Redes sociais, relacionamentos x infidelidade

Possibilitam a facilidade das mudanças comportamentais
Possibilitam a facilidade das mudanças comportamentais

Psicologia

29/07/2015

As inovações tecnológicas possibilitam a facilidade das mudanças comportamentais, fazendo surgir uma nova forma de se comunicar e de fazer novas amizades, as quais são utilizadas para suprir necessidades de contato intelectual, social e afetivo. Neste sentido, as redes sociais e os sites de relacionamento surgem como possibilidades de resolução de questões sexuais e sentimentais.


Todavia, as relações estabelecidas nestes ambientes parecem bastante intensas de amizade e/ou de amor, ocorrem em uma velocidade rápida, fluída, porém, podem ter uma duração relativa, ou com a mesma velocidade em que foram estabelecidas, se dissipam. Pessoas entram e saem de grupos com muita facilidade numa dinâmica própria do ambiente virtual. Além disso, há a ilusão de proximidade, de conhecimento e intimidade, não sendo consideradas as distâncias geográficas. A fuga da realidade é outro aspecto a ser considerado, quando está não parece satisfatória, colocando a possibilidade de risco de uma adição na rede, ou seja, o uso da internet de modo viciado.


Entre o virtual e o real

Os relacionamentos virtuais podem impactar os relacionamentos conjugais, trazendo à superfície o tema infidelidade. A infidelidade é algo que acompanha os relacionamentos e a própria historia afetiva e sexual do ser humano, independente da época, do contexto socioeconômico e dos sistemas de crenças. A vivência clinica nos permite refletir que este é um fenômeno marcado por dor e sofrimento, embora existam outras possibilidades de padrões culturais. Assim sendo o virtual aponta para uma inversão das relações sociais – ou seja, há a sensação de estar junto mesmo em um espaço desterritorializado. (Castro, 1999). Há o redimensionamento do processo da relação interpessoal e social. Neste sentido, primeiro estabelecem-se os contatos sociais e interpessoais em nível virtual, cabendo a cada um dos envolvidos, determinar sua continuidade, e em um segundo momento, o relacionamento virtual passa para o nível real, concretizando as relações iniciadas no ciberespaço. Uma vez materializada a relação, surgem os conflitos, as mentiras, os problemas e as decepções, quando considerado o caráter subjetivo, ou seja, depende do usuário e da maneira como ele lida e convive no ciberespaço.


O uso excessivo do ambiente virtual impacta os relacionamentos amorosos presenciais, ocasionando a diminuição do tempo compartilhado entre o casal, sendo um fator de risco para a infidelidade. (Cooper, Mansson, Daneback, Tikkanen & Ross, 2003). A internet pode unir quem está longe, e pode afastar quem está perto fisicamente. Para exemplificar, a cada cinco divórcios nos Estados Unidos, um tem a rede social Facebook citada no processo de separação (American Academy of Matrimonial Lawyers, 2010).


Motivações para busca de relacionamentos virtuais

Qual é a motivação para a busca de sexo virtual ou de relacionamentos virtuais? A pesquisa de (Regis, Antunes & Padilha, 2004) identificou que os seguintes motivos para isso: timidez (53,9%), realização de fantasias e fetiches (87,3%), anonimato (76,6%), estar excitado e não ter um parceiro (69,9%), como modo de conhecer pessoas para ter relações sexuais (70,8%), ou ter problemas sexuais (19,2%). Dados da American Academy of Matrimonial Lawyers (2010) afirmam que a maioria dos encontros amorosos na rede social não foi intencional, mas iniciou-se por curiosidade, pois facilitou que pessoas se reencontrassem com ex-namorados, amantes e amigos.

Infidelidade

As autoras Haack & Falckie (2013) apresentaram os significados atribuídos pela amostragem sobre o que seria infidelidade: quebra de contrato (trair confiança), ter outra pessoa, mentir, contato físico com outra pessoa, desejo por outra pessoa (física ou virtualmente), manter-se em um relacionamento sem sentimento, falta de respeito entre outros. Maheu e Subotnik (2001) apud Haack & Falckie (2013) afirmam que “a infidelidade ocorre quando duas pessoas mantêm um compromisso e ele é rompido, não importando nem onde, nem quando e nem com quem”. Para Almeida (2012) sugere que quanto maior o ciúme, maior a chance de traição, confirmando a teoria da profecia de autorrealização em relação à infidelidade do outro. Para Guadagno e Sagarin (2010) o ciúme masculino está mais relacionado à infidelidade sexual, enquanto que o ciúme feminino está mais voltado para a infidelidade emocional.


Por que a infidelidade acontece? Segundo dados da pesquisa de Haack & Falckie (2013) os motivos para infidelidade são devido a busca por novas experiências (curiosidade), desgaste do relacionamento, carência, falta de comprometimento, antecipação de possível traição, vingança, entre outros aspectos. A infidelidade também pode ser compreendida quando surge por parte de um dos parceiros o desânimo de estarem juntos, promovendo frustração diante da fraqueza, gerando a busca por outra pessoa. Quanto maior a dificuldade dos parceiros exporem suas dificuldades no plano dos sentimentos, maior será a competição para recuperar ou alterar a situação.


O que a infidelidade descoberta acarreta? Desejos de vingança, abrindo caminho para pensamentos destrutivos e ausência de controle. Mágoa e caos psíquico, incerteza sobre o futuro e instabilidade para o prazer. A infidelidade revela a exposição da carência ou o bloqueio afetivo dos envolvidos. Como evitar a infidelidade? Aprender a depender de si mesmo, estando receptivo para possibilidades de trocas genuínas, construindo uma segurança pessoal, baseada em auto respeito; lidar com limites e frustrações, sem o medo da perda, sem o sufocamento do outro, ou seja, aprender a lidar com sentimentos de desamparo e abandono, cultivar a intimidade e franqueza, o respeito e a comunicação entre os parceiros, aceitando-se e aceitando o outro na parceria, realizando escolhas mais conscientes, compreendendo os hábitos ou comportamentos mutuamente, cultivando um espaço para as coisas positivas quanto as negativas, prazer e rotina, alegria e tédio, aprendendo a lidar com as carências e as potencialidades de cada um.






Referências


1. Castro, C. F. (1999). Ciberencontros: o chat da Internet como espaço virtual de convívio social. Acesso em 27 de julho de 2015, de http://www.aguaforte.com/ antropologia/index.html.


2. Cooper, A., Mansson, S., Daneback, K., Tikkanen, R. & Ross, M. W. (2003). Predicting the future of Internet sex: online sexual activities in Sweden. Sexual and Relationship Therapy, 18 (3), 277-291.


3. American Academy of Matrimonial Lawyers. (2010). Big surge in social networking evidence says survey of nation's top divorce lawyers. Acesso em 27 de julho de 2015, de http://www.aaml.org/about-the-academy/press/press-releases/e-discovery/big-surge-social-networking-evidence-says-survey-.


4. Regis, M. R., Antunes M. C. & Padilha M. G. (2004). Sexo virtual e infidelidade: concepções de usuários de sala de bate-papo. (CD-ROOM), Resumos de Comunicações Científicas. Ribeirão Preto, SBP.


5. Haack, KR e Falcke, D. Infidelid@de.com: infidelidade em relacionamentos amorosos mediados e não mediados pela Internet. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. 2013, vol.19, n.2, pp. 305-327.


6. Maheu, M. & Subotnik, R. (2001). Infidelity on the Internet: virtual relationships and real betrayal. Naperville: Sourcebooks


7. Almeida, T. (2012). O ciúme romântico atua como uma profecia autorrealizadora da infidelidade amorosa?Estudos de Psicologia, 29 (4), 489- 498.


8. Guadagno, R. E. & Sagarin, B. J. (2010). Sex differences in jealousy: an evolutionary perspective on online infidelity. Journal of Applied Social Psychology, 40(10), 2636–2655.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Mirian Bernardes Lopes Alves

por Mirian Bernardes Lopes Alves

Pós-Graduada em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), psicóloga e licenciada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP), credenciada no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP/99520), escritora de poesias, consultora em redação técnica, colunista da Revista Taboão News, em Taboão da Serra/SP e do Portal Trocando Fraldas em São Paulo.

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