Ciúme patológico: reflexo no cotidiano dos relacionamentos amorosos

Ciúme Patológico
Ciúme Patológico

Psicologia

10/07/2015

Ciúme patológico: reflexo no cotidiano dos relacionamentos amorosos.


“Na realidade, o ser ciumento trava uma batalha consigo próprio, e não contra quem ama ou contra quem cobiça o bem amado. É no próprio núcleo do amor “ciumento que se engendra a inquietação e cresce a biotoxina que o envenena” (MYRA Y LÓPEZ, 1998, p. 174).


O ciúme não é uma emoção do mundo contemporâneo, ao contrário ele é atemporal e universal. Para algumas pessoas, o ciúme pode ser interpretado como “termômetro” do relacionamento amoroso, ou ainda como a “pimenta” da relação. No entanto, esse tipo de pensamento tem desdobramentos perigosos. Relacionamentos “adubados” com discussões, desrespeito, e agressões tanto física quanto moral podem não subsistir ao “até que a morte os separe”.


O risco está em reconhecer a linha tênue entre o normal e o patológico. O ciúme “normal” baseia-se em fatos (LEITE, 2000 apud COSTA, 2005, p.006) e “em função de uma ameaça real” (PINES, 1992 COSTA, 2005, p.006), “enquanto o “patológico” procura fatos e/ou sofre influência de delírios, (LEITE, 2000 apud COSTA, 2005, p.006) persistindo mesmo na ausência de qualquer ameaça real ou provável” (PINES, 1992 apud COSTA, 2005, p.006). Ou seja, o ciúme “normal” não produz necessariamente sofrimento psíquico, pois ele é transitório e específico, desaparecendo diante das evidências. Enquanto que o “patológico” gera significativo sofrimento psíquico além dos conflitos relacionais, sendo ele infundado e absurdo.


O ciúme patológico pode transformar relações harmoniosas, em pesadelos infernais. Quando excessivo, ele gera sofrimento, já que a pessoa experimenta emoções tais como: angústia, insegurança, culpa, raiva, ansiedade, depressão, baixa autoestima, humilhação, entre outras. O ciúme irracional, perturbador e prejudicial, têm registros bíblicos e também literários como o conhecido drama de Otelo – O Mouro de Veneza de William Shakespeare, que mostra a problemática dessa emoção chegando ao ápice da violência, o homicídio.


Cavalcanti (1997) ressalta que o ciúme corrói e destrói a base, permitindo que a dúvida invada e perturbe a alma, onde o ciumento ama e odeia ao mesmo tempo o (a) parceiro (a). O mesmo ainda elucida que o sofrimento maior se dá pela incerteza em que ele vive, pois sente-se constantemente ameaçado, vivendo uma relação carregada de tensão emocional negativa.


O ciúme patológico também pode ser sintoma de um quadro obsessivo compulsivo (TOC), levando a comportamentos compulsivos como, por exemplo, espionar o cônjuge; examinar os celulares, bolsos, agendas; surpreendê-lo no trabalho ou faculdade; verificar correspondências, e-mails ou mensagens; além de inúmeros questionamentos. O ciúme patológico pode ser enquadrado ainda como um subtipo de transtorno delirante como informa o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10).


É importante mencionar que pessoas que se reconhecem com esse tipo de comportamento, devem procurar ajuda profissional especializada em saúde mental. O tratamento pode ser individual ou em grupo, e tem como objetivo trabalhar a melhora da autoestima, assim como levar o paciente a sentir-se seguro com o próprio relacionamento. Em casos onde o cônjuge ignore sua própria doença, é possível que o casal faça terapia, visando facilitar a adesão do enciumado patológico ao processo terapêutico.


É necessário entender que a complexidade do ciúme aponta para a importância de se observar a relação amorosa com mais cuidado, pois ele pode ser um indicador de que algo não está bem. Aceitar a condição pode ser uma chance de ampliar a consciência, e refletir sobre o relacionamento de maneira mais profunda.



REFERÊNCIAS

CAVALCANTE, A. M. O ciúme patológico. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.

COSTA, N. Contribuições da psicologia evolutiva e da análise do comportamento acerca do ciúme. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 7, n. 1, p. 05-14, 2005.

MYRA Y LOPEZ E. Os quatro gigantes da alma: o medo, a ira, o dever, o amor. Rio de Janeiro: José Olímpio. 1998


Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Marley Christian T. da Costa

por Marley Christian T. da Costa

Psicóloga CRP 12/13824, Palestrante e Idealizadora do site Emoções em Pauta (site, facebook e Instagram) - Mini currículo - Especializando-se em Psicodrama Clínico; Formação em Mediação Familiar/CEJUR - Ext. Univ. em Tópicos Avançados em Neurociências /Neurobiologia do Estresse. - Atualizações em Psiquiatria - Ext. Univ. em Análise do Comportamento e TCC: Procedimentos, Técnicas e Aplicações.

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