Transtornos de Ansiedade Infantil e seus Tratamentos
Os pais precisam estar atentos ao comportamento dos filhos
Psicologia
24/07/2013
A ansiedade é um transtorno que se destaca na atualidade como consequência do mundo agitado, cheio de tensões. Este transtorno vem afetando a população de um modo geral, independente da idade. Abordaremos a ansiedade no contexto infantil, pois cada vez mais crianças vêm sendo atingidas por transtornos psíquicos dessa natureza (Sousa, Petersen, Behs, Manfro & Koller, 2012; Silva & Figueiredo, 2005).
Em termos gerais a ansiedade é entendida como um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho (Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000; Caíres & Shinohara, 2010). Isso ocorre com o propósito de preparar o organismo para reação de proteção diante de situações de perigo. Mecanismos cognitivos, motivacionais, afetivos ou emocionais e comportamentais são ativados juntamente com as respostas fisiológicas e é nesse conjunto de modificações emocionais e físicas é que encontramos a base dos transtornos de ansiedade (Assis, Ximenes, Avanci, & Pesce, 2007; Mutschele, 2001; Sousa, et al., 2012).
Segundo Caíres e Shinohara (2010) a ansiedade é caracterizada por manifestações somáticas e fisiológicas como: falta de ar, taquicardia, vasoconstrição ou dilatação, tensão muscular, parestesias, temores, sudoreses e tontura; e as manifestações psíquicas como inquietação interna, apreensão e desconforto mental.
A ansiedade vem a ser considerada patológica quando se torna uma emoção desagradável e incômoda, que aparece de maneira exagerada, desproporcional em comparação ao estimulo, e que traz prejuízos ao indivíduo quando esta o impede de realizar tarefas cotidianas, em qualquer faixa etária observamos uma interferência na qualidade de vida, conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo (Castillo et. al., 2000).
Em crianças, principalmente nas menores verifica-se que diferentemente dos adultos, estas não conseguem reconhecer seus medos como exagerados, ou irracionais. O seu desenvolvimento emocional implica sobre as causas e a maneira como os medos e preocupações tanto normais como patológicas irão se manifestar (Asbahr, 2004).
Relatos de estudos afirmam que crianças com transtorno de ansiedade, tem mais dificuldade para fazer amizades, do que as que não apresentam este transtorno, também pode-se observar um impacto na vida social e escolar que trarão consequências futuras sérias a estas crianças. (Assis et al., 2007).
De acordos com estudos de Castillo, et al. (2000) há pelo menos dois tipos de transtornos ansiosos que atingem frequentemente a população infantil que são os: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e o Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS).
Epidemiologia
De acordo com Sousa et al. (2012), avaliando o cenário global de transtornos mentais, dados internacionais mostram que as taxas de prevalência de transtornos de ansiedade na infância e adolescência variam entre 6% a 20%.
Segundo um estudo de Fleitlich-Bilyk e Goodman (conforme citado por Vianna, Campos & Fernandez, 2009) estima-se no Brasil que os índices de prevalência de ansiedade em crianças e adolescentes é de 4,6% em crianças.
A estimativa de que Crianças e adolescentes em algum momento de sua vida preencham os critérios diagnósticos para pelo menos um dos Transtornos de Ansiedade é de aproximadamente 10%. Os quadros mais frequentes de ansiedade são: o Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de Ansiedade de Separação (Asbahr, 2004).
Padrão Familiar
Segundo estudos de Vitolo, Fleitlich-Bilyk, Goodman e Bordin (2005) a ansiedade em crianças são reflexos das inconstâncias do ambiente, suas variáveis previsíveis e imprevisíveis, bem como estão associadas com a ansiedade dos pais, nesse sentido também pode haver uma influência tanto genética como ambiental.
No Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais Texto Revisado, 4ª edição da Associação Psiquiátrica Americana (1994), encontramos que a ansiedade como traço tem uma associação familiar. Achados inconsistentes foram relatados, com relação aos padrões para Transtorno de Ansiedade Generalizada dentro de famílias, não tendo sido encontrada uma agregação familiar específica na maioria dos relatos.
Ainda com base no DSM-IV-TR (1994), o Transtorno de Ansiedade de Separação é mais comumente visto em parentes biológicos em primeiro grau do que na população em geral, e talvez seja mais frequente em filhos de mães com Transtorno de Pânico.
Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de Ansiedade de Separação
Segundo o DSM-IV-TR (1994), as características do Transtorno de Ansiedade Generalizada envolvem preocupação excessiva, com prejuízo funcional em vários aspectos como a segurança pessoal, interações sociais, eventos futuros ou mesmo passado, que em grande parte das situações são acompanhados por sintomas somáticos, como cefaleias e dores de estômago. Muitas pessoas com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), afirmam ter sentido ansiedade e nervosismo durante todo seu histórico de suas vidas. No grupo de crianças o Transtorno de Ansiedade Generalizado, a ansiedade e preocupação frequentemente envolve a qualidade da performance escolar ou eventos esportivos, mesmo quando seu desempenho não é avaliado por outros. Pode ocorrer preocupação excessiva com a pontualidade ou eventos catastróficos tais como terremotos ou guerras nucleares. Estas crianças podem ainda evidenciar excessivamente conformismo, perfeccionismo e insegurança, sendo tendenciosas a refazerem tarefas em razão de sua preocupação com um desempenho menos que o perfeito. São excessivamente zelosas na busca pela aprovação e demandam constantes garantias sobre o seu desempenho e outras preocupações. Este transtorno manifesta-se com prevalência no sexo feminino aproximadamente 55-60%.
Já o Transtorno de Ansiedade de Separação é aquele no qual a criança experiência uma ansiedade excessiva envolvendo o afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação. Esta é além daquela esperada para o nível de desenvolvimento do indivíduo. Diferencia-se da simples ansiedade determinada pelo contato com estranhos por causar prejuízo no funcionamento social, acadêmico (ocupacional) ou outras áreas relevantes na vida do indivíduo e ainda causar sofrimento clinicamente significativo. O transtorno de Ansiedade de Separação é comum, estima-se que a prevalência é em média de 4% em crianças e pré-adolescentes. Este transtorno pode ocorrer em virtude de algum estresse vital (como morte de um parente ou animal de estimação, doença de um filho ou parente, mudança de escola, mudança para um novo bairro ou imigração). Pode ter seu início já em idade pré-escolar ou a qualquer momento, antes dos 18 anos, não é muito frequente na adolescência. Existem períodos tipicamente de exacerbação e remissão. Podem ser persistentes por muitos anos tanto a ansiedade frente a uma possível separação quanto à esquiva de situações envolvendo a separação, como sair de casa para ingressar na universidade (DSM-IV-TR,1994).
Tratamento
É consenso que todo o transtorno, qualquer que seja ele, precisa ser tratado o mais breve possível, pois quando isso não ocorre, este vem a acarretar uma série de prejuízos ao indivíduo. A análise de materiais coletados para este estudo apontou que dentre os tratamentos disponíveis tanto no âmbito nacional e internacional estão: os tratamentos psicológicos e os farmacológicos (Assis et al., 2007; Mutschele, 2001; Maia & Rohde, 2006; Asbahr, 2004; Castillo et al., 2000).
Segundo Castillo et al. (2000) de maneira abrangente os tratamentos Psicológicos podem se utilizar dos seguintes meios: orientação aos pais e à criança e intervenções familiares (conscientização da família a respeito do transtorno, e auxílio no aumento de autonomia e a competência da criança reforçando suas conquistas), terapia cognitivo comportamental, psicoterapia dinâmica e tratamento farmacológico.
De um modo geral verifica-se a concordância entre alguns autores sobre a eficácia da terapia cognitivo comportamental empregada no tratamento dos transtornos de ansiedade (Assis et al., 2007; Mutschele, 2001; Maia & Rohde, 2006; Asbahr, 2004).
A terapia cognitivo Comportamental busca provocar mudanças na maneira disfuncional de perceber e raciocinar sobre o ambiente, e sobre o que causa a ansiedade, bem como mudanças no comportamento ansioso. Nesse processo de tratamento é fundamental a participação dos pais, pois quanto mais atenção houver para o comportamento alterado, mais chance de reforçá-lo e ampliá-lo. (Asbahr, 2004; Assis, et al., 2007).
Assis et al. (2007) destacam em seu trabalho algumas técnicas cognitivo comportamental que podem ser utilizados no tratamento de ansiedade infantil: imaginação repetida – reviver o trauma – que reduz a ansiedade associada a lembrança do trauma e também corrige ideias errôneas; Terapia de exposição; Dessensibilização sistemática; Treino de inoculação do estresse – que inclui diálogo, educação, relaxamento muscular, treino respiratório, etc.; Terapia do processamento cognitivo e reestruturação cognitiva.
A ludoterapia também é utilizada para o tratamento infantil da ansiedade como um meio de aumentar o conforto da criança e a habilidade de comunicação durante o processo terapêutico. A utilização de brinquedos é incorporada em várias intervenções terapêuticas psicossociais (Assis et al., 2007).
Há casos em que os sintomas causados pela ansiedade se tornam graves e consequentemente provocam na criança inabilidades, e para estes em específico, faz-se necessário lançar mão do tratamento farmacológico, que é um tratamento de uso restrito, devendo ser administrado com cautela (Castillo et. al., 2000).
Segundo estudo realizado por Maia e Rohde (2007); Assis et al., (2007), os psicofármacos considerados importantes no tratamento dos Transtornos de Ansiedade são em especial os inibidores de recaptação de serotonina (ISRS). Dentre eles estão: os ISRS (Fluoxetina, sertralina, paroxetina e fluvoxamina), antidepressivo tricíclico (imipramina) e benzodiazepínicos (alprazolam e clonazepam).
São poucos os estudos controlados que comprovem a eficiência dos benzodiazepínicos, porém estes são utilizados para ansiedade antecipatória e para alívio dos sintomas durante o período de latência dos antidepressivos, essa medicação é mais indicado para os casos TAS. Os ISRS aliviam os sintomas de ansiedade e são considerados medicação de primeira escolha devido ao perfil de efeitos colaterais, maior segurança e fácil administração estes são indicados tanto para o TAG quanto para TAS (Asbahr, 2004; Castillo et. al., 2000).
Verificou-se através de um estudo realizado com crianças a eficácia a curto prazo da Fluvoxamina e a Fluoxetina para os transtornos de ansiedade de separação ou transtorno de ansiedade generalizada (Asbahr, 2004; Maia & Rohde, 2007).
É importante que se tenha cuidado e cautela quanto a administração de psicofármacos em crianças sem acompanhamento monitorado, pois principalmente nas primeiras semanas estes podem vir acompanhados de aumento de comportamento e ideação suicida (Asbahr, 2004; Maia & Rohde, 2007).
Através do estudo constatou-se que os transtornos ansiosos TAG e TAS são os transtornos de ansiedade mais comuns que acometem crianças em todo o Brasil e no mundo. Através destes estudos pudemos verificar que devido a falta de atenção dos pais ou cuidadores esse transtorno, por não ser detectado no início, tende a agravar-se ao longo do tempo.
Os tratamentos disponíveis para tais são de base psicoterápica e farmacológica, sendo este ultimo passível de cuidados especiais, devido aos graves efeitos colaterais que o mesmo causa nas crianças. Fica evidente que se faz necessário atenção por parte dos pais e cuidadores para que observem o comportamento de suas crianças e não se desconsidere a importância de prevenir e tratar este transtorno infantil.
Referências
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