As diferentes abordagens em Ergonomia

Atualmente a ergonomia estuda também a macro ergonomia
Atualmente a ergonomia estuda também a macro ergonomia

Psicologia

03/04/2013

Marcelin e Ferreira (1982), afirmam que a maioria dos conhecimentos utilizados pela ergonomia foram apropriados de outras disciplinas, principalmente da fisiologia e da psicologia do trabalho. Wisner (1991), considera ser a metodologia o domínio preferencial das pesquisas em ergonomia. Sendo assim, a organização e a utilização desses conhecimentos, em uma determinada situação de trabalho, faz com que a metodologia empregada seja própria da ergonomia.

Uma das metodologias mais utilizadas na atualidade, em especial nas escolas de linha francesa, é a de Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que procura estudar o trabalho não só na sua dimensão explícita (tarefa), conforme definido pela engenharia de métodos, mas, sobretudo, na sua dimensão implícita (atividades), característica do conhecimento tácito do pessoal de nível operacional (SANTOS, 2010). A prática da ergonomia, segundo Santos e Fialho (1997),

Consiste em emitir juízos de valor sobre o desempenho global de determinados sistemas ser humano(s)-tarefa(s). Como tais sistemas normalmente são complexos, envolvendo expectativas relativamente numerosas, procura-se facilitar a avaliação sobre o desempenho global apoiando-se no princípio da análise/síntese.

Atualmente, a ergonomia estuda também a macro ergonomia, que surgiu a partir dos estudos de Hendrick (1994). Segundo o autor, a ergonomia já passou com duas gerações e encontra-se na terceira.

A primeira geração concentrou-se no projeto de trabalhos específicos, interfaces ser humano-máquinas, incluindo controles, painéis, arranjo do espaço e ambientes de trabalho. A maioria das pesquisas referia-se à antropometria e a outras características físicas do ser humano. Esta aplicação continua a ser um aspecto extremamente importante para a prática da ergonomia em termos de contribuições para a segurança industrial e para a melhoria geral da qualidade de vida.

A segunda geração da ergonomia se inicia com a ênfase na natureza cognitiva do trabalho. Tal ocorreu em função das inovações tecnológicas e, em particular, do desenvolvimento de sistemas informatizados (ergonomia de software).

A terceira geração da ergonomia resulta do aumento progressivo da automação de sistemas em fábricas e escritórios, do surgimento da robótica. Esta geração da ergonomia privilegia a macro ergonomia, ou seja, a organização global em termos de máquina/sistema, e se concentra no desenvolvimento para auxiliar os controladores de processo a decidir sobre a adoção de cursos de ação que atendam aos múltiplos objetivos do mesmo.

Segundo Meshkati (1993), a macro ergonomia consiste na "análise das interfaces tecnologia-organização-ser humano e das interações cultura-gerenciamento-tecnologia", ou "o estudo dos fatores humanos num nível macro ou num sistema pessoas-tecnologia mais abrangente, que está relacionado com as interações entre (sub-)sistemas tecnológicos e (sub-)sistemas organizacionais, gerenciais, pessoais e culturais".

Para Brown Jr (1990), "a macro ergonomia entende as organizações como sistemas sócio técnicos e incorpora conceitos e procedimentos da teoria dos sistemas sócio técnicos ao campo da ergonomia".

A macro ergonomia, portanto, entende as organizações como sistemas abertos, em permanente interação com o ambiente e, evidentemente, passando por processos de adaptação e, ao mesmo tempo, passíveis de apresentar disfunções organizacionais, que se refletem nas suas performances e muito particularmente, no subsistema social, através da metodologia própria da ergonomia. A análise ergonômica desenvolve a análise do trabalho, e promove o tratamento da interface MÁQUINA - SER HUMANO – ORGANIZAÇÃO (SANTOS, 2010).

Da mesma forma, Wisner (1982), propõe uma abordagem mais ampla da ergonomia, designada antropotecnologia, quando do processo de transferência de tecnologia, de um país para outro, de uma região para outra de um mesmo país, ou também, de um laboratório de pesquisa para o setor empresarial. Para ele, muito mais que as considerações ergonômicas tradicionais, é necessário, também, levar em consideração os aspectos de natureza contingencial: cultura, geografia, aspectos socioeconômicos, clima, etc.

Devido à visão antropocêntrica da ergonomia, há a unificação entre sistema técnico e social. A ergonomia tornou-se uma ferramenta de gestão empresarial conforme seu conceito foi evoluindo. De nada adianta assegurar a qualidade de processos e produtos, se não se consegue assegurar sentimentos, crenças, hábitos, costumes, isto é, assegurar o ser humano.

A antropocentricidade da ergonomia consiste no centro das atenções no ser humano, facilitando mudanças organizacionais, e impulsionando novos conceitos de produtividade, o qual passa a ser entendido como qualidade de vida no trabalho. Os critérios de indicadores são mensurados pela participação do trabalhador, a liberdade para a criação e a valorização do saber fazer.

Para SANTOS (2010), pode-se classificar a ergonomia de três maneiras:

1. Quanto à abrangência:

1.1 Ergonomia de Posto de Trabalho: abordagem microergonômica;
1.2 Ergonomia de Sistemas de Produção: abordagem macroergonômica.

2. Quanto à contribuição:

2.1 Ergonomia de Concepção: é a aplicação de normas e especificações ergonômicas em projeto de ferramentas e postos de trabalho, antes de sua implantação;
2.1 Ergonomia de Correção: são as modificações de situações de trabalho já existentes. Portanto, o estudo ergonômico só é feito após a implantação do posto de trabalho;
2.3 Ergonomia de Arranjo Físico: é a melhoria de sequências e fluxos de produção, através da mudança de layout das plantas industriais (por exemplo: mudança de um layout por processo para um layout por produto);
2.4 Ergonomia de Conscientização: é a capacitação das pessoas nos métodos e técnicas de análise ergonômica do trabalho.

3. Quanto à interdisciplinaridade:

3.1 Engenharia: é o projeto e a produção ergonomicamente corretos, garantindo a segurança, a saúde e a eficácia do ser humano no trabalho;
3.2 Design: é a aplicação das normas e especificações ergonômicas no projeto e design de produtos;
3.3 Psicologia: recrutamento, treinamento e motivação do pessoal;
3.4 Medicina e Enfermagem do Trabalho: é a prevenção de acidentes e de doenças do trabalho;
3.5 Administração: gestão de recursos humanos, projetos e mudanças organizacionais.

Encontramos na literatura denominações para:

• Ergonomia de projeto: é a incorporação de recomendações ergonômicas no estágio inicial do projeto de postos de trabalho;
• Ergonomia industrial: é a correção ergonômica de situações de trabalho industrial já implantadas;
• Ergonomia do produto: é a concepção de um determinado objeto, a partir das normas e especificações ergonômicas, definidas preliminarmente;
• Ergonomia da produção: é a ergonomia de chão de fábrica, baseada na análise ergonômica dos diversos postos de trabalho;
• Ergonomia de laboratório: é a pesquisa em ergonomia, realizada em condições controladas de laboratório. Montmollin (1997), dentre outros autores, afirma que não se trata verdadeiramente de uma pesquisa ergonômica, pois ela não é realizada em situação real de trabalho;
• Ergonomia de campo: é a pesquisa em ergonomia, realizada em situação real, utilizando-se como metodologia a análise ergonômica do trabalho.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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