Esporte é tomado como um fenômeno social que expressa anseios
Psicologia
24/05/2014
No artigo “Agressividade no Esporte” de Balbino, Miotto e Santos (apud MACHADO, 1997), o esporte é tomado como um fenômeno social que expressa anseios que estão presentes em uma sociedade. Ao falar da violência relacionada aos meios esportivos lembram que a agressividade que se acumula pode nem sempre estar relacionada a questões esportivas, mas sociais. O que acontece no esporte é uma espécie de permissão para cometer certo nível de agressividade fazendo com que não se aprenda as proibições internas que controlem esse nível.
Segundo os referidos autores a atitude agressiva surge como consequência da acumulação da frustração, juntamente com questões angustiantes como insegurança vital e a preocupação com a morte, até os problemas cotidianos. A forma mais civilizada para descarregar essa frustração e agressividade seria o desporto que para eles é “um canal universal e barato de liberação, ou seja, como uma válvula de escape” (92 pg.).
Se o esporte é um fenômeno social e a ele se aplicam as leis de funcionamento da sociedade que é conflituosa, a organização do esporte também assim o será. “Se as relações de poder e domínio imperam no funcionamento da sociedade, o mesmo acontecerá no funcionamento do mundo esportivo” (FERRANDO E BASSOLS apud Balbino, Miotto e Santos, 1997, 92 pg.).
Conceituando o termo agressão a partir de Gill (apud Samulski 2002, 198 pg.) surgem quatro critérios de agressão, a agressão é um comportamento humano que envolve lesões e danos, é direcionada a outra pessoa e envolve intenções e motivos.
Samulski (2002) diz que se um ato só é considerado agressivo se tiver intenção de machucar a outra pessoa e que “agressão é um comportamento físico ou verbal e não apresenta uma atitude ou emoção. Envolve lesão, a qual pode ser tanto física quanto psicológica. É direcionada a outra pessoa ou a si mesmo. É um comportamento intencional” (198 pg.).
Para Gabler (apud Samulski, 2002, 94 pg.) “um comportamento é denominado agressivo quando existe só a intenção ou o desejo de prejudicar outra pessoa – independentemente da realização da ação agressiva e os efeitos prejudiciais pretendidos”. Para além dessa definição da agressividade, Gabler denomina uma conduta como agressiva “quando uma pessoa desrespeita as normas sociais e as regras esportivas e pretende prejudicar outra pessoa no sentido de provocar-lhe um prejuízo ou dano pessoal, do qual pode resultar alguma forma de lesão ou sofrimento psíquico” (Gabler, 1987, 95 pg.).
Existem quatro tipos de agressões citadas por Samulski (2002), a agressividade hostil – prejudicar ou lesar explicitamente outra pessoa, a agressão instrumental – conduta agressiva para realizar metas e impedir o adversário de alcançar uma meta, as agressões afetivas – aparecem em situações de grande carga emocional (estresse emocional) a pessoa age de forma impulsiva, e a autoagressão – comportamento agressivo contra si mesmo, consequência de sentimentos de culpa e frustração. “A violência representa uma forma de comportamento agressivo, pelo qual uma pessoa pretende lesar ou prejudicar intencionalmente outra pessoa gravemente” (Samulski, 2002, 201 pg.)
Samulski (2002) destaca dois tipos de agressão das acima referidas e os fatores e determinantes que podem influenciar a agressão instrumental e a agressão afetiva. As agressões instrumentais que “se desenvolvem por meio de processos de aprendizagem social – observação ou imitação de modelos agressivos, dependem das intenções e dos motivos de cada pessoa e da modalidade esportiva” (202 pg.). Já a agressão afetiva “pode ser dirigida a outras pessoas e objetos ou a si mesmo (autoagressão). O nível de frustração, ansiedade e tolerância a dor influenciam de forma decisiva o surgimento da agressão afetiva” (202 pg.).
Para o mesmo autor, o surgimento desses comportamentos também está relacionado com fatores como o nível de excitação (arousal level) de uma pessoa e de estímulos agressivos externos, como por exemplo, torcedores agressivos.
No esporte de alto nível as atitudes agressivas variam de acordo com as intenções dos participantes, as características da modalidade esportiva quanto às regras e o comportamento da arbitragem. Para Samulski (2002), a interação entre as agressões dos atletas e as dos torcedores caracteriza o comportamento agressivo, como também os fatores estruturais, ou seja, as regras, juntamente com os fatores situacionais, como a quantidade de torcedores, e ainda as disposições individuais, ou nível de agressividade, são decisivos para o surgimento de comportamentos agressivos (204 pg.).
Alguns fatores como as especificidades da modalidade esportiva estão ligadas diretamente as condutas agressivas. Esses fatores são: jogo local/jogo como visitante, importância do jogo, nível de rendimento dos jogadores, placar do jogo, posição e tarefa tática do jogador, comportamento do árbitro, comportamento dos técnicos, quantidade e comportamento dos torcedores e estrutura das regras esportivas.
Samulski (2002) diz que investigações realizadas em esportes coletivos como o futebol, revelam que a conduta agressiva no esporte é aprendida e adquirida por meio de processos de socialização onde os atletas jovens aprendem a partir da observação e imitação dos jogadores profissionais que tem atitudes agressivas e violentas durante os jogos.
O surgimento de comportamentos agressivos ou violentos está relacionado com a importância emocional que o jogo representa para cada um dos jogadores, como também as expectativas dos torcedores podem influenciar os jogadores durante o jogo, e de igual forma o comportamento agressivo e violento dentro de campo pode influenciar os torcedores contra o árbitro e criar um clima emocional de violência.
“As condutas agressivas e violentas são toleradas pelos jogadores na medida em que as regras oficiais as permitem. Às vezes os jovens atletas aprendem que as regras são um obstáculo no caminho para alcançar o êxito” (SAMULSKI, 2002, 206 pg.).
É necessário que se resgate o esporte como um instrumento de socialização, e a infância é um dos melhores momentos para que isto seja feito, evitando que o futebol torne-se um problema social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, Afonso Antônio (Org). Psicologia do Esporte: temas emergentes 1. Jundiaí: Fontoura, 1997.
Samulski, Dietmar Martin. Psicologia do Esporte: manual para a educação física, psicologia e fisioterapia. Barueri – São Paulo: Manole, 2002, p.197-214).
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por Caroline Daronch da Silva Ziani
Psicóloga formada pela Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Realiza avaliação e acompanhamento psicológico na cidade de Santa Rosa RS e Região. Interesse em ações em Psicologia voltadas para o bem-estar e qualidade de vida.
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