Teste do sobressalto potencializado pelo medo

Teste de condicionamento animal
Teste de condicionamento animal

Psicologia

20/02/2013

A resposta de sobressalto, que pode ser interpretada como um “susto” sofrido pelo animal pode ser eliciada por diferentes tipos de estímulos, tais como estímulo sonoro (sobressalto acústico), estímulo visual ou estímulo táctil. Uma resposta típica de sobressalto é composta por uma contração muscular súbita de diferentes músculos do corpo e, possivelmente, essa reação tem como função biológica reduzir a latência para a fuga, ou proteger-se contra o ataque de um predador.

O teste do sobressalto potencializado pelo medo foi proposto pela primeira vez no ano de 1951, por Brown, Kalish e Farber, e consiste no seguinte conceito: os animais (geralmente roedores) são colocados em uma caixa de condicionamento, contendo uma luz sinalizadora e fontes de estímulos aversivos, geralmente uma fonte de choque e uma fonte sonora capaz de alcançar um forte estímulo sonoro. A cada vez que a luz acende, o estímulo aversivo é aplicado. Ou seja, ao acendimento da luz segue-se um choque de pequena intensidade. Esse procedimento é pareado até que haja condicionamento, ou seja, até que o animal aprenda que a luz indica algo aversivo virá na sequência – o choque.

Isso quer dizer que um estímulo neutro – a luz – tornou-se aversivo por meio de condicionamento, passando a ser um estímulo condicionado. Esse condicionamento é o que, em Psicologia, chama-se de condicionamento Pavloviano, quando um estímulo inicialmente neutro produz respostas defensivas após sua associação repetida com um evento aversivo. Esse processo de condicionamento aversivo apresenta muitas vantagens para o estudo da ansiedade humana e dos transtornos de ansiedade, uma vez que diferentes estruturas cerebrais são ativadas durante o processo.

Normalmente, um animal que recebe inesperadamente um estímulo sonoro intenso tende a apresentar uma resposta de sobressalto. Neste teste, observou-se que após o condicionamento da luz com o choque, o animal, ao ver a luz se acender e, sequencialmente, ouvir um som intenso, apresenta uma resposta de sobressalto com uma amplitude cerca de 50 a 100% maior do que se o som tivesse sido apresentado sozinho, sem a presença da luz. A diferença de amplitude do sobressalto entre essas duas situações (luz+barulho e barulho sozinho) é chamada de resposta de sobressalto potencializada pelo medo, e representa uma medida de medo, podendo ser representada numericamente.

Uma das vantagens do teste do sobressalto potencializado pelo medo é que ele permite a produção de respostas aversivas muito semelhantes em animais e humanos. Outra vantagem diz respeito ao fato da resposta de sobressalto ficar sobre controle do experimentar. Isso quer dizer que, num experimento típico de sobressalto potencializado pelo medo, o estímulo eliciador do sobressalto pode ser apresentado a qualquer momento, funcionando como um sinalizador das alterações emocionais, fornecendo, assim, informações sobre a contribuição de diferentes estados afetivos na manifestação de respostas de medo ou ansiedade.

A resposta de sobressalto (a um som) potencializada pelo medo (de uma luz) é bastante influenciável por fármacos, e também pode ser uma medida de ansiedade antecipatória. O fato de ser bastante influenciável por fármacos com atividade sobre o sistema nervoso central quer dizer que o valor do sobressalto pode aumentar ou diminuir quando o animal é tratado com diferentes categorias de compostos. Espera-se que, ao ser tratado com um composto ansiolítico (que diminua, portanto, a ansiedade), o animal apresente uma menor resposta de sobressalto quando comparado a um animal que recebeu uma substância inerte, como solução salina.

Muitos pesquisadores já investigaram o efeito de diferentes classes de substâncias, utilizando o teste do sobressalto potencializado pelo medo. Drogas que mostraram diminuir a resposta de sobressalto dos animais nesse teste e que teriam, portanto, um perfil ansiolítico de ação, são: antagonistas noradrenérgicos, agonistas benzodiazepínicos (como o diazepam, bastante utilizado na clínica no tratamento de transtornos de ansiedade), antagonistas dopaminérgicos, agonistas opióides, agonistas serotonérgicos, etanol, entre outros compostos. Muitas dessas drogas, quando administradas a seres humanos, também apresentam um perfil ansiolítico de ação, demonstrando que esse teste possui uma validade preditiva, ou seja, pode ser utilizado para a avaliação da atividade do tipo ansiolítica de compostos com perfil desconhecido de ação.

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