Reflexões Acerca do Grupo Terapêutico no Hospital

A psicoterapia de grupo é uma experiência emocional e corretiva
A psicoterapia de grupo é uma experiência emocional e corretiva

Psicologia

27/09/2014

Ao fazermos uma rápida leitura pelos trabalhos que tratam do assunto “Grupo Terapêutico no Hospital” podemos isolar algumas palavras centrais acerca do assunto tratado. São elas: “Vínculo”, “Catarse”, “Expressão do mundo interno”, “Transmissão de informações”, “Foco”, “Aprendizado com o grupo”.


Servindo-nos delas como base podemos pesquisar e pensar vários aspectos. Antes de tudo é interessante trazer uma apreensão do que seja um grupo terapêutico, apreensão esta que possa de alguma forma definir o mesmo e nos dar ensejo para discutir o tema. Uma dentre as que foram pesquisadas diz que: “A psicoterapia de grupo é uma experiência emocional e corretiva.” Algo que qualifica esse tipo de grupo é que o mesmo possui uma “estrutura vivencial”.


Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu diz sobre a Psicologia de grupo: “A Psicologia de grupo interessa-se pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte de uma multidão de pessoas que se organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um fim definido.”


Ao tomarmos o vínculo entre os participantes de um grupo já estamos tratando também da “experiência emocional” envolvida na dinâmica grupal. Freud, no mesmo texto, diz que o participante de um grupo está sujeito a alterações de sua vida mental, pois a sua predisposição para a emoção se intensifica.


A participação em um grupo terapêutico tem seu benefício ao fazer com que um encontro humano entre os participantes aconteça. Nesse encontro algo da ordem do desejo e do gozo podem ser trabalhados, ao se colocar algumas questões em discurso. Até o final da vida Freud apostou na fala como um caminho privilegiado para dar conta do sofrimento e fazer a gestão do mal-estar. Com Lacan poderíamos dizer que o importante é sempre trazer o sofrimento para o simbólico, pois assim o Real que nunca cessa de se inscrever pode ao menos ser aplacado momentaneamente. Dessa forma, o grupo terapêutico convoca os seus participantes para um novo tipo de relação, diferente do cotidiano, na qual através da fala transformações psíquicas aconteçam.


Algo bastante interessante é consideração do grupo terapêutico, tal como dito na compreensão inicial, enquanto uma “estrutura vivencial.” O conceito de vivência é advindo da Filosofia e desempenha papel essencial em todos os estudos das ciências humanas, pois de acordo com o filósofo alemão Wilhelm Dilthey a construção do mundo humano se dá a partir de nossas vivências. Ele a define como: “Aquilo que no fluxo do tempo forma uma unidade na presença, porque possui um significado Uno, é, assim, a menor unidade (...)”


Por possuírem um significado “Uno” as vivências são essencialmente individuais. Dilthey diz que embora elas possuam esse caráter de individualidade as mesmas se expressam e podem ser compreendidas. Dessa forma, teríamos a tríade Vivência – Expressão - Compreensão como formando a base de todos os saberes que se preocupam com o humano (História, Antropologia, Psicologia, entre outras). Poderíamos pensar que o grupo tem algo bem importante no sentido que as vivências dos participantes podem ser expressas e compreendidas por pares que estão dispostos em acolher e se escutarem mutuamente.


O papel da elaboração, colocar o sofrimento em discurso, deve ser um dos principais objetivos de um grupo terapêutico, ocorra ele em um hospital ou em qualquer lugar. A produção de insights e ponderações, visão do sofrimento de si próprio e dos outros, faz com que o grupo terapêutico seja um lugar privilegiado para essas vicissitudes. Como diz Montaigne: “Não basta enumerar experiências; é preciso ainda classificá-las e ponderar-lhes o valor; cumpre examiná-las de perto, analisá-las, a fim de extrair as conclusões e as razões que comportam.”


Outro ponto importante e “terapêutico” de um grupo é pactuar e aprender, de alguma forma, a partir do discurso do outro. A troca de experiências se mostra bastante benéfica nas relações grupais, sendo até um dos focos quando da criação de vários grupos terapêuticos. Sobre isso Dilthey diz que “Compreender é encontrar o eu no tu.” Esse “ver o discurso do outro, se vendo nele ao mesmo tempo”, usando Merleau-Ponty, é um dos pontos mais importantes da dinâmica grupal.


Dessa forma um “Aprendizado com o grupo” não apenas intelectual, mas de outra ordem, pode se estabelecer e trazer transformações para a vida dos sujeitos que dele demandam auxílio.



Referências:


http://leonardodellapasqua.com.br/site/wp-content/uploads/2012/07/GRUPO-EM-HOSPITAL-GERAL.-O-V%C3%8DNCULO-COMO-FATOR-TERAP%C3%8AUTICO.pdf


MONTAIGNE, Michel de. Ensaios.


DILTHEY, Wilhelm. A Construção do Mundo Histórico nas Ciências Humanas.


FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer, Psicologia de Grupo e Outros Trabalhos.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Allan Rooger Moreira Silva

por Allan Rooger Moreira Silva

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco.

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