Como acabar com a timidez para crescer profissionalmente
Por que, afinal, algumas pessoas são mais tímidas do que outras?
Psicologia
08/04/2015
A timidez mais acentuada está presente em cerca de 13% da população brasileira, o que corresponde a mais de 22 milhões de pessoas. Dessas, aproximadamente 5 milhões apresentam um quadro mais complexo chamado fobia social, que praticamente impede o indivíduo de se relacionar com outras pessoas, de trabalhar e de se divertir.
Só nos Estados Unidos, os gastos com a fobia social superam a casa dos 42 bilhões de dólares, o que representa um terço de tudo o que o país desembolsa anualmente com o tratamento de doenças psiquiátricas.
Um estudo de farmacoeconomia desenvolvido naquele país mostra que, a timidez aparece como o terceiro fator mais importante na definição da remuneração da pessoa, ficando atrás apenas do sexo (mulheres ganham menos que os homens com a mesma escolaridade para desempenhar a mesma função) e da raça (os brancos são mais bem-remunerados que os negros).
O tímido ganha em média 10% menos que seus colegas e demora mais para crescer profissionalmente. Por quê? Porque geralmente não consegue ser incisivo em suas decisões, tem dificuldade em fazer seu marketing pessoal e não transmite segurança para seus superiores. Como raramente reclama de algo, adivinhe quem acaba ficando com as piores tarefas? Por causa desse tipo de comportamento, o tímido dificilmente alcança cargos mais altos na hierarquia das organizações.
A necessidade de as empresas terem em seus quadros profissionais dinâmicos, falantes e mais agressivos na execução de tarefas, tornou a vida do tímido ainda mais desconfortável. "Há um culto exagerado à extroversão", diz o psiquiatra Márcio Bemick, responsável pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Isso faz com que pessoas absolutamente normais, com reações e ansiedades dentro do esperado, sintam-se desconfortáveis e comecem a achar que estão com algum problema. Afinal, as empresas precisam de pessoas mais competentes ou mais extrovertidas?", questiona.
O profissional tímido costuma sofrer em silêncio. Tem verdadeiro pavor do julgamento público e da avaliação que podem fazer de seu desempenho.
Teme sentir-se humilhado ou constrangido diante dos outros. Vive preocupado com aquilo que seus colegas podem pensar dele. Fica angustiado quando realiza um grande trabalho e não recebe um elogio do chefe que lhe dê a certeza de que fez tudo certo. Apesar de se considerar competente, não confia no próprio taco nos momentos decisivos. Por isso, faz e refaz com frequência um relatório ou projeto, sendo muitas vezes confundido com o perfeccionista.
Como está sempre preocupado em analisar cada detalhe dezenas de vezes, não é raro perder os prazos de entrega de um trabalho. Sente grande dificuldade em dizer não e, por causa disso, acaba assumindo tarefas além daquelas que pode dar conta. E então, para passar por incompetente, é um pulo.
Nessas condições, torna-se mais difícil se concentrar no que está fazendo, ser criativo e aproveitar as oportunidades. (Suas chances de envolver em acidentes de trabalho são maiores, assim como as de ter problemas de saúde hipertensão, taquicardia, dores de cabeça e, em casos mais extremos, até mesmo infarto ou depressão) que possam provocar absenteísmo. Decididamente, a vida do tímido não é fácil.
Por que, afinal, algumas pessoas são mais tímidas do que outras? Três fatores têm influência direta sobre essa questão. O primeiro é o genético - pais tímidos tendem a ter filhos tímidos. O segundo refere-se ao modelo de comportamento que os pais passam para os filhos, afinal, as crianças costumam imitar o que veem. Assim, se toda vez que os pais entrarem numa loja para comprar roupas e falarem em voz baixa, quase pedindo desculpas por estarem ali, os filhos entende que aquela é a postura que devem seguir. Por fim, é preciso considerar a influência do ambiente. Fazer parte de uma família que não frequenta festas, clubes e reuniões e que tenha poucos amigos, faz com que a criança não desenvolva suas habilidades de relacionamento interpessoal como deveria.
Quando se tornar adulta e tiver de procurar emprego ou participar mais ativamente de uma reunião, a criança ficará retraída e sem coragem de se expor.
Nos casos mais intensos de timidez, em que há sofrimento e prejuízo social, é preciso buscar ajuda de especialistas e até mesmo tomar medicamentos. Os mais utilizados para esse tipo de problema têm nomes complicados: benzodiazepínicos, inibidores seletivos de recaptura de serotonina e inibidores da monoaminoxidase, drogas normalmente utilizadas para tratar depressão que também ajudam quem é tímido demais. "O inconveniente é que, em alguns casos, elas provocam efeitos colaterais bastante desagradáveis, como náuseas, vômitos, dores de estômago e ganho de peso", diz Bernick. O desafio do médico é fazer com que o paciente não desista do tratamento.
É comum, por exemplo, esses efeitos serem mais intensos nas primeiras quatro semanas. A partir daí, o organismo supera a fase de adaptação e reage positivamente. Alguns meses depois, já com uma vida perfeitamente normal, a pessoa tende a não tomar mais a medicação por se achar curada.
O tempo de duração do tratamento é longo, podendo levar mais de um ano. É sabido, nos casos de depressão, que, se uma pessoa tomar os medicamentos corretamente até se sentir bem e os mantiver durante mais quatro semanas, haverá recaída dentro de seis meses. Se a manutenção dos remédios for estendida até um ano após a recuperação do bem-estar, a recidiva só acontecerá depois de seis anos e de maneira menos intensa.
Não há estudos nesse sentido para casos de timidez, mas acredita-se que esse modelo não deva variar muito. Para vencer a fobia social, no entanto, não basta apenas tomar corretamente os medicamentos. É preciso que a pessoa enfrente o que lhe causa medo. O receio de falar em público, por exemplo, é o que mais apavora os tímidos e, claro, os portadores de fobia social.
Há também quem fique paralisado por achar que os outros vão perceber que sua voz está tremendo. "Na verdade, as pessoas podem até perceber, mas nunca na intensidade que o tímido julga", dizem os especialistas. Segundo ele, as coisas tendem a ganhar dimensões maiores quando se teme demais determinada situação. Por isso, o tratamento da fobia social, que também vale para quem é tímido, inclui simulações de situações como falar em público, escrever sendo observado por outra pessoa e dizer não a alguém.
Depois, é preciso levar essa experiência para a vida real e em doses homeopáticas. Se, por exemplo, a pessoa não se sente à vontade para falar numa roda de amigos em uma festa, pode começar conversando individualmente com um ou outro convidado. Depois, deve tentar participar de uma roda de três ou quatro indivíduos e assim sucessivamente, até conquistar a segurança necessária para ter um bom desempenho nessas situações.
É uma luta permanente porque, toda vez que a timidez for colocada à prova, vai ser preciso esforço para vencê-la.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Colunista Portal - Educação
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