O que os adolescentes buscam quando começam a usar drogas?
Psicologia
08/05/2014
A adolescência é um momento especial na vida do indivíduo. Nessa etapa, o jovem não aceita orientações, pois está testando a possibilidade de ser adulto, de ter poder e controle sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que "naturalmente" afasta-se da família e adere ao seu grupo de iguais. Se esse grupo estiver experimentalmente usando drogas, o pressiona a usar também. Ao entrar em contato com drogas nesse período de maior vulnerabilidade, expõe-se também a muitos riscos. O encontro do adolescente com a droga é um fenômeno muito mais frequente do que se pensa e, por sua complexidade, difícil de ser abordado.1
Intitula-se “droga” qualquer substância e/ou ingrediente utilizado em laboratórios, farmácias, tinturarias, etc.; um pequeno comprimido para aliviar uma dor de cabeça ou até mesmo uma inflamação, é uma droga. Contudo, o termo é comumente empregado a produtos alucinógenos ou qualquer outra substância tóxica que leva à dependência como o cigarro e o álcool, que por sua vez têm sido sinônimo de entorpecente.
Os levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens no mundo e no Brasil mostram que é na passagem da infância para a adolescência que se inicia esse uso. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de três milhões de crianças e adolescentes fumem tabaco. O álcool é usado pelo menos uma vez por mês por mais de 50% dos estudantes das últimas séries do que corresponde ao nosso ensino médio, sendo que 31% chega a se embriagar mensalmente.2 Dryfoos3 encontrou na população jovem americana (13 a 18 anos) as seguintes taxas de uso de tabaco, álcool e drogas: 12% de fumantes pesados (um maço ou mais ao dia); 15% de bebedores pesados (cinco ou mais doses por dia em três ou mais dias dos últimos 15); 5% fazem uso regular de maconha (20 ou mais dias no último mês); e 30% fazem uso frequente de cocaína (três ou mais vezes no último mês).4 O uso de drogas varia de acordo com o sexo e, em meninos, esse uso aparece associado com mais frequência à delinquência.5-7
A Dependência Química consiste no uso indevido de substâncias psicoativas, e não é considerada apenas a partir da intensidade do uso, mas principalmente pelas complicações físicas e psicossociais que suscita, variando ao longo de uma contínua de gravidade. Dentre as causas, podemos encontrar diversos fatores multifatoriais, tais como: sistema de recompensas falho, fatores genéticos; traumas e estresse nos ambientes familiar e social durante a infância e adolescência; etc.
Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são: curiosidade, influência de amigos (mais comum), vontade, desejo de fuga (principalmente de problemas familiares), coragem (para tomar uma atitude que sem o uso de tais substâncias não tomaria), dificuldade em enfrentar e/ou aguentar situações difíceis, hábito, dependência (comum), rituais, busca por sensações de prazer, tornar (-se) calmo, servir de estimulantes, facilidades de acesso e obtenção e etc.8
Os critérios para se determinar a Síndrome da Dependência, de acordo com DSM – IV 9 : Estreitamento de repertório: viver para usar e usar para viver. Saliência de beber: dar prioridade ao beber; Tolerância: necessidade de doses crescentes; Sintomas de abstinência: tremores, sudorese, rubor facial, irritabilidade, etc.; Alívio dos sintomas: usando novamente para evitar o mal estar; beber pela manhã, ou não tomar o café da manhã. Percepção subjetiva da compulsão para beber: não vê a hora de beber. Reinstalação da síndrome de dependência: ressurgimento dos comportamentos relacionados ao consumo e dos sintomas de abstinência após um período de abstinência. (20 dias ou 20 anos).
Um aspecto muito importante desse tema é como realizar a identificação do jovem que usa substâncias lícitas / ilícitas e tem problemas relacionados a isso, como por exemplo, a baixa autoestima, dificuldades de relacionamento, mau desempenho escolar, comportamento antissocial, risco de alcoolismo / drogadicção posterior, bem como outros problemas posteriores (desarmonia conjugal, depressão, transtornos do humor, etc). O uso de drogas é um fenômeno multifatorial que pode acontecer durante a adolescência, quando também podem surgir outros transtornos psicológicos, comportamental e social. Assim, uma avaliação inicial cuidadosa dos jovens com quem mantemos contato em nossa rede de ensino e/ou comunidade pode auxiliar o diagnóstico e melhorar o prognóstico, pois esses sujeitos não buscam ajuda por conta própria, principalmente quando estão enfrentando dificuldades relacionadas ao uso de drogas.
O objetivo dessa avaliação é estabelecer um vínculo equipe preventiva x aluno; investigar sobre a saúde física e mental; sobre o comportamento e o relacionamento social e familiar; o ajustamento escolar: e, finalmente, sobre o uso de drogas e os problemas a ele associados, estabelecendo uma história sobre o uso de drogas na vida. A seguir, define-se a gravidade do uso de drogas e suas consequências, desenvolvendo um plano de intervenção subsequente, com metas e critérios de abordagens esperados com o plano de ação na Instituição.
A identificação do adolescente de risco em função do uso de álcool ou drogas e a definição do melhor tratamento ainda são assuntos bastante complexos e alvo de muitas discussões. Algumas características do adolescente de risco podem auxiliar os trabalhos preventivos e de triagem para minimizar esse problema. Segundo Newcomb (1995)10, os fatores de risco para o uso de drogas incluem aspectos culturais, interpessoais, psicológicos e biológicos. São eles: a disponibilidade das substâncias, as leis, as normas sociais, as privações econômicas extremas; o uso de drogas ou atitudes positivas frente às drogas pela família, conflitos familiares graves; comportamento problemático (agressivo, alienado, rebelde), baixo aproveitamento escolar, alienação, atitude favorável em relação ao uso, início precoce do uso; susceptibilidade herdada ao uso e vulnerabilidade ao efeito de drogas.
Pesquisas etnográficas e epidemiológicas utilizando uma metodologia rigorosa podem fundamentar projetos e prevenção em todos os níveis, fornecendo dados e elucidando muitas questões, pois o custo pessoal e social com a dependência nos países desenvolvidos tem sido muito maior que o gasto com a prevenção. No Brasil, mesmo sem tradição nessa área, é preciso priorizar políticas preventivas, gerando projetos mais ajustados à realidade brasileira, pois prevenir ainda é melhor que remediar.11
Referências
1. Institute of Medicine. Treating drug problems: a study of the evolution, effectiveness, and financing of public and private drug treatment systems. Report prepared by the Institute of Medicine, Committee for the Substance Abuse Coverage Study, Division of Health Care Services. Washington (DC): National Academy Press; 1990.
3. DRYFOOS, J.G. Adolescents at risk: prevalence and prevention. New York: Oxford University Press; 1990.
4. WEINBERG, N.Z.; RAHDERT, E; COLLIVER, J.D.; GLANZ, M.D. Adolescent substance abuse: a review of the past 10 years. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1998;37:252-61.
5. CARON, C.; RUTTER, M. Comorbidity in child psychopathology: concepts, issues, and research strategies. J Child Psychopathol Psychiatry 1991;32:1063-80.
6. OFFORD, D.; BOYLE, M.H.; RACINE, Y.A.; FLEMING, J.E.; CADMAN, D.T.; BLUM, H.M.; et al. Outcome, prognosis, and risk in a longitudinal follow-up study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1992;31:916-23.
7. CLARK, L.A.; WATSON, D.; REYNOLDS, S. Diagnosis and classification of psychopathology: challenges to the current system and future directions. Annu Rev of Psychol 1995;46:121-52.
8. Disponível em : <http://webcache.googleusercontent.com/search?=cache:6s5IKANMNFQJ:http://www.brasilescola.com/drogas/%2Bdrogas&hl=pt&gbv=2&ct=clnk> Acessado em: 10 dez. 2012
9. DSM-IV - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1995.
10. NEWCOMB, M.D.; BENTLER, P.M. Substance use and abuse among children and teenagers. Am Psychol 1989;44:242-8
11. CRUZ, M.S. Práticas médicas, toxicomanias e a promoção do exercício da cidadania. In: Acselrad G, org. Avessos do prazer: drogas, AIDS e direitos humanos. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ 2000. p. 233-43.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Martina Garcia Barbosa
Psicóloga (Clínica, Escolar e Organizacional Instituto Federal Farroupilha Campus São Borja/RS);
Especialista em Gestão de Pessoas;
Psicóloga Perita Examinadora de Trânsito;
Psicóloga Avaliadora Perícias Judiciais.
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