A droga tem um efeito muito curto, dura de 3 a 10 minutos
Psicologia
07/04/2013
Introdução
O uso de drogas ilícitas está crescendo a cada dia, tanto no nosso país como no mundo inteiro, situação preocupante, pois o usuário quando está sob o efeito da droga perde o controle de si mesmo, deixando a sua família e a sociedade a mercê da sua violência, que é uma das reações causadas pelo efeito da droga.
Nos últimos meses a mais falada delas é o crack, devido à desocupação da cracolândia em São Paulo, que na verdade não resolveu o problema, apenas trocou os usuários do seu local de consumo. Nessa situação é que se tem mais certeza de que a dependência química não é um problema a ser resolvido pela polícia, e sim pela saúde pública. Não adianta expulsar os usuários de determinado lugar para deixar de usar a droga, o que se tem a fazer é a saúde pública dar condições para esses usuários serem tratados e desintoxicados. Pois assim o problema só muda o seu espaço geográfico, mas continua o mesmo.
Mais um agravante do uso do crack é que é uma droga que causa dependência muito fácil, pois o seu efeito é curto e a falta dele causa sensações muito desagradáveis, então a pessoa acaba usando novamente para que os efeitos da abstinência desapareçam, e as chances de cura são mais baixas do que as de outras drogas, pois a vontade de usar novamente é muito maior, então na maioria dos casos a pessoa inicia o tratamento, mas o abandona.
Com apoio familiar e da sociedade, uma situação favorável de tratamento, pessoas qualificadas para acompanhar o usuário e muita persistência e força de vontade para abandonar o vício, a cura da dependência não é impossível, mas o nosso país precisa de políticas públicas que mudem o sistema de saúde para que isso seja possível.
Um breve histórico do crack
O crack surgiu na década de 70, nos Estados Unidos a partir da mistura da pasta de cocaína e bicarbonato de sódio para se tornar mais acessível a todas as classes, pois a cocaína pura era muito cara, tanto que era conhecida como “a droga dos ricos”.
Ele atua no sistema nervoso central, através da dopamina, causando euforia e excitação, aumento do nível de alerta e de energia, aceleração psicomotora, insônia, diminuição do apetite, mas a dopamina também tem a capacidade de causar taquicardia, aumento da pressão arterial, midríase e sintomas paranoicos como a parasitose paranoica (momento em que o usuário tem formigamento em partes do corpo e imagina estar infestado de parasitas) quando se encontra em altas doses. Porém a droga tem um efeito muito curto, dura de 3 a 10 minutos e após o estado eufórico, vem o estado depressivo e para se livrar do mal-estar a pessoa acaba usando novamente, repetindo esse processo várias vezes, acabando na dependência.
O uso prolongado causa emagrecimento, instabilidade de humor, paranoia e faz com que células importantes do nosso corpo, como os neurônios morram, levando a pessoa a ter perda de memória, dificuldade de concentração, perda do autocontrole, levando cerca de 30% dos usuários a morte num prazo de 5 anos, ou pelo uso, ou por outras causas relacionadas ao uso, como por exemplo, uma pessoa ter HIV decorrente de atividades promíscuas em momentos que estava sob o efeito da droga. Quem é verdadeiramente o usuário?
A sociedade ainda que moderna, tem “pré- conceitos” muito antigos a respeito dos usuários de crack, os julgam vândalos, marginais, ladrões, entre muitos outros, porém considero isso um pré- julgamento, pois ninguém conhece verdadeiramente a história de cada uma daquelas pessoas que estão sendo vítimas dessa infelicidade, o que fez com que aquele ser abandonasse a sua vida normal para se transformar em um consumidor de drogas. É verdade que uma das muitas consequências do uso de drogas é a criminalidade, o usuário quando se encontra sem dinheiro para conseguir a droga começa, primeiramente, vender o que possui para ter dinheiro suficiente para o seu consumo, quando não tem mais o que vender começa a cometer furtos para não ficar sem o que considera tão precioso naquele momento.
A dependência química é uma doença, e deve ser tratada a tempo, para que não leve a pessoa a consequências mais graves, mas mesmo assim a sociedade exclui essas pessoas, reclama, chama a polícia para “resolver” o problema e não percebe que o crack não é um problema de polícia, é um problema primeiramente, de saúde não deixando de ser um problema social.
Todos os dias os meios de comunicação informam através de campanhas, de propagandas os riscos do consumo do crack, mesmo assim todos os dias vemos meninos e meninas que deveriam estar na escola se drogando, e aí vem à pergunta: por quê? Será descaso? Será desinformação? Será falta de amor próprio?
As razões são as mais diversas, mas a grande maioria dos usuários tem história de violência familiar, alcoolismo dos pais, abandono, não só físico, mas também emocional, abuso, trabalho infantil, infelicidade no trabalho ou na família, entre uma série de outros motivos. Não que seja regra que toda a pessoa, por exemplo, que viu sua mãe ser violentada por seu pai alcoolizado tenha que consumir drogas, mas existem pessoas que são mais fragilizadas que, por mais que pareçam fortes, são mais sensíveis, mais vulneráveis e aí chega o traficante e diz que tem a solução para todos os seus problemas, que aquilo vai deixá-lo livre dos problemas, das dores, dos ressentimentos e a pessoa experimenta a primeira vez, e como o seu efeito não é duradouro, a pessoa usa a segunda, a terceira e quando vê já está dependente daquela situação, quer cada vez mais.
E isso só percebe quem tem algum vínculo com essa pessoa, pois é um assunto delicado e o usuário não fala abertamente sobre ele, geralmente se esconde, evita o assunto, tornando o tratamento mais difícil e mais tardio.
Esse problema não se restringe a grandes centros metropolitanos ou cidades do interior, não escolhe classe social, idade, cor, sexo; ele tem se apresentado nos mais diversos lugares e nas mais diversas pessoas. Não tem um diagnóstico precoce, então não tem como saber quem vai ser usuário de crack no futuro. Por isso penso que a sociedade deveria ser menos preconceituosa, pois, ninguém está livre de ter esse problema em casa, deveria sim, ser mais acolhedora, tentar entender o que está por trás daquele ser em situação degradante e, em vez de chamar a polícia, chamar uma ambulância, por exemplo, para que tenha uma chance de ser tratado, de ser salvo do vício.
O assistente social e o enfrentamento do crack
O Assistente Social é um dos vários profissionais que devem atuar no enfrentamento da drogadição, visto que uma de suas funções é trabalhar no enfrentamento das questões sociais, e os usuários de drogas são pessoas da nossa sociedade, com os mesmos direitos e os mesmos deveres, porém devido à dependência são excluídos e marginalizados.
Para começar o profissional de Serviço Social deve planejar um trabalho preventivo, para evitar que adolescentes entrem em situação de risco. Esse trabalho deve ser interdisciplinar e contar com apoio da Educação e Saúde, para que o público alvo tenha um bom entendimento dos riscos que uma pessoa tem ao iniciar no mundo das drogas.
Incluir as famílias no trabalho preventivo também é de grande importância, pois a prevenção começa em casa, e para isso os pais devem estar cientes da gravidade da situação, sabendo que mais de 90% dos municípios brasileiros sofrem com esse problema, e somente uma minoria tem capacidade para tratamento de casos mais graves. A necessidade desse trabalho com as famílias não é só para a prevenção, mas também para que a sociedade em geral tenha conhecimento da realidade desses usuários, que eles são seres em desenvolvimento com os mesmos direitos que uma pessoa comum, pois são pessoas que tem as mesmas dúvidas, as mesmas preocupações, os mesmos problemas de um adolescente que não é usuário de drogas, mas com uma diferença: ele é excluído da sociedade por ser considerado “anormal”, “marginal” dentre outros termos que as pessoas usam para designar um usuário de crack.
Esse trabalho deve ser diferenciado, inovador. Palestras para adolescentes são demoradas e cansativas, eles precisam de algo que prenda a atenção, de algo que eles sejam agentes participativos e não passivos. Oficinas de artes com textos sobre o uso de drogas e suas consequências, são algo que pode dar certo, pois eles estão em fase de comunicar seus sentimentos ao mundo, e não somente ficar na “plateia”. E é na adolescência que a grande maioria dos usuários iniciam a caminhada no mundo das drogas.
O Assistente Social deve acompanhar os casos de pessoas em tratamento, pois eles também precisam de muito apoio para continuar esse tratamento. A família envolvida deve ser encaminhada sempre para que tenha seus direitos garantidos e consiga assim salvar do mundo do crack quem tanto amam.
Somente com projetos interdisciplinares de prevenção ao uso de drogas, com a conscientização da população de que essas pessoas precisam de tratamento médico e não policial, que a sociedade tem muito a contribuir no enfrentamento desse problema é que o Assistente Social conseguirá diminuir a população de usuários de crack, mesmo sabendo que esse é um projeto com resultados em longo prazo, não deve deixar de existir, pois é com perseverança e muita força de vontade que se consegue alcançar os objetivos pretendidos.
Conclusão
A partir das exposições feitas pode-se perceber que o crack não é um problema somente das grandes cidades, ele já se espalhou por quase todo o país e precisa de projetos para o seu enfrentamento, pois é um problema de toda a sociedade, não somente dos órgãos públicos, pois são os nossos adolescentes que estão em situação de risco a cada dia que passa.
O crack não escolhe suas vítimas, são elas que escolhem o caminho da droga por considerar algo libertador, algo que irá trazer alegria ao invés de sofrimento, e é por esse motivo que o trabalho preventivo é de grande importância, somente com a prevenção, com a realidade exposta aos grupos de risco e a sociedade é que podemos mudar essa realidade, que sabemos que é bem diferente do que aquela que o traficante mostra ao induzir a pessoa ao consumo, fazendo com que famílias sejam destruídas por essa droga que causa tanta dependência e tanta dor.
O Assistente Social é um profissional de grande importância no enfrentamento do uso de drogas, pois é ele quem planeja políticas públicas que possam garantir esse direito à sociedade.
Referências
SCHEFFER, Morgana; PASA, Graciela Gema e ALMEIDA, Rosa Maria Martins de. Dependência de álcool, cocaína e crack e transtornos psiquiátricos. Psis.: Teoria e Pesquisa. [online]. 2010, vol.26, n.3. PP 533-541. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sciarttest&pid=s0102-37722010000300016.
DEZEN, Danielli Haddad Syllos; ECHENIQUE, Leandro Santini. Check-up na prática médica. Edição 2011. Barueri: Editora Manole, 2011.
RIBEIRO, Jader. É a pobreza que leva as pessoas ao crack, ou é o crack que leva às pessoas a pobreza? Observador político [online]. 21/01/2012. Disponível em: http://www.observadorpolitico.org.br/grupos/drogas/forum/topic/e-a-pobreza-que-leva-as-pessoas-ao-crack-ou-e-o-crack-que-leva-as-pessoas-a-pobreza/
ARAGUAIA, Mariana. Crack: Um sério problema de saúde e também social. Brasil escola. Disponível em: http://www.brasilescola.com/drogas/crack.htm
PAES, Romulo. Política de assistência social e o crack. Ministério do desenvolvimento social e combate à fome. 30/09/2010 Disponível em: http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/artigos/artigo-politica-de-assistencia-social-e-o-crack
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Franciele de Quadros Colombeli
Professora de anos iniciais e Assistente Social, cursando especialização em Gestão Social.
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