A representação do corpo para a mulher é muito significativo, sendo a sua razão
Psicologia
11/11/2013
Com a chegada da terceira idade, mudanças fisiológicas e as marcas físicas causadas pela idade no corpo da mulher são fatores que fazem com que a mulher idosa perda o encanto pelo seu corpo.
Em uma sociedade de imagens, onde a juventude e a beleza, principalmente na classe feminina, estão na aparência física, a idade torna-se um fator de desespero quando os anos passam. Para Fernandes (2009, p. 2), em geral, as mulheres ao envelhecerem são desanimadas sexualmente pela convicção de que na velhice a sensualidade, a feminilidade e a expressão corporal perdem o poder de atração e de elegância, fazendo com que a mulher idosa perca a sua autoestima e se julgue incapaz de atrair fisicamente alguém ou o seu próprio companheiro.
Com a chegada da menopausa e também com as mudanças que esta fase traz à mulher, como o encerramento do seu ciclo reprodutivo, surge o sentimento de perda da sua identidade feminina e do seu real papel feminino (SERRÃO, 2007, p.13).
Em um estudo de Fernandez (2005, p. 134) com um grupo de 45 mulheres na fase de climatério atendidas em um Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, foi questionado com este grupo o sentimento em relação a sua autoimagem/aparência física. As repostas negativas a esta categoria eram derivadas da insatisfação dessas mulheres com o corpo com a chegada da idade.
Em uma sociedade que tanto preza os jovens e a beleza característica da juventude, adentrar a meia idade pode causar efeitos emocionais profundos, fato que já mereceu destaque em outro estudo, citando que em uma cultura como a brasileira, que privilegia abertamente a juventude, não é de se surpreender que algumas mulheres sintam o impacto da perda das características femininas jovens, dado que há evidente queda na apreciação social, podendo acarretar em diminuição da autoestima. (FERNANDES, 2005, p.134).
Gradim (2007, p. 207) também refere no seu estudo, depois de relatos de mulheres idosas, que este grupo tem uma visão do envelhecimento relacionada com a perda da estética, criando certa perspectiva do seu envelhecer ser igual esteticamente ao divulgado pela mídia (jovens e bonitas). Segundo o autor, o processo de envelhecimento no ser humano é real, como as rugas e os cabelos brancos, onde a aceitação da velhice depende de como o idoso lida com essas mudanças.
“Eu ainda não pus isto na cabeça, que envelheci [...]. Agora pelas fotos que eu vejo as antigas, ‘o trem virou um bagaço’. O peito despenca, a nádega despenca, cai cabelo de onde não pode e nasce aonde não deve, é um desastre! Mas eu tenho as minhas qualidades, minha disposição, viajo muito, faço tudo sozinha [...]. Está aí o sessenta e seis, mas eu não sinto o peso dele” (Maria Amélia, 66 anos). [...] “Eu fiquei mais velha [...] enrugadinha, cabelinho branco, mas eu não sinto que eu estou velha não. Tenho espírito de nova. Eu faço fisioterapia, hidroterapia, educação física” (Ana, 70 anos). [...] “Envelhecer tem um lado que não é muito aceito, que a gente não quer perder o que é da juventude e tem um lado muito bom que é o de ficar mais madura, mais sábia, saber enfrentar melhor as situações, saber enxergar as coisas diferentes. Eu acho que isso aí supera a perda da parte física que quando a gente começa a ter as primeiras rugas, aquilo incomoda muito a gente. [...] eu aceito o meu envelhecer, porque eu tenho sessenta anos, mas eu acho que a minha cabeça é de quarenta, então eu estou satisfeita. A física não está ideal, eu já perdi muito, mas a mental eu ainda estou produtiva. Eu estou envelhecendo, mas não estou triste, estou muito feliz. Até acho que eu estou na melhor fase da minha vida” (Vovate, 60 anos). (GRADIM, 2007, p. 206-207).
O sentimento de perda das mulheres idosas de não se sentirem mais atraentes para o sexo oposto gera sentimento de perda da feminilidade (GRADIM, 2007, p. 209). O autor ainda refere que a sociedade valoriza a juventude física e as mulheres se sentem inferiorizadas por receio de se sentirem mais velhas e por não se encaixarem dentro desse padrão de beleza, sendo também a interrupção da menstruação motivo para que muitas mulheres se sintam menos femininas, menos sedutoras e vigorosas, e também menos mulheres, fato descrito pelo pesquisador no seu estudo em relação aos relatos das mulheres idosas entrevistadas:
Quando eu entrei [...] eu senti [...] uma tristeza e senti assim uma grande perda, como uma pessoa perde assim a beleza e a juventude de momento. Mas depois eu acordei, falei que não era, pensei assim que todo mundo passa, todo mundo passa por isso [...]. Eu sou o que eu sou hoje, eu acho normal (Juliana, 72 anos). [...] A gente já não é a mesma para fazer um strip-tease [...] a gente tem uma certa reserva. Não sinto mais à vontade como eu era quando eu era nova [...]. Quietinha o corpo tudo em cima, tudo certinho [...]. Agora, hoje não [...] está tudo caído (Maria Augusta, 66 anos). (GRADIM, 2007, p. 209).
A representação do corpo para a mulher é muito significativo, sendo a sua razão de ser para si e para o outro. O pesquisador Natansoh (2005 apud FERNANDES, 2009, p. 2) diz que a relação do significado do corpo para a mulher também traz a ideia da passagem do tempo e suas marcas, os cabelos grisalhos e as rugas visíveis no seu rosto, remetendo a uma representação de ser velha e à tão temida condição de mulher velha dos mitos histórico e atual.
O corpo padrão da mulher adotado pela sociedade vem desde a história da publicidade onde iniciou a associação da beleza física feminina com a representação dos mais diversos produtos. A transmissão da sensualidade do corpo feminino nas publicidades ou propagandas para a apresentação de algum produto tem como propósito atrair a atenção do consumidor/espectador (VERÍSSIMO, 2005, p. 1713).
Ainda em relação ao assunto do parágrafo anterior, o autor Veríssimo (2005, p. 1704) em análise realizada com várias imagens do corpo feminino nas publicidades e propagandas, refere o mesmo como o “corpo objeto”, destinado a promover produtos femininos e masculinos. Este autor, para demonstrar esta sua posição em relação ao uso da imagem do corpo da mulher para publicidade, recorre a vários estudos de análises de figuras para decifrar a mensagem que estas passavam aos consumidores/telespectadores. Neste propósito, o pesquisador, após a análise de imagens, explica que a beleza corporal e sensual da mulher demonstrada nas publicidades, como a finura da cintura, volume das nádegas, pernas torneadas, cabelos compridos e gestos sensuais etc., são fatores atrativos e determinantes para o consumo.
Segundo Efângelo (2007, p. 2), atualmente percebe-se uma influência dos meios de comunicação de massa sobre seus destinatários, cuja imagem pode interferir no seu comportamento social. Com a afirmação feita pelo autor, podemos perceber que a influência e a cobrança no padrão de beleza feminina faz com que a classe feminina da terceira idade sinta-se inferiorizada ou culpada de não pertencer a este padrão desejado pela sociedade ou pelo seu companheiro. Este sentimento negativo da autoimagem faz com que a mulher idosa perca a sua representação feminina na sociedade e também na sua relação conjugal em razão do constrangimento das mudanças e marcas no seu corpo com a chegada da velhice.
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por Colunista Portal - Saúde
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