Viver o hoje semeando o amanhã

Psicologia

01/12/2013

A vida atual é corrida. Parece passar tão rápido que a achamos curta demais para tanto que queremos realizar. Não é de se estranhar que nos percamos nos desejos de ver algo logo realizado, nos esquecendo completamente das ações que uma após outra, construirão a estrada que nos levará ao objetivo final.

Desejamos um amanhã mais feliz, mais próspero, mais saudável e nos esquecemos por vezes de viver o hoje e ficamos a planejar, idealizar e sonhar com dias melhores que sempre estarão à frente do tempo vivido, logo, inalcançável.

Nos diz Dalai Lama em sua sabedoria, misto de experiência de vida e dádiva divina: "Só existem dois dias do ano sobre os quais nada pode ser feito. Um deles se chama ontem e o outro amanhã. Portanto hoje é o dia certo para você amar, sonhar, ousar, produzir e acima de tudo, acreditar..." O ontem é irrecuperável, não há o que nele se pensar e o amanhã, nada será sem o dia de hoje. É no aqui e agora que devemos cultivar bons e precisos pensamentos e ações, pois só assim, um amanhã tão esperado poderá vir a existir.

No estudo do I Ching, oráculo milenar chinês, aprendemos sobre os elementos superiores e inferiores da personalidade. Uma personalidade inferior busca o que é certo; ou seja, o seu objetivo fundamental é encontrar e alcançar o seu objetivo, no entanto, por ser uma personalidade inferior, só pensa no objetivo esquecendo-se de dar atenção ao caminho a ser trilhado. A personalidade superior pelo contrário, fixa sua atenção no caminho, sem pensar no objetivo, e assim sendo, o alcança naturalmente devido ao seu modo de vida. O caminho correto levará até o objetivo desejado em um processo natural.

Hoje é o momento de acreditar como diz o Dalai Lama. E acreditar é encontrar-se de tal forma em harmonia com o poder benéfico das forças cósmicas, que todas trabalham ao seu favor. Como afirma o I Ching, a personalidade superior tem êxito em tudo que faz com a "inevitabilidade das leis naturais", tudo concorre para seu êxito.

Esta postura de se ater ao processo de maneira atenta e dedicada, sem pensar no resultado, pode ser estendido às diversas esferas da vida. A preocupação com o imediatismo dos resultados - É muito comum vermos em anúncios de empresas que procuram profissionais de venda, frases do tipo: "profissional com foco nos resultados". Ora, o que serão os resultados senão o "amanhã"? E o amanhã não existe se não vivermos o hoje.

Quem nunca foi abordado por um vendedor afoito, que na ânsia de vender determinado produto, fala mais do que o necessário, não ouve o possível cliente e por fim, irrita ao invés de encantar o possível comprador? Ser sincero, apresentar seu produto de maneira clara, cultivar aquele momento de diálogo com o possível cliente como se este fosse o único, ouvir o que ele tem a dizer, pode ser boas dicas para um profissional que, vivendo o momento da venda sem se preocupar com o resultado, certamente o alcançará naturalmente.

Quantos vendedores com bom potencial se tornam desmotivados em seus trabalhos de prospecção por conta de não terem resultados imediatos? Não nascem frutos em solo não semeado. Tempo de semear, tempo de colher, nos diz a sabedoria popular que nem sempre é aplicada.

Paixões avassaladoras que se desgastam com a mesma intensidade - Quem de nós não conheceu alguém ou viveu uma grande paixão que de tão envolvente, cegou a necessária visão que devemos ter de darmos atenção a detalhes do convívio, e consequentemente, nos atiramos a ela tentando apenas satisfazer nossos desejos e com isto, desgastando a relação?

O encanto e desejo inicial que deveriam servir de elementos mantenedores de uma longevidade da relação, acabam se tornando elementos de desgaste, pois o desejo de viver intensamente os momentos, se dar aos prazeres, sem perceber que frutos só são possíveis em árvores com raízes bem fincadas.

Até mesmo nos momentos do amor mais íntimo, na busca desenfreada de prazer ou mesmo, de demonstrar uma virilidade cobrada pelo imaginário social, no caso dos homens, esquece-se de seu parceiro/a e não se dá conta que está contribuindo para o desgaste de algo que tem todo o combustível para uma existência duradoura. É a ansiedade, a busca desmedida pela realização de algo passageiro, colaborando para a não realização de algo duradouro.

Um provérbio inglês diz: "a watched pot never boils", ou seja, uma panela vigiada nunca chega a ferver. Temos aí a relação da sensação do tempo com as nossas expectativas. Pesquisas foram feitas neste sentido, inclusive, baseadas neste provérbio, como apresentadas no livro "A Watched pot never boils: a study of duration experience" de R.A. Block e M.A. Reed, onde os autores colocaram dois grupos de voluntários diante de uma panela no fogo. O primeiro grupo foi avisado de perceberem quando a água fervia, ao outro, nada foi avisado. O intervalo do inicio da experiência e a fervura da água, parecia ser maior para os que estavam esperando o acontecimento do que para o outro grupo desavisado.

Temos aí a comprovação de que nossa expectativa em relação a algo, cria um tempo subjetivo maior, e quanto maior o tempo para a realização de algo que se espera, maior ansiedade é gerada. Estamos aqui falando do foco no objetivo sem se dar conta de quanto existe a ser feito até atingi-lo. Ajamos desde já conforme o que nossa natureza pede, sem pensarmos nos sonhos e realizações e veremos que rapidamente o atingiremos.

Arar a terra sem pensar na colheita nos fala o I Ching, no hexagrama 25. Nada mais sábio e passível de aplicabilidade no nosso dia a dia. Elimina expectativas, gera menos tensão e nos tornam mais produtivos.

Concorda comigo?