Psicologia Sócio-Histórica

A linguagem é indispensável ao progresso do pensamento
A linguagem é indispensável ao progresso do pensamento

Psicologia

17/10/2014

A psicogênese da pessoa completa walloniana, segundo Isabel Galvão, vê o homem como um ser determinado física e socialmente sujeito tanto às disposições internas, quanto as situações exteriores, ou seja, Wallon propõe o estudo da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor. Entende que o desenvolvimento está ligado a capacidade de responder com reações cada vez mais específicas a situações cada vez mais variadas.


Entende também que a linguagem é indispensável ao progresso do pensamento, pois ela exprime o pensamento ao mesmo tempo em que atua como estruturadora do mesmo. Wallon assume uma postura notadamente interacionista, ressalta que o homem é um ser psíquico social, ou seja, precisa tanto do interno quanto do externo para que haja o desenvolvimento, adotando assim como método de sua teoria o materialismo dialético, pois este é um método vulnerável, adaptando-se as mudanças da realidade onde não postula verdades absolutas, mas, sim, revitaliza direções e possibilidades. Mas a autora ressalta que para entendermos as atitudes das crianças devemos entender o meio onde ela está inserida, tomando a criança como ponto de partida.


Na obra de Wallon a inteligência tem um significado bem específico, estando diretamente relacionada com duas importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. À medida que a criança vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, o raciocínio simbólico e o poder de abstração vão sendo desenvolvidos. Ao mesmo tempo, e relacionadamente, as habilidades linguísticas vão surgindo no indivíduo, potencializando sua capacidade de abstração.


A afetividade por sua vez, seria a primeira forma de interação com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento. À medida que o movimento proporciona experiências à criança, ela vai respondendo através de emoções, diferenciando-se, para si mesma, do ambiente. A afetividade é o elemento mediador das relações sociais primordial, portanto, dado que separa a criança do ambiente. As emoções são, também, a base do desenvolvimento do terceiro campo funcional, a inteligência. Sendo assim podemos entender que, enquanto emoções seriam processos internos, a afetividade seria o estado psicológico que viabiliza a comunicação das emoções.


1. Estágios da Psicogenética Walloniana

O desenvolvimento cognitivo segundo Wallon passa por alguns estágios, porém ele não acredita que os estágios passam por uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para Wallon, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. O desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e externos e os conflitos, mesmo os que resultem em retorno a estágios anteriores, são fenômenos geradores de evolução. A mudança de cada estágio caracteriza um tipo diferenciado de comportamento, uma atividade predominante que será substituída no estágio seguinte, além de conferir ao ser humano novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que irão direcionar-se, ora para a construção do próprio sujeito, ora para a construção da realidade exterior.


Portanto, segundo Wallon, o desenvolvimento psicogenético é contínuo e dialético composto por cinco estágios: Impulsivo Emocional; Sensório-motor/projetivo; Personalismo; Categorial e o da Adolescência.

2. Estágio Impulsivo Emocional

O primeiro estágio da teoria walloniana é o que compreende o período de 0 a 1 ano de idade e contém duas etapas: da impulsividade motora e emocional.


Evidenciam que Wallon ressalta a relação de dependência criança/meio-externo (adulto) neste período, constituindo a comunicação recíproca cuja construção de significados dar-se-á de modo comum e paulatina para ambos – a vivencia sincrético-social antecede a formação da consciência de si através dos complexos exercícios de relação e interação, numa relação dialética, o eu e o outro internalizados serão parceiros construtivos da via psíquica, sendo ele autor e objeto da ação –, fase de predominância afetiva e centrípeta (volta-se para dentro de si, interioridade).


Na primeira etapa denominada impulsividade motora (de 0 a 3 meses) há predomínio da movimentação reflexiva, impulsos descontínuos provocados por tensão – seja de origem interna ou externa – pelo não pronto atendimento de suas necessidades repercutindo tal ação no meio e leva o adulto a busca de ler suas necessidades.


3. Sensibilidade Intero, Próprio e Esteroceptiva
Dentre as fases dessa etapa destacam-se as sensibilidades interoceptivas (reúne sinais dos órgãos internos, pois as terminações sensitivas se localizam nas viscerais), proprioceptivas (apresenta impressões musculares caracterizadas pela relação ao movimento e equilíbrio do corpo no espaço, comandadas pelas terminações sensitivas do aparelho muscular, tendões e articulações que reagem aos estímulos intero e proprioceptivos) e exteroceptiva (ligada à afetividade, esta relacionada ao conhecimento do mundo exterior);

Simbiose fisiológica e simbiose afetiva.
A simbiose fisiológica (total indiferenciação entre as diversas necessidades fisiológicas e as diferentes formas de satisfazê-las) e afetiva (período inicial do psiquismo estabelece o ser humano como mediador entre o fator fisiológico e o social e o circuito simbiótico associado à maturação da fase anterior).


4. Movimento

O movimento é o mais destacado por Wallon por ser uma das principais formas de comunicação da vida psíquica do bebê com o ambiente externo.


Este sistema requer maturidade para estar pronto de fato, pois ao nascer os movimentos são meras descargas motora, desordenadas onde reações clônico e tônica se misturam.


Por isso, o movimento se apresenta de três formas: movimento de equilíbrio (reação de compensação e reajustamento dos corpos sujeito a gravidade – deitado, sentado e de pé – que gera conquista do espaço e mudança de comportamento); movimentos de preensão e de locomoção (deslocamentos de corpo e dos objetos no espaço, dominando este último e compreendendo a si mesma); e por fim as reações posturais (entendido como resultado da atividade muscular que pode ser percebido sob os aspectos distintos e complementares, clônica - músculos de alongamento e acolhimento - e o tônico - atitudes e posturas - deslocamento dos segmentos corporais que permitirão atitudes expressivas e mímicas).


Ao final desta primeira fase já perceber-se em trânsito a fase emocional.
5. Segundo momento: Emocional
Caracterizada pelas transformações das descargas motoras em meio de expressão e comunicação do bebê com o adulto que passam a ser graduadas e identificadas com ausência de instrumentais cognitivos, culminando na primeira forma de sociabilidade, via experiência de trocas e estímulos externos, e inicio da vida psíquica ao elaborarem as primeiras imagens mentais, marcas individuais, diversificar e concretizar suas atitudes, aguçar e antecipar situações transformando estes sinais em sinais de cognição.


6. Emoção e tônus
É importante nessa etapa a relação direta existente entre emoção e tônus, passíveis de interpretação graças ao grau da função tônica e o seu suporte á manifestação da emoção, ambos complementares.


A variação da emoção altera o tônus, essa variação pode ser causada por meio de carícias, por entonação de voz e gestos fazendo com que o bebê reaja de alguma forma demonstrando alegria, sofrimento ou cólera.


7. Atividades Circulares

As atividades circulares (de repetição) ocorrem aos cinco meses, são movimentos inicialmente causais repetidos intencionalmente pela criança que ira investigar as possibilidades diante da variação de movimentos decorrentes do nível de evolução – de atos impulsivos, movimentos intencionais fazendo uso da associação dos campos sensoriais e musculares, graças à maturação do córtex cerebral, através da exploração e progressos na percepção, manipulação/preensão e constituição da linguagem (este resultante dos campos sensoriais auditivos e vocal). Em suma é importante instrumento de aprendizagem em diferentes áreas iniciando-se neste o estágio seguinte, o sensório-motor, onde o interesse deixará de ser centrípeta para ser centrífuga.


Na passagem do estágio impulsivo emocional para o estágio sensório-motor e projetivo ocorre à travessia presença da subjetividade afetiva para a construção de si ao identificar e explorar objetivamente seu próprio corpo adquirindo conhecimento sensório-motor corporal que resulta em maior exploração do mundo exterior.

8. CONCLUSÃO

Diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é sempre a de considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio.


Segundo Izabel Galvão(1995), a emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social. Ela diz que a afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano.


A teoria de Henri Wallon ainda é um desafio para muitos pais, escolas e professores. Sua obra faz uma resistência contumaz aos métodos pedagógicos tradicionais. Numa época de crises, guerras, separações e individualismos como a nossa, não seria melhor começar a pôr em prática nas escolas ideias mais humanistas, que valorizem desde cedo a importância das emoções?




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil- Petrópolis, RJ; Vozes, 1995.


MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (Orgs.). Henri Wallon - Psicologia e educação. São Paulo: Loyola, 2009.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Geisse Scarpellini Laurindo

por Geisse Scarpellini Laurindo

Professora, Psicopedagoga, Terapeuta Cognitivo Comportamental, mestre em neurociências.

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