Interfaces entre televisão e ansiedade gerada pela sensação de insegurança

O papel que os programas policiais
O papel que os programas policiais

Psicologia

27/06/2014

INTRODUÇÃO

Existem inúmeros estudos que apontam para os vieses ideológicos produzidos pelos meios de comunicação de massa. Adorno (1947), por exemplo, já preconizava uma indústria cultural que, em linhas gerais, submetia não só toda produção humana ao consumo, mas que definia o próprio consumo.


Nesse contexto, a televisão figura como um importante veiculador de propósitos. Ao aliar palavras, sons e imagens, ela trabalha com os sentidos. Só que essa tarefa estésica que cumpre é pensada em todos os detalhes para conseguir a adesão, a qual assegurará, por conseguinte, poderio econômico. Todavia, desconsidera o bem-estar de seu público alvo, conforme se pretende mostrar adiante.


Exemplos disso são os programas do gênero policial. Muito comuns nas grades de programação brasileira desde os anos noventa, quando o SBT “colocou no ar” o Aqui Agora, que tratam diariamente da violência, com imagens de mortes e de criminosos expostas à exaustão. Será que essa predileção pelo que Belloni (1996) chama de estética da violência não deixa rastros no público que recebe essas informações? Não seria o telespectador um mero receptáculo de conteúdos que geram ansiedade e, assim, desprovido de qualquer contato com sua subjetividade?


Leal Filho (2006) chama os programas policialescos de “verdadeiros infernos televisivos do final da tarde”. E acrescenta:
A partir da segunda metade da década de 1990, uma série de programas policiais – ou policialescos – invadiu os finais de tarde da televisão brasileira. Os títulos revezaram-se entre Rede Bandeirantes, Rede Record e Rede TV; Cidade Alerta, Brasil Urgente, Repórter Cidadão, para citar alguns. Todos, porém, guiados por um fio condutor que envolve o maniqueísmo, a banalização da violência e o discurso moralista como solução de todos os problemas. (FILHO, 2006, p. 114)


Tomando por base o tripé ideologia-sensação-insegurança, destacamos os dois maiores expoentes dos programas policiais em exibição atualmente na rede aberta de televisão no estado de São Paulo, o Cidade Alerta, transmitido pela Rede Record, e o Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes. Ambos, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE), estão entre as cinco maiores audiências dessas emissoras.


MÉTODO
Este trabalho considerou uma amostra de 08 (oito) edições aleatórias do Cidade Alerta (Rede Record) e de 08 (oito) edições aleatórias do Brasil Urgente (TV Bandeirantes), no período entre junho de 2013 e maio de 2014.


Com base na observação do discurso dos apresentadores, das legendas e imagens utilizadas nos programas, dos bastidores da televisão (FILHO, 2006), do conteúdo veiculado e de aspectos teóricos como os de ideologia (CHAUÍ, 1980) e semiótica (FECHINE, 2008), foram extraídas 5 (cinco) categorias de análise:

1. O caráter ideológico;
2. O caráter sensorial;
3. A exploração da insegurança;
4. As dimensões política, econômica e psíquica;
5. A retirada da angústia.

A primeira categoria trata de semiótica e expõe como a combinação entre imagens e sons interferem na percepção do telespectador. A segunda coloca como são feitas escolhas pontuais para a definição da pauta dos programas, enquanto a terceira e a quarta pretendem demonstrar como a insegurança é explorada sob três prismas. Já a última categoria aponta para o mecanismo que faz com que o telespectador seja assíduo.


O CARÁTER IDEOLÓGICO

Chauí (1980) coloca ideologia como algo que tem “papel de comando sobre a prática dos homens” e papel no fazer televisão se configura pelo que anuncia Menezes:

Envoltos em uma aura homogeneizadora, os mass media impõem mensagens que interferem na vida de todos, independente da vontade individual. Ao criar conteúdos despersonalizados e uniformes, os instrumentos de comunicação de massa [mass media] tentam adaptar determinados tipos de características no maior grupo de pessoas, reduzindo resistências, cultivando ideias incrustadas e/ou incutindo nova carga ideológica que atende aos interesses institucionalizados. (MENEZES, 2011, p.3.)


Feita para pessoas a televisão é, antes, feita por pessoas. O que as lentes vão mostrar para o mundo passa por um juízo prévio, desde a escolha do conteúdo ao modo de capturar as imagens, o que já significa um recorte da realidade. Logo, por ser um recorte não configura a realidade de fato, mas o viés de alguém.


Apesar de serem concessões estatais, as emissoras se sustentam, basicamente, pelos anúncios de propaganda, o que aufere aos números de audiência muita importância. Sendo regida pelo capital, a relação da televisão com seu público é, portanto, uma relação de mercado.


Conhecer esse mercado é, assim, premissa básica e à medição da audiência acrescentam-se pesquisas de gostos e tendências. Mas as emissoras não só coletam informações como parecem atuar numa lógica: não basta dar a esse público somente o que ele quer assistir. Mais fácil do que tentar entender os gostos do seu público-alvo, melhor dizer a ele quais são suas próprias preferências.


Donald Shaw e Maxwell McCombs (1972), criaram a Teoria do Agendamento (ou Agenda Setting), que consiste, basicamente, no fato da imprensa ofuscar alguns temas para priorizar outros. Com isso, o que se tem são corporações pautando os assuntos da esfera pública, dizendo às pessoas não "como pensar", mas "em que pensar". E isso é bastante alarmante considerando que:

A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias. (CHAUÍ, 2000, p.221).


Partindo do pressuposto de que existem escolhas deliberadamente propositais na televisão, é interessante observarmos algumas delas para revelarmos tais intenções: o nome do programa, horário a ser exibido, os apresentadores e o tipo de linguagem predominante.
No caso do Cidade Alerta e do Brasil Urgente o nome de ambos já diz muita coisa. No primeiro, a escolha da palavra Alerta remete à vigilância, mas também à prontidão e agilidade. Isto é, de um lado o programa parece querer evocar o estado vigil do público, mas também reforça o seu próprio papel como detentor desse estado de vigilância, prontidão e agilidade. Cidade Alerta tanto quer dizer “que se está alerta aos acontecimentos” quanto emula um estado de espírito. Não à toa a palavra Alerta está escrito em vermelho no logotipo, destacando-se de Cidade, escrita em azul.


O Brasil Urgente também se vale desse expediente ao colocar uma palavra que remete a algo que não pode ser adiado, que urge. Parece querer colocar um país inteiro em estado de urgência, anunciando o imediatismo da notícia, dos fatos.


O horário em que ambos são exibidos também indica intenção. Os dois começam próximos das dezessete horas, momento em que normalmente se encerra o expediente comercial da maioria das empresas, o horário de rush. A saída dos trabalhadores “coincide” com o fim da morosidade da tarde e sua programação amena de filmes ou programas de entretenimento. Com mais pessoas nas ruas, a probabilidade de algo relevante acontecer é muito maior.


Outra escolha que merece atenção é a dos apresentadores que comandam as atrações. O carisma para ter a empatia do público parece ser fundamental. Marcelo Rezende, apresentador do Cidade Alerta e José Luiz Datena, apresentador do Brasil Urgente, são, antes de tudo, personagens. Criam bordões, falam grosso e dialogam com personagens secundários (Rezende usa o comentarista de segurança, Percival de Souza, e Datena dialoga com sua produção o tempo todo).


Eles narram fatos policiais como se fossem histórias. E esse dado sobre como narrar os fatos tipifica maneiras de como usar a linguagem a seu favor. Na emissão da própria opinião somada ao uso de vocativos, invocando o telespectador, se revelam as duas principais funções da linguagem usada pelos apresentadores visando a atenção do público, que são a expressiva (ou emotiva) e a conativa (ou apelativa).


Vejamos um exemplo do uso da linguagem emotiva e apelativa ao mesmo tempo, num relato de Rezende quando este vê a repórter segurando o retrato falado de um estuprador:

Eu fico imaginando o sentimento que ela deve ter. Mais do que uma repórter segurando um retrato falado, é uma mulher mostrando pra todos nós um homem que violenta mulheres. E isso talvez tenha toda uma simbologia definitiva. A pena para um homem que violenta uma mulher de quinze anos devia ser a pena de morte.
Ao narrar em primeira pessoa Rezende está transmitindo suas próprias emoções, tanto que conclui opinando sobre a pena que o acusado deveria ter. E faz isso parecendo querer conciliar o público feminino com a imagem da repórter, que representa o gênero ao segurar a foto de alguém que cometeu uma prática socialmente condenável contra alguém do seu sexo. Ou seja, Rezende usa a linguagem explicitamente buscando a adesão do público, principalmente o feminino, buscando comovê-lo a qualquer custo.


Outro exemplo de função apelativa da linguagem se tornou um clássico recentemente. Durante as manifestações contra o aumento da tarifa no transporte público, em junho de 2013, Datena fez uma pesquisa em seu programa na qual perguntava se a população era a favor do tipo de protesto que estava acontecendo com, nas palavras do próprio apresentador, a “presença de quebra-pau” e “baderna”.


Ao expressar que era veementemente contra e ao ver que a audiência discordava dele, o apresentador então indaga ao vivo se eles formularam mal a pergunta e resolve trocá-la por “Você é a favor de protesto com baderna?”. Para a decepção do mesmo, o resultado se repetiu e ele teve que admitir que a população realmente tinha entendido certo a pergunta e que de fato aprovava a violência nas manifestações.


Quando ele diz no Brasil Urgente seu bordão “Eu tô certo ou eu tô errado?”, dirigindo-se ao telespectador, ele visa criar uma relação com seu receptor, valendo-se ainda de outra função da linguagem, a função fática.


O sentido parece ser sempre o mesmo: a adesão explícita da audiência.


O CARÁTER SENSORIAL

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Quando nos valemos de tal clichê para falarmos de um veículo de comunicação como a televisão isso é ainda mais potencializado, pois às imagens somam-se palavras e sons.
Os sentidos estão sendo trabalhados mesmo quando os olhos não estão direcionados ao aparelho televisor. É hábito mantê-lo ligado, ainda que em concomitância se esteja fazendo outra atividade. Dessa maneira, a tevê adquire o status de companheira, se faz presente. Para Fechine (2008):

É nessa temporalidade construída pela TV, mas “decalcada” do “mundo”, que o espectador pode vivenciar a transmissão do fato como se fosse o próprio fato: é produzindo este tipo de vivência que a transmissão direta no telejornal neutraliza a oposição entre o televisual e o extratelevisual; oblitera a própria mediação existente entre os sujeitos e o objeto envolvidos no ato comunicativo; instaura, em termos mais gerais, um efeito de presença, que está por trás de muitas das mudanças nos regimes de sociabilidade associadas à TV. (FECHINE, 2008, p.244)


O aprimoramento da tecnologia permite à televisão lançar mão de artefatos que contribuem ainda mais com a percepção sensorial. Para reforçar a ligação com o público, a transmissão direta se vale de instrumentos como: colocar as inscrições “ao vivo” ou “exclusivo” no canto da tela, além de chamadas com helicópteros e motolinks em vários pontos de uma cidade, pesquisas de opinião, geralmente com perguntas que demandam respostas fechadas (sim ou não), bem como a repetição do horário a todo o momento e manchetes curtas e impactantes no Gerador de Caracteres (GC), que legenda a imagem mostrada.
A EXPLORAÇÃO DA INSEGURANÇA
Essa dependência do sensorial gera um problema, pois de acordo com Rezende (2000 apud Menezes, 2012, p.2) “ao promover uma percepção mais sensorial e afetiva do que racional, o discurso da TV abriga, em sua essência, uma íntima e constante ligação entre destinador e destinatário mediada pelo espetáculo”.


O que se vê nesses programas é um cenário quase hollywoodiano. É o que Debord (1997) chama de “sociedade do espetáculo”. Todo acontecimento, por mais banal que pareça, como uma árvore que tombou sem ferir ninguém é noticiado como que para reforçar o estado de alerta através da presença. Se o programa está ali para te mostrar o que houve, significa que ele está alerta aos acontecimentos e, por conseguinte, é sua fonte de conexão com o mundo ao seu redor.


Mas não são as árvores que fazem o conteúdo desses programas que classificamos como policiais. A violência é a temática principal e as palavras morte, arma, bandido, assassinato e crime são as que mais são repetidas numa edição desses programas, considerando também palavras derivadas e sinônimas como morreu, morto, revólver e pistola, por exemplo.


O Mapa da Violência 2013 fez um levantamento das mortes por arma de fogo e mostra que o estado de São Paulo não tem representante entre as cem com maiores índices. Ademais, é o estado que tem a maior remissão desse índice no Brasil. A capital São Paulo, principal cidade retratada nos programas policiais, aparece em 788º lugar.


Não que os números sejam baixos, até porque violência não se resume em mortes por armas de fogo, mas a questão é que a seleção desses conteúdos da maneira como é feita cria uma realidade na qual se acredita piamente estar inserido. É o que Gerbner (apud GLASSNER, 2003, p.99) chama de “síndrome do mundo vil”.


Veja uma quantidade suficiente de brutalidade na TV e você começará a acreditar que está vivendo em um mundo cruel e sombrio, em que você se sente vulnerável e inseguro. Em pesquisas realizadas durante três decadas, Gerbner verificou que as pessoas que assistem a muita TV apresentam maior tendência do que as outras de acreditar que o bairro onde vivem é inseguro, a supor que os índices de criminalidade estão aumentando e a superestimar a probabilidade de se tornar vítimas da violência. (GLASSNER, 2003, p. 99-100).


As legendas que são vinculadas às imagens das reportagens, conhecidas no meio jornalístico como GC por conta do gerador de caracteres que “põe” as mensagens na tela, dão mostra dessa promoção da insegurança:
• Datena fala com marido de mulher morta em lotérica (Brasil Urgente, 03/06/2013).
• Agora! Polícia persegue bandidos que roubaram carro (Brasil Urgente, 05/04/2014).
• Esquartejador desafia a polícia (Cidade Alerta, 05/04/2014).
• Ex-marido mata a ex-mulher por ciúmes (Cidade Alerta, 24/04/2014).
• Dançarino DG estaria com traficantes (Cidade Alerta, 26/04/2014).


AS DIMENSÕES POLÍTICAS, PSÍQUICAS E ECONÔMICAS


Percebem-se nessa dinâmica da exploração da insegurança, três dimensões: uma política, uma psíquica e outra econômica.


A política pode ser relacionada às forças policiais, por exemplo. Presenças ativas nos programas policialescos, delegados e militares se valem do discurso da promoção de segurança para serem eleitos ou se manterem no poder. Em São Paulo, basta observar o sucesso da chamada “bancada da bala” (três representantes da Câmara dos Vereadores são oriundos da Polícia Militar).


A psíquica é o estado de tensão permanente de uma sociedade que vive em ansiedade generalizada. Quando a televisão mostra o tempo todo, as tragédias da vida cotidiana e, principalmente, elegem culpados (suspeitos são tachados de criminosos antes mesmo de configurada a culpa), tendemos a crer que a qualquer momento algo terrível pode acontecer conosco se não formos vigilantes. E o outro, aquele que está próximo de nós, passa a ser alguém a quem devemos temer.


A econômica é produto direto da psíquica, regida pela visão de que quanto maior o medo, maior a necessidade de se defender. E o que se vê são gastos consideráveis com sistemas de segurança: grades e portões reforçados em residências e empresas, cercas elétricas, carros blindados, contratações de vigilantes particulares, armas brancas e de fogo etc.
A RETIRADA DA ANGÚSTIA

Uma cidade alerta e um Brasil em estado de urgência demandam atenção. Como relaxar? Como é possível dormir sabendo que há um maníaco à solta e que a polícia não consegue prender?


Interessante observarmos que os apresentadores são autores de um discurso que hiperboliza a gravidade dos fatos para depois minimizar sua importância e recomeçar no dia seguinte. Novos fatos, mas a mesma abordagem.


José Luiz Datena, por exemplo, é um tipo bonachão, que alterna entre a figura da rigidez e da compreensão para se colocar como alguém igual ao seu público. Como quando, em junho do ano passado, falava com um homem que havia perdido a mulher assassinada. Chorando, disse:

Estou há quase 40 anos com a minha esposa e se a minha mulher morrer eu vou ficar desesperado. É duro de aguentar. Sabe, quando as pessoas me perguntam se é difícil fazer um programa desse, eu digo que é quase impossível. Um homem de sessenta e oito anos que viveu mais da metade da vida com a mulher. Hoje eu morro junto.


Aquele que mostra situações angustiantes é o mesmo que se coloca como capaz de retirar essa angústia. Os apresentadores em questão fazem isso toda vez que, geralmente aos berros, clamam por justiça, por exemplo. Eles se colocam como a voz dos oprimidos, tal qual um pai que toma as dores do filho. É preciso terminar o programa com uma solução que faça o telespectador “voltar” no dia seguinte, “de maneira a produzir o sentimento de bem-estar no espectador pacificado, sabedor de que, apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado”, Chauí (2006).


Se há aí uma função social (ser a voz de quem não a tem), ela se torna secundária quando se tem em conta que, antes de apaziguar os ânimos, foi a própria televisão que os exaltou.


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Para GLASSNER (2003) a tevê não é a causa da violência.

Elas (as pessoas) podem aceitar e inclusive acolher com agrado medidas repressivas como mais prisões, pena de morte, sentenças mais duras - medidas que nunca reduziram o crime, mas nunca deixam de dar votos aos políticos - se isso promete aliviar ansiedades. Este é o dilema mais profundo da TV repleta de violência. (GERBNER, apud GLASSNER, 2003, p.100).


Essa visão é muito questionável, pois se a quantidade de exageros na veiculação desse conteúdo aumenta a sensação de vulnerabilidade provocando ansiedade e uma consequente demanda por proteção, o que se tem é violência, afinal. Ademais, a repetição da violência na tevê naturaliza-a, atualizando constantemente a ideia de que os conflitos podem ser resolvidos por ela.


Isso não é só um problema das ciências da comunicação como é também da psicologia quando percebemos que a ênfase em discursos focados no medo coloca o sujeito longe do contato com sua subjetividade, tão hiperexcitado que está.
Mais do que isso: condicionado às tragédias, esse sujeito que vê o outro como seu provável agressor é o sujeito ao qual não interessa a subjetividade de ninguém. Mas será que tudo que lhe resta é cercar-se de proteção e buscar reduzir a ansiedade colocando-se nos braços do apresentador “paizão” que tudo resolve, mas nada esconde?


Ferreira (2009), para quem “a televisão tem um caráter poderoso no sentido de dificultar o contato entre as pessoas”, relativiza o poder da mídia:

Não é verdade que ele seja indiscriminado, universal, absoluto, mas esse poder sofre redução não porque dizemos, simplesmente, que daqui para a frente seremos espertos. Ele sofre redução à medida que as pessoas, os grupos da sociedade estabelecem relações fortes no seu interior, relações entre os seres humanos, entre as pessoas que estão ali. (FERREIRA, p.139, 2009)


Isto posto, pode-se dizer que uma das maneiras de fortalecer essas relações é pensarmos os fatos, duvidar do que é transmitido nas telas. Assim, talvez consigamos colocar o sentir no seu devido lugar e sermos sujeitos ao invés de sujeitados à.
REFERÊNCIAS

ADORNO, T. HORKHEIMER, M. Indústria Cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.


BELLONI, M.L. (1998). Estética da Violência. Comunicação & Educação, v.4, nº12, p. 43. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36357. Acesso em 22 de fev.2014.


CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2000.


CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.


CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Midia e psicologia: produção de subjetividade e coletividade. Brasília, 2009. p. 138-139.


DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.


DE BRUM, J. (2003). A hipótese do Agenda Setting: estudos e perspectivas. Razón y Palabra, nº35. Disponível em http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n35/jbrum.html. Acesso em 14 de mar.2014.


FECHINE, Y. Televisão e Presença: uma abordagem semiótica da transmissão direta. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008.


FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Midia e poder: palestra concedida por Marilena Chauí. Disponível em http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=1324. Acesso em 15 de out. 2013.


FILHO, L.L. A TV sob controle: a resposta da sociedade ao poder da televisão. São Paulo: Summus, 2006.
GLASSNER, B. Cultura do Medo. São Paulo: Francis, 2003.


IBOPE. Top 5 São Paulo. Disponível em http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/TabelasMidia/audienciadetvsp/Paginas/TOP-5-SÃO-PAULO---SEMANA-02.aspx. Acesso em 26 de mar.2014.


INDUSTRIA CULTURAL. Adorno, a Indústria Cultural e a Internet. Disponível em http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/20/analise-ha-quarenta-anos-morria-o-filosofo-alemao-da-151970-1.asp. Acesso em 15 de fevereiro de 2014.


MAPA DA VIOLÊNCIA. Disponivel em http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf. Acesso em 30 de nov. 2013.


MENEZES, M.V.T. O cavalo de Tróia contemporâneo: a televisão como revelador ideológico. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/menezes-mara-o-cavalo-de-troia-comtemporaneo.pdf. Acesso em 23 de set. 2013.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


André Luiz Cordeiro Garcia

por André Luiz Cordeiro Garcia

Formado em Jornalismo - UNIFIEO (2006)/ Estudante de psicologia (conclusão em Dezembro de 2014)

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