TEARS IN HEAVEN

Eric Clapton.
Eric Clapton.

Psicologia

20/10/2015

“Não há nada ruim que não possa piorar”, diz o ditado popular. Há alguma verdade nessa afirmação. Há ocasiões na vida há em que tudo parece dar errado. É uma desgraça atrás da outra e, quando não, uma tragédia após outra. E não importa se você tem dinheiro, fama ou fé. Momentos assim são democráticos e, como a morte, alcançam inesperadamente qualquer um. E, quando chegam, quem de nós nunca perguntou: “Por quê?” Ou mesmo gritou: “Deus, onde você está?”.

Agora, pense um pouco e responda: o que você faria se em um período de sete meses quatro amigos seus morressem em um acidente de helicóptero e seu filho de quatro anos lhe fosse, repentinamente, tirado? Sim, posso imaginar: o “chão fugiria”, os alicerces seriam abalados, entraria em desespero, sentir-se-ia culpado (a), culparia a Deus ou outras pessoas, uma tristeza insuportável invadiria sua alma, a vida (ainda que por um tempo) perderia o sentido, a dor seria insuportável e, provável, se deixaria invadir pela depressão.

Pois bem, foi isso que aconteceu com o cantor Eric Clapton após seu filho de quatro anos cair, acidentalmente, da janela de um apartamento do 53º andar de um edifício em Nova York, em março de 1991. Ele vinha numa fase de turbulências e perdas e aquela foi demais. Isolou-se. Saiu de circulação. Como levar alegria a outros, quando a tristeza o domina? Como falar de amor, quando o temor toma conta? Como anunciar esperança quando se perdeu a fé no futuro?

Dizem os especialistas que a perda de um ente querido passa pelas seguintes fases:

1. Confusão: nesse período a pessoa se sente perdida, desamparada e paralisada. Recusa-se a acreditar no que aconteceu. As recordações, as imagens dominam a mente de modo que o choro, a tristeza e o medo são contínuos;

2. Revolta:
há um enorme sofrimento psicológico e os sintomas podem ser percebidos no corpo (manchas). O estado de choque, a agitação, a ansiedade, a fadiga, a raiva e a revolta contra si mesmo (a) ou outro (a)s são os sentimentos mais comuns. Nessa fase, igualmente há uma busca pelo (a)s culpado(s) ou as razões para o acontecido;

3. Desespero:
vontade de isolar-se, de ficar sozinha. Perda do sono e de apetite, dificuldade de concentração nas tarefas costumeiras, bem como dores no estômago e a sensação de cansaço são sensações que podem predominar a maior parte do tempo. Por outro, começa a haver uma tentativa de compreender a perda e de lidar com o ocorrido;

4. Aceitação e recuperação:
mesmo ainda um tanto instável, aceita-se a não possibilidade de recuperar o que perdeu e adapta-se à nova realidade. Surge uma nova visão da situação, bem como uma nova identidade. A vida começa uma vez mais a desabrochar-se.

A duração do luto depende de cada pessoa. Algumas recuperam-se mais rapidamente, outras levam anos. Algumas sucumbem inclusive fisicamente, outras crescem e se reorganizam emocionalmente. Algumas buscam conforto nos amigos, outras na religião. No caso de Clapton, a música foi usada, como ele mesmo afirmou, ainda que inconscientemente “como agente de cura”.
Depois de um tempo luto e sofrimento, Clapton disse: “Quero escrever uma música para o meu menino”. E de maneira muito pessoal expressou sua dor, sua ansiedade, suas dúvidas, esperanças e expectativas na música “Tears in Heaven” (“lágrimas no céu”): “Se eu visse você no céu... será que você saberia meu nome? Será que eu seria o mesmo? Você seguraria minha mão? Você me ajudaria a levantar?”

No meio dos versos onde ele abre o seu coração de pai, Clapton recompõe-se e diz para se mesmo: “devo ser forte e continuar... encontrar meu caminho dia e noite...” e consola-se “além da porta (“da cortina” da morte) há paz e eu estou certo e sei que no céu não haverá mais lágrimas”.

Na música mencionada Clapton reconhece que “há ocasião que põe você para baixo... que faz você dobrar os joelhos... que parte seu coração... que leva você a implorar e implorar”.

Não é fácil. Mas temos de concordar que essas ocasiões são imprevisíveis e repentinas. Elas interrompem sonhos, afundam projetos, esvaem felicidades. Elas transformam alegrias em dores indescritíveis e planos em fumaça. Por outro lado, apesar de tudo isso, como Clapton parece indicar, “no céu, não haverá mais lágrimas”.

Os poetas são assim, eles conseguem enxergar além da dor, do sofrimento, das nuvens escuras e do hoje. Eles são místicos e como tais cantam e levam esperança em meio ao desespero; com suas palavras nos amparam na hora da confusão; e, a partir das suas “visões” ajudam-nos a nos reorganizar e a nos reequilibrar. Ouça o que João, poeta e místico cristão do final do século 1º. Afirmou: “ali não haverá mais dores...” (Apocalipse 21).

Sim, os poetas e místicos, de ontem e de hoje, tem razão: “There will be no more tears, in heaven”... “lá verei meu pai, lá verei minha mãe, lá verei meus irmãos... lá verei Isaac e Jacó”.


Maruilson Souza, Ph.D

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Maruilson Menezes de Souza

por Maruilson Menezes de Souza

Doutor em Educação Teológica (PhD).

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