A Face Enganosa de Eros: O Logro da Paixão na Literatura e na Psicanálise

Interfaces da Paixão com a Psicanálise e a Literatura
Interfaces da Paixão com a Psicanálise e a Literatura

Psicologia

14/05/2014

Introdução

O objetivo principal deste trabalho é a abordagem da paixão enquanto “enganação”, e de que forma ele é pensado, nesta faceta, pela Literatura e pela Psicanálise. Essa temática é recorrente em toda a história da literatura ocidental, a qual nos legou inspirados e enlevados escritos sobre o assunto, como: O Banquete, de Platão; Amores e Arte de Amar, ambos de Ovídio; Do Amor, de Stendhal entre outros. É interessante tentarmos pensar o assunto através de outro recorte epistemológico, o da ciência da psiquê idealizada por Freud e sua releitura empreendida por Lacan. Ambos os autores dedicaram vários de seus escritos e reflexões para se colocar frente ao tema. Textos clássicos de Freud como: Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914), e Psicologia de Grupo e Análise do Ego (1920), abordam a temática e lançam luz sobre a dinâmica e os efeitos da paixão amorosa no psiquismo de um sujeito e seus desdobramentos clínicos.


Já Lacan se preocupa com o tema em diversos seminários, desde o início do seu ensino na década de 1950. Os Escritos Técnicos de Freud (1953) dá começo a essa empreitada, passando por A Relação de Objeto (1956), A Transferência (1960), Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1964) e Mais, Ainda (1972). Partindo das ideias de Freud e avançando-as, Lacan tenta ao longo do seu ensino inscrever a paixão no registro imaginário.


Esse trabalho teve como foco observar e tomar apenas um aspecto da paixão: a sua faceta de logro, enganação. Partindo disso, traçar um panorama de como isso é visto dentro da Literatura e da Psicanálise. Saber quais mecanismos possibilitam essa “ilusão” na paixão e seus efeitos no sujeito é o principal objetivo dessa produção.


O interesse de tal estudo partiu dos atendimentos realizados no ambulatório de Psicologia do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, pois a face da paixão enquanto “completude”, “fusão de dois em um”, “perfeição”, “totalidade”, figura recorrentemente no discurso de alguns pacientes e como consequência disso afetam a forma como esses sujeitos pensam a si mesmos, bem como o que procuram no outro e se colocam no trânsito da vida.


Metodologia
A metodologia utilizada foi revisão de bibliografia, onde diversos livros relativos ao assunto foram usados para leitura e cotejados em seus argumentos, possibilitando que esse trabalho pudesse ser fundamentado e tomasse forma.


Resultados e Discussão
Antes de qualquer coisa se faz importante uma distinção entre a Paixão e o Amor. Através da pesquisa que foi empreendida percebeu-se que a maioria dos autores não faz uma distinção clara dos dois termos e inclusive usam os dois ao mesmo tempo, como se os mesmos possuíssem o mesmo significado. O termo Amor é mais comumente usado pelos autores em detrimento de Paixão, que também se valem de tais termos em seus escritos: "Amor-paixão", “Paixão amorosa” e etc.


Antes de estabelecer uma diferença entre os dois termos, para que a confusão possa ser dirimida, é importante atentar para o fato que a dimensão de logro, enganação, está presente tanto na Paixão quanto no Amor. Mas, embora essa qualidade esteja presente nesses dois estados da alma, a paixão é eminentemente narcísica, imaginária, e ligada a uma idealização do outro como um ser perfeito. De acordo com Vieira (2012, p.19) a paixão seria um amor à primeira vista. Por isso, o autor coloca: “(...) é que ele não existe sem a visão, sem a súbita captura pela imagem da amada.” (Vieira, 2012, p.19). Esse elemento imaginário da paixão é de extrema importância, pois é nele que irão se centrar a maioria dos argumentos psicanalíticos acerca do logro.


O Amor subsistiria, assim, como aceitação do outro como um ser em falta, imperfeito. Dessa forma, o Amor ao centrar-se no registro da falta estaria para além da Paixão como algo que sobreviveria do enlouquecimento de completude e enlevo causado por ela. Aos expormos essas coordenadas podemos perceber agora que vários escritos dedicados ao tema do “Amor” versam na verdade sobre a Paixão, como se dá com Stendhal (1822) em seu magistral tratado Do Amor.


O autor eleito para fundamentar o conceito de Paixão enquanto júbilo e enganação será Henri-Marie Beyle, vulgo Stendhal. Esse escritor é mais conhecido pelos seus dois livros: A Cartuxa de Parma (1838) e O Vermelho e o Negro (1830). O tema amoroso é abordado por ele em Do Amor (1822), onde expõe a Paixão desde o seu nascimento e pensando, inclusive, quais os fatores envolvidos no surgimento desse estado e seus desdobramentos psicológicos.
Stendhal (1822) traz que sete são os passos que se dão em qualquer sujeito quando apaixonado, desde o surgimento até a instalação desse estado de espírito. O primeiro deles é a Admiração. Partindo desse primeiro ponto passamos para o segundo, no qual “Falamo-nos: Que prazer dar-lhe beijos, recebê-los, etc.!” (2011, p.13). A Esperança surgiria como desdobramento dos dois pontos anteriores e nos diz ele que “Estudamos as perfeições; (...) o olhar enrubesce no momento da esperança; a paixão é tão forte, o prazer é tão vivo que se trai por meio de sinais marcantes” (2011, p.13). Após isso temos como quarto desdobramento o nascimento da paixão que pode ser definida por ele como “... ter prazer em ver, tocar, sentir através de todos os sentidos, e tão perto quanto possível, um objeto amável e que nos ama” (2011, p.13).


Após os quatro passos iniciais Stendhal traz o processo de Cristalização enquanto sendo o quinto desdobramento do processo de apaixonamento. Esse mecanismo será crucial para entendermos a face da paixão enquanto logro. Sobre a cristalização Stendhal (2001, p.14) diz: “(...) O que eu chamo de cristalização é o trabalho do espírito que extrai de tudo o que apresenta a descoberta de que o objeto amado possui novas perfeições. (...) Basta pensar em uma perfeição para vê-la em quem se ama”. O sexto passo é a Dúvida que atormenta os apaixonados e que nos leva para o sétimo e último desdobramento, uma segunda cristalização. Sobre esses últimos pontos o autor nos diz: “Ela me ama. (...) Seu peito esquece-se de respirar; ele se fala: Mas será que ela me ama? Em meio a essas alternativas dilacerantes e deliciosas, o pobre amante sente vivamente: Ela me daria prazeres que só ela no mundo poderia me dar” (2011, p.15)
Esse "trabalho do espírito", cristalização, que Stendhal fala é exatamente o confere o caráter de logro ao amor. O autor (2011, p.20) diz para fazermos uma experiência: Se pegarmos um galho seco e o jogarmos em uma mina de sal veremos que ao retirá-lo depois de três meses esse mesmo galho estará com uma aparência completamente diferente. O galho estará inteiramente coberto por cristais de sal, conferindo ao mesmo uma beleza admirável e que ele antes não a possuía.


Isso é o que acontece, de maneira análoga, quando se está apaixonado por alguém. Dessa forma, a pessoa que nos causou o estado de apaixonamento passará a exibir qualidades não por si própria, mas pela nossa construção mental acerca dela.
Outro texto literário que pode nos ajudar a pensar o tema e ajudar-nos no encaminhamento de ideias é O Banquete (380 a.c) de Platão. Façamos uso dele para estabelecermos a noção de Amor, e também de Paixão, para os gregos e como era a sua experiência nessa cultura, berço da civilização ocidental. Os efeitos de como esse tema era tomado na época tem reverberações no nosso imaginário até os dias de hoje.


A concepção de Amor trabalhada em O Banquete, embora enquanto discurso filosófico vise o universal, é importante para pensarmos a incidência do mito na escala do sujeito. Mesmo todo o diálogo platônico girando em torno do tema "Amor" os discursos do simpósio que foram tomados para fundamentar esse trabalho são os proferidos por Aristófanes e por Sócrates, pois talvez eles sejam os que melhor sirvam para ilustrar o Eros enquanto possuindo uma falta estrutural. Falta essa que através de recursos psíquicos, diz a Psicanálise, tentaremos tamponar.


Platão (2008, p.120), via discurso de Aristófanes, nos conta que existia um sexo chamado de "composto", e que o mesmo poderia ser formado pela união do sexo masculino e feminino, masculino e masculino ou feminino e feminino. Sendo que os indivíduos desse sexo eram bastante audaciosos e passaram a desafiar os deuses. Zeus pensa acerca do que fazer para castigá-los e decide dividi-los ao meio. Assim eles teriam menos força, por agora estarem divididos entre homens e mulheres, e seriam mais numerosos para cultuar os deuses. Aristófanes diz: "Assim seccionada a natureza humana, cada uma das metades pôs-se a procurar a outra." e "É daí que se origina o amor que as criaturas sentem umas pelas outras; e esse amor tende a recompor a antiga natureza, procurando de dois fazer um, e assim restaurar a antiga perfeição" (...) "E o amor é o desejo e a ânsia de completação dessa unidade" (2008, p.121).


Sócrates no banquete, através do discurso de Diotima, fala sobre o nascimento de Eros e diz o mesmo não ser Deus nem humano, pois se fosse Deus não precisaria procurar por coisas belas, algo que o amor tem como alvo. Dessa forma, Platão diz que o Eros não é considerado Deus por alguns, pois o mesmo é privado de algo que todos os deuses possuem: Beleza e Felicidade. Por faltar-lhe essas coisas é que ele as procura. Logo, procuramos beleza e felicidade em quem amamos.
Pode-se fazer um contraponto ao se tomar o discurso de Aristófanes e Sócrates, pois de acordo com as coordenadas estabelecidas no início do trabalho o primeiro representa o que seria a paixão e o segundo o amor. O Eros, como diz Platão (2088, p.140), ao ser filho do Recurso e da Pobreza mostra algo de uma certa consciência da falta estrutural no outro e sua aceitação. Algo que não ocorre na loucura entorpecedora trazida pelo apaixonamento, já que ao estarmos nesse estado não reconhecemos as falhas e defeitos do outro.
É importante o cotejamento do que foi dito anteriormente com o que Stendhal chama de Cristalização, pois para Platão é como se o objeto visado pelo amor tivesse características belas em si mesmo, diferente do que é sustentado por Stendhal e pela Psicanálise, onde o objeto amado ganhará características novas através de uma criação mental nossa. Isso daria a paixão o efeito de logro. Algo que está tanto em Platão quanto na Psicanálise é que Sócrates ao narrar o mito do nascimento de Eros diz que o mesmo é um ser faltante por natureza. Isso é algo que já mostra a falha na ilusão de felicidade buscada pelos amantes.


Freud denuncia esse caráter alienante da paixão através de quase todo texto Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914) bem como no capítulo VIII, Estar Amando e Hipnose, de Psicologia de Grupo e Análise do Ego (1920). Freud chama de "Idealização" a mesma operação mental que Stendhal chama "Cristalização".


Freud diz: "Com relação a essa questão de estar amando, sempre ficamos impressionados pelo fenômeno da supervalorização sexual; o fato do objeto amado desfrutar de certa liberdade quanto à crítica, e o de todas as suas características serem mais altamente valorizadas do que as das pessoas que não são amadas, ou das próprias características dele numa ocasião em que não era amado." (1996, p. 122)


Ele sustenta que muitas vezes a paixão se dá por causa das perfeições que desejamos conseguir para o nosso próprio eu, ao imaginarmos que o outro as tem para nos completar. Tentamos ilusoriamente nos satisfazer através do outro, satisfazendo assim o nosso próprio narcisismo. Ainda em Freud (1996, p.122): "Vemos que o objeto está sendo tratado da mesma maneira que o nosso próprio ego, de modo que, quando estamos amando, uma quantidade considerável de libido narcisista transborda para o objeto."


Sobre essa idealização que criamos do outro no apaixonamento Freud diz: "A idealização é um processo que diz respeito ao objeto (...) esse objeto sem qualquer alteração em sua natureza é engrandecido e exaltado na mente do indivíduo." e "o estar apaixonado consiste no fluir da libido do ego em direção ao objeto(...) Exalta o objeto sexual transformando-o num ideal sexual" (1996, p. 123).


Dentro do percurso teórico de Lacan o tema foi abordado diversas vezes. No Seminário 1, Os Escritos Técnicos de Freud (1954), Lacan diz ao retomar o texto de Freud sobre o narcisismo: "O amor é um fenômeno que se passa ao nível do imaginário e que provoca uma verdadeira subdução do simbólico, uma espécie de anulação, de perturbação da função do ideal do eu. O amor reabre a porta (...) à perfeição”(2009, p.188)


É preciso dizer que o registro do imaginário em Lacan se dá ao nível do que Freud chama de eu, instância alienada e lugar do narcisismo. Ao falar que no amor há uma "Subdução do simbólico" ele quer dizer que mesmo estando no registro do simbólico (lugar da falta, incompletude) o sujeito ao estar amando recai no registro imaginário e no logro de vir a ser completo, como acreditava ser antes de entrar na ordem da linguagem. Por isso é que a paixão "reabre a porta (...) à perfeição". Uma paciente sempre traz para a sessão a importância da presença do seu eleito, e como essa presença mostra-a que apenas ele é suposto ter algo que a complete.
Um dos efeitos de se estar apaixonado é acreditar em uma pretensa completude, perfeição, na qual uma felicidade seria alcançada. Mas esse movimento denuncia exatamente a falta estrutural que nos constitui. Então: “É o seu próprio eu que se ama no amor, o seu próprio eu realizado ao nível imaginário.” (Lacan, 2009, p.189). Isso me faz lembrar do discurso de uma paciente que ao falar da sua relação com o companheiro diz que o ideal seria quando houvesse uma fusão completa dos dois, onde neste suas diferenças individuais seriam subtraídas.


É interessante dizer que em Psicanálise essa dimensão do apaixonamento amoroso, enquanto ilusão, se dá sempre no registro do eu, tanto para Freud quanto para Lacan. Esse último, embora tenha tentado inscrever o Amor no registro simbólico e real, para além de Freud, sempre que quer ressaltar a dimensão de logro o faz no registro imaginário. Dessa forma, mesmo Freud e Lacan se utilizando do termo “Amor” todo o tempo podemos perceber que ao tratá-lo no registro do eu estão falando de Paixão. No seminário Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, proferido em 1964, Lacan diz:

“Que maneira melhor de se garantir, sobre o ponto em que nos enganamos, do que persuadir o outro da verdade do que lhe adiantamos! Não está aí uma estrutura fundamental da dimensão do amor (...)? Ao persuadir o outro de que ele tem o que pode nos completar, nós nos garantimos de poder continuar a desconhecer precisamente o que nos falta. O círculo da tapeação (...) faz surgir a dimensão do amor.” (2008, p.132)


Cabe ainda aqui enquanto finalização uma provocação feita por Lacan no Seminário Mais, Ainda (1972): "Do que é que se trata então no amor? O amor, será que - como promove a psicanálise com uma audácia tanto mais incrível quanto isto mais vai contra toda a sua experiência, enquanto mais ela demonstra o contrário- O amor, será que é fazer um só? Eros, será ele tensão para o Um?."


Considerações Finais


Frente à constatação de que “Quando abordamos o amor nesse ponto zero, da paixão imaginária, ele é isso, uma imagem a nos capturar” (Vieira, 2012, p.20), podemos afirmar que essa imagem do outro idealizado, que nos captura e nos deixa fora de nós mesmos, se forma através de mecanismos psíquicos e fazem parte da dinâmica mental dos sujeitos, como denunciado por Stendhal e pela Psicanálise.


O tema da Paixão é bastante abrangente e poderíamos fazer bastantes leituras diferentes sobre o mesmo. Algo tão complexo e multifacetado como esse assunto parece colocar à prova qualquer discurso que tente abarcá-lo, ficando todo ele bem aquém dessa pretensão. Contudo, pensar em alguns dos seus aspectos nos ajuda a entender a forma como os seres humanos o vivenciam e sua incidência sobre suas trajetórias de vida, fazendo com que a eleição do tema seja importante e necessário de ser pensado.

Referências

BEYLE, M-H. Do Amor. 2. ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 2011.


BEYLE, M-H. O Vermelho e o Negro. 3. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2010.


CONSTANT, Benjamin. Adolfo. 1. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.


CRUXÊN, Orlando. A Sublimação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.


FREUD, S. A História do Movimento Psicanalítico, Artigos Sobre a Metapsicologia e Outros Trabalho, 1914-1916. Edição Standard brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.


__________ Além do Princípio do Prazer, Psicologia de Grupo e Outros Trabalhos, 1920-1922. Edição Standard brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
LACAN, J. Mais, Ainda. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.


LACAN, J. Os Escritos Técnicos de Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.


LACAN, J. Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.


OVÍDIO. Amores & Arte de Amar. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.


PLATÃO. Apologia de Sócrates, O Banquete. 3. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008.


SHAKESPEARE, William. Sonho de Uma Noite de Verão. 2. ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 2011.


SHAKESPEARE, William. Trabalhos de Amor Perdidos. 2. ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010.


VIEIRA, Marcus. A Paixão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2012.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Allan Rooger Moreira Silva

por Allan Rooger Moreira Silva

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco.

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