O lúdico no desenvolvimento da autoestima de crianças com paralisia cerebral

Psicologia

30/10/2015

O propósito desta pesquisa é descrever de que forma o lúdico pode auxiliar no desenvolvimento da autoestima de crianças com Paralisia Cerebral (PC). A PC é uma lesão que pode envolver e danificar algumas partes do cérebro. Este conjunto de distúrbios pode comprometer funções cerebrais e do sistema nervoso, como a aprendizagem, os movimentos, audição, visão e até o raciocínio. Geralmente acontece na gestação, durante o parto ou logo após o nascimento, momento em que o cérebro ainda está em processo de amadurecimento.

Maluf (2008) defende que o lúdico auxilia a desenvolver competências, aumentando assim o aprendizado, os sentidos, além de permitir que a criança supere seus limites, suas dificuldades, e interaja mais socialmente, contribuindo positivamente em sua autoestima.

Neste sentido, faz-se necessário uma pesquisa relacionando o mundo das brincadeiras e a PC, de modo que possa auxiliar pais, professores e diversos outros profissionais da saúde a entender melhor as chances de desenvolvimento da autoestima destas crianças.

O principal objetivo será descrever de que forma o lúdico pode auxiliar no desenvolvimento da autoestima de crianças com Paralisia Cerebral. Para chegar a este ponto, será feito um levantamento sobre as concepções dos pais acerca da relevância do brincar e das suas noções sobre a autoestima de seus filhos, a identificação da importância do lúdico e de suas influencias, e por fim, descrever a interação do lúdico e da autoestima.


O LÚDICO


A autora Martins (2009) explica em suas obras o histórico do brincar, e afirma que desde a época da Grécia antiga é possível perceber traços de estudos de pensadores que viviam aquele momento e que já davam importância ao lúdico, como Aristóteles, que dentre as classificações que montou na época, apontou que existia o homo Ludens, aquele que valoriza o brincar.

Estudiosas como Soares e Porto (2006) afirmam a definição de lúdico como um modo único e individual de se sentir completo, de forma que os pensamentos e as ações estejam de acordo e unidos como um só. É a permissão de imaginar o que quiser e deixar esse pensamento fluir, de modo que interfira até nas emoções. Isto pode ser na forma de brincadeiras, de jogos eletrônicos, jogo coletivo, ou qualquer outra maneira de brincar.


AUTOESTIMA

A autoestima é a soma de opiniões que o sujeito tem sobre si, sobre seu valor e suas competências, ou seja, é um reconhecimento de suas capacidades e de sua importância na sociedade e na vida daqueles que o cercam. Ela pode ser positiva, quando traz satisfação para a pessoa e causa bem estar consigo mesmo, ou negativa, gerando sensação de fracasso e inutilidade (SBICIGO, BANDEIRA e DELL’ AGLIO, 2010)

De acordo com os estudos de Branden (2009), a autoestima simboliza a concepção que possuímos sobre o que nós somos. O sujeito que possui uma autoestima estável é menos inseguro em relação aos julgamentos que possa vir a receber, compreende suas capacidades e as valoriza, se sente bem sobre si mesmo, conhece e aceita seus próprios limites, em suma, são independentes de elogios alheios.


PARALISIA CEREBRAL

Segundo Teixeira-Arroyo e Oliveira (2007) a Paralisia Cerebral se caracteriza como um distúrbio não progressivo consequente de uma lesão cerebral, que pode causar alterações motoras e psíquicas.

A PC atinge o sistema nervoso central provocando lesões no desenvolvimento motor, que pode resultar em transtornos no movimento e no tônus postural de forma permanente e o diagnóstico comumente ocorre no início da infância, momento em que os sintomas ficam mais aparentes (DANTAS, COLLET, MOURA e TORQUATO 2010).

Os cuidados com as crianças que sofrem com a Paralisia Cerebral necessitam a união de equipes multiprofissionais, que contenham psicólogos, neurologistas, psiquiatras, ortopedistas, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, dentre outros. Estes atendimentos em diversas áreas da saúde contribuem para diminuir o impacto da patologia no desenvolvimento. É necessário compreender cada indivíduo como único e expô-lo a um tratamento que satisfaça todas as suas necessidades, que podem ser totalmente distintas de outras pessoas com a mesma condição (RIBEIRO, BARBOSA e PORTO, 2011).


METODOLOGIA

Tipo de Estudo


Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e natureza aplicada.


Instrumentos de Coletas de Dados


Para esta pesquisa foi utilizado uma leitura seletiva de artigos científicos datados a partir de 2000 e foi elaborada uma entrevista para ser aplicada com pais de crianças que sofrem com PC e psicólogos que trabalham com este tipo de patologia, a fim de compreender melhor a relação dessas crianças com o lúdico. Todos os entrevistados possuem idade entre 30 a 50 anos, ensino superior completo e classe social média. Os pais que concederam entrevista só possuem um filho.


Análise e interpretação de dados


Foram realizadas leituras e fichamentos com o foco de ordenar as informações contidas nas fontes, e também análise e interpretação das respostas da entrevista, objetivando possibilitar a obtenção de respostas ao problema da pesquisa.


Aspectos Éticos

Houve o consentimento em referenciar os autores utilizados no estudo, respeitando a ABNT (Norma Brasileira Regulamentadora 10520:1992). Assim como, a identidade dos participantes desta pesquisa foi preservada. Foram seguidas as recomendações contidas na Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que tem como exigência, que os procedimentos de pesquisas envolvendo seres humanos não ofereçam risco à dignidade dos participantes.


RESULTADOS E DISCUSSÕES


Foram realizadas duas entrevistas diferentes, uma específica para os pais que têm filhos com Paralisia Cerebral, e outra direcionada aos psicólogos que trabalham diretamente com estas crianças, a fim de compreender o conhecimento que eles possuem acerca do tema pesquisado neste trabalho. Ao todo, participaram do estudo: um pai, uma mãe, e três psicólogos.

A primeira a ser entrevistada foi a mãe (nome fictício Julia), que relatou nunca ter parado para pensar sobre a importância do brincar, e que sua filha, de 5 anos, faz diversos acompanhamentos com profissionais em prol de sua saúde, e que por isso não lhe sobra tanto tempo para atividades lúdicas. No dia seguinte, o próximo a ser entrevistado foi o pai (nome fictício Carlos), que tem um filho de 6 anos. Este afirmou que compreende o brincar como significativo no desenvolvimento, porém, também relatou não prestar muita atenção sobre como o filho interage com seus brinquedos. A próxima entrevista foi realizada em momentos diferentes com três profissionais da Psicologia, que trabalham atualmente em um Centro de Reabilitação. Eles foram abordados sobre como se desenvolve a autoestima de uma criança com Paralisia Cerebral, e o primeiro psicólogo a ser entrevistado (nome fictício P1) partindo de seus conhecimentos respondeu “A autoestima, de modo geral é desenvolvida a partir de reforçamento positivo social, neste sentido, o desenvolvimento se dá de acordo com a interação a estímulos de diversos aspectos da criança”, o segundo profissional (nome fictício P2) concluiu que “A autoestima se desenvolve igualmente para todos, porém, deve-se levar em conta que uma criança com PC vai passar por restrições que podem ser físicas ou mentais, e também vai lidar com os padrões estéticos da sociedade, portanto, para uma autoestima saudável, é importante que ela entenda que somos todos diferentes e que a beleza verdadeira é a interna.”, o terceiro psicólogo (nome fictício P3) afirmou que “Se desenvolve através de seu contato com o ambiente externo, com sua família, com seus colegas de escola. A autoestima é uma autoavaliação, e como as crianças com PC costumam ter mais dificuldades comparado a uma criança sem patologias, é viável ensiná-la a se respeitar e ajudá-la a desenvolver suas habilidades”.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A pesquisa realizada buscou descrever como o lúdico pode auxiliar no desenvolvimento da autoestima de crianças com Paralisia Cerebral. Como anteriormente citado, a PC é uma lesão que pode ser combinada com diversos outros fatores que são capazes de causar prejuízos ao indivíduo, tanto mentalmente quanto fisicamente. Estes danos podem atingir a visão, a audição, a motricidade, o equilíbrio, o raciocínio, dentre outros.

A criança que sofre com esta patologia é muitas vezes privada de ter uma maior interação social, visto que passa muito tempo em acompanhamentos médicos e de outras áreas em prol de sua saúde. Ela também terá que conviver com as dificuldades resultadas desta lesão, e então, os pais e profissionais devem buscar formas dela aprender a lidar com suas falhas e aptidões.

O lúdico faz parte da infância e é um auxiliador no processo de garantir uma autoestima equilibrada, já que ele pode facilitar à aprendizagem, a interação social, a imaginação, a autonomia, dentre outros. É necessário apenas direcionar as brincadeiras para que elas tenham um foco no desenvolvimento da criança.

As entrevistas feitas nesta pesquisa mostraram que os pais não se preocupam tanto com a qualidade do brincar, porém, ambos concordaram que isto gera prazer e alegria aos filhos. Eles demonstraram preocupação com a parte física e biológica da criança, ou seja, com a parte que trata os danos da Paralisia Cerebral, e menos apreensão quando se trata dos momentos de brincadeiras. Para eles, os filhos se espelham nos personagens infantis, e concordaram que estes podem influenciar diretamente em sua autoestima, mas eles não têm uma visão maior de como usar estes artefatos a favor do desenvolvimento dos filhos. Os psicólogos entrevistados ressaltaram a relevância do lúdico dentro da infância das crianças que sofrem com PC e explicaram como que isto pode auxiliar na construção de uma autoestima positiva. Os profissionais responderam às questões abordadas a partir de suas visões e vivências práticas e enfatizaram que um dos principais contribuidores para que os pais não prestem tanta atenção no brincar é a rotina estressante e muitas responsabilidades atribuídas a eles. Os psicólogos também explicaram que os pais podem contribuir no desenvolvimento dos filhos compreendendo sobre o tipo de PC que a criança tem, e conhecendo seus pontos fortes e fracos, assim, o brincar teria um direcionamento e foco, ajudando a criança a expandir suas habilidades, e consequentemente, a sua autoestima.

Portanto, ficou claro que o lúdico contribui em diversos âmbitos do desenvolvimento infantil, e consegue melhorar a autoestima visto que auxilia a criança a se socializar, a aceitar suas falhas, a progredir suas capacidades, e também faz com que eles trabalhem sua individualidade, seu raciocínio e a formação de suas opiniões. Porém, em alguns casos ainda é necessário esclarecer sobre a importância das brincadeiras para que os pais as utilizem como recurso no crescimento e evolução das competências dos filhos.

Em suma, a criança que sofre com Paralisia Cerebral pode ter uma autoestima elevada, ao mesmo tempo em que tem uma boa qualidade de vida, tendo como apoio os pais, que são contribuintes diretos no processo de utilização do lúdico em prol de um desenvolvimento físico, social e mental, e assim, ela também acaba por usufruir dos benefícios advindos da própria infância.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Danielle Dantas

por Danielle Dantas

Psicóloga clínica, Abordagem Analítico-Comportamental.

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