Breve histórico do uso de benzodiazepínicos e suas implicações

Os benzodiazepínicos são drogas com atividade ansiolítica
Os benzodiazepínicos são drogas com atividade ansiolítica

Psicologia

20/04/2014

BREVE HISTÓRICO DO USO DE BENZODIAZEPÍNICOS E SUAS IMPLICAÇÕES


Os benzodiazepínicos são drogas com atividade ansiolítica e foram lançados na década de 1960 apresentando na época, diversas vantagens se comparados aos barbitúricos (efeitos colaterais). Entre as vantagens destaca-se o baixo risco de intoxicação e menor dependência.


Entre as prescrições de benzodiazepínicos, destaca-se o Diazepan, que em 1991 obteve 34 milhões de prescrições, tendo um destaque na população idosa (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006; MONTEIRO, 2008).


De acordo com Monteiro (2008), “o uso indiscriminado desses medicamentos é uma realidade da nossa sociedade e é um motivo de preocupação das autoridades de saúde” (p. 03).


No decorrer do envelhecimento, há o aumento das doenças psiquiátricas e neurológicas, sendo que é escassa a produção de estudos a respeito do uso de medicamentos nessa fase da vida, sobretudo no que diz respeito ao uso crônico. Esse fato implica num desconhecimento sobre o real problema do consumo de benzodiazepínicos por idosos.


Quedas e fraturas estão entre um dos efeitos mais comuns do uso de benzodiazepínicos por idosos. De acordo com estudos da APA (1990), Associação Psiquiátrica Americana, o uso de benzodiazepínicos por mais de 04 meses, constituem fatores de risco para intoxicação, déficit cognitivo, dependência e aumento das taxas de fraturas provocadas por quedas, o que reforça estudos anteriores.


Apesar dos efeitos adversos e da falta de estudos no campo (sobretudo das implicações do uso prolongado desses medicamentos em idosos), os benzodiazepínicos têm sido usados no tratamento da insônia e da ansiedade.


O Diazepan é o único medicamento distribuído pelo Programa Dose Certa, (Programa Estadual de Assistência Farmacêutica) elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde – SP, sendo o único dessa classe utilizado em nível primário de atendimento pela rede pública na cidade de Tatuí-SP. Percebeu-se um elevado consumo desse medicamento nessa cidade, o que é indicado em sua distribuição mensal (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


Enquanto as doses utilizadas, o estudo apontou para doses diárias, do uso de Diazepan, que variam de 5mg/dia (8,57%) e 20mg/dia (10%), dose considerada acima da recomendada para esta faixa etária (acima de 60 anos). O tempo de utilização foi considerado mediano, visto que a média de tempo de consumo entre os entrevistados foi de 60 meses, sendo que o tempo mínimo é de seis meses e o máximo de 360 meses (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).

Em relação aos efeitos adversos, os resultados revelaram um aumento dos sintomas de angústia, dores na articulação, depressão e tonturas, esse último contribuindo muito para a maioria dos acidentes, como quedas e fraturas. Outro fato significativo foi às consequências da retirada abrupta do medicamento, caracterizando crises de ausência, insônia, ansiedade e irritabilidade (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


No que se refere às interações medicamentosas, foi possível observar que 80% dos pacientes entrevistados fazem uso de outros medicamentos adquiridos no “Programa Dose Certa”, sendo que os mais utilizados são: aminofilina, cimetidina, digoxina, e de propranolol que de acordo com o estudo, dispõe de interações negativas com Diazepan (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


Os riscos do uso de benzodiazepínicos em idosos superam os benefícios, pois induzem a amnésia, confusão mental, ataxia e quedas. Considerando os riscos apresentados até o momento e o fato dos benzodiazepínicos se encontrarem entre os medicamentos mais usados do mundo, é importante desenvolver critérios e escalas que possam medir os transtornos de ansiedade em idosos a fim de avaliar a fase de desenvolvimento em questão, visto que, o uso indiscriminado desse tipo de medicamento em pessoas acima de 60 anos tem se mostrado prejudicial (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


Outro fator importante a ser considerado, é a falta de conhecimento, pelo clínico, a respeito das implicações do uso desse medicamento em longo prazo (principalmente em idosos). A falta de precisão e os erros no diagnóstico em relação aos transtornos de ansiedade é um indicativo da falta de informação e de capacitação desses profissionais, o que tem resultado em prescrições indevidas, principalmente de psicotrópicos. Esse é um dado importante, o aumento do consumo de benzodiazepínicos nas últimas décadas (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


Observou-se também que a maioria dos sujeitos estudados fazia uso de Diazepan a pelo menos três anos, podendo ser um indicativo para instalação da dependência, fato observado a partir dos sintomas (insônia, ansiedade, irritabilidade, na ausência do medicamento) apresentados pelos sujeitos idosos estudados (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).


A dificuldade da interrupção do uso do benzodiazepínico está intimamente ligada à impossibilidade apresentada por muitas pessoas em suportar os efeitos das crises de abstinência, dessa forma, muitos médicos e pacientes preferem manter o consumo por muitos anos a ter que suspender o uso, o que reflete a grande dependência desse tipo de medicamento (CRUZ, FULONE, FERNANDES, MONTEBELO e LOPES, 2006).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Leonidas Valverde da Silva

por Leonidas Valverde da Silva

Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CCBS-Mackenzie); possui graduação em Psicologia pelo Mackenzie (2016); concluiu pesquisa de iniciação científica pelo PIVIC - Mackenzie (2015). Trabalha com pesquisa em Psicologia do desenvolvimento humano com enfoque em: saúde mental, psicopatologias e suas especificidades; autoestigma, internalização do estigma público por indivíduos com transtornos psiquiátricos.

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