivência com o filho após a separação

Há que se ter um bom planejamento da “divisão” deste filho.

Com a diminuição do convívio, o casal terá que entrar em um acordo conciliando a não perda de alguma das partes no que se refere aos encontros entre pai e filho, mãe e filho.

O convívio saudável com os pais é benéfico e essencial para um bom desenvolvimento como um todo.

O que se tem comentado e discutido atualmente tanto entre psicólogos quanto entre os juristas é que a guarda compartilhada oferece maiores benefícios para os pais e para as crianças. A guarda unilateral (de uma parte só), até então é a mais conhecida e praticada.

Dificuldade no processo de elaboração da criança

Uma das possíveis dificuldades da criança em lidar com a separação das figuras parentais pode ser “como o amor pode acabar?” e “se o amor entre os dois acabou como saber se eles me amam ainda também?”

A idade e os diferentes tipos de reações

Pesquisas indicam que crianças em idade pré- escolar (3- 05 anos) são mais vulneráveis, uma vez que não podem entender situações complexas podendo apresentar uma regressão no seu desenvolvimento e voltar a urinar na cama, demonstrar medos, apresentar alterações do sono e tornarem-se irritáveis, exigentes, muito solícitos e mais dependentes dos pais. Podem apresentar muitas das vezes baixo rendimento escolar.

Os adolescentes podem sentir falta dos pais na formação da identidade, “questionar a autoridade apresentando rebeldia excessiva, dificuldade em aceitar regras e ainda dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar”. Podem também adotar atitude reservada e distante socialmente com o intuito de controlar a si mesmo.

A Depressão Infantil

Muitos adultos fazem na maioria das vezes, uma imagem distorcida da infância. Em uma visão distorcida de que a criança não tem problemas, logo não tem depressão.

Na verdade problemas, tristeza e depressão são conceitualmente distintos.

A depressão significa um transtorno do afeto, sendo ela uma patologia/ doença que em sua base bioquímica apresenta desestabilidade cerebral.

Muitos estudiosos, inclusive alguns psicólogos, muitas das vezes tem uma conceituação da depressão distorcida associando sua origem às vivências, excluindo a possibilidade neuroquímica. Por que é tão difícil o diagnóstico da Depressão Infantil e/ ou a percepção dela?

Na maior parte este quadro pode ser mascarado pela irritabilidade, agressividade, hiperatividade e rebeldia fazendo com que o jovem seja diagnosticado de forma incorreta e enquadrado em diversos outros transtornos como hiperatividade, transtornos de conduta, transtorno opositor, e ansiedade de separação na infância.

Sintomas da depressão em jovens:

1. Alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil

2. Ansiedade

3. Desinteresse em atividades sociais, como ir a escola, brincar com os amigos ou com brinquedos

4. Falta de atenção e queda no rendimento escolar

5. Distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro

6. Perda de energia física e mental

7. Reclamações por cansaço ou ficar sem energia

8. Sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo

9. Dores na barriga, na cabeça ou nas pernas

10. Sentimento de rejeição

11. Condutas antissociais e destrutivas

12. Distúrbios de peso, emagrecer ou engordar demais

13. Enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes)

Referências Bibliográficas:


Brito, Leila Maria Torraca de. Paternidades contestadas: a definição da paternidade como um impasse contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

Brito, Leila Maria Torraca de.Famílias e separações: perspectivas da psicologia jurídica. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2008.

Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Classificação de Transtornos mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes dianósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Raquel Freire do Amaral

por Raquel Freire do Amaral

Formada na Universidade Paulista. Atua na área de Psicoterapia de Crianças e Adultos, Consultoria Empresarial e Escolar. Ministra Palestras, Cursos e Workshops em seu Espaço "PsicoVida" em Valença- RJ e por todo o Brasil. Possui experiência na área de Psicoterapia com abordagem teórica em Psicanálise; Psicodiagnóstico Infantil; Terapia Sistêmica/ Familiar; Psicologia Jurídica.

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