A inveja segundo Melanie Klein

É uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento
É uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento

Psicologia

16/04/2014

Onde nasce a inveja?


Melanie Klein (1991) aponta que a inveja é uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento. Ela surge no momento em que o bebê percebe-se impotente perante sua mãe (ou cuidador), no que concerne ao seu bem-estar, ou seja: quando ele precisa de cuidados ou alimento e seu cuidador não o gratifica de imediato, surge então um sentimento de inveja. A inveja daquela fonte criadora de bem estar, daquele seio farto do qual o bebê depende. Porém Klein vai ainda mais longe quando trata da destruição: Segundo ela a criança na posição esquizo-paranoide deseja destruir esse seio que ora lhe parece bom, ora lhe parece mau, para não ter de passar novamente por situações de frustração. Claro que isto é uma simplificação. Os conceitos são mais amplos.


Observe que a cadeia:  frustração -> raiva -> destruição


A Frustração todos conhecemos é a ausência de gratificação; um desejo contrariado.


A raiva é um sentimento absurdamente natural e que somos ensinados a reprimir como se fosse um pecado.
O desejo de destruição incomoda, pois ao perceber que o outro tem algo que não se pode ter e que muito se deseja pode haver uma tendência a destruir este objeto apenas não para lidar com a sua falta.


Alguns indivíduos chamam atenção nos meios onde vivem por possuem alguns atributos diferenciados. Infelizmente, alguns não conseguem conviver com o diferente e buscam formas de destruir o outro (seja na ordem do simbólico ou do real). Isto pode ser entendido como INVEJA que etimologicamente significa “não ver”:

“A inveja é a ejaculação dos olhos. Essa definição nos remete à própria etimologia da palavra inveja, formada pelos étimos latinos in (dentro de) + videre (olhar), que indicam claramente o quanto esse sentimento alude a um olhar mau que penetra no outro. Essa alusão acabou por se disseminar em diferentes expressões populares, tais como mau olhado, olho grande, olhar que seca pimenteira, entre outras"
. (Figueiredo; Ferreira, 2011, p. 181)


Este desejo de destruição existe para eliminar os parâmetros de comparação. É como se um time de futebol pudesse massacrar o time adversário que ganhou a partida, apenas pra esquecer a derrota.


A inveja pode ser caracterizada pela negação:

"Eu não queria mesmo...."

"Nem reparei que você tingiu o cabelo"


Ou pela racionalização:

“Claro que ela tirou notas boas. Passou a noite inteira estudando. Não fez mais do que obrigação”.

Quando falamos de “inveja branca”, não estamos nos referindo ao mesmo conceito, uma vez que esta “inveja branca” pode ser entendida como “Admiração”. A diferença básica é que na admiração não há desejo de destruição do outro e sim uma tendência à imitação (que pode ser bastante prejudicial se não houver parâmetros, já que pode ser entendida como uma espécie de roubo de identidade).



Referências:

FIGUEIREDO, Maria Flávia; FERREIRA, Luis Antonio. Olhos de Caim: a inveja sob as lentes da linguística e da psicanálise. Sentidos em movimento: identidade e argumentação. Coleção Mestrado em Linguística. 2011 - publicacoes.unifran.br

KLEIN, Melanie. Inveja, Gratidão e outros trabalho. Rio de Janeiro. Imago: 1991.


Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Maristela Vallim Botari

por Maristela Vallim Botari

Psicóloga Clínica CRP-SP - 06/121677 - Psicopedagoga Pós Graduada em Neurociências e Psicologia Aplicada (Mackenzie) Pós Graduada em Psicopedagogia (UniSantana - Escola Paulista de Negócios) Especialista em Neurpsicopedagogia (UCAM Prominas) Psicologa em SP

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