Um estudo sobre transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade e indisciplina

Um transtorno que afeta crianças e adolescentes
Um transtorno que afeta crianças e adolescentes

Psicologia

27/10/2014

UM ESTUDO SOBRE TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE E INDISCIPLINA.



RESUMO


O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um transtorno que afeta crianças e adolescentes, causando prejuízos para o convívio social e em sua vida escolar. Muitos alunos com TDAH são rotulados como indisciplinados não buscando ajuda adequada. Por meio de uma revisão bibliográfica, o presente artigo pretende trazer contribuições para os professores, no sentido de ajudar a reconhecer o TDAH em seus alunos. A falta de informação leva professores e profissionais rotularem os portadores de TDAH como crianças indisciplinadas, e sem limites, assim através de informações adequadas espera-se poder minimizar os rótulos, a generalização do transtorno e estimular a busca pela melhoria na atividade escolar das crianças portadoras desse transtorno.


Introdução

Atualmente discute-se muito sobre as dificuldades de aprendizagem, porém é um assunto que ainda necessita ser amplamente pesquisado e divulgado, pois os transtornos podem ser confundidos com outros fatores que ocorrem na vida do aluno como, por exemplo, comportamentos inadequados na sala de aula, agressões, desmotivação, falta de estímulo da família. Um desses transtornos é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que pode ser confundido com indisciplina e má educação.


O TDAH é um transtorno psiquiátrico que afeta a aprendizagem, se caracteriza por comportamentos de agitação, impulsividade e desatenção, são crianças que não conseguem ficar paradas, falam muito, interrompem a aula, normalmente são rotuladas como desatentas e indisciplinadas. Porém o TDAH é um transtorno de causas neurobiológicas e não sociais ou familiares, sendo que os portadores deste transtorno não tem controle sobre seus comportamentos, portanto, certas formas de trabalho desenvolvido pelos professores pouco resolvem a situação, muito pelo contrário, acabam por prejudicar as crianças em sua autoestima, e valorização pessoal.


Na verdade elas precisam de tratamento adequado tanto de profissionais especialistas quanto de seus educadores. A criança com TDAH necessita de atenção especial e não simplesmente ser rotulada como “hiperativa” e ser excluída na sala de aula. Mas como os professores podem estar atentos e identificar estes alunos em meio a turmas numerosas, que chegam a 30, 40 ou mais alunos por sala?


Além disso, os professores se deparam com um currículo muitas vezes tradicionalista que não pode ser adaptado de acordo com seus alunos, falta de autonomia do professor, dificuldade da própria escola construir sua identidade, carência de recursos pedagógicos, falta de cursos de atualização para os professores. Marin e outros (1995) destaca outras dificuldades encontradas pelos professores em seu cotidiano escolar: - restrição de material didático, - falta de trabalho em equipe, - dificuldade de relacionamento interpessoal entre a equipe pedagógica, - indisciplina na sala de aula, - falta de autonomia da escola e seus professores que muitas vezes não podem escolher os conteúdos e a forma de ensiná-los, - desmotivação geral dos professores devido a baixos salários e rotatividade de turmas e diretores, excesso de carga horária.


São muitas as dificuldades encontradas no cotidiano escolar, mas atualmente a indisciplina incomoda muito os professores, há professores que tem medo de entrar na sala de aula, pois não conseguem dar aula, e às vezes são até ameaçados e agredidos. Para Aquino (1996), a indisciplina é o maior inimigo do educador, e a solução para este problema não é encontrado em nenhuma corrente teórica, a possível saída pode ser encontrada na própria relação professor-aluno, principalmente na maneira como o professor se comporta perante os alunos, ambos são parceiros e não inimigos.

Com a falta de informações adequadas, o aluno indisciplinado e agressivo muitas vezes é confundido com hiperativo, e o resultado disso é um excesso de alunos rotulados como portadores de TDAH que necessitam de tratamento medicamentoso para se adaptar à escola, como cita Cardoso (2007, p.13):

Em geral, no cotidiano da sala de aula das escolas públicas e privadas, é unânime a insatisfação e a falta de conhecimento dos professores para lidar com alunos que apresentam desatenção, excesso de agitação, dificuldade para seguir instruções e controlar as atitudes impulsivas. No momento em que os professores desconhecem sobre o TDAH, a tendência é confundir esses comportamentos com a indisciplina escolar ou vice-versa, principalmente quando o aluno se destaca negativamente em sala de aula. É, nesse sentido que, em geral, muitas crianças são vistas como hiperativas pelos professores e acontece, com frequência, os encaminhamentos desnecessários.


Segundo Mattos (2008), o sistema educacional atual prejudica quem tem TDAH, pois os educadores esperam que seus alunos permaneçam em silêncio, e atentos por longo período de tempo, aplicam atividades monótonas, e algumas vezes, apresentem matérias sem sentido, sem objetivo para o aluno. Como consequência, os portadores de TDAH têm advertências constantes e notas baixas, e pais e professores confundem a incapacidade de fazer correto com falta de vontade de agir corretamente. A tendência das pessoas é sempre apontar as falhas e os comportamentos inadequados das crianças, assim elas se tornam cada vez mais ansiosas e desinteressadas, pois dificilmente seus pequenos esforços são reconhecidos. Para melhorar é necessário que se valorize o que elas têm de bom, que é a capacidade de melhorar, elogiar os pequenos progressos e ignorar os comportamentos inadequados.


Desta forma, este artigo tem o objetivo trazer algumas orientações com o propósito de ajudar os professores a reconhecer o TDAH em seus alunos e assim minimizar as situações em que as crianças são rotuladas como alunos indisciplinados ou que vivem no mundo da lua, bem como ajudar a reconhecer os alunos indisciplinados que muitas vezes são tratados como portadores de TDAH, através da informação os professores estarão mais preparados para orientar os alunos e os pais a buscar ajuda de profissionais habilitados para diagnosticar o transtorno, pois esta é a função do professor ensinar, orientar e não diagnosticar. No entanto, esse não pretende ser um receituário, com fórmulas mágicas para sanar os problemas de indisciplina ou TDAH nas escolas, pois isso demanda uma pesquisa muito maior a que se pretende nesse trabalho.


A indisciplina

Atualmente, muitos professores encontram muitos alunos indisciplinados. São alunos que conversam em sala de aula, falam alto, desafiam os professores, são mal educados. Mas a indisciplina pode ser resultado da educação que essas crianças têm em casa, ou falta de adaptação ao currículo escolar ou até mesmo influência de outros colegas, os professores têm que estar atentos na diferença de indisciplina e transtorno de aprendizagem que possui causa neurobiológica.


A indisciplina pode ocorrer por diversos fatores, não existe um único culpado, não ocorre essencialmente devido a falhas psicopedagógicas, mas sim, a importância que é dada a escola na vida do aluno e para a sociedade (Taille in Aquino,1996) . Para analisar a indisciplina temos que estar atentos qual a função da escola tanto para os alunos quanto para seus pais. Pois, infelizmente, para alguns é função da escola educar, disciplinar, e impor limites nos filhos, sendo que esse deveria ser o papel dos pais.


Muitas vezes é possível perceber a indisciplina quando os professores conversam com os pais de seus alunos. Os pais de alunos indisciplinados, às vezes não levam a sério a queixa dos professores, defendem os filhos quando cometem algo errado porém, esses pais não fazem isso conscientemente, às vezes são pais que trabalham em excesso e para suprir a falta de tempo fazem todas as vontades dos filhos não impondo limites, ou são pais que tiveram uma educação rígida demais e com medo de repetir o erro de seus pais, se tornam muito liberais.


As crianças desde pequenas já demonstram sinais de falta de disciplina, como diz Brazelton, (1994, p. 307): “Sem disciplina, as crianças de dois anos começam a mostrar-se ‘mimadas. Tornam-se ansiosas, e, sabendo que os pais não conseguem estabelecer limites para si próprios, empenham-se em provocá-los até o limiar de sua tolerância.”


E isso ocorre também dentro da sala de aula, quando o aluno percebe que o professor não consegue impor limites, passa a provocá-lo cada vez mais. Isso é diferente de TDAH, pois o aluno age para provocar, para se tornar o centro das atenções.
As crianças que são ensinadas com poucas regras em casa crescerão acreditando que não é preciso respeitar regras, pois foram “educadas” dessa forma, aprendem que a manipulação emocional e agressividade são formas adequadas para resolver seus problemas (Gomide, 2004). Alguns pais não conseguem impor limites nos filhos e acabam sendo liberais demais, como consequência, os filhos não aprendem resolver seus problemas de forma adequada, acabam se tornando crianças chantagistas e agressivas.


Além da falta de limites imposta pelos pais, algumas vezes esses pais só dão atenção aos filhos quando esses tiram notas baixas. Alguns não elogiam os filhos quando tiram notas boas, mas o criticam quando tiram notas baixas, assim a criança percebe que consegue a atenção dos pais quando não aprendem, pois somente quando estão indo mal na escola, é quando os pais lhe dão atenção (Pain, 2006). Assim a criança não valoriza a aprendizagem, não presta atenção na aula porque não é reconhecida nos seus esforços, conforme descreve Gomide (2004, p. 49):

Alguns pais acreditam que, quando os filhos tiram notas boas, arrumam os quartos, levam o cachorrinho para passear, não fizeram mais que as obrigações estão privando a família da utilização de excelentes fontes de motivação e prazer. Receber elogio é muito bom.


E isso ocorre dentro da sala de aula também, os professores dão atenção ao aluno que atrapalha a aula, que faz bagunça, e dificilmente percebem o aluno que é mais quieto, ou esquecem de elogiar quando o “hiperativo” se comporta bem. Mas diante de uma sala de aula indisciplinada o que o professor deve fazer para não se tornar autoritário e manter a ordem na sala?


Gentili (2002) mostra a diferença das atitudes de um professor autoritário e um professor com autoridade. O professor autoritário exige silêncio para ser ouvido, pede tarefas fora de contexto, ameaça e pune, quer que a classe aprenda do jeito que ele sabe ensinar não se adaptando ao contexto do seu aluno, o seu objetivo é passar o conteúdo sem refletir sobre ele. Já o professor com autoridade, conquista a atenção dos seus alunos, mostra o objetivo do conteúdo aprendido, escuta seus alunos, procura adequar seus métodos com a realidade do aluno, procura adaptar o conteúdo ensinado com a realidade dos seus alunos. Com certeza, o professor que sabe trabalhar com autoridade, sem ser autoritário, terá resultados positivos e adquirirá o respeito de seus alunos.


Para Guimarães IN Aquino (1996, p.8 ):

É preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que levem em conta as características das crianças e jovens que hoje frequentam as escolas. A organização do ano escolar, dos programas, das aulas, a arquitetura dos prédios e sua conservação não podem estar distantes do gosto e das necessidades dos alunos, pois, quando a escola não tem significado para eles, a mesma energia que leva o envolvimento, ao interesse, pode transformar-se em apatia e explodir em indisciplina e violência.
Portanto, o professor não pode esperar só do aluno a mudança de comportamento, ele também deve adaptar sua atuação dentro da sala de aula para evitar a indisciplina, mas se mesmo assim o aluno ainda apresentar dificuldade pode ser que ele tenha algum transtorno.


Mas infelizmente como no cenário escolar atual encontramos salas de aulas cada vez mais numerosas e heterogêneas o que faz aumentar a dificuldade do professor estar atento a todos os alunos, e salas numerosas facilitam a indisciplina muitas crianças podem estar sendo rotuladas como portadoras de déficit de atenção quando não são. Conforme explicita Mattos, (2008, p.53):

Todos nós sabemos como algumas crianças se tornam muito mal comportadas em função do modo pelo qual foram criadas. A educação dada pelos pais ou por aqueles que criaram a criança, sem sombra de dúvida, tem papel crucial na forma como ela se comporta. Mas isso não é o mesmo que sofrer de TDAH! Uma coisa é ser mal educado, não saber comportar-se em determinadas situações; outra bem diferente é ter um transtorno bem especifico que é motivo de pesquisa em todo o mundo.



Com relação a isso é importante salientar que o professor tem que estar sempre buscando novas informações sobre o TDAH para evitar que esse transtorno se torne sinônimo de indisciplina.


O TDAH

O transtorno de aprendizagem não é consequência de problemas sociais ou familiares como a indisciplina. Ele tem causa neurobiológicas, portanto quando o professor suspeitar que seu aluno possa ter algum transtorno deve orientar os pais a buscar ajuda médica e psicopedagógica.


Para diagnosticar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, os profissionais da saúde utilizam o DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), neste manual são apresentados os sintomas do TDAH que podem ser observados na sala de aula, são divididos em sintomas de desatenção e de hiperatividade.


Os sintomas de desatenção são:

- frequentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares, de trabalho ou outras,

- tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas,

- com frequência parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra,

- não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções),

- tem dificuldades para organizar tarefas e atividades,

- com frequência evita, reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa),

- com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p.ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais),

- é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa,

- apresenta esquecimento em atividades diárias.
E os de hiperatividade são:

- frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira,

- abandona sua cadeira na sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado,

- com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer, está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse ¨a todo vapor¨,

- frequentemente fala em demasia,

- frequentemente dá respostas precipitadas antes que as perguntas terem sido completamente formuladas,

- tem dificuldade para aguardar sua vez,

- interrompe ou se intromete em assuntos alheios (p. ex., em conversas ou brincadeiras).


Para se diagnosticar o TDAH tem que estar presente pelo menos seis dos sintomas acima citados, e durarem mais de 6 meses, por isso, o diagnóstico tem que ser feito por uma equipe multidisciplinar, com a ajuda do professor pois, este passa várias horas com o aluno, mas é o profissional que vai orientar o professor a observar este aluno.


O papel do professor é observar se esses comportamentos ocorriam desde do início do ano letivo, ou se o aluno teve uma mudança repentina de comportamento. Pois o transtorno costuma aparecer com 7 anos de idade, e não desaparece. Mas, se a criança com mais de 7 anos mudou seu modo de agir repentinamente, pode estar envolvido outros problemas como conflitos familiares, por exemplo, ou mudança de rotina. Por isso, o professor não deve rotular seu aluno como hiperativo sem antes ter um diagnóstico preciso, pois o rótulo só faz piorar o comportamento do aluno, e não ajuda.


Se o professor perceber que seu aluno pode apresentar o transtorno deve encaminhá-lo para uma avaliação psicopedagógica e orientar a família buscar ajuda médica, somente esses profissionais em um trabalho conjunto podem diagnosticar o TDAH. Pois, não é simplesmente a presença desses sintomas faz com que a criança seja portadora deste transtorno, é necessário fazer outros exames, investigar seu histórico familiar e escolar, observar esses comportamentos nos diferentes contextos, entrevistar os pais, professores, o diagnóstico é feito sob um enfoque multidisciplinar, a presença dos sintomas apenas é uma suspeita.


Portanto não se trata de ter ou não ter TDAH; todo mundo tem em algum grau aqueles 18 sintomas que caracterizam o transtorno, uns mais e outros menos; aqueles que têm muito mais sintomas que o restante da população são os portadores de TDAH (do mesmo modo que as pessoas que têm muito mais açúcar no sangue que os demais têm diabetes). (MATTOS, 2008, p.47)


Assim sendo, o diagnóstico de TDAH não é tão simples de ser feito, é necessário muita investigação e vários profissionais envolvidos. Não cabe o professor diagnosticar, o papel dele é observar e trocar informações com os colegas, evitando sempre o rótulo de “hiperativo”.


O tratamento envolve uma abordagem múltipla, engloba intervenções com a criança, orientações para a família e para a escola, e em alguns casos usado o medicamento. A intervenção é contínua, pois não há cura, mas sim controle do transtorno. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, a fim de que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na organização e no planejamento das atividades (por exemplo, essas crianças precisam de um ambiente silencioso, consistentes e sem maiores estímulos visuais para estudar).
Algumas mudanças no contexto escolar também podem favorecer o aluno com TDAH. Rohde&Halpern,(2004), sugere algumas intervenções como evitar atividades monótonas e longas, incorporar atividade física com o processo de aprendizagem, colocar o aluno para sentar mais próximo do professor e longe de janelas para evitar a distração.


Para Carvalho (in Aquino, 1996), a função do professor é criar novos métodos de ação para ensinar, e não seguir receitas prontas para transmitir o conteúdo desejado, mas para isso o professor tem que ter clareza dos objetivos e do conhecimento que deseja transmitir aos seus alunos.


Portanto, para trabalhar com aluno portador de TDAH, é necessário que o professor procure adequar seu método de ensino para que seus alunos possam aprender. A função do educador perante o aluno com TDAH é evitar o rótulo e o preconceito de que o aluno hiperativo é sempre agitado e incapaz de aprender, e buscar adequar sua pratica pedagógica de acordo com a necessidade de seus alunos.


Considerações Finais

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, é um transtorno de causa neurobiológica que não deve ser confundido com indisciplina ou má educação. Caracteriza-se por comportamentos de impulsividade, agitação e falta de atenção que não são causados por conflitos familiares ou escolares, mas podem ser aumentados caso a família não apoie essa criança, ou o professor reforce esse comportamento, como diz Sternberg&Grigorenko (2003, p.69): “quando uma criança é rotulada, ela é tratada de tal maneira que faz o rótulo tornar-se verdadeiro, praticamente sem considerar o que ele é.”


Porém, com a falta de informações adequadas, muitas vezes o aluno indisciplinado é confundido com hiperativo. Sendo que a indisciplina é resultado da educação e da relação professor-aluno, principalmente da forma em que as crianças são tratadas em casa, mas comportamentos de agressão tanta física quanto psicológica, manipulação, má-educação não devem ser confundidos com TDAH, que é um transtorno. E o resultado dessa confusão é um excesso de alunos tratados como portadores de TDAH que recorrem a medicamentos para se comportar “bem”.


Para diagnosticar esse transtorno é necessária uma abordagem multidisciplinar, não cabe somente a um profissional, é um trabalho que deve ser feito em conjunto com os professores, com a família, médico, psicólogo, psicopedagogo. Após ser realizado uma ampla investigação através de testes, entrevistas, exames, é feito o diagnóstico, então inicia-se o tratamento que envolve a participação da família, da escola, do aluno, são feitas orientações de como agir como esta criança, e em alguns casos é necessário a utilização do medicamento.


Os pais podem tomar algumas atitudes em casa, como por exemplo, incentivá-los a estudar em lugar adequado, silencioso, acompanhar seus estudos, conversar sobre as dificuldades, tem que ter paciência para modificar o comportamento dos filhos, e a mudança tem que ser gradual, aos poucos a criança vai melhorando, e a cada sucesso os pais tem que elogiar e reconhecer o esforço dos filhos.


Os professores podem fazer algumas mudanças na prática pedagógica, evitar atividades monótonas, trocar informações com os pais e os alunos para conhecer as dificuldades, colocá-los para sentar longe das janelas, se expressar de forma clara e precisa, colocar murais com regras na sala, e principalmente elogiar a criança quando esta agir de forma adequada.
Mas, como diz Cardoso, (2007. p.14): “[...] Claro que não caberá ao professor ser o salvador da pátria, mas quiçá, a partir do conhecimento sobre o TDAH, ele possa minimizar os problemas que afetam o comportamento do aluno em sala de aula e impedir que o comportamento inadequado do aluno ganhe proporção.”


Apesar de tantas dificuldades como turmas numerosas, carga horária excessiva, baixos salários, indisciplina, alunos com transtorno de aprendizagem, o professor, atualmente, tem que estar consciente que métodos rígidos, fórmulas prontas não funcionam mais. Os alunos questionam, participam, e o educador tem que estar preparado e buscar práticas pedagógicas que valorizem as qualidades de seus alunos e os incentive a refletir cada vez mais e não simplesmente receber informações.


Por isso, é importante os professores estarem se informando cada vez mais sobre este transtorno, pois não queremos negar sua existência, mas evitar que comportamentos inadequados de indisciplina sejam tratados como TDAH. E como as crianças passam grande parte do tempo da vida na escola, cabe ao professor ajudar seus alunos e orientar os pais, caso suspeitem deste transtorno.
REFERÊNCIAS


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BRAZELTON, T.B. Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. Trad: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1994

CARDOSO, D. M. P. A concepção dos professores diante do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em contexto escolar: um estudo de caso /Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2007.

GENTILE,P. http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/indisciplina-como-aliada-431399.shtml acessado em julho 2008.

GOMIDE, Paula Inez Cunha. Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. Petrópolis, RJ. Vozes, 2004

MATTOS, P. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 8 ed. Ver. e atual. São Paulo: Casa Leitura Médica, 2008.

MARIN, A. J. Com o olhar nos professores: Desafios para o enfrentamento das realidades escolares. Cad. CEDES, Abr 1998, vol.19, no.44, p.8-18.

PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Trad: Ana Maria Netto Machado. 4 ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985.

ROHDE, L.; HALPERN, R. Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade: atualização. J. Pediatria. 2004, vol. 80, n.2, PP.61-70

SAMPAIO, M.M.F.; MARIN, A.J. Precarização do trabalho docente e seus efeitos sobre as práticas curriculares. Educ. Soc., Dez 2004, vol.25, no.89, p.1203-1225.

STERNBERG, J.R; GRIGORENKO, E. J. Crianças rotuladas: o que é necessário saber sobre as dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre, Artmed, 2003.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Carla

por Carla

Psicóloga

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